sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

Antífonas ao "Verbo Antigo" - um escrito de Natal

A Ti, ó Deus, que ouves as orações,
Quero dedicar essas breves palavras.
Sei que acolhes a quem Te busca
Por fé e com coração quebrantado,
Ainda que "alcatéias de juristocratas"
Nos queiram totalmente censurados.
Aceita, pois, estes versos suplicantes,
Advindos de um coração inquieto, porém confiante


  Achega-Te a nós, Sabedoria Eterna,
E desce do alto para nos encontrar,
Concedendo-nos os Teus bons frutos
A fim de sermos pacificadores e justos.
Tu foste formada desde a eternidade
    E, antes que houvesse mundo, nasceste;
Estavas presente na criação dos céus,
Bem como do horizonte, dos abismos e seus limites.
És o Arquiteto do Senhor, que em Ti se deleita,
E Tu, em resposta, Nele te alegras,
Assim como em todas as Suas obras.
Que guardemos, pois, os Teus caminhos
Para que sejamos bem-aventurados,
E, tendo verdadeiramente Te encontrado,
Acharemos a vida e seremos favorecidos.

Guarda-nos junto a Ti, ó Adonai, 
Pois és nosso Deus e possuidor,
Uma vez que nos compraste por alto preço
Através da morte de Teu Filho Unigênito. 
Tens guiado aqueles aos quais remiste
Desde os dias antigos até hoje,
E, como um pastor zeloso e fiel,
Nunca abandonarás quem a Ti pertence. 
Visita-nos, pois, com Tua salvação,
Estendendo-nos o Teu braço forte,
Visto que muitos são os adversários
Que, continuamente, procuram a nossa morte.
Levanta-Te, Senhor, e julga com eqüidade
A todos que contra Ti se rebelam,
E protege-nos com Tua verdade,
Pela qual para sempre nos libertaste. 

Ó Raiz de Jessé, Filho de Davi,
Que brotaste como um renovo,
Sê o estandarte em nossas batalhas,
Trazendo descanso para nossas almas.
Sobre Ti está o Espírito do Senhor
E, assim, a prudência e o discernimento;
De Ti provém todo conselho e fortaleza,
Bem como todos os tesouros do conhecimento.
Ensina-nos, por graça, o Teu temor,
A fim de não vivermos segundo a aparência
Mas, conforme a Tua justiça,
Andarmos firmes em nossa viva esperança.
Diante de Ti os poderosos se calarão
E o Teu nome as nações invocarão,
Pois delas Tu és o grande "Desejado"
E, muito em breve, voltarás - como fora anunciado. 


A nosso mundo quebrado e imerso no pecado
Traz redenção, Libertador dos cativos,
Posto que tens a Chave de Davi
Para abrires e fechares o que for de Teu agrado.
Nas Tuas mãos também estão
As chaves da morte e do inferno,
De modo que somente Teu é o poder
De decretar o nosso destino
Segundo o Teu beneplácito eterno.
Ó Tu, que vives pelos séculos dos séculos
E que és a Porta de Tuas ovelhas,
Conduz o Teu povo sob o Teu cetro
Para que a Ti sejamos obedientes,
E, ao amar a retidão e odiar a iniqüidade,
Demos testemunho de Tua graça onipotente

Envia-nos a Tua Luz, ó Estrela do Nascente,
E faz-nos contemplar o Teu esplendor,
Para que adentremos o lugar onde habitas 
E, ante a Tua face, tenhamos plena alegria.
Tu brilhas como o sol em seu fulgor
E, como herói, percorres toda a terra;
Assim, dá-nos a conhecer a Tua glória,
Sem linguagem, qualquer som ou discurso,
Manifestando-Te até os confins do mundo.
Contudo, maior glória avistamos ao olhar
Atentamente para o Salvador crucificado,
Que no Calvário outrora foi levantado,
A fim de atrair a Si os piores pecadores
Resplandece, pois, sobre nós com bondade,
Para dissipar as trevas e as sombras da morte
E, assim, mudarás para sempre a nossa sorte

Venha o Teu reino, ó Rei das nações,
Pois estamos cansados de ser desprezados
Pelos soberbos, que a Ti têm afrontado,
Mas cuja condenação não tarda.
És a Pedra Angular, em que firmamos os pés,
E sobre a qual temos casa segura,
Pois, embora rejeitada pelos "construtores",
Para o Senhor és eleita e preciosa.
Em Ti há redenção para todos os povos,
Posto que na cruz desfizeste a inimizade
E, reunindo judeus e gentios num só corpo,
Começaste a criar uma nova humanidade
Tuas obras são grandes e admiráveis,
Teus caminhos, justos e verdadeiros;
Assim, todos Te temerão e Te adorarão,
Quando salvares os que do pó formaste
Para Ti mesmo, conforme predestinaste. 


Santo de Israel, que és grande no meio de nós,
A Ti louvamos, nossa força e salvação,
Pois desviaste de nós a Tua ira
E nos deste real consolação.
Proclamamos às nações os Teus feitos,
E notificamos Tuas obras gloriosas,
Para que saibam que só Tu és exaltado
E, com alegria, no mundo sejas celebrado.
Tu nos foste dado como um sinal do céu
A quem, outrora, não Te deu ouvidos -
"A virgem conceberia, dando à luz um Filho,
O qual seria chamado Emanuel". 
Veio, enfim, a "plenitude dos tempos"
E Te fizeste carne, para habitar entre nós;
Em Ti enxergamos a glória do Pai,
Visto que és cheio de graça e verdade,
Cuja contemplação é a nossa felicidade.

Ó vem, ó vem, Emanuel,
Tu que ascendeste ao mais alto céu
Para preencher todas as coisas!
Nosso Rei, Juiz e Legislador,
Sê dos povos o único Salvador,
Pois, sem Ti, somos todos sem forças.
Verbo antigo, Palavra viva,
Guia-nos por Teu caminho,
Raiando sobre nós com Tua Luz - 
Assim, a noite chegará ao fim
E, em breve, um novo dia alvorecerá. 
Ali não haverá morte, nem qualquer dor,
Nem mais lágrimas, choro ou pranto,
Pois toda maldição terá sido vencida
Por Aquele que julgará o mundo com justiça.
Maranata! 



Soli Deo Gloria!

quinta-feira, 27 de outubro de 2022

Dos "santos" que não têm a "medida da maldade"...

Após uma publicação mais branda e poética, creio que é hora de fazer novamente o que me apetece: lançar minha indignação por escrito, visto que não posso lançá-la sobre quem tenho vontade. Logo, mãos à obra - e que meu computador me ajude!

Seguindo um modelo que, por vezes, aparece por aqui, esse texto será baseado numa música da Legião Urbana chamada "Há Tempos" (em particular, num dos seus diversos trechos que podem instilar reflexões em qualquer um que conceda a devida atenção à letra), de forma a relacionar o conteúdo da música, o momento atual do país e a recordação de mais um 31 de outubro - o Dia da Reforma Protestante. Os versos em questão dizem:

"...E há tempos nem os 'santos' / Têm ao certo a medida da maldade..."

A pergunta que pretendo responder aqui é: qual a relação de tais versos (e da canção como um todo) com a realidade recente do Brasil e a Reforma Protestante? Leia até o fim e descubra! 


Os santos e a maldade. 

