sábado, 27 de junho de 2015

De "molduras boas" em "quadros ruins"...

Mais uma vez estou aqui.

Ainda estamos [pelo menos por aqui onde moro] no clima das festas juninas - muito milho, forró, licor, dentre outras coisas típicas - porém, dessa vez, não pretendo escrever nada relacionado a datas comemorativas [como no texto anterior]. Tenho outros objetivos.

Na verdade, acho que tenho sido sereno demais ultimamente. 

Está mais do que na hora de voltar a escrever com mais propriedade, inteireza e autenticidade - embora tudo que escrevo, seja terno ou inflamado, é conforme o que acredito e defendo. Em outras palavras, eu não espero ser amigável nem "politicamente correto" nos próximos parágrafos - para isso já temos o Brasil 247, a Revista Fórum, o Diário do Centro do Mundo e, claro, o mais novo "pombo-correio de Jesus Cristo", o humorista, intelectual e "apóstolo" Gregório Duvivier. Se você se ofender comigo, saia deste blog e vá adoçar sua mente com essas coisas


O título deste texto se inspirou numa frase que certa vez vi numa imagem na internet - acredito que esta foto ainda está salva na minha biblioteca de fotos do celular - , que dizia:

Molduras boas não salvam quadros ruins.

Na época em que descobri essa imagem, eu aplicava o seu sentido a coisas que não são pertinentes no momento atual mas, dessa vez - no caso, neste post -, existem duas aplicações dessa frase que me parecem mais oportunas. A primeira delas diz respeito a certas coisas que ouço, vejo e observo dentro do contexto religioso no qual estou inserido (seja direta ou indiretamente) e que me deixam violentamente indignado, furioso e um pouco pesaroso, diante do que algumas afirmações de Paulo nos textos sagrados vêm bastante a calhar:

"...Alguns falsos irmãos infiltraram-se em nosso meio para espionar a liberdade que temos em Cristo Jesus e nos reduzir à escravidão.
Não nos submetemos a eles nem por um instante, para que a verdade do evangelho permanecesse com vocês..." [Epístola aos Gálatas, cap. 2, vs. 4b-5]

Para que a verdade do Evangelho permaneça.

Desde os tempos dos primeiros cristãos [após a passagem de Jesus Cristo na terra, por assim dizer], houve pessoas dissimuladas, falsas e perversas, as quais são descritas nesta passagem como os que "espionam a nossa liberdade em Cristo para nos reduzir à escravidão". Isto é, eles parecem ser "irmãos", mas são falsos - são "quadros ruins em molduras boas" - pois, em nome de seus próprios interesses, querem impor sobre os outros fardos difíceis de se suportar bem como ensinar filosofias vãs e sutis baseadas em tradições de homens, tendo em vista justificarem a si mesmos diante de Deus ao mesmo tempo que induzem os demais a pensarem que somente assim eles também se justificarão diante Dele.


Não é nada disso!

Primeiramente, ninguém pode justificar a si mesmo diante de Deus - não importa o nível de santidade exterior, a aparente reverência, os "bons costumes", a "ordem e a decência litúrgica" e nem mesmo as melhores intenções interiores ou a mais estrita obediência aos preceitos divinos. Nada do que fazemos ou intencionemos fazer [nem mesmo quem somos ou o que pretendemos ser] poderia ou poderá jamais nos recomendar a Deus. Por isso, se algum de nós que está lendo esse texto acredita mesmo que é pelo fato de nossa espiritualidade ser a "mais puritana ou reformada" na teologia e na prática, ou porque não batemos palmas no culto, não ouvimos rock ou reggae e nem usamos de "meios seculares" para nossas "ações evangelísticas" que Deus nos vê como justos, está na hora de reconhecermos que não sabemos nada do verdadeiro evangelho - seja você pastor, teólogo, escritor, músico, missionário ou o que for; títulos não dizem nada. 

Mas o que nos ensina o evangelho? Vamos lá.

Ora, está escrito a esse respeito que essas pessoas têm "zelo por Deus, mas sem entendimento", as quais "ignoraram a justiça de Deus e quiseram estabelecer a sua própria justiça" [Romanos 10, vs. 2-3]. Isto é, até existe zelo por Deus, mas é um zelo vazio de entendimento, cuja insensatez e tolice se manifesta no fato de tentar estabelecer uma justiça diferente daquela que o próprio Deus já designou, a qual é Cristo. É medíocre - para não dizer soberbo, insolente, arrogante e até blasfemo - buscar substituir o sacrifício substitutivo do Filho de Deus como propiciação pelos nossos pecados [ou seja, o sacrifício que afasta de nós a ira de Deus, removendo o pecado] por quaisquer moralismos fúteis - tais como "não toques, não proves, não manuseies" ou outras coisas que perecem com o uso, pois são criados por homens [logo, não podem ser duráveis] e têm, no máximo, belas máscaras de sabedoria e de humildade, com aparente disciplina do corpo, sendo sem valor algum contra os impulsos de nossa natureza carnalque possamos seguir como causa de nossa justificação. Contra esse pensamento, lembro as belíssimas palavras de Lutero: "Senhor, Tu és a minha justiça, e eu sou o Teu pecado"


