quinta-feira, 31 de maio de 2012

Viciados em mediocridade...


Você não está no blog errado. O título do post é esse mesmo.

Depois de um texto mais lúdico, no qual fiz referências a cidades ideais e reinos imaginários (como Pasárgada, Nárnia e Atlântida) como figuras do céu e da eternidade [embora tenha também ressaltado a questão da tolice do homem em querer ser seu próprio Deus], minha intenção neste post é ser mais ácido, áspero, sem meias palavras mesmo. Já que não pretendo me candidatar a prefeito da minha cidade (esse ano é ano eleitoral nos municípios do Brasil), não tenho que estar preocupado com a retaliação e a impopularidade que deverão me seguir depois deste texto. Não é pressão psicológica; você ainda pode sair deste blog, antes de começar a se revoltar contra mim ao ler o que está por vir. Eu não estou brincando.


Mediocridade. Tenho pensado nessa palavra há um bom tempo e, depois de um período de reflexão, cheguei à seguinte conclusão: eu, você, nossos pais, nossos familiares, os colegas da escola, da faculdade e até as pessoas da igreja [infelizmente, acho que principalmente essas últimas] somos viciados em mediocridade. Todos são. TODOS. Nós amamos ser medíocres e nos orgulhamos de nossa própria mediocridade (o que é ainda mais medíocre). Curiosamente e enganosamente, a mediocridade nos dá prazer, sensação de plenitude, de superioridade e de retribuição diante dos outros por aquilo que, supostamente, fizeram contra nós. Porém, como todos são medíocres, todos constituímos um ciclo vicioso de mediocridade – no qual os nossos defeitos e mazelas de caráter se manifestam em toda a sua força e, como resultado, transmitimos uns aos outros a contaminação e a amargura que permeia as nossas mentes e corações. Sinceramente, nada é mais venenoso e maléfico (pelo menos, do ponto de vista das relações humanas) do que a mediocridade. Entretanto, nós somos os peçonhentos da história. Ainda dá tempo de você desistir de ler o texto até o final. Sério.

A mediocridade está em toda parte. Nas discussões repugnantes das CPIs (ou na falta de discussão, já que os criminosos estão preferindo ficar calados ultimamente) e nos programas de TV do domingo, nas brigas de torcidas organizadas por causa de algo que deveria trazer diversão e nas reclamações por causa da pia cheia de pratos e talheres sujos [na verdade, você deixa a pia limpa e ouve reclamações e, se não faz, ouve do mesmo jeito!], nas disputas por herança de família e no complexo de superioridade moral tão comum entre os religiosos. A mediocridade nos acompanha ao longo do quarteirão e, na próxima esquina, ela estará nos esperando. Por outro lado, os outros são seguidos por ela na medida em que também andamos e, quando eles nos encontram na esquina da rua seguinte, lá está ela. “Mediocridade. Mediocridade” - sejamos ateus ou hinduístas, racionalistas ou panteístas, cristãos ou budistas, esse é o nosso mantra de cada dia. Mediocridade – essa é a nossa palavra de ordem. Mediocridade – esse é o lema natural da vida humana. Mediocridade.


Mas, o que é mediocridade?

Sem me prender ao dicionário, poderia definir mediocridade como “aquilo que é negativamente mediano, banal, trivial, desprezível etc.”. Logo, ser medíocre é ser médio, é ser como os demais, é não ter diferencial, é ser descartável – ora, se algo é descartável, ele serve apenas por um breve momento e, depois de usado, é jogado no lixo. Os medíocres são dignos do mesmo destino; desse modo eu, por mim mesmo, sou igualmente descartável e sem qualquer importância. Mas você também é. Os seus ídolos também são. Os seus maiores referenciais também. Todos nós somos, por nós mesmos, descartáveis. Por outro lado, se você conseguiu chegar até esse ponto do texto, você é um leitor sobrevivente, visto que conseguiu ler um monte de palavras “medíocres” escritas por um blogueiro ainda mais “medíocre”. Nada mais, nada menos.

Em contrapartida...

Por que “dar importância” a essas palavras medíocres? Será que é possível tirar algum proveito disso tudo? 

Talvez.