Pode-se definir "santo" como 1) "aquilo que não possui mácula ou contaminação" (i.e., no sentido de algo puro) ou, em termos mais religiosos, 2) "santo" é tanto uma designação conferida a alguém cuja vida é reconhecida como "exemplo de devoção" - o que é mais comum nas tradições católico-romana, cristã ortodoxa, copta etc. - quanto 3) "algo/alguém que foi separado de uma condição ordinária/comum para um uso específico e superior". Portanto, quando se utiliza a palavra "santo" ou "santos" para qualificar coisas ou pessoas, o que normalmente se tem em mente é que aquela coisa/pessoa é 1/2) considerada sem defeito, possui um tipo de "dignidade espiritual" ou é irrepreensível bem como que 3) essa coisa/pessoa foi dedicada/consagrada para um fim religioso ou divino. Mais particularmente, esse(s) vocábulo(s) é/são característico(s) das religiões monoteístas (Judaísmo, Islamismo e, notadamente, o Cristianismo) e, dessa maneira, o texto estará restrito ao contexto cristão e, por isso, será dirigido diretamente aos cristãos - embora, talvez, possa ser útil a qualquer leitor mais benevolente. 

Por outro lado, "maldade" é 1) o 'atributo próprio de quem é mau ou perverso' ou 2) 'aquilo que é em si mesmo leviano, doloso e intencionalmente contrário ao que é bom e justo". Portanto, para se falar apropriadamente em 'maldade', é imprescindível que haja um referencial absoluto de "bondade" que sirva de fundamento para a correta compreensão dessa realidade. Conseqüentemente, se todos dentre nós, até mesmo os mais excêntricos e relativistas, sabem na prática o que é a maldade e se lhe opõem quando são por ela atingidos (ou quando assim o sentem), a conclusão mais razoável é que, indubitavelmente, tal 'referencial de bondade' existe - ainda que uma grande parte de nós não seja corajosa e suficientemente humilde para admitir isso. 

Ditas essas coisas, o que seria a "medida da maldade" da qual os "santos" estariam desprovidos


Nas chamadas "ciências exatas" (p. ex., matemática, física, química etc.), bem como nas engenharias ou nas "ciências econômicas", o conceito de "medida" é basilar e recorrente - seja em cálculos de Geometria Plana (Euclidiana), na caracterização de grandezas vetoriais, em Estequiometria de Reações, na otimização operacional de uma plataforma petrolífera ou no ajuste do 'Orçamento Geral da União'. Nesse sentido, a existência de instrumentos adequados e/ou de equações e formulações matemáticas apropriadas é fundamental para que as "medidas" correspondam à realidade observada ou ao alvo desejado. De modo análogo, para que possamos compreender corretamente as realidades social, política, cultural e espiritual nas quais estamos, também é necessário possuirmos as devidas ferramentas que nos possibilitem adquirir o conhecimento dessas realidades, pois, caso não as tenhamos, seremos parte de um dos mais graves problemas de nossa geração: a falta do correto "senso das proporções" no trato com o todo da realidade e suas diferentes esferas

A esse respeito, poder-se-ia definir como "senso de proporções" a "percepção adequada do valor e/ou gravidade relativos de dois ou mais entes/elementos presentes na realidade em que se está inserido" ou, de forma mais simples, seria a "capacidade de avaliar com precisão as diversas situações com as quais lidamos, de tal modo a reagir de acordo com a natureza delas". Por exemplo, se um pai vê seu filho de 5 anos desobedecendo à mãe quanto a alguma ajuda doméstica, a atitude proporcional desse pai deve ser corrigir o filho e guiá-lo à obediência (sendo até mais duro, se necessário) mas, se esse mesmo filho, agora com 18 anos, está armado e ameaça matar a própria mãe, a única reação proporcionalmente apropriada é usar de toda a força necessária para impedir que o filho cometa um crime - incluso o direito de usar uma bela "Winchester 22" em legítima defesa! Logo, se em certo sentido toda morte é algo ruim, o que seria mais hediondo: a possível morte de um meliante capaz de atentar contra a própria mãe ou a morte de uma mãe inocente nas mãos de um filho inescrupuloso? A resposta é óbvia mas, visto que em nosso mundo o óbvio não é somente ofensivo (mas igualmente inacessível!), deve-se ratificar que a 'morte da mãe' é o mal a ser impedido a todo custo - a não ser para quem gosta de bandidos (como a tal de Deolane, a "advogada" amiguinha do Lula) ou já é um deles (a exemplo do próprio Lula e dos membros de sua organização criminosa disfarçada de partido político). 

Falando nisso... será que, depois desse parágrafo, eu serei intimado pelo TSE? Aguardemos. 


É preciso admitir que, infelizmente, a perda do "senso das proporções" tem caracterizado cada segmento da sociedade, de modo que os próprios ambientes cristãos (e, particularmente, o meio protestante) foram atingidos por este grande mal - e isso para vergonha minha. No entanto, como pode ser razoável que os que professam seguir Aquele "em Quem todos os tesouros da sabedoria e da ciência estão escondidos" (Colossenses 2, vs. 3) e que "dá sabedoria a todo o que Lhe pede, sem lançar em rosto" (Tiago 1, vs. 5) pensem e se comportem de forma irrefletida - ou mesmo estúpida? 

É exatamente aqui, nessa resposta, que a canção mencionada, a realidade recente do Brasil e a Reforma Protestante se encontram. Vamos adiante! 

Há pouco mais de 500 anos (precisamente, há 505 anos, no dia 31/10/1517), ocorreu o episódio que se tornou o marco inicial da Reforma Protestante: a publicação das famosas "95 Teses" por Martinho Lutero na porta da Igreja do Castelo (Schlosskirche) em Wittenberg/Alemanha. Embora o ambiente que possibilitou a eclosão da Reforma já estivesse sendo preparado desde os séculos XIV e XV, foi apenas no séc. XVI que o movimento protestante se consolidou, visto que a Igreja Romana reagiu com veemência e hostilidade à iniciativa de Lutero quanto a uma "reforma espiritual interna" (como era seu desejo) e, como resultado, aqueles que estavam "protestando" em favor dessas mudanças ficariam conhecidos como "protestantes" a partir de 1529-1530. Nesse sentido, vale salientar que um dos principais legados da Reforma foi o resgate da supremacia das Sagradas Escrituras (em contraste com a Tradição e a própria Igreja) como a "regra de fé e prática" suficiente e a autoridade última para o cristão, cujos desdobramentos transformariam para sempre a 'Civilização Ocidental' e, conseqüentemente, outras partes do mundo. Logo, dentre tantos conceitos, princípios e/ou doutrinas restauradas pelos reformadores, um(a) é absolutamente indispensável para entendermos porque "há tempos nem os santos têm ao certo a medida da maldade": a depravação total ou corrupção radical. 

