sábado, 31 de agosto de 2013

Os admirados lamentáveis religiosos...

E agosto, que para alguns é o "mês eterno", está acabando.

No post anterior, eu dei alguns motivos que têm tornado agosto tem se tornado um mês especial para mim. Porém, dessa vez, não quero falar sobre esse tipo de coisa. Algo tem perturbado minha mente e minha alma e eu preciso expor, expressar, tornar isso visível. 

Eu estou indignado - uma indignação que, espero eu, seja essencialmente justa e incontida. O que me resta a fazer é "vir e jogar tudo pra fora". Vamos em frente.


O título deste post é uma adaptação do título de uma música chamada "O admirado lamentável cidadão", e essa letra me tem feito pensar em muitas coisas, principalmente sobre mim mesmo. Bem, queria começar falando sobre o seguinte trecho:

"Eu vi e vivi num tempo em que me importava com os prazeres daqui...
Conquistei sonhos, fiz alimentar o ego pra que todos vissem... 
Olha lá o admirável cidadão! 
Viciado em estar no topo, é mesmo um conquistador..."

O nosso mundo, a nossa sociedade ou, como diria Agostinho, a "cidade dos homens", é caracterizada no seu íntimo pela busca da vanglória e dos aplausos. Nossas inquietações e ambições diárias sempre se resumem ao que é temporal e imediato. Na medida em que "fazemos e acontecemos", alimentamos o nosso ego pra que todos olhem pra nós e nos chamem de "admiráveis cidadãos" - olhem como ele é "capaz", como ele é "inteligente", como ele conquistou "riquezas e prosperidade", como ele é "bondoso e caridoso" e outras coisas do tipo. Somos viciados em estar no topo. Somos viciados em prêmios, em títulos e em troféus. E, cada vez mais irremediavelmente, assim caminha a humanidade - com passos de formiga e em seu próprio egoísmo e maldade. 


Passeando um pouco mais pela letra, temos o seguinte:

"Eu vi e vivi num tempo de muita riqueza, poder, glamour e fama
Me fazendo despir do que era certo
Ao preço pra chegar aonde todos irão dizer...
Olha lá o admirável cidadão! ..."

Desde que o mundo é mundo (por assim dizer), as relações humanas são temperadas [ou melhor, contaminadas] por dois venenos mortíferos: injustiça e autopromoção. Em nome de sermos reconhecidos, reverenciados, respeitados, aclamados e honrados pelos outros, ignoramos a justiça e a integridade. Maquiavel se faz latente em nosso "modus vivendi" e "os fins continuam justificando os meios" - até mesmo quando os fins são o bem-estar próprio ainda que o outro sofra. Só queremos o poder, o glamour e a fama. Nos despimos do que é certo e vendemos nossas almas e valores em nome da autopromoção. Tudo o que queremos é que os outros nos venerem - é o "Complexo do Éden" de cada dia, é o desejo de "sermos como Deus", é a cobiça de "sermos semelhantes ao Altíssimo", assim como se relata a respeito de Lúcifer. Finalmente, o rei Salomão já dizia: "...vi ainda debaixo do Sol que no lugar da retidão estava a impiedade; e que no lugar da justiça estava a impiedade ainda...".  Ruína moral, ruína espiritual, ruína total.


Na verdade, quando penso nessa música e no que ela diz, me lembro de certas palavras ditas por Jesus Cristo [conforme o Evangelho segundo Mateus, no capítulo 23] que me inquietam profundamente, as quais mostraram/mostram que esses que querem ser vistos como os "admiráveis cidadãos" não estão "fora da religião", mas, infelizmente, eram/são os mais "religiosos". 

Jesus disse a respeito deles que eles não praticavam o que ensinavam. 
Jesus disse que eles colocavam sobre os outros fardos pesados e difíceis de suportar, os quais eles não queriam mover nem com o dedo.
Jesus disse que eles faziam todas as coisas para serem vistos pelos homens.
Jesus disse que eles gostavam dos primeiros lugares, de serem aclamados nas praças e de serem chamados de "mestres".
Jesus disse que eles eram hipócritas - ou seja, eram atores sociais, eram personagens, fingiam ser o que não eram.
Jesus disse que eles não estavam entrando no reino de Deus nem permitiam que outros também entrassem.
Jesus disse que eles devoravam as casas das viúvas e que, na busca de novos seguidores de suas práticas religiosas, eles faziam "filhos do inferno" - assim como eles mesmos eram.
Jesus os chamou de guias cegos, de sepulcros caiados e de insensatos.
Jesus disse que eles davam dízimos mas não praticavam a justiça, a misericórdia e a fé.
Jesus disse que eles limpavam o exterior do copo e do prato e que pareciam justos aos olhos dos homens, mas tinham o interior cheio de impureza, imundície e iniquidade.
Jesus disse que eles eram filhos dos assassinos dos profetas que falaram em nome do próprio Deus que diziam servir.
Jesus os chamou de raça de víboras e de serpentes, afirmando que eles não escapariam da condenação do inferno.


