sábado, 27 de dezembro de 2014

Olhar a tristeza nos olhos e sorrir - uma oração

Ó Senhor, Deus de quem é a terra
E tudo o que nela há
Em quem todos vivem, se movem e existem
E para quem tudo foi criado... Ajuda-me a orar!
De fato, podemos saber por Tua Palavra
Que nenhum de nós sabe pedir como convém.
No entanto, por meio das aflições que Tu permites
É possível ver melhor que não sabemos nada
E nem podemos fazer nada sem Ti.
Embora o desapontamento agora me atormente
Sei que ainda há esperança.


Sim, bom é para o homem suportar a dor
E suportá-la quando ainda jovem, pois assim Tu revelaste.
Assim, caso seja necessário
Me recolherei solitário e ficarei em silêncio
Aguardando a salvação que só pode vir de Ti.
Ah, Salvação! A Ti ela pertence
E só de Ti mesmo ela depende
Pois és Deus soberano e não “domesticado”
Como alguns mentirosos querem torná-Lo.
Portanto, visto que só tenho um Mestre e um só Senhor
E que fui predestinado para ser conformado à Sua imagem
Não sou e nem serei domesticado, pois fui chamado à liberdade.


Na verdade, nem tenho direito a exigências
Visto que sou um humilde servo, e Tu és Senhor.
E, como todo servo bom e fiel,
Alegremente devo receber como bem as coisas adversas
Pois sei que nada ocorre sem Ti.
E, verdadeiramente, é pela tribulação
Que posso aprender a ser perseverante
E, assim, me tornar mais experiente
Pela Esperança advinda do Teu amor em mim.
Ah, quanta paz posso ter em Ti!
Toda confusão e incerteza se torna firmeza
Quando me fazes ser firmado em Ti.


Eterno Criador e Sustentador de mim,
Quanto mais fraco eu me reconheço
Maior é a plenitude de Seu poder
E mais abundante é a Tua sublime graça.
Ora, uma vez que a tristeza sorri na Tua presença
Presença na qual há perpétua e duradoura alegria,
Posso olhar para ela e sorrir também –
Com aquele sorriso de alguém que sabe em Quem crê
E que tem uma herança que jamais se perderá.
Certas perdas sempre virão, algumas delas até úteis
Mas Ele será sempre meu, e eu Dele.


Pai justo, eu sei que não preciso ter o que não é preciso
Nem mesmo ser o que de mim esperam.
Sabendo que fui comprado por bom preço
Não me farei servo de ninguém
E, assim, irei tão-somente agradar a Ti.
A fé que me deste abre um caminho bom
E, por ela, ponho na história o meu dom
E vou... Vou para encontrar Teu amor todos os dias.
Quero apenas viver a Boa Nova que me faz bem
Deixando Teu amor se espalhar sobre este chão
Pois, quando o caminho é mais escuro,
Tu iluminas as minhas trevas
E, assim, posso ver mais claramente as estrelas.


Ó Deus, que és a Fonte de toda boa dádiva,
Desfaz-me por Tua Palavra
Mergulhando-me no oceano de Tua graça
Ao esconder-me atrás da cruz de Teu santo Filho.
Que Ele, por cuja graça sou o que sou
Seja tudo em mim, sendo também tudo em todos,
A fim de que, pelo alívio que trazes Contigo,
Retires os fardos de todos os que se cansam.
Que eu, então, viva a vida mais leve
Pois sou um peregrino, e nada mais me prende
Exceto o Amor pelo qual fui conquistado
E o Reino para o qual fui designado.







Soli Deo Gloria!

sábado, 20 de dezembro de 2014

O que não é preciso...

Enfim, estamos perto do fim de mais um ano.

Entretanto, mais tranquilizador do que o fim de um ano - que para mim, particularmente, começou da melhor maneira possível mas, no seu decorrer, incluíram algumas mudanças radicais e certas aflições - é o fim desse semestre acadêmico... Ufa! Em breve, muito breve mesmo, espero (e vou) concluir o mestrado que estou fazendo e abrir os olhos para novos rumos. 


Mas não é sobre isso que gostaria de falar aqui.

Sem delongas, o tema dessa postagem é baseado numa canção que descobri recentemente, chamada "O que não precisa", da Banda Resgate - nesse caso, pretendo dar uma "passeada" pela letra e discutir algumas coisas que têm me feito pensar desde que ouvi a música. Inicialmente, a letra diz:

"Você desprezou o amor e tudo que Ele já te deu
E deu muito mais valor a todas as outras coisas..." [1º verso]

Desprezo e valorização.


Primeiramente, quando ouço a palavra "desprezo", reconheço que existe o que se pode chamar de "desprezo bom" e também o "desprezo ruim" - "desprezo bom" seria algo relacionado com o não dar importância a coisas medíocres ou irrelevantes ou ainda rejeitar o que é injusto e/ou mau e, por outro lado, o "desprezo ruim" quase sempre decorre do orgulho de quem despreza [a atitude em si já é condenável] ou mesmo de ignorância e estupidez [por não saber o valor do que é desprezado, o desprezo existe]. Desprezamos coisas, determinados empregos, certos locais, conteúdos ditos ultrapassados, pessoas - especialmente pessoas (até aquelas a quem dizíamos amar), a ponto de as amarmos hoje e as abandonarmos na semana seguinte. Nesse contexto, uma das piores sensações na vida é a de não ser valorizado por alguém que se amou, ou seja, quem ama recebe em troca desprezo em vez de respeito e zelo. Mas existe algo pior do que isso - o desprezo ao amor Daquele que nos dá todas as coisas, inclusive o Seu amor: Deus. Na referida canção, "Ele" aparece na terceira pessoa do plural, como sendo Aquele que é substituído por "todas as outras coisas", como se elas tivessem (ou pudessem ter em si mesmas) mais valor do que Ele - Ele, cuja Lei é mais doce que o mel, em Quem todos os tesouros da sabedoria e da ciência estão escondidos, para quem tudo foi criado e que revelou-Se plenamente ao encarnar-se na pessoa de um humilde judeu, carpinteiro da Galileia, chamado Jesus, o Cristo