A doutrina da "depravação total" (ou corrupção radical) define que, com a entrada do pecado no mundo a partir da desobediência de Adão e Eva, todos nós fomos feitos pecadores ou "nos solidarizamos com o primeiro casal" em seu estado de queda e ruína [Romanos 5, vs. 12]. Desse modo, o pecado deles também é "nosso" e, em decorrência disso, tanto a culpa e a maldição lançadas sobre Adão como a subseqüente corrupção da natureza humana tornaram-se nossa "herança". Tal herança não significa, porém, que nós somos tão maus quanto poderíamos ser (na prática), mas que todas as dimensões e faculdades humanas estão terrivelmente golpeadas pelo pecado, a ponto de que, sem a intervenção de Deus, ninguém pode sequer dar-se conta da real extensão dos seus efeitos hediondos - seja em si mesmo, seja ao seu redor. Assim, lançando mão de somente alguns breves trechos das Escrituras, podemos entender que "...o homem é impuro e corrupto, e bebe iniquidade como água..." [Jó 15, vs. 16] bem como que "...não há nenhum justo, nem um sequer... não há quem entenda ou busque a Deus, nem ninguém que faça o bem..." [Romanos 3, vs. 10-12]. Isto é, ainda que sejamos imagem e semelhança de Deus, o estrago que o pecado nos infligiu é sobremodo horrível e humanamente irreversível


Como, então, essa doutrina pode ser útil para a compreensão do momento atual do Brasil e, em particular, da comunidade cristã/evangélica brasileira

Primeiramente, devo reconhecer que o problema mais urgente e delicado do meio protestante/evangélico nacional é o "analfabetismo bíblico" resultante da ausência de uma pregação fiel e ousada (associada a um testemunho firme e vibrante), o que tem produzido uma forma de cristianismo "insípida", "débil", "acovardada" e "conformada com o mundo". Na outra face da mesma moeda, pode-se destacar outro tipo de analfabetismo (a saber, o funcional), o qual decorre de um processo longo e articulado de "subversão psicológica e engenharia social", planejado e aplicado de maneira massificada e intencional no mundo (especialmente no Ocidente) exatamente para atingir os fins citados, a saber: 1) a perversão do imaginário e da própria capacidade de raciocinar logicamente e, simultaneamente, 2) remodelar a sociedade de tal maneira que o processo de revolução não possa ser posteriormente revertido (ou mesmo percebido). De fato, não há descrição melhor para tal fenômeno que aquela feita por um de seus maiores proponentes (o filósofo italiano Antonio Gramsci): "um poder onipresente e invisível, tal qual um imperativo divino"

Dessarte, conclui-se que a) a deficiência de conhecimento bíblico adequado implica o alto índice de ignorância com respeito ao conhecimento de nós mesmos e da nossa pecaminosidade e b) o próprio êxito da subversão social supracitada evidencia que a "depravação total" é uma verdade incontestável, posto que sinaliza quão facilmente somos corrompidos em nossos pensamentos e visões acerca da realidade e, inevitavelmente, desencaminhados em nossa conduta

Sendo mais direto, "nunca antes na história desse país" - conforme o bordão de certo "descondenado" que deveria estar em prisão perpétua... (agora sim, sem dúvida, eu serei censurado pelos "editores do Brasil" ou cancelado por militantes histéricos e até pelos "crentinos") - houve tanta exibição de falsa virtude, tanta exaltação à ignorância e à burrice, tanta canalhice "em nome da democracia" e, obviamente, o sepultamento do bom senso e da defesa da verdade sob o disfarce da "moderação" e da "superação das polarizações". Não é possível elencar de forma exaustiva as inúmeras razões históricas e filosóficas que ratificam o abismo moral e ético existente entre as duas correntes políticas representadas na "disputa eleitoral" (sic) em curso, mas o simples fato de que um dos lados está implementando a censura total (e até prévia) dos seus oponentes - a tal ponto que as verdades censuradas são classificadas como "desordem informacional" ou "manipulação discursiva" - deveria ser suficiente para que todo brasileiro com o mínimo de vergonha na cara se opusesse a qualquer tirania mascarada de "estado democrático de direito". Contudo, os últimos anos (de 2020 até aqui) estão servindo para provar, de modo notório, que a "sem-vergonhice" humana (sobretudo dos que chamo carinhosamente de "tutti crentinni"), diferentemente da minha paciência ou do meu cartão de crédito, não tem limites - mas, se você ainda discorda, você está errado. 


Dentre os diversos absurdos que podem ser vistos por aí, alguns de que me lembro são 1) "vamos repetir: proibir a 'mentira' não é censura", 2) a "idolatria política" (i.e., o 'bolsonarismo') está tomando conta das igrejas", 3) "a igreja não é lugar para se falar de politica, pois o reino de Jesus não é desse mundo" e 4) "não precisamos nos preocupar com o futuro do país, pois Deus está no controle de todas as coisas". Espero ser capaz de, em poucas palavras, dar uma resposta bíblica e satisfatória a cada uma dessas falácias. Sigamos! 

Com respeito à falácia 1, deve-se questionar: QUEM define o que é mentira e o que é censura? Para os que estão mais atentos aos movimentos políticos dos últimos 250-300 anos (em especial desde o início do séc. XX), não é novidade que os que desejam "mandar no mundo" (i.e., que querem usurpar o lugar de Deus, o Qual define como as coisas são) desejam igualmente "controlar a linguagem e a informação", de modo que a 'verdade' e a 'mentira' passam a ser tão-somente convenções que mudam conforme os interesses de quem dita as regras do jogo - isto é, "se você me incomoda e ameaça meus planos, você é antidemocrático e eu vou censurá-lo... mas é para defender a democracia!". No tocante à falácia 2, vale ressaltar que eu, como cristão, estou ciente da realidade da idolatria e, por isso, sei que todos somos vulneráveis a cairmos nela em determinado grau - ou seja, não importa em qual espectro político o cristão se situe, ele está sujeito a superestimar idéias ou figuras políticas ao ponto de pôr nelas a sua esperança. Contudo, o simples posicionamento favorável a um dos lados (e, em particular, ao atual presidente) não é, necessariamente, um ato de idolatria e, não obstante isso, sabe-se que o pensamento alinhado à esquerda tem sido hegemônico nas últimas décadas (até mesmo nas igrejas), de tal sorte que certos "dogmas ideológicos" foram elevados ao patamar de "doutrina" sem que houvesse qualquer contraponto (p. ex., o 'pacifismo desarmamentista' e a 'guerra à masculinidade/feminilidade' decorrente do feminismo). Trocando em miúdos, o argumento da "idolatria política" é o novo "não julgueis", usado por quem quer esconder sua ignorância e seu pecado sob os auspícios de uma falsa piedade - logo, quanto a estes, eu só quero distância, pois é isso que as Escrituras ensinam (2 Timóteo 3, vs. 5b). 

Além disso, a falácia 3 pode ser refutada com base no fato de que, se "não há nenhum centímetro quadrado, em todos os domínios da existência humana, sobre os quais Cristo, que é Senhor de tudo, não diga: 'é Meu'", Ele também é, por direito, o Senhor sobre a política, de maneira que a) tanto os que recebem o encargo do poder civil devem exercê-lo como um serviço a Deus para coibir o mal e louvar o bem (Romanos 13, vs. 1-5) quanto 2) nenhum cristão tem o direito de pensar e agir politicamente fora da Palavra de Deus e de Sua autoridade (Romanos 6, vs. 16-18). Portanto, todo que se declara 'cristão' mas "interage na pólis" como um ateu (ou, no mínimo, um dualista que divide a vida em "secular' e "espiritual") precisa voltar a crer na Bíblia que leva consigo a cada domingo ou, mais que isso, precisa aprender a ler e a guardar o que leu. Finalmente, a falácia 4 está fundamentada numa idéia falsa da providência divina, segundo a qual as coisas "serão como devem ser" independentemente do que fizermos. É evidente que Deus é soberano e sempre realiza a Sua vontade, mas isso não significa que nossas ações (ou nossa omissão) não tenha(m) conseqüências - visto que Deus também age através de meios humanos e/ou naturais. Será que Deus não estaria no controle da Venezuela, da Argentina e da Colômbia, por exemplo? Todavia, qual é a situação atual desses países após suas escolhas políticas mais recentes? Por tudo isso, enquanto ainda é (aparentemente) possível escolhermos (se é que haja uma escolha que seja respeitada na 'republiqueta do TSE/STF') com sabedoria e o mínimo de sensatez, temos o dever de tomar a melhor decisão - pois, assim como aprendemos nos grandes dilemas da literatura, "não decidir já é decidir". 