Pois, sempre que penso em mediocridade, me lembro de uma história narrada no evangelho segundo Lucas, a qual está relatada abaixo:

“Jesus disse também essa parábola a uns que confiavam em si mesmos, crendo que eram justos, e desprezavam os outros:
Dois homens subiram ao templo para orar; um era fariseu, e o outro publicano. O fariseu, estando em pé, orava consigo desta maneira: Ó Deus, graças Te dou, por que não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros; nem ainda como este publicano. Jejuo duas vezes por semana e dou os dízimos de tudo quanto possuo. O publicano, porém, estando em pé, de longe, nem ainda queria levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Ó Deus, tem misericórdia de mim, que sou pecador! Digo-lhes que este foi justificado para sua casa, e não aquele; porque qualquer que a si mesmo se exaltar, será humilhado e, qualquer que a si mesmo se humilhar, será exaltado”. (Lucas 18:9-14)


O fariseu dessa história é um exemplo-mor de mediocridade, pois ele olhava para o mundo ao seu redor e se julgava superior a todos e, para ratificar sua mediocridade, ele tentava fazer seu “pé-de-meia moral” diante de Deus, como se Ele fosse manipulável por homens - mas a nossa realidade religiosa atual não é diferente. Nós também, quase sempre, confiamos em nós mesmos, nos justificamos conforme nossos próprios padrões e desprezamos os outros - ora, os outros são mundanos, pervertidos, pecadores que matam, roubam, bebem, fumam, vão à balada, usam tatuagem, gostam de “heavy metal” e não usam roupas decentes e nós, por outro lado, somos santos, usamos vestes recatadas, não fumamos, nem bebemos, vamos todo domingo à igreja, não ouvimos “música do mundo” nem mesmo “rock gospel” e seguimos as tradições de nossa denominação. Vestimo-nos de nosso personagem a cada ida à igreja e, quando voltamos pra casa, voltamos a ser quem somos. Assim como os fariseus, temos nossos momentos de sepulcros caiados – mas, se agora nos lembrarmos do que a Bíblia diz, saberemos exatamente qual é a mensagem de Jesus a esse respeito (vide Mateus 23).


Em tudo isso, o mais medíocre, em minha opinião, é o pensamento comum no meio religioso (particularmente cristão) de que Deus se agrada primordialmente naquilo que intencionamos fazer para Ele, visto que acreditamos que, se intencionarmos fazer qualquer coisa para a glória de Deus, essa atitude automaticamente glorificará a Deus e, consequentemente, Ele se agradará de nossa conduta. Embora eu acredite, sem qualquer sombra de dúvida, de que tudo que eu faço (seja comer, beber, ver um filme, jogar futebol, estudar química orgânica, ouvir blues, conversar sobre filosofia, namorar, viajar para outro país ou outra coisa qualquer) pode e deve ser feito para a glória de Deus – ver 1 Coríntios 10:31 -, não faz o menor sentido dizer que a glória de Deus está subordinada às minhas intenções. Como já escrevi em outro texto, a glória de Deus deve determinar o que eu devo intencionar fazer ou não fazer, e não o inverso. Porém, os medíocres (como eu) pensam que podem encaixotar Deus por se julgarem bons, justos, mais íntegros e “mais santos” do que os demais. Com o perdão da gíria, nós somos realmente muito idiotas, na moral!


Entretanto, na contramão da mediocridade surge o publicano, o qual, por um lado, também era medíocre (ele mesmo se vê como pecador) mas, por outro, ele tem a atitude correta: ELE RECONHECEU QUE ERA MEDÍOCRE. Mais do que isso: o reconhecimento por parte dele foi tal que ele se julgava indigno de olhar para o céu – o que pode ser considerado, em sentido conotativo, como uma atitude de temor sincero de Deus e humilhação – e, por ver a sua situação de real desespero, batia no peito e clamava por compaixão [diferente de nós, que batemos no peito inflados de orgulho e autossuficiência]. Ele grita para Deus: “Tem misericórdia de mim, que sou pecador!” [Lucas 18, vs. 13] e, de um modo sublime e inspirador, Jesus diz que este homem foi justificado para sua casa (enquanto o fariseu continuou injusto diante de Deus) porque “...todo aquele que a si mesmo se exaltar será humilhado e todo aquele que se humilhar será exaltado...” [Lucas 18, vs. 14]. Que lindo! Os humildes são exaltados, os que se vêem como nada são cobertos de dignidade, os que reconhecem que são totalmente injustos por si mesmos são declarados justos. Como diz certa música: “...isso é a Graça e nada posso fazer...”. Nada, nem mais nem menos. Ele fez tudo que devia ser feito - Romanos 3:23-28.


Finalmente, a melhor forma de encerrar esse texto é citar uma linda música, na qual o poeta reconhece sua própria mediocridade e diz:

“Eu canto pra Ti... Sei onde estou... Olhando pra mim posso saber que nada sou... Eu grito pra Ti, ó Deus, vem me socorrer... Olhando pra mim posso saber que nada posso fazer...”

Exatamente isso.



Pela consciência de minha mediocridade e de Sua sublimidade,



Soli Deo Gloria! 

sábado, 26 de maio de 2012

Vou para o reino de Nárnia...


Mais uma semana desse maio chega ao fim e, dessa vez, pretendo escrever sobre algo mais cotidiano... Espero me inspirar daqui pra frente.