Portanto, Jesus Cristo, e tão-somente Ele, pode salvar e, de fato, salva o pecador dos seus próprios pecados, pois também se lê que "...com o Seu conhecimento, o meu Servo, o Justo, justificará a muitos, e levará a iniquidade deles" [Isaías 53, vs. 11], que "...o Filho do Homem veio para dar a Sua vida em resgate de muitos" [Marcos 10, vs. 45], que "...a vontade do Pai é que todo aquele que olhar para o Filho e crer nele tenha a vida eterna..." [João 6, vs. 40] e que "...no evangelho é revelada a justiça de Deus, de fé em fé, como está escrito: o justo viverá pela fé" [Romanos 1, vs. 17]. Enfim, todo aquele que rejeita a justiça que Deus estabeleceu [ou seja, que rejeita Cristo] não está em comunhão com Ele e, se assim permanecer, sofrerá o juízo decorrente de ter rejeitado o Filho de Deus, pois "...aquele que rejeita o Filho não verá a vida, mas a ira de Deus sobre ele permanece" [João 3, vs. 36]. Eu não vou ceder nem por um instante; que a verdade do evangelho permaneça.

No entanto, existem outros quadros ruins "maquiados" por molduras boas.

Nossa sociedade hoje é a sociedade que mais fala de "boas energias", "boas vibrações" - ou "good vibes" -, de respeito, progresso, tolerância, igualdade e amor. Contudo, como escrevi na postagem passada, acredito cada vez mais concretamente que estamos mais ignorantes e enganados a respeito do que sejam essas coisas, especialmente o amor. Nesse contexto, vale citar o ocorrido ontem nos Estados Unidos da América - nação que foi construída pelo cristianismo e que se tornou grande e próspera por causa de seus valores cristãos seriamente cultivados nos séculos passados -, cuja Suprema Corte aprovou o casamento igualitário para todas as pessoas. Eu, em particular, sou a favor dos direitos civis para todos os cidadãos de bem, independentemente de credo religioso, etnia, comportamento sexual ou condição social. A aprovação gerou uma comoção mundial - ora, a maior nação protestante do mundo agora aprova o casamento entre pessoas do mesmo sexo! - e uma mobilização nas "redes sociais" com a hashtag "#LoveWins" e com fotos de perfil no Facebook com background nas cores do arco-íris. 

Vamos direto ao ponto: "Love Wins" não tem nada a ver com isso, e o arco-íris tem outro significado - um significado que a maioria desconhece. 


Ora, quando afirmamos "Love Wins" ou "o amor vence", pressupomos que havia uma batalha em curso e que, no final, o amor prevaleceu. No sentido em que a hashtag passou a ser usada, a batalha era entre os "fundamentalistas religiosos retrógrados e opressores" e as "vítimas oprimidas que só querer ser livres para 'amar'". De fato, as pessoas são livres para viverem suas vidas como lhes parece melhor e, por isso, são inteiramente responsáveis pelas decisões e escolhas que fazem, de modo que não são livres de suas consequências - tudo o que se semear, isso se colherá. Isto é, a despeito do discurso do "nós contra eles", tanto "opressores" quanto "oprimidos" prestarão contas de seus atos e palavras, seja nesta vida aqui seja depois que essa vida passar

Em contrapartida, eu também creio que o amor vence - na verdade, eu creio que o Amor já venceu, e essa vitória está mencionada em dois pequenos trechos do Evangelho de João:

Chegou a hora de ser julgado este mundo; agora será expulso o príncipe deste mundo. [João 12, vs. 31]

Tendo provado um caniço de hissopo com vinagre, Jesus disse: está consumado. [João 19, vs. 29-30 - adaptado]