Nesse sentido, contrariando a postura daqueles que desprezam o amor (seja o amor do próximo - por achar que não precisa disso ou por não estar pronto a assumir os riscos que o amor traz consigo - e, claro, o amor de Deus), cito essas palavras atribuídas a Jesus:

Ele lhes disse: vocês são os que se justificam a si mesmos aos olhos dos homens, mas Deus conhece o coração de vocês. Aquilo que tem muito valor entre os homens é detestável aos olhos de Deus. [Evangelho de Lucas, cap. 16, vs. 15]


Não é preciso especular - o que consideramos como tendo muito valor [nesse caso, nossos próprios méritos, conceitos, virtudes etc.] para Deus é detestável. Ele, que é amor, não pode amar ou valorizar nada que insulte a Sua dignidade e a Sua glória - ou seja, aqueles que desprezam Seu amor e tudo o que Ele dá por dar muito mais valor a "todas as outras coisas" são alvo do desprezo Dele. Sinceramente, eu não posso imaginar nada mais horripilante e terrível que isso.

Por outro lado, a letra diz em outro trecho:

"Você correu como um tolo atrás do que os olhos vêem
E procurou mundo afora coisas que você já tem..." [2º verso]

Tolice e correr atrás do vento.


Tolice, conforme o senso comum, é a caraterística que define o tolo, o néscio, o insensato ou, em outros termos, o que "não tem noção". Na música, o "tolo" é aquele que corre em busca das coisas que estão diante de seus olhos mas... espere um minuto. Que tolice há (pode haver) nisso? Bastante, mais do que o que se pensa. 

Certa vez, o mesmo Jesus Cristo contou uma parábola na qual havia um homem rico que (na história) tinha produzido muito em sua propriedade, a ponto dele dizer que os celeiros antigos deveriam ser destruídos para que celeiros maiores fossem edificados [pois somente assim seria possível armazenar sua produção] e finalmente que, de agora em diante, era hora de desfrutar dos bens e de ter uma vida regalada. Considerando-se que, numa situação real, um homem como esse fazendeiro devia trabalhar muito para adquirir seus bens e confortos, ele pode ser incluído entre os que "correm atrás do que os olhos veem". Mas, de repente, Jesus aponta onde estava a tolice e diz

Louco, esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem será?
Assim é com todo aquele que para si ajunta riquezas, mas não é rico para com Deus. 
[Evangelho de Lucas, cap. 12, vs. 20-21]


Correr atrás do que os olhos veem é tolice, pois tudo aquilo que se vê é temporal e transitório. Na verdade, muitos dos que correm atrás dessas coisas não precisam de muitas delas, tanto porque algumas dessas coisas não são de fato necessárias e, especialmente, porque quem "procura mundo afora" provavelmente já tem o que está procurando. Todavia, ironicamente, muitos de nós só percebemos que já temos o que precisamos [e/ou gostaríamos de] ter depois que "jogamos tudo fora" ou após "corrermos atrás do vento" e não acharmos nada. Em contrapartida, como escrevi no texto anterior, em Cristo [em quem está toda a plenitude divina] eu já tenho tudo o que preciso ter - ora, o que me faltar, Ele já me deu e, por isso, não preciso correr atrás do vento em busca do que não é necessário nem correr como um tolo atrás do que um dia vai acabar. Na verdade, como disse Jim Elliot, "não é tolo aquele que dá aquilo que não pode reter para ganhar aquilo que não pode perder"

Por último, a outra parte da música que me inquietou diz:

"Ele te deu as mais loucas pra confundir as mais sábias
E te deixou as mais fracas pra te livrar da tua força
E Ele escolheu bem as que não são pra te lembrar que você não é
E que não precisa ser o que não precisa..." [Final]

Lembrar que eu nada sou.


A esse respeito, a Bíblia registra alguns escritos do apóstolo Paulo a uma comunidade de cristãos do primeiro século outrora intelectual e pervertida [a população de Corinto, cidade muito importante da Grécia Antiga], onde se lê:

Mas Deus escolheu as coisas loucas desse mundo para confundir as sábias, e escolheu as coisas fracas desse mundo para confundir as fortes.
E Deus escolheu as coisas vis desse mundo, e as desprezíveis, e as que não são, para aniquilar as que são, para que ninguém se glorie perante Ele. [1 Coríntios 1, vs. 27-29] 

Não seria possível ser mais contundente: Deus escolheu as coisas loucas, fracas, vis, desprezíveis e sem valor para que ninguém se glorie diante Dele. Ou seja, não são os "nobres" ou membros da "high society" nem os "politicamente corretos e defensores dos fracos e oprimidos" e muito menos aqueles que "acham que não cometem pecado", que "não enganam a si mesmos" e que se autointitulam "O bem" - eu já tinha visto de tudo, mas tal burrice chega a ser pior que a declaração mais patética - que são escolhidos por Ele. Em outras palavras, quem escolhe é Ele - essa conversinha de que "o meu destino não é de ninguém" e que "eu sou o dono do meu passado, presente e futuro" não existe - e, se qualquer um de nós se julga muito importante, virtuoso, nobre, impecável, elevado, evoluído ou qualquer coisa do tipo, provavelmente esses já foram rejeitados. Deus resiste aos orgulhosos, e dá graça aos humildes - quanto mais alguém se reconhecer como "nada", mais perto da graça de Deus estará. 