A situação caótica em que algumas cidades do país se encontraram (ou ainda se encontram) devido às paralisações de rodoviários e professores (como em Salvador/BA), trens e metroviários (na capital paulista) – sem contar os transtornos do trânsito, das chuvas, do descaso da saúde pública e da violência – tornou essa semana uma semana peculiar. Não tão positivamente peculiar (pelo menos sob os aspectos mencionados), mas, de qualquer sorte, completamos mais uma semana vivos - motivo suficiente para sermos mais gratos por aquilo que temos. De fato, por mais que nossas críticas contra os serviços públicos sejam normalmente pertinentes (metrô lotado ou a falta do metrô, poucos ônibus circulando pela cidade para atender à população etc.), a ausência total desses serviços é ainda mais prejudicial. Surpreendentemente, até aquilo que é ruim ou inadequado tem seu lado bom. Na verdade, as coisas “ruins” acabam contribuindo para o nosso bem-estar; enfim, para o nosso bem. 


Mas... Como as coisas ruins podem ser benéficas? (talvez seja essa a sua pergunta agora – uma pergunta perfeitamente lógica).

Vamos começar.

Nós não gostamos do caos. Não gostamos de desordem (o que diriam os amantes da termodinâmica agora?). Não gostamos quando as coisas saem do nosso controle e, por isso, somos inseridos numa situação de desconforto. Não gostamos de ver nossos planos frustrados, nem mesmo de mudar de ideia por causa de imprevistos (eu que o diga)... Gostamos de ter o controle, gostamos da ordem e da lei (enquanto elas nos agradam, é claro), do conforto e da “sombra com água fresca”... Mais do que isso, não aceitamos quando as coisas acontecem de uma maneira diferente daquela que planejamos e, na pior das hipóteses, transferimos a “culpa” ou a responsabilidade para os outros, para a sociedade e até para Deus. Ora, às vezes não dizemos: “Ai meu Deus, por que isso teve que acontecer? Por que vai chover logo no dia de minha prova do concurso da Petrobras? E essa greve na minha universidade? Eu preciso terminar meu doutorado...” Me desculpem a postura enfática, mas a melhor resposta para essas perguntas é: as coisas acontecem como devem acontecer e, como nenhum de nós se chama “Deus”, não temos direito de contestar nada. Simples assim.


No entanto, você pode ainda me questionar: “...essa sua afirmação é muito drástica e sem fundamento... por que eu devo concordar com isso?” Ótimo, você está indo no caminho certo. É bom ser questionador, desde que os questionamentos tenham como alvo a descoberta das verdadeiras razões por trás das coisas. Eu também sou questionador e, nesse sentido, meu objetivo é sempre compreender as coisas como de fato são, mesmo que essa compreensão seja restrita aos limites de minha humanidade. Sem mais delongas, vamos às respostas.


Hoje mesmo, pouco tempo antes de começar a escrever esse texto, li no mural do facebook de uma colega – Clarinha, obrigado! rs - o seguinte registro atribuído ao profeta Isaías (o qual está presente no livro do Antigo Testamento que leva o seu nome):

“Ai dos que querem esconder profundamente o seu propósito do Senhor! Fazem as suas obras às escuras e dizem: Quem nos vê? E quem nos conhece? Vocês pervertem tudo, como se o oleiro fosse ao barro e a obra dissesse do seu artífice: Ele não me fez; e o vaso formado dissesse do seu oleiro: Ele nada sabe”. (Isaías 29:15-16)

Quando li esse texto bíblico, a primeira coisa que me veio à mente (eu até comentei na postagem) foi a soberania total de Deus. E, se a soberania Dele é total, somente Ele tem soberania. Nem eu, nem você, nem nenhum homem, por mais poderoso e influente que seja, é soberano. No fim das contas, os títulos relativos aos monarcas, faraós, imperadores, príncipes, ditadores e senhores feudais ao longo da história são um imenso sofisma, uma falácia, uma fábula para boi dormir... Como essa minha amiga mesma disse, “é uma burrice tentar ser Deus”, pois enganar a si mesmo é coisa de gente insensata e inconsequente.



Ou seja, só Deus é soberano e, como resultado, Ele é quem controla as coisas e, de um modo chocantemente insano, gerencia e determina a ordem em todo o “caos” que nos cerca – as greves, a violência urbana, a seca no sertão, o problema da saúde pública, a desestruturação da família, a inversão de valores, a injustiça social, a corrupção na política, as catástrofes naturais, a crueldade com as crianças e idosos e, finalmente, o pior caos que existe: o nosso coração perverso e desesperadamente corrupto, como disse o profeta Jeremias em seu livro (17:9). Como também está escrito: “...o Senhor estabeleceu o seu trono nos céus e o seu reino domina sobre tudo...” (Salmos 103:19). Tudo é TUDO.