Após todas essas considerações, mediante as quais podemos observar diferentes evidências dos efeitos da "depravação total" (mais especificamente, do chamado "pecado remanescente"), a expectativa que permanece é: haveria alguma solução para essa "maldade" da qual, há tempos, nem os "santos" têm sido capazes de se livrar? 

Em primeiro lugar, há uma justa preocupação por parte de uma parcela da comunidade cristã brasileira em não dar razões adicionais para que o nome de Deus seja ainda mais blasfemado entre os ímpios (Romanos 2, vs. 24), especialmente quanto à "politização partidária dos púlpitos" (que é bastante reprovável). No entanto, embora eu também me oponha tenazmente a qualquer espécie de "profanação" de nossos púlpitos (falo como protestante) para fins político-partidários, a ausência de um entendimento bíblico concernente ao testemunho cristão na esfera pública (o que requer, obrigatoriamente, a correta instrução das comunidades de fé a esse respeito) implica(rá) 1) a mistura inapropriada entre a igreja de Cristo e o "poder temporal" - como ocorreu na Igreja Romana Medieval, o que foi condenado pelos reformadores - ou 2) uma separação tal entre a Igreja e a pólis de forma que não haja mais voz profética na sociedade e, assim, o Estado se torne autônomo até constituir-se "divino", a exemplo do rei absolutista francês que disse "L'état c'est moi!" ou, adaptando à nossa realidade, "a democracia sou eu!". Ou seja, uma vez que vivemos num mundo caído e deteriorado pelo pecado, temos o dever de agir como instrumentos de Deus para que Ele, através de nós, restrinja o mal e promova o bem nas instâncias política e social, porém sem corromper a fé e a prática cristãs por motivos políticos. 

Por outro lado, esse fenômeno de tentar "salvaguardar a igreja" das críticas e reprovações externas pode trazer consigo a idéia mentirosa de que a honra e a pureza dela dependem, em último grau, de nossos esforços para preservá-las. Veja bem, criatura (ou, como diz a professora Cíntia Chagas, "filho de Deus!..."): NÃO É VOCÊ, nem sou eu, nem ninguém que possui o poder de conservar a igreja santa e sem defeito, mas única e exclusivamente Jesus Cristo, que é o Senhor e Cabeça da Igreja, sendo igualmente o seu Salvador. Com que petulância, pois, podemos arrogar para nós tais méritos e prerrogativas? A partir de que momento passamos a crer que nossos textões, vídeos, reels, threads e/ou carrosséis de stories/status substituíram a Cristo e Sua obra como meios de santificação em favor da igreja (vide Efésios 5, vs. 25-27)? Serei claro: se o nosso maior afã ou obsessão tem sido tentar "salvar a igreja do descrédito e escárnio públicos" (por acreditarmos que ela, sem nós, sucumbirá(ia) diante de seus opositores), estaremos nos opondo ao próprio Cristo ao buscar assumir o lugar que pertence apenas a Ele - i.e., agiremos como "anticristos" enquanto julgamos estar servindo a Cristo. Vamos repetir para que não haja mais dúvidas: Jesus é o único Salvador da Igreja e, se sou parte dela, não é a igreja que precisa de mim para permanecer, mas eu que necessito de Cristo para permanecer nela e, acima de tudo, NEle


Desse modo, conclui-se que a solução para "todos os santos que já não possuem a correta medida da maldade", cujos jovens "adoecem" juntamente com uma humanidade imersa em pecado, da qual "o encanto está cada vez mais ausente" e onde os "sorrisos enferrujados" apenas indicam a degeneração escondida nos corações é a mesma "velha verdade" redescoberta na Reforma, a qual foi expressa com magistral beleza na Tese 62 de Lutero, onde se lê:

O verdadeiro tesouro da Igreja de Cristo é o sacrossanto Evangelho da glória e da graça de Deus.

Mas em que consistiria esse "sacrossanto Evangelho da glória e da graça de Deus"? 

Sabendo-se que não é viável oferecer uma explicação detalhada, apenas direi que o Evangelho a) começa com Deus e a revelação que Ele deu de Si mesmo na Criação e, em especial, nas Escrituras (Salmo 19), por meio da qual b) chegamos ao conhecimento de nós próprios e de nossa condição de pecado (Romanos 3, vs. 9-20), o que pode nos conduzir, mediante a ação do Espírito Santo, à c) consciência de que devemos dar a devida resposta à intimação divina ao arrependimento e à fé em Jesus Cristo (Atos 17, vs. 30-31), visto que Ele julgará o mundo com justiça no Dia determinado por Seu Pai. Em outras palavras, a mensagem específica do Evangelho, que "abriu as portas do Paraíso" a um Lutero outrora angustiado em sua jornada de "auto-justificação", afirma que "Cristo morreu pelos nossos pecados segundo as Escrituras, foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras" (1 Coríntios 15, vs. 3-4), de forma que todo aquele que crê em Jesus Cristo é/será justificado/declarado "justo" perante Deus ou, usando as palavras do profeta Joel, "...todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo..." (Joel 2, vs. 32a).

Além disso, a Tese 62 de Lutero atribui ao Evangelho os termos "sacrossanto", "glória" e "graça", dos quais se deduz a sua sublimidade intrínseca - i.e., ele é singularmente puro e santo -, o peso e a dignidade manifestadas por meio dele e, finalmente, a constrangedora doçura do que nos é ofertado nele. Ou seja, é por meio do Evangelho que a justiça de Deus é revelada (Romanos 1, vs. 17) em favor de todo o que crê, de sorte que "o resplendor da glória divina" pôde (e pode) ser plenamente contemplado na pessoa de Jesus, o Nazareno, O qual "encarnou e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade" (João 1, vs. 14), pelas quais somos "libertados do domínio do pecado" (Romanos 6, vs. 14) bem como santificados a fim de darmos fruto para Deus (João 17, vs. 17 e Romanos 7, vs. 4b). Logo, se muitos dentre os "santos" não têm tido "a justa medida da maldade", talvez o Evangelho esteja sendo esquecido por eles - ou, pior que isso, eles jamais o conheceram verdadeiramente, o que os tornaria ímpios ou "lobos em pele de cordeiro" (Mateus 7, vs. 15-23). Livre-me Deus de ser achado entre os tais!


Finalmente, às portas do 2° turno das "eleições" no Brasil (com muitas 'aspas'), ainda resta um lembrete fundamental que deve ser guardado na mente por todo que se reconhece "cristão": ter a "correta medida da maldade" também significa saber que, no fim das contas, não existe equivalência de forças entre o "mal" e o "bem" - ou melhor, entre Deus e satanás, Cristo e o mundo e entre a graça divina e o pecado. Nesse sentido, o universo não é o palco de uma "disputa entre iguais" - como se a oposição do diabo em relação a Deus fosse uma espécie de "Barcelona x Real Madrid" ou "Brasil x Argentina", onde não há favoritismo e qualquer um tem as mesmas chances de vitória -, mas o "teatro da glória de Deus" (como dissera Calvino). Como resultado, até o pecado e o próprio satanás agem "nos limites de Deus" ou, segundo uma citação relacionada a Lutero, "o diabo é o 'diabo de Deus'; ele é como um cão raivoso, mas é Deus quem controla a coleira". Assim, vale recordar as palavras do rei Davi, quando disse:

"...Por que as nações se enfurecem, e os povos tramam em vão? [...]
Aquele que está sentado nos céus se ri; o Senhor zomba deles. 
Então Ele os repreende na Sua ira e os aterroriza no Seu furor, dizendo: Eu mesmo constituí o Meu rei em Sião, Meu santo monte..."
- Salmo 2, vs. 1, 4-6

Ora, se Deus zomba de quem se levanta contra Ele e, desse modo, aterroriza os Seus inimigos, os que O temem devem manter o coração pacificado apesar do crescimento do mal na sociedade e de seu triunfo aparente. Cristo já venceu a morte, ascendeu aos céus, reina à direita de Deus Pai (mas ainda não plenamente) e, muito em breve, virá outra vez para consumar o Seu reino (começando no Milênio - sim, sou um calvinista milenarista! - e continuando na "eternidade futura"). Nessa consumação, todos os Seus adversários serão destruídos e o Seu domínio será eterno.  