Não existe nenhum espaço diante de Deus para os metidos a besta que murcham com um simples furo no balão de seus egos infladinhos, pois chegará o dia em que toda arrogância será abatida e só Deus será exaltado. Se alguém porventura não está se dando conta disso, é melhor começar a se importar - uma hora pode ser tarde demais, pois Deus mesmo diz para que O busquemos enquanto Ele pode ser achado, implicando que num futuro porvir ninguém mais poderá encontrá-Lo. Não existe penúria ou tormento que possa se comparar a isso


Não ser o que não é preciso.

Em um mundo onde "todos devem ser iguais a todos" e onde "fazer um bom papel" é mais importante do que "ser o que se é", eu prefiro as palavras do Marcelo Jeneci, que disse que "felicidade é só questão de ser". Felicidade é, antes de tudo, questão de saber que não se é nada - e, depois de se saber que não se é nada, é possível ser apenas o que é preciso. Nesse contexto, felicidade é só questão de ser o que Deus deseja - Ele mesmo afirma, por meio de um dos profetas bíblicos, que nós fomos feitos para a Sua glória, de forma que os que não glorificam a Deus como Deus não estão vivendo para o propósito para o qual foram criados. Enfim, Ele escolheu as coisas que não são nada para me mostrar que eu também não sou nada e, assim, eu não preciso ser o que não é preciso - isto é, quem esperou ou ainda espera que eu satisfaça qualquer capricho pessoal ou expectativa barata, é hora de desistir enquanto há tempo. Eu só buscarei ser o que preciso ser e, em poucas palavras, eu só preciso ser semelhante a Ele


O que você tem sido - alguém dentre os muitos com seus egos inflados ou simplesmente um dos poucos que se veem como nada?
O que você tem achado que precisa ser - mais uma "maria que vai com as outras", sem convicções e autenticidade ou tão-somente o que Deus disse para que você seja?






Pela alegria de ser o que preciso ser Nele,





Soli Deo Gloria!

sábado, 6 de dezembro de 2014

Der "Baader-Meinhof post"...

Estou de volta apenas hoje, após cerca de duas semanas.

A rotina por aqui tem sido bem intensa e agitada - mas, em meio àquelas responsabilidades de sempre, resolvi escrever sobre novas ideias nas quais tenho refletido ultimamente. Como dizia o poeta, "o tempo não para" - por isso, vamos lá.


O título deste post - talvez estranho para alguns - é uma mistura de inglês e alemão em referência a uma canção do primeiro álbum lançado pela Legião Urbana, em 1984 [alguns anos antes de eu nascer], chamada "Baader-Meinhof Blues". Nesse texto, discutirei alguns trechos da música que me fazem pensar bastante, os quais estão listados a seguir:

"E essa justiça desafinada
É tão humana e tão errada... [1]
[...]
Não estatize meus sentimentos
Pra seu governo o meu estado é independente... [2]
[...]
Já estou cheio de me sentir vazio... [3]
[...]
Todo mundo sabe, ninguém quer mais saber
Afinal, amar ao próximo é tão 'demodê'..." [4]


Justiça desafinada. Tão humana e tão errada. 

Primeiramente, não precisamos pensar e analisar muito a nosso redor para percebermos (se tivermos o mínimo de bom senso) para concluirmos que "justiça" é um tesouro jogado no lixo pela nossa sociedade. Somos naturalmente inclinados ao favorecimento ilícito, ao maldito "jeitinho brasileiro", ao enriquecimento fácil, à opressão disfarçada de democracia participativa dentre outras injustiças, denotando precisamente que a questão principal não é a nossa conduta, mas quem de fato somos - somos injustos e inclinados à injustiça por natureza. Apesar de toda a provável manipulação dos meios de informação e da grande mídia, o que vemos sobre a situação do nosso país nos jornais impressos, na televisão e na internet mostram [sem sombra de dúvida] que estamos (digo em termos gerais) cada vez mais corruptos e conformados com a corrupção, desde que tenhamos algum benefício com isso [seja um emprego público, sejam mandatos políticos sucessivos ou mesmo uma grana esparsa proveniente de "assistencialismo social"]. Sim, os fins continuam justificando os meios. 

Ora, visto que a sociedade é injusta em seu âmago, a "justiça" aplicada pela própria sociedade será obrigatoriamente deficiente ou, nas palavras do poeta, "desafinada, humana e errada". Como sabemos, nada é mais sofrível na música do que o "ser desafinado" [desculpas sinceras, João Gilberto] - logo, uma "justiça desafinada" é aquela que sai do padrão, que se desvia do alvo, que se distancia do tom ideal. No entanto, por ser justiça humana, não poderia ser perfeita [em outras palavras, teria de ser inevitavelmente desafinada e errada] - isto é, "justiça afinada e correta" tem de vir de uma fonte perfeita ou de alguém totalmente justo, o qual chamamos de Deus. Dele se diz que "é justo e que ama a justiça", que "é justo em todos os Seus caminhos" e, finalmente, que "julgará o mundo com justiça". Minha única esperança é esta, nas palavras de outro poeta: "Deus vai dar aval, sim, o mal vai ter fim". 


Não estatize meus sentimentos. Pra seu governo, o meu estado é independente. 