Além disso, o “caos” sempre vai nos acompanhar porque, enquanto nós vivermos por aqui, conviveremos com a imperfeição ou, como poetizou Renato Russo: “...o caos segue em frente com toda a calma do mundo...”. E, se o caos segue em frente passo a passo, a cada novo dia enfrentaremos dissabores - mas momentos bons também existirão. Logo, o que nos resta é estar atentos para aproveitá-los e, se formos prudentes, olharemos para as coisas ruins com outro olhar – pois um grande sábio disse certa vez:

“No dia da prosperidade, desfrute do bem, mas, no dia da adversidade, considere; porque também Deus fez este em oposição a aquele, para que o homem nada ache que tenha de vir depois dele” (Eclesiastes 7:14).


Deus fez todas as coisas – as que são boas e as que nos parecem ruins – para não cairmos na presunção de esperar que o futuro seja como gostaríamos que ele fosse. Jesus disse certa vez que “basta a cada dia o seu próprio mal” e, nesse sentido, nos ordenou a buscarmos o reino de Deus antes de qualquer outra coisa e, dessa forma, as outras coisas nos seriam acrescentadas. Isto é, eu não tenho que pensar em correr desesperadamente atrás das coisas para desfrutar delas, mas sim devo ter minha mente completamente direcionada para o que de fato importa: o reino Dele, a vontade Dele, o conhecimento Dele. O resto é bônus.

Finalmente, quero dizer que o “caos” vai acabar um dia. Está escrito: “...eis que faço novas todas as coisas. E ele me disse: escreve, pois estas palavras são verdadeiras e fiéis” (Apocalipse 21:5). Chegará o dia da mudança para Pasárgada, onde “se é amigo do Rei e onde a ternura é a ordem e a lei...”, o dia em que o “reino de Atlântida” não será apenas uma lenda ou uma lembrança presente nas ruínas de Pompéia/Itália, em que o “reino de Nárnia [e Cair Paravel]” estará fora das crônicas de C. S. Lewis ou além dos acordes e versos de Jorge Camargo e Gladir Cabral... E, sabe de uma? A melhor notícia que eu poderia te dar é que o passaporte está garantido, pois o próprio Rei pagou o preço dele com seu próprio sangue para nos levar para lá, para perto Dele (Efésios 1:7-9, Colossenses 1:12-14, 1Pedro 1:18-20 e 3:18a).


Entretanto, é necessário que você reconheça que você é indigno de participar dessa viagem (mais do que isso, que você merece ser enviado para outra viagem bem diferente, uma viagem sem volta e para um sofrimento sem fim, a exemplo da destruição das cidades de Sodoma e Gomorra – Romanos 9:29 e Salmos 103:10) e que é também incapaz de fazer qualquer coisa que te faça merecer ou alcançar esse passaporte. Arrependa-se e acredite no amor Dele, na bondade Dele manifesta na morte de seu Filho (Marcos 1:15 e Romanos 5:6-8), pois o “País de Aslam” é o destino seguro de todos os que se arrependem, negam a si mesmos e passam a viver, se mover e existir Nele.



Pela esperança infalível no Reino,



Soli Deo Gloria! 

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Como é que se diz "eu te amo" hoje em dia...

Eu gosto de perguntas.

Se você é um leitor atencioso deste blog, você deve ter percebido que eu gosto de brincar com as perguntas. As perguntas são um aspecto fundamental da construção de nossos conceitos, valores e ideias. Sem perguntas não há reflexão e, dessa forma, não existem conclusões. Verdadeiramente, como um certo comercial de TV bastante inteligente apresenta, "não são as respostas que movem o mundo; são as perguntas".


Portanto, o título deste post não poderia deixar de ser uma pergunta.

"Como é que se diz "eu te amo" hoje em dia?" Essa era a pergunta de um poeta descendente de italianos que se tornou ícone do rock brasileiro em meados dos anos 80, dada a sua capacidade de dizer coisas que ninguém tinha conseguido dizer àquela geração desiludida com a sociedade à sua volta, com a política, desiludida consigo mesma. Seu nome era Renato Manfredinni Jr. (mas conhecido por todos como Renato Russo), cuja vida conturbada por drogas, álcool e uma liberdade sexual desenfreada tornaram a sua vida curta - a morte bateu à sua porta aos 36 anos de idade, na madrugada de 11 de outubro de 1996... A música brasileira perdia um poeta rock 'n roll e a juventude brasileira perdia um de seus maiores influenciadores mas, como é notório, sua poesia inteligente, profunda, bela e às vezes depressiva (é verdade) permanecem na memória daqueles que viveram essa época, alcançando até mesmo aqueles que nasceram depois de sua morte. De fato, a boa arte é um legado por si mesma.