Perturbador. Instigante. Insanamente confrontador. Sim, foi Jesus Cristo quem disse tudo isso. E Ele disse isso de RELIGIOSOS - dos que normalmente se sentem melhores do que os "mundanos". Simples assim.

Finalmente, a música apresenta outro trecho interessante, que diz:

"Eu vi e vivi num tempo em que tudo o que era meu caiu em pedaços
Me fazendo imergir em solidão e desespero e as pessoas gritavam...
Olha lá o lamentável cidadão! Viciado em estar no topo, hoje é só um perdedor...
Sabe o preço de todas as coisas
Pena não saber o valor de nada aqui..."

Um dia tudo cai em pedaços. Nossa justiça própria, nossa sabedoria humana, nossa capacidade intelectual, nossos talentos e habilidades, nossa casa, nossos bens e, por fim, nós mesmos somos lançados numa cova e cobertos com terra. Um dia muitos possivelmente irão deixar de ouvir que são "admiráveis" e serão apenas motivo para gritos de lamento. Esse é o destino que Jesus afirma quanto aos "admirados lamentáveis religiosos" - eles não escaparão da condenação do inferno, pois não há como escapar dela a não ser por meio da ação do próprio Jesus, pois a Bíblia diz que é Ele que nos livra da ira futura e que os que não creem nEle continuam sob a ira de Deus. 


A minha indignação, no fim das contas, é comigo mesmo - pois muitas vezes tenho que reconhecer que ainda sou como um "admirado lamentável religioso". Como dizia certo pregador, "se alguém me caluniar dizendo que eu sou mau, eu não preciso me defender - pois, na verdade, sou pior do que o que ele pensa de mim". Por tudo isso, eu estou farto de ter que atender "pré-requisitos" para ser a "pessoa ideal". Eu estou saturado de ver no meio religioso a mentalidade dos "supercrentes" - pois essa é a mesma atitude que Jesus condenou nos fariseus. Eu não suporto mais isso! Eu estou revoltado. Chega de ter que me adaptar às expectativas. Chega. 

Logo, o meu desejo para a comunidade cristã desses dias é que Jesus faça com as nossas mentes e corações o mesmo que Ele fez no templo - quebre todo engano da aparência, destrua toda a mentalidade orgulhosa, bagunce todos os conceitos e preconceitos contrários ao Seu evangelho e nos faça entender que a casa Dele [que somos nós, se cremos Nele] não é lugar de barganha de valores, de venda de princípios e de roubo de caráter. João mostra em seu Evangelho que Jesus fez isso pelo seu zelo, pois "...o zelo da Tua casa me consumirá..." [João 2:17]. Que coisa maravilhosa - zelo! Zelo incontido. Ira justa. Indignação santa. Esse é o evangelho de Jesus Cristo: um evangelho desconsertante, constrangedor, inspirador, vivo, penetrante, inquietante, perturbador, divinamente subversivo, admirável e verdadeiro. 


Você precisa se indignar também - mas comece com você mesmo. Reconheça que talvez você também possa ser mais um "admirado lamentável religioso" e que, por isso, está indo firme e forte (ou seria fraco?) em direção à condenação do inferno. Se eu estou escrevendo isso, é porque me importo com você que parou aqui neste blog. Como disse, o mesmo Jesus que fala sobre condenação é o que nos livra da ira de Deus que ainda virá. Deus pode te pegar pela mão e te tirar desse poço - você não pode se livrar sozinho. Simplesmente olhe para Ele e confie no amor Dele. Ele amou o mundo e deu Jesus Cristo para que todo o que Nele crê tenha vida eterna. Meu único anseio é que tanto eu quanto você possamos dizer no fim de tudo: eu sei de duas coisas; eu sou um grande pecador e Jesus é o grande Salvador. Podemos ser todos como "admiráveis lamentáveis religiosos", mas o que mais importa é que a bondade Dele é maior do que nossa miséria e mediocridade.




Por ser um lamentável cidadão admiravelmente salvo por Ele,




Soli Deo Gloria!

Nenhum comentário:

Postar um comentário