Numa época em que "tudo é igual a tudo" (ou seja, não existe nada a não ser a mesmice) - homem pode ser mulher e vice-versa, corintiano pode ser são-paulino e vice-versa [ops, não mesmo], cristão pode ser teologicamente liberal e liberais são cristãos etc.) ou em que "todos devem ser iguais" - sabe, aquele papo "pseudorespeitoso" de igualdade que esconde a busca da opressão pelos supostos "oprimidos"? sim, esse mesmo -, a onda é a "estatização dos sentimentos", num nível quase literal. Traduzindo - a cultura vigente, a qual pode ser representada pelo Estado ou outra instância social de mesma influência ou poder (governo, autoridades religiosas etc.) sendo, dessa forma, maciçamente propagada e sorrateiramente imposta, nos obriga [ainda que aparentemente numa condição de liberdade de consciência - consciência?] a pensarmos do jeito que eles querem que pensemos. Ora, quanto mais pessoas pensarem do mesmo jeito ou possuírem a mesma visão de mundo e da vida, mais fácil de se exercer controle e de se aumentar o próprio poder - ou seja, se todos enxergam através das mesmas lentes ou dos mesmos ângulos (por assim dizer), basta que eles continuem sendo ignorantes a respeito de todo o resto, de modo que quem tem o poder determina o que é "verdade" ou o que é "mentira" [embora as "verdadeiras verdades" e as mentiras continuem existindo]. Assim, todos nós acabamos sendo "massas de manobra", embora acreditemos que estamos do lado da "intelectualidade superior" e da liberdade de pensamento. Ledo engano.

Entretanto, isso não acontece apenas na esfera social e política (por exemplo), mas também nos arraiais religiosos - os "super-homens impecáveis" que se declaram "mediadores" entre os meros mortais leigos [e menos espirituais] e o próprio Deus e, assim, usurpam o lugar do Único Mediador (o Cristo, Filho de Deus) crescem assustadoramente, como um vírus que se replica em frações de segundo e contamina todo o ambiente. Os "ungidos" [se é que há alguma unção divina aí] estatizam nossa percepção de quem é Deus, de quem nós somos, do que a Bíblia diz e do que ela não diz, do que devemos fazer ou não fazer, de onde devemos ir ou não e, assim, podemos pensar que estamos andando com Deus e conhecendo a Ele, mas provavelmente estamos enganados. Em contrapartida, eu sigo a alma do poeta e digo: não estatize meus sentimentos pois, pra seu governo, meu estado é independente! Ou, nas palavras do apóstolo Paulo - não me deixo escravizar por filosofias vãs e sutis, que se baseiam nas tradições dos homens e nos princípios do mundo e não em Cristo, entendendo que Nele está toda a plenitude e, quando estou unido a Cristo, eu já sou pleno. Deus me chamou para a liberdade de Seu Filho e, agora, não sou escravo de ninguém, exceto Dele - meu amado Senhor que me amou e se entregou na cruz por mim. Como diz outro poeta, "se tenho a Cristo, tenho a verdade..." Sim.  


Já estou cheio de me sentir vazio. 

Certa vez ouvi uma frase de um certo filósofo francês, que diz: "o homem cheio de si sempre estará vazio". Depois que ouvi isso, olhei para mim mesmo e me vi alguém vazio, exatamente por estar cheio de mim mesmo. De fato, o orgulho é um mal (ou pecado, no sentido mais real e duro da palavra) que raramente admitimos possuir, uma vez que é o mais sorrateiro e pernicioso. Além disso, parece um contrassenso dizer que se estamos cheios, estamos vazios ao mesmo tempo. Será?

Bem, quanto a isso, me recordo de algumas poucas palavras do mesmo Paulo, ao escrever sobre Jesus Cristo:

"Pois foi do agrado do Pai que toda a plenitude habitasse Nele..." [Colossenses 1:19]

Foi do agrado do Pai. Sem rodeios, a razão pela qual toda a plenitude está na pessoa de Cristo não é nada mais nada menos do que a vontade soberana do Deus Pai. Ele, o Pai, se agradou (esteve afim, se sentiu absolutamente satisfeito em) de dar ao Seu Filho toda a plenitude. Nada poderia impedir Deus de fazer isso, pois Ele pode todas as coisas e nenhum dos Seus desígnios pode ser frustrado. Por outro lado, essa plenitude total habita unicamente em Cristo, de maneira que fora de Cristo não existe nada a não ser o "oco", o vazio, o vácuo, o "nada vezes nada". Enfim, se estamos cheios de nós mesmos não temos nada de Cristo dentro de nós, de forma que nossa "suposta plenitude" é, na verdade, nada menos do que nada. Só podemos ser alguma coisa ou ter alguma coisa (no fim das contas, sermos o que devemos ser e ter o que precisamos ter) se estivermos unidos ao Filho de Deus por uma fé vinda Dele mesmo sendo, por isso, uma fé sincera e firme. Resumindo, talvez esteja na hora de você (que está lendo esse texto) ficar "cheio de se sentir vazio" a fim de buscar "essa plenitude que não se pode achar em alguém como qualquer um de nós", já que tudo está Nele. 


Todo mundo sabe: amar ao próximo é tão "demodê".