Mas, "como é que se diz 'eu te amo' hoje em dia?" Quem se atreve a me dizer?

Primeiramente, nunca se falou tanto em amor, em amar ao próximo, em tolerância, em combate aos preconceitos e às variadas formas de discriminação como atualmente... As diversas organizações e os movimentos de determinados segmentos sociais têm, impetuosamente e (até mesmo) "intolerantemente", lutado por respeito, igualdade de direitos, igualdade de salário etc. As pessoas, de uma forma ou de outra, refletem em suas ações [embora com uma roupagem quase sempre egoísta e partidarista] que precisam e anseiam por respeito, por aceitação, por igualdade... elas precisam de amor, elas anseiam por amor. 

Por outro lado, o amor é o conceito (se é que eu posso limitar o amor a isso) mais banalizado, barateado e deturpado de nossos dias. Não é nada incomum se ouvir na TV - seja em novelas, filmes ou mesmo em casos reais, por exemplo - que o namorado matou a ex-namorada por "amor", que alguém cometeu suicídio por "amar" alguém que o rejeitou, que uma mãe abandonou um filho para o "bem" dele [já que não teria condições de criá-lo, o deixou na beira no rio] e até mesmo aquilo que é essencialmente pecado tem sido chamado de "amor" - o adultério e as demais relações sexuais ilícitas, o orgulho, a vaidade e as "boas ações" em nome de meu status... Existe uma música bem atual que diz que "amar não é pecado" mas, na verdade, o mais correto é dizer que "o pecado não pode ser amor", pois "Deus é amor" (1 João 4:8b) - logo, tudo que é gerado do amor deve ser puro, verdadeiro, legítimo e benigno... Ora, tudo que vem Dele é bom e perfeito (Tiago 1:17 e 1 Timóteo 4:5), de modo que nada que é pecaminoso pode ter origem no Amor não sendo, por tudo isso, uma manifestação de amor. 


Mas... o que é o amor? Onde ele está? 

Sinto lhe informar, mas eu não sei definir o amor, porque eu não sou capaz (e quem se ousaria a ser?) de definir DEUS. DEUS É AMOR. Essa é a definição mais simples e mais inatingível de amor que eu conheço. Nem eu, nem você nem ninguém tem, por mais perspicaz e sábio que seja, uma ideia que possa se aproximar do real sentido dessas três palavras... DEUS É AMOR. Isso é absolutamente chocante, incompreensível em sua plenitude, grandioso, sublime, elevado, perfeito, nobre, inspirador, consolador e terrível. Deus é amor. Eu não sou o amor, você não é o amor. Todo amor verdadeiro, puro e genuíno só pode ter origem Nele... Você não pode saber o que é o amor sem saber quem Deus é e, de um modo bastante drástico e fidedigno, você não pode saber quem Ele é se Ele não quiser se revelar a você (Mateus 11:27, João 1:18). Simples assim.

Deus é amor. Deus também é eterno. Logo, o  amor é eterno (1Coríntios 13:8). O amor também é o cumprimento da Lei (Romanos 13:10), visto que os dois principais mandamentos são "amar a Deus de todo o coração, de toda a alma, de todo o entendimento e de todas as forças" e "amar ao próximo como a ti mesmo" (Mateus 22:37-40). O amor é o "caminho mais excelente". O amor é o que há de mais valioso e que, ao mesmo tempo, vai permanecer no fim das contas. Como diz o Palavrantiga:

"...o amor se revela a mim como uma bandeira, Verdade e Graça, um mandamento e é nossa canção..." [música "Amor que nos faz um"]

"...tudo que eu fizer de fé ou esperança, se não estiver no amor não irá permanecer... embora seja grande, não é obra eterna... esse é o dom que durará pra sempre..." 
[música "Um"]


Mas a pergunta continua no ar... Como é que se diz "eu te amo" hoje em dia?


No auge do Orkut (risos) havia uma comunidade chamada "Te amo não é bom dia" [e, de fato, é verdade], embora Renato Russo tenha dito que a forma de se dizer "eu te amo" hoje em dia é "eu te amo" mesmo... Certamente ele queria dizer com isso que o amor verdadeiro fala por si mesmo, sem precisar de muito enfeite. Ser simples torna os gestos de amor mais belos, realmente.


Mas a minha resposta é diferente.