Por fim, embora o atual estado de coisas seja marcado pelos efeitos deletérios do pecado, a graça de Deus sempre pode ser "mais abundante" (ver Romanos 5, vs. 20) que eles. O antigo pastor puritano Richard Sibbes dizia que "sempre há mais misericórdia em Cristo do que pecado em nós", sinalizando que 1) Deus é mais voluntarioso em nos conceder perdão do que nós somos para buscá-lo e 2) que, no "senso das proporções", as dádivas de Deus para nós sempre suplantam nossas ofensas a Ele. Tais benefícios, porém, só podem ser desfrutados por quem se arrepende verdadeiramente de seus pecados e crê em Cristo e, por isso mesmo, não espere até o dia 30 para dar o passo mais importante de sua vida - pois, diferentemente de um governo que deixa marcas numa sociedade que podem durar apenas por gerações, a nossa posição diante de Cristo define o nosso destino eterno


Se você leu até aqui, restam somente algumas perguntas/considerações finais:

No tocante às questões políticas, tire a "prova dos 9", investigue a verdadeira história das diferentes idéias e movimentos existentes no mundo atual e responda: qual deles(as) são/têm sido melhores para promover o "florescimento humano" e, sobretudo, a glória de Deus?

Com base nesse entendimento, como deve ser o voto no próximo domingo? Embora essa seja uma decisão de foro íntimo, para um cristão não deve existir "autonomia" ou "livre pensamento" fora dos limites da Escritura - ora, Cristo é ou não o nosso Senhor e Rei? 

Por último, e ainda mais importante: se você não acredita em Jesus como Filho de Deus e Salvador do mundo, até quando permanecerá sem levar isso a sério? Você realmente deseja apostar a Sua eternidade em vez de dar ouvidos à voz de Quem veio ao mundo para salvar pecadores como você e eu?  




Pela alegria de ser liberto de toda maldade NEle,




Soli Deo Gloria!

quinta-feira, 29 de setembro de 2022

Uma quasi-ode à "justiça triunfante" - uma oração

Da ignorância e sem as palavras certas,
Mas confiante em Tua misericórdia terna,
Apresento-Te esta petição, Pai onipotente,
A Quem todas as coisas céleres obedecem
E, em cuja justiça, devo aguardar paciente.


Por meio dos ditos de um sábio rei
Ordenas que "guardemos com zelo o coração",
Posto que, seja benção ou maldição,
Seja água amarga ou água doce,
Podem vir de uma mesma fonte.
Tu, que sondas o nosso interior,
E que ouves as palavras ainda "sem som",
Vigia a 'porta de nossos lábios'
O 'algoritmo de nossos comentários',
E faz-nos andar como filhos obedientes.
 

Uma e outra vez assim disseste:
"A mim pertence toda autoridade",
E, como Contigo também está a fidelidade,
Sei que a todos recompensas com justiça
Descanso, pois, tão-somente em Ti,
Minha salvação e lugar seguro
Pois Tuas palavras sustentam o mundo
 E, por meio delas, Tu me vivificas. 

Dessarte, oro não só por mim mesmo,
Mas por aqueles que estabeleces
Como Teus servos em nosso mundo,
A fim de que todo mal seja punido
- E todo bem receba o louvor devido -,
De tal modo que vivamos em paz.
Guia os corações deles, Rei soberano,
Qual rio por Tuas mãos governado,
Para que honrem o que lhes é confiado
Enquanto cuidam de seus semelhantes
E, obedecendo-Te, não sejam arrogantes. 


Bem sei que nosso mundo é quebrado,
    Devido à nossa rebelião e pecado,
Pelo que muitas vezes parece vão
Possuir 'mãos limpas na inocência'
E conservar puro o coração
Perdoa, ó Deus compassivo, minha indignação,
Quando esta não é justa perante Ti,
Mas não me permitas ser conformado
Com a transgressão da Tua Lei
Pela qual os ímpios têm Te afrontado. 
Corram sempre 'rios de meus olhos'
Pelo zelo e por amor de Teu nome —
O Qual por todos deve ser santificado. 

Quanto aos 'príncipes' e 'filhos de homens',
Tu nos fazes saber que não podem salvar,
Uma vez que, ao retirar-lhes o fôlego,
Se desvanecem, fugazes como um sonho,
E já não se acha mais o seu lugar.
Ajuda-nos, pois, a firmar a fé em Ti,
Sustento nosso nos dias bons e ruins
O Único ante Quem nos prostramos
 - Visto que estás 'acima de tudo e todos' -,
E em cujo amor fiel esperamos —
Do qual nada haverá de nos separar. 


Inclina, pois, Teus olhos para minha 'pátria amada'!

Há mentiras e falácias nos jornais
E, nas escolas, a exaltação da ignorância,
Nas universidades, a história é "reescrita"
Pelos que ocultam seus rastros de matança.
Perverte-se a inocência das crianças
E, na arte, a beleza é artigo ausente,
Nas cortes, a tirania parece onipresente,
E a justiça, violada, no ostracismo é esquecida.
Até quando, ó Juiz de toda a terra,
Os malfeitores viverão impunemente?
Levanta-Te, prepara Tuas flechas ardentes,
Para que se conheça que só Tu reinas. 

Suplico, por fim, que a Tua misericórdia,
Vitoriosa, prevaleça no juízo,
Pois sem ela somos todos desprovidos
Da esperança da vida eterna.
Dentre os males fora e dentro de nós,
Nenhum é mais vil que o pecado,
Por cuja maldição estamos condenados
Até que se interponha o Mediador.
Bendito és Tu, que levaste nossos fardos
E os lançaste sobre o Cristo crucificado -
Esperança viva para todo o que se humilha
E, arrependido, somente em Ti confia.


Mais bem-aventurado, porém, será o Dia
No qual os tiranos serão abatidos
E os piedosos, outrora maltratados,
Em Teus braços eternos serão acolhidos.
Aguardo, anelante, por novos céus e nova terra,
Onde Tua justiça, triunfante, habitará.
Não haverá mais "falsas democracias",
Pois o Verdadeiro Rei, enfim, governará,
Ao Qual, satisfeitos, serviremos para sempre,
Nossa alegria soberana e glória perene.



Soli Deo Gloria! 

sexta-feira, 15 de abril de 2022

Here comes the Son...

Após mais de 3 meses ausente, finalmente preciso escrever novamente. 


De fato, como os poucos que visitam este blog sabem o que normalmente me motiva a retornar, vamos ao que interessa — e sem mais demora.