Amar ao próximo. Provavelmente, não existe nada mais deturpado atualmente do que o "amor ao próximo". O segundo maior mandamento se tornou um viés de toda permissividade imoral e antiética, onde se tolera impureza e pecado e onde se é conivente com a falsa liberdade social e toda espécie de corrupção - sim, amar ao próximo como a si mesmo é cada vez mais utópico e "fora de moda", pois em vez de nos doarmos em favor do outro assim como desejamos que sejamos tratados [mesmo que o outro nos trate mal], permanecemos em nossas próprias inconveniências e exigimos que os outros nos "amem" [ou seja, tolerem qualquer maldade de nossa parte com um afago na cabeça]. Em poucas palavras, é impossível amarmos ao próximo como a nós mesmos se não praticarmos o primeiro grande mandamento - amar a Deus de todo o coração, alma, entendimento e forças. Quem não ama a Deus (que é superior) jamais poderá amar o próximo (que é semelhante) e vice-versa - quem não ama o próximo a quem vê, não está amando a Deus, a quem não vê. Enfim, contra o individualismo que impera em todo canto do mundo [inclusive em mim mesmo, muitas vezes], amar ao próximo é algo esquecido, embora Deus por meio de Cristo nos advirta que "desses mandamentos depende toda a Lei", significando que o padrão de conduta que agrada a Deus consiste no amor que devemos a Ele e, como resultado de amarmos a Ele, devemos amar o outro. Ora, "o cumprimento da Lei é o amor". 


E você? Já parou pra pensar nisso?
Você reconhece que Deus é justo e que apenas a justiça Dele não falha, a qual em breve se manifestará?
Você entende que conhecer a Cristo (que é a Verdade) basta para que você seja pleno e satisfeito, mesmo que haja perdas?
Você já refletiu e reconheceu seu próprio orgulho a fim de não ser mais vazio por crer Naquele em quem está toda a plenitude?
Finalmente, você tem usado do "amar ao próximo" como uma desculpa para uma conduta errada ou já entendeu que só podemos amar de fato o outro quando amamos a Deus?

Quanto a mim, que Deus sempre imprima isso em minha mente, pois "olhando pra mim, posso saber que nada sou e que nada posso fazer".





Pela alegria de ser livre, pleno e amado Nele e por Ele,




Soli Deo Gloria!

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

The "optimistic gospel"...

Três semanas se passaram e, finalmente, consegui voltar.

Após o último texto publicado neste blog, meu computador sofreu um "bug" em seu Hard Disk e, mesmo depois de tê-lo consertado, só agora me sobrou um tempo para colocar novas ideias e reflexões pra fora. Muitas coisas vieram à mente, porém acredito que uma delas é a mais pertinente para o momento. Sigamos em frente.


O tema deste texto é baseado num pequeno trecho de uma canção chamada "Optimistic", da banda de rock britânica Radiohead, o qual diz:

"If you try the best you can
The best you can is good enough..." [Optimistic - Radiohead, Kid A]

Em português, a letra diz: "se você tentar o melhor que você pode, o melhor que você pode é bom o suficiente"

Primeiramente, eu gosto da música - ela é muito bem arranjada, embora a letra seja um tanto psicodélica (risos). Além disso, por um lado, a ideia de se "buscar fazer o melhor" ou "tentar ser bom o suficiente" é um princípio digno, especialmente numa sociedade em que tudo está banalizado e distorcido - por exemplo, tudo de ruim e de anti-intelectual é chamado de "arte" ou de "ciência", muitas "bandeiras sociais" nada mais são do que "censuras disfarçadas" feitas em nome de caprichos de determinados grupos e, como se não bastasse os traços destacados da "imbecilização coletiva" anteriormente mencionados característicos da humanidade dos dias atuais, uma parte considerável do que as pessoas têm feito "em nome de Deus" ou "dentro dos contextos ditos religiosos" não chega nem a ser medíocre, pois é pior que isso. Enfim, o "livre pensar", o "ideal revolucionário" e, em última instância, o que pode ser chamado de "liberalismo teológico" não tem implicado avanço intelectual, social e cultural - muito pelo contrário, os "idiotas úteis" estão cada vez mais em maior número e, por isso, a excelência, a busca pelo melhor nas diversas áreas da vida humana e, finalmente, a seriedade quanto ao assunto "Deus" estão praticamente no esquecimento. Já dizia Cícero: "O tempora, O mores!" ou "Que tempos, e que modos!".


Na verdade, eu poderia falar de várias coisas neste post, porém o que mais me preocupa (como cristão e cidadão pensante - vejam, que paradoxo!) é o que nomearia de "optimistic gospel" ou "evangelho otimista", fazendo uma alusão ao título da música. O "optimistic gospel" diz/prega/proclama (ou melhor, declara, profetiza e determina) que, se nós tentarmos fazer o melhor que podemos, isso será bom o suficiente. Na prática, isso se revela nas várias "campanhas de sacrifícios em busca de bênçãos" [se você der uma oferta de R$ 50, não receberá a bênção de quem der R$ 1000 - por isso, dê mais e você convencerá Deus a te dar mais], nos "jejuns de causas impossíveis", nos "pactos disso e daquilo" e, como não poderia deixar de ser, no legalismo disfarçado de devoção a Deus [onde se acredita comprar a salvação por meio de "novas indulgências" ou "novas penitências" como, por exemplo, não ouvir música "do mundo", não ir ver o futebol domingo, não usar camisas pretas de bandas de rock etc.], no abuso de poder e manipulação das mentes transfigurado de "cobertura espiritual" e, finalmente, na ideia basilar de todas essas evidências - eu sou bom (ou, no mínimo, não sou tão ruim assim) e, já que eu procuro seguir o "caminho do bem" e que Deus é "amor", Ele não tem o direito de não me salvar ou não pode punir a ninguémOu seja, "se eu tentar o melhor que eu posso", "o melhor que eu posso é bom o suficiente" para "fazer a média" com Deus e, assim, eu me livro do julgamento divino sozinho, sem precisar Dele.  

Mas isso não é o que Deus disse a esse respeito. O que Ele disse, afinal?