Quando penso nessa pergunta, a única resposta que vem em minha cabeça é que a forma de se dizer "eu te amo hoje em dia" é a mesma forma desde a criação do mundo, pois está escrito: 


"...Não foi com coisas corruptíveis, como prata e ouro, que fomos resgatados da nossa vã maneira de viver que por tradição recebemos de nossos antepassados, mas com o precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro imaculado e incontaminado, o qual, na verdade, em outro tempo foi conhecido, ainda antes da fundação do mundo, mas manifestado nestes últimos tempos por amor de nós... por meio Dele vocês creem em Deus, que O ressuscitou dos mortos e Lhe deu glória, para que a nossa fé e esperança estivessem em Deus..." [1 Pedro, capítulo 1, vs. 18-21]


"...Porque Cristo, estando nós ainda fracos, morreu a seu tempo pelos ímpios.
Porque apenas alguém morrerá por um justo, pois poderá ser que pelo bom alguém ouse morrer.
Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo ter morrido por nós, sendo nós ainda pecadores". [Romanos 5:6-8]


Podemos expressar o amor de diversas maneiras, mas nada se compara a essa demostração de amor do próprio Deus: dar a vida do Seu Filho por pecadores indignos, maus, perversos no coração, corruptos no caráter - melhor, Jesus se deu espontaneamente "...pelos pecadores, dos quais eu sou o principal..." (1 Timóteo 1:15 e João 10:18). A forma mais elevada de se dizer "eu te amo" hoje em dia já foi dita antes da fundação do mundo - o cordeiro morto, o sangue derramado, a vida de um justo em favor de injustos. 




Não são necessárias novas formas de se dizer "eu te amo" hoje em dia, pois Ele já disse isso há muito tempo e o que Ele fez é perfeito e suficiente. Realmente, os Beatles estão certos em dizer que "...tudo o que precisamos é de amor...", só que é mais do que isso: precisamos conhecer e nos render àquele que é Amor, a Quem deu a prova mais impressionante de Ser Amor. 


All I need is love. All you need is love. All we need is His Love!






Soli Deo Gloria!

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Além do que se vê...


Sim. Maio começou e já se passaram 10 dias.

Como havia comentado na postagem anterior, num dia 7 de maio, há alguns poucos anos (risos), eu nasci. Logo, na segunda-feira dessa semana, fiz mais um aniversário, com direito a ter que esperar 45 min na fila do banco pela manhã, a ter aula de Estereoquímica no meio da tarde (se quiser saber o que é “estereoquímica”, leia o post “O maior segredo” do mês de março) e, depois da aula [ora, era meu aniversário], peguei o primeiro taxi que vi na frente e caminhei em direção ao meu presente do dia: show da turnê de 15 anos do Los Hermanos! De fato, eu não merecia um presente e tanto como esse. Não é verdade, Juli Oliveira?


Depois desse breve resumo do meu 7 de maio, gostaria de aproveitar esse post para falar sobre uma frase de uma daquelas músicas (que fizeram o público – contando comigo, claro - curtir intensamente aquele breve momento de “contemplação da boa arte”), que diz:

“...É preciso força pra sonhar e perceber que a estrada vai além do que se vê...”

Aqui está você. Talvez por acaso você tenha encontrado esse blog enquanto navegava na internet em seu Twitter ou Facebook e, de repente, conhece a música à qual me referi e, nesse caso, deve gostar muito dela... Sim, a frase tem o seu tom lúdico e, por isso, parece e soa bela aos ouvidos... Mas, na verdade, ela é mais do que lúdica ou esteticamente bem construída. Quer ver?


A estrada vai além do que se vê. Nem eu, nem você, nem ninguém tem percepção completa das coisas. Podemos pensar, porventura [ou seria desventura?], que somos (mesmo que em certa medida) sensatos, coerentes e suficientemente cientes de como a vida funciona e de como ela deve ser aproveitada... Será mesmo? Se refletirmos, ainda que brevemente, a respeito da realidade ao nosso redor, a única conclusão “sensata” é a de que a insensatez e a estupidez é o nosso “cartão de visitas”. A violência, a injustiça social, o egoísmo, a ganância, a desonestidade, o orgulho, as disputas por poder, a indiferença em relação ao próximo e o desamor exponencial são evidências pontuais disso. Como dizia certo poeta, é hora de “celebrar a estupidez humana”. Infelizmente.  

A estrada vai além do que se vê e é preciso força pra perceber. Eu não sou capaz, por mim mesmo, de perceber (nem mesmo) que eu não posso perceber as coisas como, de fato, elas são... Não há em mim quaisquer habilitações para que eu conheça plenamente as respostas para as perguntas mais centrais da vida (De onde viemos? Para onde vamos? Quem somos?) e seus desdobramentos. Logo, eu e você estamos fadados a vivermos uma ilusão, perdidos em nossos pensamentos imprecisos e imperfeitos? Como conseguir essa “força pra perceber”? Melhor, quem tem essa “força” que pode nos ajudar a perceber a realidade com mais verdade e “de verdade"?