Jesus foi categórico: Sua morte seria a sentença final de juízo sobre o mundo e de derrota sobre o príncipe deste mundo, que é satanás. Cristo, quando morreu na cruz, fez dos principados e potestades "um espetáculo público, e triunfou sobre eles". Ao proclamar "está consumado", Ele notificou a todos que realizou perfeitamente a obra que Deus, o Pai, havia confiado a Ele, o Filho. Nada ficou faltando, nada ficou "por fazer"; não houve lacunas, nem arestas com defeito, nem nada parecido. Sim, o amor venceu - mas, uma vez que Deus é amor, que Jesus Cristo é Deus e que Deus é santo, toda modalidade de amor só pode vir de Deus e, por isso, deve ser algo obrigatoriamente santo, puro e conforme à lei divina. Dessa maneira, o que a Bíblia chama de "pecado, abominação e paixão infame" não é "amor" - doa em quem doer - e, além disso, visto que Cristo é Aquele que prevaleceu contra todo poder e autoridade existente por meio de Sua morte de cruz, posso dizer que "o amor venceu" quando Deus lançou a Sua ira santa sobre o Seu Filho, ira devida ao meu pecado, ao seu pecado, ao pecado de gente que jamais lerá esse texto. O amor não foi "legalizado" no dia 26/06/15 nos EUA - o Amor é o Legislador do Universo, é a essência da Lei do Legislador, sendo provado pelo fato de que este Legislador se encarnou e se deu por nós, sendo nós ainda pecadores. 

E o arco-íris?

O arco-íris, conforme registrado nos textos sagrados, é um sinal de aliança entre Deus e a humanidade, indicando que Ele não mais destruiria o mundo com água, como fez no Dilúvio. Isto é, o arco-íris aparece depois que somente a família de Noé sobrevive a todos aqueles dias de chuva na terra (junto com os animais que estavam dentro da arca), enquanto todos os outros sofrem o juízo de Deus - pois toda a humanidade havia se corrompido, todos estavam cheios de violência e, por isso, Deus não poupou a ninguém, exceto Noé e sua família. Portanto, o arco-íris é um símbolo associado ao juízo de Deus sobre uma humanidade pecadora, porém também aponta para Sua bondade e graça - logo, não tem nada a ver com bandeiras, nem bottons, nem diversidades e afins. Aceite isto - molduras boas, mesmo coloridas e brilhantes, não salvam quadros ruins; novas nomenclaturas "socialmente aceitáveis" não fazem pecados se tornarem virtudes. 


Eu sei que este texto pode não ter sido tão agradável quanto os demais.

Na verdade, não tenho a intenção de ser "agradável", mas sim de ser verdadeiro - acredito que a verdade é, por si mesma, a única coisa que de fato confere graça - e, por isso, sei que isso pode me custar algumas coisas. 

No entanto, meu convite ao leitor é que repense seus conceitos - sejam de autojustificação diante de Deus por meio de uma religiosidade vazia e insensata ou mesmo de distorção daquilo que Deus disse. Deus deseja salvar pecadores - Ele veio para eles, para os doentes, para os que sabem que não podem nada de si mesmos -, mas enquanto os pecadores se acharem "justos" ou "justificáveis" a seus próprios olhos, Deus os resistirá. Ele se opõe aos orgulhosos, mas dá graça aos humildes

Abandone seus conceitos egoístas.

Renuncie a toda justiça própria.

Não pense que Deus é manipulável, ou que Ele toma a forma da cultura ao bel-prazer de quem assim o quer.


No fim das contas, nenhum homem pode escapar de Deus - seja aquele que se renderá voluntariamente a Ele e, assim, desfrutará da vida eterna, seja aquele que fará de conta que Ele não existe ou viverá em rebeldia expressa contra Ele -, pois todos nós estaremos diante Dele [seja no céu em alegria infinita e perpétua, seja no inferno em face de Seu furor, sob sofrimento eterno e sem qualquer alívio]. 

Ora, renda-se a Ele, olhe para Cristo e creia nEle, pois apenas Ele pode tornar um quadro ruim numa bela obra de arte, pois a Sua graça é que nos faz aptos "...para as boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas" [Efésios 2, vs. 10].





Pela certeza de que Ele todo dia restaura o meu ser,




Soli Deo Gloria!

quarta-feira, 17 de junho de 2015

Sobre ficar esperando o amor passar...

Eis aqui, estou de volta.

Desde o último texto, um texto notadamente confessional, estive muito ocupado com algumas responsabilidades - estudo e processo seletivo para o ingresso no doutorado na minha universidade e, portanto, não tive tempo de passar por aqui - mas, agora que estou um pouco mais disponível, preciso escrever... Como sempre, espero que quem passar por aqui extraia algum proveito dessa leitura. 

Vamos, então, em frente. 


O tema dessa postagem, de modo análogo aos últimos posts publicados aqui, se baseia numa canção da Legião Urbana chamada "Se fiquei esperando meu amor passar", a qual também vem a calhar, dado o fato de que acabamos de passar pelo Dia dos Namorados - dia no qual os casais ficam um tanto mais carinhosos e românticos e, nessa era das redes sociais e dos compartilhamentos em tempo real, a nossa linha do tempo fica "doce igual caramelo", cheia de declarações apaixonadas e de fotos em locais turísticos, parques, jantares à luz de velas ou mesmo aquele "selfie" de rotina. 