Resumidamente, o que Deus diz sobre o "optimistic gospel" é que não podemos fazer algo "bom o suficiente" diante Dele - mais do que isso, não podemos nem tentar fazer algo bom ou nos preparar para fazê-lo, uma vez que qualquer noção de bondade ou de virtude que possamos ter sobre nós mesmos e sobre a vida será (ou já está) distorcida - ora, "todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus" e, portanto, não somos capazes de compreender ou de assimilar o verdadeiro bem ou a verdadeira virtude, pois isso só seria/é possível quando estivermos/estamos diante Dele, que é o Bem Supremo. Enquanto a nossa cultura enfatiza o "pensar positivo", o "falar/fazer coisas boas para atrair coisas boas", Deus dá um diagnóstico estarrecedor sobre a nossa condição, como escreveu o profeta hebreu Isaías:

Mas, prosseguindo nós em nossos pecados, Tu te iraste. Como, então, seremos salvos?
Mas todos nós somos como o imundo, e todos os nossos atos de justiça são como trapos de imundície; nós murchamos como folhas, e nossas culpas como um vento nos arrebatam.
Não há ninguém que clame pelo Teu nome, que se anime a apegar-se a Ti, pois escondeste de nós o Teu rosto e nos deixaste perecer por causa de nossas iniquidades.
[Isaías 64:5-7]


Essa passagem das Escrituras é clara: o povo para quem o profeta estava destinando a mensagem continuou a ser rebelde contra Deus e permaneceu em seus próprios pecados, de modo que Deus se irou contra eles e levando o profeta a clamar: como, então, seremos salvos? Isto é, a realidade da ira de Deus contra os nossos pecados deve nos conduzir a um senso claro da total incapacidade de nos salvarmos por nós mesmos, visto que ninguém pode medir o poder da ira de Deus nem mensurar o temor que a Ele é devido. Além disso, a passagem diz que todos nós somos como o "imundo" (no contexto do povo hebreu, "imundo" era uma palavra associada aos leprosos, o que dá a entender que, como pecadores, somos espiritualmente leprosos diante de Deus) e que nossos atos de justiça são como trapos sujos - ora, se nossos melhores atos são como "trapos sujos" para Deus, o que diremos de nossas más ações, palavras fúteis, pensamentos impuros e desejos egoístas? Logo, como criaturas reféns do pecado, nós murchamos como folhas que rapidamente secam e somos arrebatados pela nossa culpa porém, mesmo assim, o texto continua dizendo que "não há ninguém que clame pelo Teu nome e que se anime a apegar-se a Ti", ratificando que a nossa situação como pecadores é tão grave a ponto de, embora sofrendo todas as consequências de nossos erros e de nossa má conduta, continuamos ignorando a Deus e fazendo de conta que Ele não existe [ou, no mínimo, que Ele coloca "panos quentes" sobre nossos pecados e "passa a mão" na nossa cabeça]. Não - Ele não faz isso.

No texto que lemos, Deus deixou o povo perecer por causa de suas próprias injustiças. Deus não mudou [e não muda] e, por isso, todos os que vivem ainda hoje deste modo estão sujeitos ao mesmo juízo divino.


Finalmente, numa época em que o "optimistic gospel" [ou, de modo mais amplo, o "optimistic way of life"] está cada vez mais vigente - vivemos a "ditadura da felicidade", a "ditadura dos egos massageados", não se pode criticar nada, opinar sobre nada, questionar nada que seja parte de nossa "cultura evoluída" porque seremos os "beltranofóbicos intolerantes opressores fundamentalistas hegemônicos normativos" -, a reflexão deste post será certamente impopular. Não me importo muito com isso, pois é essa mensagem impopular, chocante e positivamente transtornadora que pode mudar a realidade em que vivemos a partir da transformação das pessoas que a tomarem para si mesmas, sendo assim transformadas por ela. Curiosamente, a continuação do texto diz:

Contudo, Senhor, Tu és o nosso Pai. Nós somos o barro, e Tu és o nosso Oleiro. Todos nós somos obras de Tuas mãos.
Não Te ires demais, ó Senhor! Não te lembres constantemente das nossas maldades. Olha para nós, nós somos o Teu povo! [Isaías 64: 8-9]


Diante do fato de sermos miseráveis pecadores [e, como resultado, somos derrubados por nossas próprias maldades e estamos vulneráveis ao justo julgamento de Deus], façamos dessas frases uma oração - isto é, que nos reconheçamos como barro nas mãos de Deus, sabendo que Ele pode refazer um vaso quebrado e danificado, tendo também esperança na misericórdia Dele, pela qual Ele nos perdoa os pecados e nos livra da ira que um dia Ele mesmo manifestará. Nossa única saída é que Deus não permaneça irado conosco, de forma que não se lembre de nossos pecados - nesse sentido, a única maneira de tudo isso ser real para nós é por meio de Jesus Cristo, que veio para salvar pecadores porque Deus assim amou o mundo, amando de tal maneira a ponto de dar Seu Filho unigênito por eles. Se você ainda não se importou com isso, arrependa-se e se volte para Deus - olhe para Cristo e creia Nele, pois está escrito: "...olhem para mim e sejam salvos, todas as extremidades da terra; pois Eu sou Deus, e não há outro"

Abandonemos o "optimistic gospel" (segundo o qual podemos brincar de ser Deus e, assim, "fazer e acontecer") e voltemos às "velhas verdades", pelas quais podemos conhecer um Deus justo e santo e, ainda assim, um Deus que amou pecadores e se entregou por eles.





Pela satisfação de não seguir um "optimistic gospel",





Soli Deo Gloria!

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Sobretudo, tudo em todos...

Dessa vez demorei pouco para retornar. 