Quando penso nisso, me lembro de um personagem dos tempos bíblicos conhecido por seu temperamento melancólico e emotivo [curiosamente, ele é conhecido como “profeta chorão”, devido a seus cânticos de lamento pela destruição de sua amada cidade], o qual escreveu:

“Eu sei, ó Senhor, que não é do homem o seu caminho, nem do homem que caminha o dirigir os seus passos” (Livro de Jeremias, cap. 10, vs. 23).


Eu não sou o dono do meu destino. Você não é o dono de seu destino. Eu não posso dar um passo sozinho. Você não pode dar um passo sozinho. Se a Bíblia estiver certa (como ela mesma testifica de si mesma), é Deus quem controla o nosso caminho e dirige os nossos passos, não importa quem sejamos. Como também já disse outro personagem bíblico, conhecido por sua sabedoria peculiar:

“O coração do homem considera o seu caminho, mas o Senhor lhe dirige os passos” (Livro dos Provérbios, cap. 16, vs. 9).


Por mais que pensemos sobre as nossas decisões por sermos seres racionais [“Cogito, ergo sum”, já dizia Descartes], no fim das contas é Deus quem continua sendo o “Senhor” de nossos passos, de nossos caminhos, de nosso destino. Ou melhor, Deus nunca deixou de ser Deus sobre nada que existe no universo, pois um dos salmistas disse:

“Antes que os montes nascessem ou que Tu formasses a terra e o mundo, sim, de eternidade a eternidade, Tu és Deus” (Salmo 90, vs. 2). 

Ele é Deus desde sempre e continuará sendo Deus para sempre. Essa é a única razão (na verdade, não poderia existir razão mais nobre) pela qual “a estrada vai além do que se vê”: Ele é eterno e, por isso mesmo, tem propósitos eternos. Se Ele é Deus sobre tudo que existe desde sempre e para sempre, Seus planos eternos sempre se cumprem e, desse modo, nossa “estrada” não pode acabar ali na próxima esquina. Certamente, tem algo além do próximo quarteirão, além da saída da cidade... Nem eu nem você podemos ver, mas está lá. Está na hora de “sairmos da caverna” e do mundo das idéias e irmos para fora... Está na hora de irmos ao encontro Dele, pois “Ele é antes de todas as coisas e todas as coisas Nele encontram seu propósito” (Colossenses 1:17). Não há sentido algum sem Ele; não há qualquer razão de ser sem Ele. Ele é o princípio e o fim, o Alfa e o Ômega, o “tudo em todos”. Somente Ele tem a “força” de que precisamos para “perceber” o fim da estrada.


Finalmente, você pode perguntar: qual é o final dessa estrada? Talvez a melhor resposta seja aquela escrita pelo Apóstolo Paulo na sua primeira carta aos coríntios, que diz: “...as coisas que o olho não viu e o ouvido não ouviu, e que não subiram ao coração do homem, são essas que Deus preparou para aqueles que O amam...” (1 Coríntios 2:9). Eu não tenho a mínima noção disso. Você não tem. Eu não posso ter essa noção, pois é muito superior a qualquer coisa que eu posso imaginar como nobre, preciosa e agradável. Você não pode ter. Porém, na verdade, isso não importa. O que importa é reconhecermos o caminho certo para essa “estrada que vai além do que se vê” – ou seja, conhecer a Ele e reconhecê-Lo é o que importa.


Pela "estrada que vai além do que se vê",



Soli Deo Gloria! 

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Mais um maio começa...


Mais um novo mês começa.

Contrariando certa música do Kid Abelha que diz que “maio já está no final”, maio ainda está nos seus primeiros dias. Particularmente, este é um mês importante para mim, pois, há alguns 20 e poucos anos, eu nasci... De modo bem curioso, nasci num sábado que antecipava o dia das mães daquele ano (minha mãe sempre me disse que eu fui o presente dela aquele ano – mães corujas são assim mesmo) e, além disso, era dia 7. Enfim, meu nascimento foi no dia 7, no sétimo dia da semana. O que isso significa? Nada - a não ser para aqueles que acreditam em numerologia.


Por outro lado, é um mês como todos os outros: semanas atarefadas na universidade (talvez as mais atarefadas deste semestre), tempo (ou falta de tempo/vontade) para estudar, responsabilidades extra-acadêmicas etc. Na verdade, estou bastante ansioso para concluir todos os trabalhos e provas que irão tomar a maior parte de meu tempo durante esse mês para somente ficar esperando os resultados. Ora, eu gosto de ver as tarefas terminadas, porém, enquanto isso não acontece, tenho que lidar com a inquietude e com o stress. Lembrei-me de Nelson Rodrigues e seu bordão: “a vida como ela é” como também de uma amiga de longa data que costuma me recordar: “pois é, é a vida”.