Nesse sentido, embora eu também goste de demonstrar carinho e zelo pela mulher com quem estou namorando [o que não é o caso no momento, rs], não sou adepto a certas "frescuras" ou exageros - quem me conhece bem, sabe o quanto sou um "mar de doçura" - mas, mesmo assim, cada pessoa pode se manifestar seus sentimentos pelo outro de modo que todos (tanto quem se expressa quanto quem visualiza a expressão) se respeitem mutuamente. 

Porém não é exatamente de "namoro ou coisas afins" que desejo falar aqui.


A música mencionada acima fala de coisas muito interessantes quanto ao assunto "amor", e uma delas está no seguinte trecho:

"Quando se aprende a amar, o mundo passa a ser seu..."

Aprender a amar.

Certamente, não existe nada neste mundo para o que nós, seres humanos do século XXI, somos absolutamente ignorantes, enganados, equivocados, alienados e destituídos do que o real significado de amor - tanto na teoria quanto na prática. Para se falar de amor, uma boa dica é conhecer a perspectiva dos antigos filósofos (gregos e, mais tarde, os escolásticos medievais, por exemplo), conforme a qual a palavra "amor" pode ter quatro usos: o amor por coisas (o que pode ser chamado de afeto), o amor por pessoas com quem temos algum laço familiar ou de amizade (o "philéos" ou amor fraternal), o amor que envolve a atração sexual (o "eros", de onde vem o termo erótico) e o amor chamado "agápe", o qual se caracteriza por ser auto-doador, altruísta, desprovido de soberba e durável, sendo normalmente associado à essência da divindade. No entanto, tudo pode ser chamado de "amor" hoje em dia [inclusive o que só fomenta ódio, divisão, guerra e inimizade] - meus caprichos pessoais são traços de "amor", meus desejos sexuais ilícitos e pervertidos são "formas justas de amor", minhas "boas ações" são sempre atos de amor (mesmo que sejam só para autopromoção) e, o que ainda é mais grave, minhas ações de barganha religiosa ou espiritual [seja para buscar um alívio na consciência pela "sensação de dever cumprido" ou para tentar "convencer a Deus de minha suposta bondade inata"] são atitudes de amor sincero a Ele

Não - não estamos entendendo nada. 
Precisamos aprender o que de fato significa "amor" - urgentemente.


Resumidamente, nossos "caprichos" são só caprichos, nossos desejos sexuais egoístas e ilícitos são apenas "desejos sexuais egoístas e ilícitos", nossos gestos beneficentes para auto-exaltação não passam de tentativas medíocres de afirmação pessoal e vanglória fútil e, por fim, nossas tentativas de nos fazer espiritualmente aptos ou, em outras palavras, de nos recomendar a Deus por nós mesmos são pura insolência, arrogância e pretensão. Precisamos aprender a amar de verdade e, para isso, precisamos aprender com Aquele que é amor - Deus. Se você, porventura [ou seria desventura?], não acredita em Deus como Ele de fato é ou, no máximo, tem uma visão dele proveniente de sua própria cabeça, eu sinto muito - você não sabe o que é amor, você não é capaz de fazer qualquer ato que seja em amor e, finalmente, o amor que vem Dele não está em você

Logo, assim como a música afirma, o mundo "passa a ser de quem aprende a amar" - porém, quem aprende a amar com Aquele que é amor [o Qual diz de Si mesmo que é manso e humilde de coração e, por isso, convida a todos para aprenderem Dele], sabe que a melhor maneira de "possuir o mundo" é "fazendo uso dele como se dele não usufruísse, visto que a aparência do mundo passa" bem como se desapegando do que há de mau e injusto nele, pois está escrito que "...se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele..." [1 João 2, vs. 15b] e "...qualquer que se faz amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus..." [Tiago 4, vs. 4]. A esse respeito, se faz oportuna a citação adaptada de C. S. Lewis: "Pense apenas nas coisas desse mundo, e você perderá o mundo futuro; pense especialmente nas coisas do mundo futuro, e você aproveitará ambos". 


Mas talvez você se questione: se eu não creio em Deus ou possa ter uma visão errada de quem Ele é, como eu poderia resolver esse dilema? 