E a razão é simples - em meio à correria da rotina, desenvolvendo trabalho final de mestrado, dando aulas pra ter uma grana a mais e outras responsabilidades, amanhã é 31 de outubro e, como um dia diferente de nosso calendário, tenho algumas coisas pra dizer... Coisas mais aterrorizantes do que qualquer Halloween mal-assombrado. 


31 de outubro, há 497 anos, foi um dia que assustou a Europa, mais especificamente a Alemanha - embora, historicamente, outros eventos, processos e episódios caracterizaram e marcaram o movimento religioso, intelectual e social nascente, o qual passou a ser chamado de Reforma Protestante. Sim, naquele 31 um tal de Martin Luder (ou Lutero) publica sua disputa teológica através das famosas 95 teses (que denunciaram certas práticas católicas como sendo contrárias à Bíblia), o que desencadeou diversos movimentos ou "reformas" dentro da Reforma - a "reforma" de Ulrich Zwinglio, a de João Calvino, a "reforma" do Reino Unido e, obviamente, a "reforma" de Lutero. Deixando um pouco de lado os aspectos históricos, a ideia desse post é desfazer certos equívocos bastante enraizados (tão enraizados que se tornaram dogmas ou verdades absolutas), o que certamente será espantoso pra alguns leitores. Vamos lá.

Protestantismo e intelectualidade, protestantismo e sociedade.


Em primeiro lugar, numa sociedade em que se declarar cristão já implica o rótulo de "anti-intelectual", de "ser não-pensante" ou mesmo de alienação e burrice, resgatar o fato histórico de que cristãos (sejam os próprios católicos durante a injustiçada Idade Média e, neste caso específico, os protestantes depois do século XVI) foram os maiores responsáveis pela promoção, incentivo e propagação do conhecimento e da educação é um verdadeiro escândalo. Na verdade, alguns movimentos organizados por cristãos anteriores à Reforma possibilitaram o surgimento de centenas de escolas em toda a Europa (a ponto de traduções da Bíblia para idiomas populares influenciarem a gramática dessas línguas maternas), além de hospitais, orfanatos e, finalmente, as diversas formas de manifestação artística

Por exemplo, nomes como Rembrandt nas artes plásticas e Bach na música (ambos cristãos reformados, um calvinista e o outro luterano) mostram que a excelência e a apreciação da beleza e da criatividade derivam da compreensão de um Deus Criador e que manifestou suprema beleza em Sua criação, a qual Ele ainda conserva. Nesse sentido, é interessante citar que em todas as composições de Bach havia duas siglas presentes - J.J., que significa "Jesu Juva" ou "Jesus, ajude!" no início das músicas e S.D.G., que significa "Soli Deo Gloria" ou "Somente a Deus seja a glória" no final de cada obra. Existem vários outros exemplos da influência da Reforma Protestante na intelectualidade - o reformador Melanchthon é considerado o pai da educação alemã, os puritanos ingleses que colonizaram a América do Norte construíram colégios que hoje são as melhores universidades dos Estados Unidos (Harvard, fundada por um pastor - para a tristeza e desespero dos humanistas liberais pós-moderninhos, Princeton, Yale etc.), muitos hospitais filantrópicos foram feitos pela iniciativa de cristãos presbiterianos, batistas e congregacionais, dentre outras ações. Enfim, tendo como base o ensino bíblico de que "tudo quanto fizerem, seja por palavras ou por obras, façam tudo em nome do Senhor Jesus, dando por meio Ele graças a Deus Pai" e de "fazer tudo para a glória de Deus e para o bem do próximo", os protestantes nos deixaram um legado social inegável - e ainda deixam suas marcas hoje, na medida em que continuam seguindo o Seu Mestre e Salvador, que "andou por toda a parte fazendo o bem" pelo fato de que Deus era com ele


Protestantismo e política. 

Ah... agora a polêmica vai rolar solta! Mas eu vou falar as coisas como elas são e, provavelmente, serei considerado mentiroso e "fundamentalista" - ainda que muitos nem saibam que fundamentalismo estão condenando. Eu não me importo pois, como disse Martin Luther King (um Martinho Lutero do século XX, respeitado até pelos antirreligiosos mais extremistas pela sua relevância social), "para se ter inimigos não é necessário declarar uma guerra, basta se dizer o que pensa"

Embora depois de alguns bons anos tenha havido associação de igrejas dissidentes da Reforma aos respectivos estados/governos locais, o ideal defendido por muitos reformadores (especialmente Lutero e Calvino) era a completa separação da Igreja e do Estado - a Igreja seria responsável pela instrução eclesiástica e espiritual do povo e o Estado seria responsável por garantir os direitos civis e sociais, de modo que ambos cooperam para o bem da nação mas sem interferência ou influência um no outro. No entanto, muitos que acusam os cristãos (principalmente os protestantes) de serem "opressores" e "impositores hegemônicos" de suas ideias e princípios para a sociedade admiram e adotam o mesmo raciocínio como uma "religião às avessas". Por exemplo, os governos dos países comunistas, que são retratados nos livros de história como "heroicos" e "ícones da luta pela liberdade e igualdade" e tão "divinizados" nos corredores acadêmicos, foram (e ainda são), na prática, eventos nefastos da nossa história - ora, muito sangue inocente continua sendo derramado sem razão, não existe igualdade nenhuma (um quase-deus oprime todos os outros, inclusive seus próprios cúmplices no poder) e não existe nada parecido com liberdade. Mesmo sem haver qualquer "igreja", o Estado se torna a própria religião dominante (ou se comporta como uma personificação institucional da divindade). Enfim, essa noção de liberdade social, laicidade do Estado e cidadania é mais um legado dos "intolerantes, beltranofóbicos e fundamentalistas dominadores" chamados cristãos, neste caso protestantes. Se esse blog sair do ar nos próximos dias foi uma luta contra o preconceito - não será nada de censura, certo pessoal?