O título desse texto, para quem conhece um pouco de rock britânico e da língua inglesa, é um trocadilho com a música “Here Comes The Sun” (dos Beatles), uma vez que as palavras “sun” (sol) e “son” (filho) possuem a mesma pronúncia. Logo, a abordagem que pretendo fazer deverá combinar trechos da canção e o período em que se sucederam os eventos mais importantes de toda a história: a Semana Santa. Que Deus me ajude até o último parágrafo!


Primeiramente, uma análise superficial da letra de “Here Comes The Sun” indicará que, embora a música seja bem simples (ou até mesmo singela, fato que é ressaltado pelo seu instrumental), é possível extrair dela reflexões bastante ricas, tendo em vista o objetivo já mencionado. Dito isso, o primeiro trecho que posso destacar da música é:


“...Little darling

It's been a long cold lonely winter

Little darling

It feels like years since it's been here...”












Nesses versos, o autor se dirige a uma personagem a quem chama de “queridinha” (o que denota carinho e zelo), dizendo que “o inverno tem sido longo, frio e solitário” onde ele vive e que “parece que faz anos que o Sol esteve ali”. Portanto, se considerarmos o ambiente cultural de um inglês/britânico (ou de qualquer pessoa do norte da Europa), podemos imaginar que os “invernos” são realmente “frios” e, por vezes, “longos e solitários”o que jamais acontecerá na minha cidade, onde normalmente há um sol por habitante durante quase todo o ano! —, de maneira que a imagem aqui evocada pode ser entendida como um símbolo de tristeza, desesperança ou mesmo de abandonoEntretanto, como se pode notar, o refrão da música é como uma espécie de lembrete que o autor traz a si mesmo (e à sua “little darling”) de que “o sol vai voltar ali” e que, assim, “tudo ficará bem”, o que aponta para o fim do caos e da melancolia outrora presentes


Em outras palavras, a desordem, o desamparo e o desencanto com a vida não seriam permanentes, pois até a solidão dos “invernos demorados e rigorosos” daria lugar à felicidade de se estar na “companhia do ser amado” sob o “sol da primavera” — ou, como diz outra canção de rock, a “tempestade daria seu lugar a um dia de sol”.


Outro trecho que pode ser destacado diz: 


“...Little darling

The smiles returning to the faces

Little darling

It seems like years since it's been here...”











Nessa estrofe, o autor fala à sua “little darling” a respeito de “sorrisos que regressaram aos rostosdos que viviam ao redor dele e, de modo análogo aos versos anteriores, ressalta que tais sorrisos “pareciam não ter estado ali por anos a fio”. Nesse sentido, deduz-se que a situação inicial estava aparentemente sendo mudada, posto que a imagem de alegria apresentada aqui constitui um contraste em relação ao contexto de solidão e tristeza do início da música. Dessa maneira, a expectativa contida (e repetida) na mensagem do refrão passaria a ser mais concreta, uma vez que no lugar onde outrora havia somente uma tristeza gélida e constante pode-se, agora, ver o riso e a felicidade como símbolos de uma “nova estação”.


Finalmente, a última estrofe que queria considerar consta a seguir: 


“...Little darling

I feel that ice is slowly melting

Little darling

It seems like years since it's been clear...”












Nesse trecho final, o letrista diz à sua “queridinha” que “o gelo está derretendo lentamente” e, diferentemente das duas situações já mencionadas, “parecem que se passaram anos desde que tudo está claro”. As figuras trazidas à tona aqui indicam que o “inverno” já havia passado e que os dias já estavam mais claros — quem já foi à Europa durante o inverno sabe que o gelo começa a derreter apenas na primavera e que, nessa estação, os dias são mais longos que as noites —, o que denota que a mudança aguardada por ocasião da “chegada do Sol” já estaria concretizada


Dito isso, vale salientar que, antes desses versos derradeiros, a letra apresenta um tipo de proclamação na qual se diz “O Sol, o Sol, ele vem aí!”, o que aparenta comunicar a consumação do desejo expresso a cada vez que o coro é cantado, cujo resultado se expressa na transformação da realidade ali vigente.


Todavia, após esses breves comentários sobre cada estrofe da música, a pergunta que fica é: o que isso teria a ver com a Semana Santa? Leia até o fim e, talvez, você descobrirá.











A Semana Santa pode ser definida como o período do Calendário Cristão (ou litúrgico) referente aos últimos dias de Jesus Cristo antes de Sua morte, sendo iniciada no “Domingo de Ramos” e concluída no “Domingo da Ressurreição” — conforme consta nos Evangelhos. Esses registros (Mateus, Marcos, Lucas e João) nos fornecem relatos complementares desses acontecimentos, de forma que uma leitura cuidadosa e comparada desses documentos proporciona uma compreensão ampla e segura de alguns dos episódios mais importantes para a comunidade cristã — além do Natal, do Batismo, da Transfiguração, da Ascensão, do Pentecostes e, por fim, do Segundo Advento (o único ainda por acontecer). Desse modo, irei destacar os principais momentos que são recordados nessa semana e relaciona-los com o que já foi abordado anteriormente.


O Domingo de Ramos


O chamado “Domingo de Ramos” (também denominado “Domingo da Paixão”) é o dia em que Jesus se dirigiu com seus discípulos, pela última vez, a Jerusalém. Nesse dia, Ele veio à “Cidade Santa” montado em um jumento e foi aclamado pelo povo com brados de louvor e palavras de honra — como “Hosana nas alturas!” e “Bendito o que vem em nome do Senhor!” —, de tal modo que as pessoas tiravam seus mantos (juntamente com ramos de palmeiras) e os estendiam pelo caminho pelo qual Jesus passava.


Essa série de elementos possuem profundo significado para a narrativa bíblica e, conseqüentemente, para a fé cristã, visto que todos são, de forma particular, o cumprimento de profecias messiânicas do Antigo Testamento (p.ex., Zacarias 9:9 e Salmo 118:19-27) bem como de certos episódios que apontavam para a vinda do Messias (como a coroação de Salomão, o “filho de Davi” e rei de Israel, que fez uma procissão semelhante — vide 1 Reis 1:32-35). Isto é, assim como a “vinda do Sol” na canção dos Beatles foi celebrada, a “entrada triunfal” do “Sol da Justiça”, Daquele que é a “verdadeira Luz que ilumina a todo homem”, do verdadeiro “Filho de Davi” (e também “Senhor de Davi”) em Jerusalém foi motivo de regozijo para o povo que ali estava — visto que aquele era “o dia que o Senhor fizera” e, por isso, “todos deveriam alegrar-se nele” —, a tal ponto que diante das repreensões dos que se opunham à aclamação de Jesus como Rei, Ele disse: “se estes se calarem, até as pedras clamarão” (vide Lucas 19:40).













A Santa Ceia, a traição, a prisão e o julgamento


Nos três dias posteriores ao Domingo de Ramos, ocorreram vários momentos significativos dentro da Semana Santa: 1) Jesus purificou o templo ao expulsar os mercadores e vendilhões no chicotecomo eu queria me juntar a Jesus nesse dia memorável! —, 2) amaldiçoou a figueira infrutífera, 3) jantou com Marta, Maria e Lázaro e foi “ungido com nardo puro para seu sepultamento”, 4) se desvencilhou de todas as armadilhas em que os fariseus, saduceus, mestres da lei e demais poderosos tentaram apanha-Lo, 5) mostrou a hipocrisia dos fariseus sem “papas na língua” — o que uma “raça de víboras” mereceria ouvir, afinal? —, 6) ensinou muitas coisas sobre eventos futuros e proféticos e 7) ordenou a alguns discípulos que preparassem a Páscoa, pois em breve Ele “seria entregue para ser crucificado” (ver Mateus 21:12-13, Marcos 11:15-19, Lucas 19:45-48 e João 2:13-17; Mateus 21:18-19 e Marcos 11:12-14, 20-21; Mateus 26:6-13, Marcos 14:3-9 e João 12:1-8; Lucas 20:1-44; Mateus 23:1-39; Mateus 24-25, Marcos 13 e Lucas 21:5-37; Mateus 26:17-19, Marcos 14:12-16 e Lucas 22:7-13). 