Simples - Deus não foi irresponsável a ponto de ter criado o universo e tudo o que nele existe [incluindo eu e você] sem ter Se revelado de maneira clara e indesculpável para Suas criaturas, como registrado pelo apóstolo Paulo:

Pois, desde a criação do mundo, os atributos invisíveis de Deus, tanto o Seu eterno poder quanto a Sua natureza divina, têm sido vistos claramente, sendo compreendidos por meio das coisas que foram criadas, de forma que tais homens são indesculpáveis. [Epístola aos Romanos, cap. 1, vs. 20]

Não seria possível ser mais claro - os atributos invisíveis de Deus [aqueles que não são comunicados por Ele a nada fora Dele, de modo que Deus é único e singular em Si mesmo] estão visíveis pra quem quiser ver, pois a natureza e o universo revelam explicitamente que Deus é Deus e, assim, todos os homens que permanecem na injustiça e no pecado não têm desculpa por rejeitarem a Ele. Isto é, se alguém ignora a Deus como se Ele fosse um "produto de mentes fracas que precisam de algo em que se apoiar" ou, como já foi expresso, cria o seu próprio "deus de estimação" [um deus manipulável, palatável aos próprios prazeres e que muda de forma e de caráter "ao gosto do freguês"], esse alguém não terá como se livrar da sua culpa, pois no fundo ele sabe que Deus é uma realidade, de forma que sua rebeldia contra Ele é deliberada - logo, ele se torna ainda mais culpado de sua impiedade e, assim, totalmente sujeito e vulnerável à ira divina. 


Mas Deus não Se revelou apenas na Sua criação - Ele foi mais além.

Deus, a fim de que não existisse qualquer dúvida dentro da mente de cada um de nós a respeito de Quem de fato Ele é, decidiu Se revelar através de Alguém - Jesus Cristo. Os textos sagrados dizem que o "Verbo" eterno "que estava no princípio com Deus e que é Deus, por meio de Quem todas as coisas foram feitas, em Quem estava a vida e a luz verdadeira que ilumina a todo homem que vem ao mundo e que veio para que todos os que cressem Nele fossem feitos filhos de Deus" se encarnou, se tornou homem, nasceu de uma virgem e, mais tarde, disse o seguinte, conforme registrado pelo evangelista João:

Se vocês conhecessem a mim, também conheceriam a meu Pai; e já desde agora O conhecem, e o têm visto.
Disse-Lhe Filipe: Senhor, mostra-nos o Pai, o que nos basta.
Disse-lhe Jesus: estou há tanto tempo com vocês, e não têm me conhecido, Filipe? Quem me vê, vê o Pai, e como dizes tu: mostra-nos o Pai? [João 14, vs. 7-9]

Nesse texto, Jesus afirma ser Deus, o mesmo Deus que "revelou o Seu poder e divindade por meio das coisas criadas", de maneira que quem quiser saber quem é Deus - e, assim, conhecer Aquele de quem procede todo amor, visto que Ele é amor - precisa simples e tão-somente olhar para Jesus, pois também está escrito que "Ele é o resplendor da glória de Deus e a expressa imagem de Seu ser". Em outras palavras, quem também tem sua própria visão de Jesus e não se conforma com a realidade de quem Jesus é, conforme registrado nos evangelhos - um "revolucionário das minorias", um "mestre da moral" ou qualquer outra perspectiva - também demonstra não querer aprender Dele e, desse modo, continuará sem saber o que é o amor ou, no máximo, estará "esperando o amor passar" quando ele "já passou" há muito tempo


Finalmente, assim como muitos de nós hoje estão "esperando o amor passar" - neste caso, achar o que chamamos "alma gêmea" ou "pessoa certa" -, acredito ser oportuno frisar que o "amor" mais importante pelo qual devemos esperar ou anelar não é o amor de outra pessoa como nós [embora isso seja uma das melhores coisas da vida, de fato], mas sim aquele Amor que não depende de sentimentos ou sensações favoráveis para permanecer, o Amor que é em si mesmo benevolente, benigno, humilde, santo e eterno e, por isso, só pode ser encontrado no Criador, em Deus, em Jesus Cristo. Sobre isso, a canção que inspirou esse post, perto de seu final, inclui o trecho de uma canção/oração [se não me engano, católica] que diz:

"Cordeiro de Deus, que tirai os pecados do mundo
Tende piedade de nós
Cordeiro de Deus, que tirai os pecados do mundo
Dai-nos a paz..."

Não sei se o poeta da canção, de fato, acreditava nessas frases que ele estava entoando mas, de toda sorte, essa bela oração poderia também ser escrita da seguinte forma:

"Cordeiro de Deus, que tirou os pecados do mundo
Teve piedade de nós
Cordeiro de Deus, que tirou os pecados do mundo 
Deu-nos a paz..."