Protestantismo e liberdade. 

No mesmo contexto do que foi falado acima, a relação entre o protestantismo e a ideia de liberdade é bastante perturbadora, pois existem vários acontecimentos na história que mostram que a mensagem de Cristo no Evangelho implicou mudanças radicais em pessoas que se tornaram modelos de luta pela liberdade. No século XVIII um ex-escravocrata chamado John Newton deixou de ser senhor de escravos no Reino Unido após sua conversão a Cristo, a ponto de que a melodia de sua composição mais famosa (Amazing Grace, canção que relata o amor de Deus agindo em favor do pecador cego e perdido) ser relacionada ao canto dos escravos de suas propriedades. Poucas décadas depois, um de seus amigos mais próximos, o político cristão William Wilberforce, foi o líder da luta no parlamento de Londres pelo fim da escravidão na Inglaterra e em suas colônias. Mais recentemente, temos o exemplo de Gandhi (que, apesar de não ter professado a fé cristã, foi bastante influenciado pelos ideais cristãos da justiça e da paz) e também do pastor Luther King, personagem fundamental para a luta em favor da igualdade racial nos Estados Unidos. Isto é - essa conversa idiota de que o cristianismo sincero não motiva engajamento social como resultado de uma transformação genuína do caráter e da vida como um todo é balela, é papo furado dos críticos pseudointelectuais e dos rebeldes anticristãos sem causa. Ora, vindo bem a calhar, é a própria Bíblia que diz que "em Cristo não há nem grego nem judeu, nem escravo e nem livre, pois Cristo é tudo em todos"


Protestantismo e espiritualidade. 

Por último, queria destacar o que considero o mais importante de todo o legado da Reforma Protestante - a sua espiritualidade. Na verdade, isso norteou todos os demais aspectos de sua influência na Europa e, logo depois, em todo o mundo - até hoje. Resumindo, a espiritualidade da Reforma pode ser resumido nos chamados 5 fundamentos ou 5 "solas" - Sola Scriptura (somente a Escritura, pelo qual a Bíblia é inerrante e suficiente como revelação de Deus para o homem, sendo assim a suprema regra de fé e conduta), Sola Gratia (somente a graça, pelo qual a salvação é um dom de Deus dado por graça e de graça, sem qualquer mérito humano ou razão prévia ligada ao homem), Sola Fide (somente a fé, segundo o qual a justificação do homem diante de Deus se dá apenas por meio da fé em Jesus Cristo, que morreu em lugar dos pecadores para satisfazer a justiça divina), Solus Christus (somente Cristo, que implica que há somente um mediador entre nós e Deus, um único caminho para o Pai, Jesus Cristo) e Soli Deo Gloria (somente a Deus a glória, segundo o qual todas as coisas são de Deus, existem por meio de Deus e são para a glória de Deus - nada é do homem e para o homem, mas tudo é de Deus e para Deus). Em face do antropocentrismo, do relativismo, do individualismo e da confusão de identidade que impera em nosso mundo cruel, a Reforma traz suas "mentiras" obsoletas e antiquadas, tão antiquadas e obsoletas que muitos homens e mulheres (desde o primeiro século e ainda nos dias atuais) morreram e morrem por elas - mesmo na dor, muitos cantaram de alegria ou exibiram uma paz fora do comum quando queimados nas fogueiras, pregados nas estacas ou decapitados nas guilhotinas.

No fim das contas, não faz sentido dar/perder a vida por algo que não seja verdadeiro, durável e que não produza uma alegria plena. Logo, se muitos abriram (e ainda abrem) mão de si mesmos por causa de uma Mensagem - mais do que isso, por causa Daquele que é anunciado através dela - , essa mensagem não é comum, mas singular. Foi essa mensagem que fez nascer bem como fez triunfar toda essa "Reforma" aqui relembrada, pois o próprio Lutero disse a respeito do que houve em sua época: "...Quem é Lutero, senão um pobre verme? Se tudo isso aconteceu, atribuo todo o crédito à Palavra de Deus; eu não fiz nada, a Palavra fez tudo". Deus continua o mesmo hoje - se foi Ele quem fez tudo naquela época, somente Ele pode continuar preservando e aperfeiçoando toda essa "reforma" hoje. Ele é Deus, e não nós; Ele tem todo o poder, nós não temos capacidade alguma por nós mesmos; Ele é a própria sabedoria, nós somos tolos sem a Sua instrução; Ele é a Luz, e nós só seremos iluminados ao olharmos para Ele - Ele está sobre tudo, Ele é tudo em todos, em todos os que O reconhecem em sua caminhada e se submetem confiadamente a Ele


Você já se deu conta de que o fim principal da vida de cada um de nós é glorificar a Deus para nossa eterna satisfação? A Bíblia diz que "para nós, há um só Deus e Pai, de quem vêm todas as coisas e para quem vivemos; e um só Senhor, Jesus Cristo, para quem são todas as coisas e por quem existimos". Sem delongas, ou vivemos em Deus, por Ele e para Ele, ou já estamos mortos desde já e assim permaneceremos para sempre. Vida é somente e tão-somente Nele - logo, arrependa-se de seus pecados contra Ele e creia que Deus deu Seu Filho para salvar pecadores como eu e você. Reforme sua mente pela verdade que Ele revelou e, assim, a Reforma não será apenas um evento histórico, mas será uma parte de sua nova vida, de sua vida com Ele. Que você também um dia cante comigo: "...estou em obras, essa morada um dia será perfeição...".






Pela satisfação de "estar em obras",





Soli Deo Gloria!