Entretanto, a vida é realmente isso – um conjunto de coisas que se repetem todos os dias (às vezes, nos mesmos momentos), numa determinada intensidade e que, no final das contas, nos fazem desejar desesperadamente fugir de todo esse “casulo cotidiano”, ainda que seja por um fim de semana? Por que temos a tendência quase inevitável de repudiar a “rotina” e de supervalorizar a “quebra da rotina”? Por que consideramos como os melhores momentos da vida aqueles que [porventura] só aconteceram uma vez – uma viagem pra Europa, a lua-de-mel, o dia em que o jogo da final da Copa do Mundo foi visto ao vivo ou mesmo o primeiro encontro? Quem se arrisca a tirar a minha dúvida? [você pode fazer isso por meio de um comentário, se preferir.]


Antes disso, gostaria de dar o meu parecer.

Se pensarmos bem, tanto o cotidiano como a “quebra” da rotina fazem parte da mesma vida que cada um de nós tem para experimentar. Nós não vivemos uma “vida diferente” quando saímos da rotina; simplesmente aproveitamos nosso tempo com coisas que não são freqüentes em nossa realidade e, provavelmente, devido ao nosso apego pelo “novo” e pelo “incomum”, passamos a conferir maior relevância àquilo que é “diferente” ou “fora de época”. A vida (a única vida que temos neste planeta) inclui o que se denomina rotina e, exatamente por causa dela, inclui também o que chamamos “quebra da rotina”; ou seja, tudo faz parte da vida, de maneira que a melhor opção para nós é aproveitar ao máximo todos os momentos “happy-hours” que surgirem enxergando, ao mesmo tempo, os momentos aparentemente mais “chatos” e desgastantes como componentes deste bem que recebemos: a vida.

Finalmente, retomando a mesma música de Kid Abelha mencionada no início, pergunto: “o que somos nós afinal?” Somos criaturas dependentes de “mudanças na agenda” ou conseguimos ver beleza em contemplar o mar azul da janela do ônibus no caminho para a faculdade toda manhã? Reconhecemos o valor em se despertar antes das 7h para viver mais um dia repleto de desafios (a despeito do trânsito ruim e do coletivo lotado)? Será que reparamos nas flores e nas árvores que deixam nosso campus ou nosso local de trabalho mais bonitos e agradáveis? Mais ainda: temos notado as pessoas que estão ao nosso redor e nos importado com elas? E os nossos amigos? E a nossa família? Por mais que seja frustrante, é mais provável que tenhamos nos enclausurado em nós mesmos numa atitude de egolatria e/ou indiferença e, quase sem percebermos, nos tornamos cegos para o encanto de cada momento da vida, para a beleza de ser, de estar, de viver. Já dizia o poeta ao cantar a vida: “...eu fico com a pureza da resposta das crianças: é a vida, é bonita e é bonita...”


Viver e não ter a vergonha de ser feliz; cantar a beleza de ser um eterno aprendiz. Talvez o que o nosso mundo precise seja justamente um pouco disso - um pouco mais de simplicidade, de autenticidade, de verdade, de desprendimento da própria reputação – para que cada um de nós cultive a beleza de se aprender todos os dias, uns com os outros, nós com a natureza e, obviamente, todos nós aprendendo com Ele – o Grande Mestre, a Beleza Incomparável ou, como Ele mesmo disse:

“Tomem sobre vocês o meu jugo e aprendam de Mim, pois sou manso e humilde de coração, e vocês encontrarão descanso para as suas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve”. (Evangelho segundo Mateus, cap. 11, vs. 29-30).


Viver com Ele e para Ele é algo verdadeiramente leve – sem restrições de preceitos humanos ou prisões impostas pela consciência dos outros. A única restrição é que, se vivemos para Ele e com Ele, é Ele mesmo quem dita o ritmo da música que deve mover cada passo nosso, como diz outro poeta e também amigo:

“... Batidas do meu coração dependem deste Maestro / E até o ar que eu respiro é Ele mesmo quem me dá / Em volta da mesa com os meus, celebro com vinho a vida / É Ele quem dá gosto a tudo, com Ele a alegria sempre está...” (É n’Ele – Stênio Marcius)


Enfim, Maio está apenas começando... Muitas coisas estão por vir e a minha única aspiração (para maio e para todos os outros meses que me restam de vida) é aquela registrada pelo Apóstolo Paulo, que diz:

“...Não atentando nós nas coisas que se vêem, mas nas que não se vêem, porque as coisas que se vêem são temporais e as que não se vêem são eternas...” (2ª Epístola Aos Coríntios, cap. 4, vs. 18)



Seja na rotina ou fora dela,



Soli Deo Gloria!