Sim, Jesus Cristo, o Filho de Deus, já veio para tirar os pecados do mundo - pois está escrito que "Ele se manifestou para tirar os nossos pecados, e Nele não há pecado". Ele é chamado de "Cordeiro de Deus" como figura da suprema pureza de Sua natureza, uma vez que apenas alguém totalmente santo e justo poderia substituir pecadores como eu e você numa cruz, a fim de morrer uma morte cruel e penal para salvar a todo aquele que olhar para Ele e, então, invocar o Seu nome. Sim, Ele já "teve piedade de nós" e agora nos resta apenas suplicar a Ele para que essa piedade que Ele demonstrou nos alcance, pois o nosso pecado nos faz totalmente carentes de misericórdia e compaixão, e apenas Deus pode ser para nós o que realmente precisamos - ser Redentor, Salvador, Resgatador, Justificador, Santificador e Senhor. 

O que estamos esperando então? 


Não precisamos "ficar esperando o amor passar", porque Ele já passou em nosso meio humano presencialmente há uns 2000 anos e, ainda hoje [já que Ele vive], está disposto a salvar a todo aquele que vier a Ele sabendo que nada tem em si mesmo para que se salve, a não ser confiar Nele como o único que pode salvá-lo. Ora, como diz um poeta que admiro, esse Amor que passou por nós é "um amor perfeito e justo, que sempre me espera" e que "está se espalhando" - isto é, veja os fachos de luz desse amor divino por meio dessas palavras postadas e, em vez de continuar esperando por algum "amor" que jamais te satisfará a alma, reconheça que Ele é totalmente capaz de fazer isso, pois "nEle reside toda plenitude da divindade" ou, de outra sorte, "nEle reside toda a plenitude do amor"





Pela certeza de que o Amor passou por mim e permanece,




Soli Deo Gloria!

domingo, 7 de junho de 2015

Everything is not post...

Mais um mês começa. 

Sim, já estamos na metade do ano - o tempo realmente passa depressa - e, juntamente com ele, novos desafios surgem e novas experiências (muitas delas árduas e dolorosas) precisam ser encaradas. 

Nesse sentido, embora eu esteja mais atarefado nesses últimos dias [estou prestes a me selecionar para ingressar no doutorado em minha universidade e, por isso, preciso me dedicar], não posso deixar de expor algo que aprendi nas últimas semanas - algo humilhante, dilacerador, que traz uma certa vergonha e o senso de culpa, mas que eu falarei mesmo assim. Espero que valha a pena.


O título dessa postagem, como normalmente gosto de fazer, também é inspirado numa música da banda britânica de rock Coldplay (já mencionada neste blog no texto "The tic-tac of clocks"), a qual se chama "Everything's not lost" ou "Nem tudo está perdido", cujos versos iniciais dizem:

When I'm counting up my demons
Saw there was one for every day
With the good ones on my shoulders
I drove the other ones away... 

Que traduzido pode ser:

Quando eu enumerei meus demônios
Eu vi que havia um para cada dia
Com os "bons" sobre os meus ombros
Eu afastei os outros pra longe... 

Sobre os meus próprios "demônios".

Inicialmente, é preciso esclarecer que a canção não fala exatamente da presença real de demônios ou, em outras palavras, de possessão ou opressão demoníaca, porém apresenta esses termos de modo alegórico ou figurado. Portanto, acredito que o autor da música se refere aos seus próprios vícios, perversões ou traços de maldade quanto "enumera ou conta os seus 'demônios'" - ora, se o escritor dessa letra é tão humano quanto eu e você, nós também temos dentro de nós esses "demônios" (nossos vícios, paixões desenfreadas, pecados ocultos, perversões morais e éticas, pensamentos e sentimentos maus etc.), os quais precisam ser notados por nós a ponto de reconhecermos a existência deles, visto que, quase sempre, nos iludimos a respeito de uma suposta bondade intrínseca e nos julgamos "separados dessas coisas ruins". Nessa situação, se faz oportuna a citação ousada do teólogo alemão Martin Luder, que disse: "Dentro de mim existe um demônio chamado 'eu'". 