No entanto, os momentos cruciais (e esse termo não é utilizado aqui sem razão) começarão após a “última ceia”, pois ali Jesus lavou os pés dos discípulos, anunciou quem seria o “traidor”, proferiu um de seus discursos mais sublimes (se não o mais belo!), instituiu a Nova Aliança e, finalmente, saiu para o Jardim do Getsêmani (o “lugar da prensa de azeitonas”), a fim de completar a obra Lhe havia sido confiada ao se submeter ao peso esmagador da ira de Seu Pai (vide João 13-17, Mateus 26:20-30, Marcos 14:17-26 e Lucas 22:14-38).


Ao chegar com os onze discípulos ao Getsêmani, Jesus diz que “a sua alma estava triste, como que à morte” e, por isso, lhes pede para ficar com Ele e vigiarem em oração. Ele convida Seus discípulos mais íntimos (Pedro, Tiago e João) e vai um pouco mais adiante para orar sozinho e, sob uma agonia que O levou a suar gotas de sangue (vide Lucas 22:44), faz a mesma súplica por três vezes: “se é possível, passa de mim este cálice; mas não seja como Eu quero, mas como Tu queres”. Durante esse período, os discípulos “caem no sono” repetidas vezes até que Jesus fala a todos: “Basta! É chegada a hora; o Filho do Homem será entregue nas mãos dos pecadores. Levantem-se, vamos; aquele que me trai se aproxima” (Marcos 14:41-42), cujo momento é descrito por Lucas como “a hora em que as trevas reinam” (cap. 22, vs. 53). 













Ou seja, o momento da traição de Jesus pode ser visto como a materialização mais cruel e desventurada do “inverno longo, solitário e gelado” mencionado ao longo do texto — ainda que não haja e nem possa haver qualquer comparação entre as situações —, pois nas próximas horas o Rei do Universo seria tratado como um verme, Aquele que deu vista aos cegos teria os olhos vendados e seria insultado, esbofeteado, cuspido e agredido sem que houvesse resistência e Aquele que é Luz do mundo seria acorrentado na “calada da noite” para ser julgado e condenado como um blasfemo e criminoso. Naquela madrugada, o Deus encarnado que “daria a Sua vida pelos Seus amigos” estava a ser traído com um beijo de um deles (e a quem Ele disse: “amigo, a que vieste?” — Mateus 26:50) e, posteriormente, seria abandonado por todos os outros, pois “o Pastor seria ferido e as ovelhas se dispersariam” (Mateus 26:31).


Após Jesus ser preso, Ele foi submetido a uma série de “julgamentos”: 1) com os judeus do Sinédrio (onde foi condenado à morte por ter se declarado o “Filho do Deus bendito”), 2) com Herodes (governante judeu submisso ao Império Romano, o qual queria ver algum sinal milagroso mas, não obtendo o que desejava, zombou de Jesus) e 3) com o próprio representante de Roma (Pôncio Pilatos), o qual não queria condená-Lo inicialmente mas, para agradar a multidão, “entregou Jesus à vontade do povo” (Lucas 23:25) para que fosse açoitado e crucificado. A partir daqueles instantes, o Juiz dos vivos e dos mortos, a Quem toda a autoridade para julgar havia sido dada pelo Pai, a própria “justiça de Deus para os pecadores” foi o alvo do julgamento mais fraudulento e absurdo da história (certamente de fazer inveja aos “iluministros” do STF ou a qualquer “tiranete de toga” por aí!) mas, curiosamente, tal atrocidade era parte do plano divino para que a “justiça fosse anunciada a todos os povos e prevalecesse” (ver Isaías 42:1-4).













A crucificação e o silêncio do sábado


Tendo Jesus sido severamente castigado com açoites e, em seguida, condenado à morte por crucificação, os romanos O obrigaram a carregar a própria cruz até que, num momento, Ele precisou ser ajudado (Mateus 27:32, Lucas 23:26 e João 19:17). Após chegarem no lugar chamado “Gólgota” (o “lugar da Caveira”), Ele foi crucificado entre dois malfeitores (ladrões), os quais O insultavam juntamente com a multidão ao dizerem: “se és o Filho de Deus, salva-Te a Ti mesmo e a nós” ou “salvou os outros, mas não pode salvar a Si mesmo; desce da cruz, se és o Filho de Deus, o Escolhido” (Lucas 23:35 e 39). Além disso, Jesus recebeu coroa de espinhos e um manto régio como prova do escárnio dos Seus detratores, teve suas roupas arrancadas e “sortes foram lançadas sobre elas”, recusou o vinagre e o fel que Lhe ofereceram após dizer “tenho sede!” até que, finalmente, o dia se fez noite e o Sol parou de brilhar durante as horas mais sombrias que o universo poderia testemunhar — ali, o seu Criador estava sendo morto num madeiro cuja árvore fora feita por Ele, sob as mãos de homens aos quais Ele deu o fôlego de vida, sobre uma montanha que Ele havia criado e colocado em seu lugar mas, sobretudo, de acordo com a determinação do Pai e por Sua livre vontade (Isaías 53:10 e João 10:17-18).


Nos últimos instantes antes de Sua morte, Jesus proferiu as palavras mais perturbadoras e incompreensíveis de toda a história: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste? (Marcos 15:34 e Salmo 22:1). Esta declaração causou tal admiração no reformador Martinho Lutero que, ao tentar comentar essa passagem, ele chegou a afirmar que “Deus ‘abandonando Deus’ é algo tanto horrendo quanto sublime demais para ser entendido pela mente humana”, de modo que ele não conseguiu (naquele momento) continuar sua tarefa por estar profundamente impactado por essa realidade. De fato, quem pode entender plenamente o que Jesus expressou ao dizer essas palavras? Aquele que sempre foi o Amado do Pai e Seu deleite eterno se percebeu, em certo sentido, “deveras solitário” (infinitamente mais do que o personagem de “Here comes the Sun”) mas, em lugar de um inverno gélido e longo, Ele estava sofrendo as chamas da ira divina, como se sofresse o próprio inferno sobre Seus santos ombros, para que todos os salvos por Ele fossem livrados do seu destino merecido e recebessem a graça que lhes era imerecida — a vida eterna em vez do castigo do fogo eterno.