Contudo, a letra vai mais além - ela afirma que "havia um 'demônio' para cada dia", o que implica, em termos totais, no mínimo 365 "demônios" por ano ou, no nosso contexto aqui, 365 "tipos" de males, de pecados ou quaisquer desvios de caráter ou conduta, provavelmente se referindo a cada pessoa, a cada um de nós, começando pelo seu compositor. Será que paramos para nos analisar a ponto de perceber que somos muito mais inclinados para o mal do que para o bem [se é que desejamos o bem de fato]? Ora, como mencionei num texto anterior, somos tão voltados para nosso próprio umbigo que, até quando procuramos "fazer o bem" ou buscamos "coisas espirituais", fazemos isso pensando em nós mesmos, pois pode-se ler nos escritos sagrados que "...como o inferno e a destruição nunca se fartam, os olhos do homem nunca se satisfazem" [Provérbios 27:20] e que "...ainda que eu distribua toda minha fortuna para sustento dos pobres, e entregue meu corpo para ser queimado, se não tiver amor, nada disso me aproveitaria..." [1 Coríntios 13:3]

Em suma, a nossa insaciedade e cobiça é comparada no texto bíblico à cobiça e insaciedade do próprio inferno [isto é, esses maus sentimentos e desejos são como demônios em nossa alma, a ponto de sempre arrogarmos para nós mesmos mais e mais - como disse certo poeta, "o que é demais nunca é o bastante"] e, por outro lado, podemos praticar atos exteriormente admiráveis e bondosos, mas sem amor [de modo que amor, então, é muito mais que ter as "atitudes certas" assim como é mais que mero sentimentalismo], o que torna nossas pretensiosas "virtudes visíveis" absolutamente abomináveis em si mesmas e, especialmente, detestáveis e desprezíveis diante dos olhos Daquele que é Amor, mas que também é santo e, por isso, verdadeiramente temível


Mas ainda podemos relutar... será que há tanta maldade assim em nós?
Sim, há - e digo mais, somos mais maus do que podemos perceber e, principalmente, maus de maneira tal que não podemos fazer nada para nos livrarmos disso.

A esse respeito, o poeta da música acima conseguiu transmitir tudo que eu jamais sintetizaria em apenas duas frases, nas quais é dito que "com os 'demônios bons' em nossos ombros, nós afastamos os 'outros'...". Ou seja, a perversidade e corrupção inerentes a nossa natureza são tão desesperadoras que, ao olharmos para nossos próprios vícios, pecados, motivações erradas, intenções impuras e anseios egoístas, damos um sorriso cínico pra eles por acharmos beleza onde só há podridão e sujeira, além de acharmos que "já que temos 'vícios bons' e 'pecados bem intencionados'", fomos capazes de "afastar as coisas ruins para longe...". Mentira pura! Petulância descabida! No tocante a isso, outros escritos sagrados afirmam:

Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto; quem o conhecerá? [Jeremias 17, vs. 9]

Quem poderá dizer: purifiquei o coração, e estou livre do meu pecado? [Provérbios 20, vs. 9] 

Ou, nas palavras aterradoras de Jesus Cristo - sim, Aquele que andava com pecadores, prostitutas, acolhendo os pobres e indignos para Si, disse o seguinte:

Pois do coração do homem procedem os maus pensamentos, os homicídios, os adultérios, as prostituições, os roubos, os falsos testemunhos e as blasfêmias. São essas coisas que contaminam o homem... [Evangelho de Mateus, cap. 15, vs. 19-20a]


Resumidamente, Jesus não cita nenhuma virtude, bondade ou atitude digna em si mesma como procedente do coração do homem, o que implica o fato de que qualquer ser humano, por mais íntegro que seja aos nossos olhos, não pode fazer nada de bom por si mesmo, pois em outro lugar Jesus disse que "...a Luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz, por que as suas obras eram más... Quem pratica o mal odeia a Luz, e não vem para a Luz, para que as suas obras não sejam reprovadas... Mas quem pratica a verdade vem para a Luz, a fim de que suas obras sejam manifestas, porque são feitas por intermédio de Deus..." [João 3, vs. 19-21]. Isto é, se por um lado os homens amam mais as trevas do que a Luz [ou amam mais a maldade, o erro e o pecado do que a Deus], só é possível fazer algo verdadeiramente bom se for feito em Deus, pois somente Nele há bondade e virtude e, desse modo, as demais coisas só podem expressar beleza e dignidade se Deus concede de Si mesmo a beleza e a dignidade de que essas coisas necessitam. Logo, faço dos versos de uma bela canção nordestina a minha oração: 

"Deus me proteja de mim
E da 'maldade de gente boa'
Da 'bondade da pessoa ruim'
Deus me governe e guarde, ilumine e zele assim..."

Mas o que isso tem a ver com minhas últimas experiências? Tudo.


Nas últimas duas semanas, eu tive de "enumerar os meus próprios demônios" de forma latente e em aflição de alma, pois algo aconteceu a meu redor que me fez ver o quanto que "determinadas motivações exteriormente justas" que eu estava nutrindo eram, na verdade, puro egoísmo, orgulho e individualismo. Assim como na canção, eu olhava para os "'bons demônios' em meus ombros" e os ostentava como virtudes a serem exibidas, quando em contrapartida tudo configurava e testificava a corrupção de meu coração - ora, o que é mau é mau a despeito do que eu sinto e penso a respeito, de forma que não tem como ficar "com os 'bons demônios' em nossos ombros e mandar os 'outros' embora...", pois toda a maldade continuará lá, presente. Ninguém pode se libertar desses "demônios" sozinho, pois está escrito que "...Quem pode discernir os próprios erros? Expurga-me também daqueles que me são ocultos..."  [Salmo 19, vs. 12]. Nesse caso, eu não posso nem entender meus erros e pecados, quanto mais me libertar deles, uma vez que alguns (muitos, eu diria) estão ocultos a meus olhos, de maneira que apenas Aquele que conhece todas as coisas e tem todo o poder nos céus e na terra é capaz de fazer aquilo que nenhum de nós pode fazer. 

Em outros termos, conforme o título deste texto, "everything is not post" - nem tudo está "postado", pois certas coisas são tão vergonhosas para nós que até pensarmos nelas já é ofensivo e constrangedor demais para serem "postadas". No entanto, apesar de toda a condição desfavorável na qual me enxerguei - a muito custo, é verdade, pois é nessas horas que vejo o quanto sou orgulhoso e "autojustificador" - , eu sei que "nem tudo está perdido". Se você, porventura, ao ler esse texto, se identificou comigo quanto à total impossibilidade do homem salvar a si mesmo de si mesmo, nem tudo está perdido pra você também


No final da canção, são cantados os seguintes versos:

Cause my head just aches when I'm think of
The things I shouldn't have done
But live is for living, we all know
And I don't want to live it alone...

Ou:

Porque minha cabeça dói quando eu penso
Nas coisas que não deveria ter feito
Mas a vida é para se viver, nós todos sabemos
E eu não quero vivê-la sozinho...

Não viver a vida sozinho.

O dilema da canção é o de ter que lidar com esses "demônios diários" em meio à esperança de que nem tudo esteja perdido até que, finalmente, vem o peso por causa dos erros cometidos ao mesmo tempo que o desejo de vida, uma vida não solitária. Nesse sentido, os textos sagrados dizem que "...a tristeza segundo Deus produz arrependimento, que leva à salvação; mas a tristeza do mundo produz morte..." [2 Coríntios 7, vs. 10] - ou seja, nem sempre "Deus nos quer sorrindo", pois Ele deseja nos fazer tristes por causa dos nossos pecados, para que haja arrependimento e, por fim, o próprio Deus nos salve. Você já se entristeceu pelos seus pecados alguma vez na vida, ou acha que eles são "tão naturais" que podem ser tratados como "algo de estimação"? Jesus disse que, "se todos de igual modo não se arrependerem, todos igualmente perecerão" [Lucas 13, vs. 5].

Mas existe uma boa notícia.

A boa notícia é que Deus já fez tudo o que foi necessário para que sejamos salvos de todos esses "demônios" citados aqui - Ele deu o Seu Filho, o Único e Amado Filho, para "salvar o Seu povo dos pecados deles" [Mateus 1:21], provando "o Seu amor para conosco, pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores" [Romanos 5:8], para "nos libertar do presente século mau" [Gálatas 1:4], para "nos remir de toda iniquidade, a fim de purificar para Si mesmo um povo Seu especial, zeloso de boas obras" [Tito 2:14], se "fazendo pecado por nós, para que nEle fôssemos justiça de Deus" [2 Coríntios 5:21]. Em outras palavras, a "vida que é para ser vivida" é a vida que somente Ele pode nos dar, a própria vida de Deus, pois Ele habita em todos os que Nele confiam como Salvador e que O reconhecem como Senhor, de forma que não haverá mais desamparo ou abandono, por mais que haja dores e aflições - está escrito que Ele nunca nos deixará, nem jamais nos abandonará


E então? Será que todos nós já paramos para "enumerar os nossos demônios" com tristeza na alma?
Ou ainda estamos tão firmados em nós mesmos a ponto de vermos "virtude" naquilo que para Deus é abominável?

A nossa única alternativa é olhar para Jesus Cristo - olhar para Aquele que "veio buscar e salvar o que se havia perdido", que "veio ao mundo para salvar os pecadores", "que veio como Luz ao mundo, para que todo aquele que Nele crer não permaneça nas trevas" - totalmente sem confiança em nós mesmos, e crer nEle. Diante Dele, nada está perdido, pois Ele é "Aquele que fala com retidão, poderoso para salvar", poderoso para salvar o pior dentre nós, a fim de que cada um possa dizer: "...eu estava morto, mas revivi; estava perdido, mas fui achado"





Porque tudo que está perdido pode ser achado Nele,




Soli Deo Gloria!