Por fim, algum tempo depois, Jesus fala Suas últimas palavras ao citar novamente os Salmos: “Pai, nas Tuas mãos entrego o meu espírito” (Lucas 23:46 — vide Salmo 31:5). Em seguida, uma série de fenômenos espantosos acontece: túmulos de pessoas tementes a Deus/fiéis se abrem e muitos destes ressuscitam dos mortos, a terra treme, o véu do santuário se rasga em dois de alto a baixo e, como o ápice de tudo isso, Jesus não tem Suas pernas quebradas (o que sucedeu com os dois ladrões) e o centurião romano, ao ver seu lado furado com uma lança e confirmar que Ele estava morto, diz: “verdadeiramente este era o Filho de Deus” (Mateus 27:51-54 e João 19:31-37). Após todo aquele horror haver terminado, um judeu influente e rico (que também era seguidor de Jesus) pede a Pilatos que lhe conceda a permissão para sepultar o Seu corpo e, tendo obtido a permissão, Jesus é sepultado antes do início do sábado (o Dia da Preparação — ver Mateus 27:57-60 e João 19:38-42). Nesse momento, todos os discípulos já estavam escondidos, Pedro O havia negado por três vezes, Judas Iscariotes tinha cometido suicídio e, aparentemente, a esperança de que Deus redimiria o Seu povo estava destruída. Logo, restavam apenas as expectativas de libertação frustradas, a desilusão de que as “antigas promessas” haviam falhado, a sensação de derrota diante do poder dos religiosos judeus e dos pagãos romanos, o silêncio de um sepulcro e a dor do lamento pelo “Messias morto” — porém, para alegria dos discípulos e nossa, isso duraria pouco tempo, como Ele mesmo dissera: “um pouco, e vocês deixarão de me ver; outra vez um pouco, e vocês me verão novamente” (João 16:16). 













O Domingo da Ressurreição


Três dias depois da traição, prisão, julgamento, morte e sepultamento de Jesus, algumas mulheres que O seguiam foram levar especiarias para cuidar do Seu corpo (conforme os costumes judaicos da época). Contudo, nenhuma delas esperava encontrar o que viram: a pedra do sepulcro estava removida e anjos estavam ali, os quais lhes disseram: “...por que buscam entre os mortos ao que vive? Ele não está aqui; ressuscitou...”! (Mateus 28:1-6, Marcos 16:1-8 e Lucas 24:5-6). Os evangelistas registram o espanto e o temor que se apoderaram de todas delas mas, em particular, uma permaneceu mais tempo ali — para, talvez, recuperar “o corpo de seu Senhor” — até que ouviu uma voz chamar “Maria!”, ao que ela respondeu “Raboni!” (ou “meu Mestre!”) — vide João 20:11-16. 


Durante os próximos quarenta dias, Jesus apareceu algumas vezes aos Seus doze discípulos quando reunidos (João 20:19-29 e cap. 21), assim como no caminho de Emaús (Lucas 24), no fim dos evangelhos de Marcos (cap. 16:9-20) e Mateus (cap. 28:16-20) e a vários irmãos de uma só vez (1 Coríntios 15:6), dando “muitas provas infalíveis” de que a ressurreição era real (Atos 1:1-4). A esperança supostamente frustrada agora se mostrava uma “esperança viva”, tão viva que nem mesmo a morte pôde vencê-la


Em suma, todos esses acontecimentos (inclusos os detalhes) encontram seu significado nas seguintes palavras do próprio Cristo, que disse que “tudo isso aconteceu para que se cumprissem as escrituras dos profetas” (Mateus 27:56) e que “era necessário que se cumprisse tudo o que está escrito a meu respeito na Lei de Moisés, nos profetas e nos Salmos” (Lucas 24:44). Desse modo, diferentemente de uma narrativa poética ou de uma letra de música (que não é necessariamente verídica e concretizável, embora possa ter valor literário e simbólico), nenhuma profecia ou revelação concernente à pessoa de Jesus Cristo, o Filho de Deus, poderia não ser verídica ou concretizável, pois “Aquele que o enviara é verdadeiro” e jamais deixaria cumprir qualquer promessa que houvesse feito. À semelhança dos dias de Josué — cujo nome significa “Javé é a Salvação” —, quando nenhuma das palavras que o Senhor falou a respeito de Israel falhou, mas todas se cumpriram” (Josué 23:14), nenhuma Escritura referente Àquele que é o “verdadeiro Josué”, a “verdadeira salvação de Senhor”, o “General vencedor” que derrotou os nossos inimigos e nos garantiu herança e descanso eternos, também falhou. Que ditosa fidelidade!









Por tudo isso, assim como num determinado momento da música “o sol veio e tudo ficou bem” — pois, com a sua presença e a sua luz, ele dispersou o frio, a solidão e a escuridão outrora dominantes —, o verdadeiro “Sol Invictus” (não um mero ídolo fabricado pela arte e imaginação humanas, mas o “Sol da Justiça” prometido pelo Deus verdadeiro e por Ele “enviado a nós e para nossa salvação”) voltou do silêncio do sepulcro e da escuridão da morte “para não mais morrer” (Romanos 6:9) e “ficar conosco todos os dias, até a consumação dos séculos” (Mateus 28:20). Assim, nenhum daqueles que Ele redimiu jamais estará solitário ao longo de sua peregrinação rumo à “Cidade Celestial”, a qual “não precisa de sol nem de lua para brilharem sobre ela, pois a glória de Deus a ilumina e o Cordeiro é a sua lâmpada” (Apocalipse 21:23). Como se pode ver, as mais belas canções que podemos compor para expressar nossos anseios pelo belo, bom e verdadeiro somente tateiam tais realidades, mas as palavras de Deus, conforme preservadas nas Sagradas Escrituras (a Bíblia!), nos mostram claramente como as coisas são e também como elas serão, de sorte que todos os que as guardam no coração “são como um homem prudente, que construiu a sua casa sobre a rocha” (Mateus 7:24) e, por isso, são igualmente bem-aventurados.


Finalmente, enquanto recordamos nesses dias os episódios da paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo, todos nós devemos lembrar de que em breve (espero que seja muito em breve mesmo!) esse mesmo Jesus virá outra vez de forma repentina mas, ao mesmo tempo, de modo que “todo o olho o verá, até aqueles que o traspassaram” (Apocalipse 1:7 e Zacarias 12:10). 


Nesse dia aterrorizante e glorioso, posso supor que alguns dos versos que estarão nos lábios daqueles que O aguardam ansiosamente poderão ser “Here comes the Son / And now it’s alright” — “Eis que o Filho vem, e agora tudo vai ficar bem”! A partir desse momento, nada mais estará “fora de ordem”: não haverá mais quaisquer injustiças sem a devida retribuição, nem perversos que escaparão impunes em seus pecados, nem qualquer necessitado que não seja amparado,  desprezado que não seja acolhido, “pobre de espírito” que não seja enobrecido ao entrar no Reino a ele prometido, perseguido que não seja recompensado ou qualquer servo fiel que “não entre na alegria de seu Senhor”.


Por tudo isso, devemos dar ainda mais atenção a tudo o que a Semana Santa nos comunica e significa, pois “como nós escaparemos, se não atentarmos para uma tão grande salvação?” (Hebreus 2:3). Ora, o Jesus que salvou os pecadores na Semana Santa por Sua morte e ressurreição é o mesmo que julgará os vivos e os mortos com justiça em Sua vinda, de maneira que somente os que foram resgatados por Ele e, consequentemente, santificados pelo Seu Espírito, escaparão da ira vindoura (1 Tessalonicenses 1:10).













E quanto a você? 


Você tem vivido “invernos longos, rigorosos e solitários” e não mais acredita que sairá deles? Onde está a sua real esperança?


Você reconhece que, sem verdadeira fé em Jesus Cristo, todos nós estamos afastados de Deus e, por isso, estamos em trevas, desamparo e morte?


Finalmente, diante de tudo o que a Semana Santa traz à tona e nos revela, até quando você continuará a desprezar a verdadeira Luz do mundo, cujos raios dissipam todas as nossas trevas e nos fazem ver o fim para o qual existimos? 





Pela alegria de que o “Son” já veio — mas também em breve virá novamente,





Soli Deo Gloria!