quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

Blowin' in the winter...

Passados quase dois meses, estou de volta.

Seja pela falta de inspiração ou pelas responsabilidades do dia-a-dia (que foram em maior número nessas últimas semanas, devido à elaboração de um novo artigo de meu doutorado e com algumas aulas de línguas estrangeiras em parceria com amigos), faltou-me tempo para vir aqui. Todavia, creio que agora tenho muitos motivos para escrever e, como normalmente acontece, o texto deverá ser uma combinação de intensa indignação [e até mesmo fúria] com uma serena esperança – nesse caso, a Grande e Única Esperança que, em verdade, nunca morre.

Sigamos em frente e que, mais uma vez, as próximas linhas não sejam inúteis.

O tema desse texto será desenvolvido a partir de uma famosa canção do artista norte-americano Robert Allen Zimmerman (ou Bob Dylan) chamada “Blowin’ in the wind" (que traduzido significa “Soprando no/ao vento”) e terá como fio condutor o Natal e seu real significado - uma vez que, daqui há poucos dias, será 25 de dezembro. Por outro lado, pretendo incluir ao longo desta postagem certas situações particulares deste ano de 2020 que merecem uma atenção urgente e séria, a fim de que aqueles que se derem conta delas saiam de sua posição de apatia e reajam enquanto ainda é possível – sem perder, porém, a confiança de que, mesmo que não haja mais soluções factíveis para as realidades que irei expor, pode-se [e deve-se] “crer contra a esperança” ou, de outra maneira, “crer em face da ausência dela”.

Entretanto, antes de começar a falar propriamente do tema do texto, é importante antecipar que a abordagem não deverá ser feita lançando-se mão de todos os versos da música citada, mas a partir da relação de trechos específicos da letra com os tópicos fundamentais do texto – i.e., o ano de 2020 com seus absurdos totalitários e incontáveis crimes à luz da realidade do Natal e do que ele nos revela, a saber, o Advento de Jesus Cristo, o Filho de Deus. Não existe Natal sem Ele - o nascido da virgem Maria na plenitude dos tempos, enviado ao mundo para salvar os pecadores, ressuscitado dos mortos ao terceiro dia e recebido nos céus até que, nalgum dia futuro (o qual é cada vez mais iminente), se cumpra o segundo Advento e, assim, nas palavras do profeta Isaías, Ele “...trague a morte para sempre e enxugue as lágrimas de todos os rostos...” [Isaías 25, vs. 8] para que, enfim, se diga: “...eis que este é o nosso Deus, em quem esperávamos; Ele nos salvará...” [Isaías 25, vs. 9].

Em primeiro lugar, quando se pensa em alguma coisa que está “soprando ao vento” ou “se espalhando pelo vento", a primeira imagem que nos vem à mente é de fugacidade ou transitoriedade (i.e., algo que nos escapa ao olhar e/ou pelas mãos) bem como de velocidade e intensidade (no caso de um vendaval, um ciclone ou um furacão). Tendo isso em mente, aquilo que “sopra ao vento” ou é “levado pelo vento” pode ser disperso por toda a parte em poucos instantes, removido com facilidade de seu estado inicial ou anterior e até mesmo destruído de forma irreversível (se, parafraseando outra canção, o “vento for levando tudo embora”) - a não ser que se refaça/restaure posteriormente o que fora perdido. Portanto, sabendo-se que tais imagens evocam as realidades da efemeridade e da finitude, seria razoável utilizá-las para se falar de uma “Grande Esperança” que não acaba? Não há melhor forma de responder senão apropriar-me de uma expressão cara aos cristãos pentecostais: “é mistério”! De fato, espero revelar esse “mistério” a todos os que, pacientemente, continuarem lendo até o fim. 

A fim de começar a desvelar esse enigma, pode-se dizer que o ano de 2020 tem sido, em muitos sentidos, marcado por algo do tipo que também está "soprando ou se espalhando pelo vento" – isto é, o SARS-CoV2 (causador da assim chamada COVID-19) ou, mais apropriadamente, o vírus (do Partido Comunista) chinês. A esse respeito, em particular, parece-me que mais de uma dentre as características citadas no parágrafo anterior podem ser simultaneamente observadas, seja a sua propagação “pandêmica” [considerando-se que os dados constantemente divulgados pelos veículos da grande mídia referentes à infecção pelo vírus sejam verdadeiros, ainda que tal narrativa já esteja sendo questionada de forma séria e contundente, dado os altos percentuais de ‘falsos positivos’ relacionados aos testes via PCR], seja o seu poder destrutivo. Não me refiro propriamente à sua letalidade real, a qual é consideravelmente baixa [p.ex., no Brasil, esta tem sido inferior a 3%, sem considerar os ‘falsos positivos’ nem as inúmeras adulterações de causa mortis a fim de se inflar os dados de supostos mortos pela doença] mas, sobretudo, aos efeitos de manipulação comportamental, histeria sanitária, ignorância generalizada mascarada(!) pela 'credibilidade científica' e, mais gravemente, a diversos danos psicológicos, depressão, aumento de casos de suicídio, desemprego, miséria e um totalitarismo global de fazer inveja a todos os maiores e mais cruéis imperadores do passado bem como a figuras da estirpe de Josef Stalin ou Mao Tse Tung e, até mesmo, ao próprio satanás - que talvez esteja aprendendo, como "nunca antes na história deste planeta", a por em prática novas maneiras de ser maligno sob o disfarce da busca do “bem da humanidade”. 


Não obstante a seriedade do que foi mencionado acima, eu estou certo de que há uma questão ainda mais delicada (para dizer o mínimo) e sutil em todo o decurso desses acontecimentos. Tal questão se refere à remodelagem gradativa e crescente do imaginário humano, em especial nos países ocidentais de raízes judaico-cristãs, de um paradigma central para toda a realidade histórica: a substituição do nascimento de Cristo (i.e., do Advento) como o marco divisor da cronologia da história humana por outros construtos ou símbolos. Nesse ínterim, pode-se citar o uso cada vez mais recorrente da expressão “Era Comum” em lugar de “Era Cristã” na literatura e em materiais didáticos bem como (a partir desse ano) de sentenças do tipo “o mundo pós-pandemia”, “a vida antes e depois da COVID” ou ainda o "decálogo da COVID-19" etc., as quais passaram a ser amplamente empregadas como instrumentos de guerra semântica, cujo objetivo não é outro senão a usurpação sorrateira de um dos símbolos mais fundamentais do legado cristão para a sociedade humana – e.g., o fato de que o “ponto de inflexão” da história se deu com a Encarnação do Verbo, descido do céu para “se fazer carne e habitar entre nós”, de tal modo que devemos nos lembrar que a realidade e a nossa existência não dizem respeito, em última análise, a nós nem ao que fazemos, mas sim a Ele e ao que Ele fez

Em todo esse contexto de "ressignificação simbólica" e "uniformização do pensamento", nenhum segmento social escapa de seus efeitos - incluindo os cristãos, que em tese reconhecem o natalício de Jesus como um dos episódios principais da história (juntamente com Sua morte, Sua ressurreição e ascensão). Não obstante isso, infelizmente eu tenho presenciado muitos de dentro da comunidade cristã, em todas as partes, assimilarem "falácias linguísticas" ou "conceitos inócuos" semelhantes aos anteriores sem nem ao menos notarem os resultados dessa assimilação em sua maneira de entender o mundo no qual estão, de modo que sua imaginação moral, seu discernimento dos comportamentos humanos no decorrer do tempo e até mesmo sua teologia também são afetados. Ora, se a linguagem que usamos para descrever e apreender os diferentes aspectos da realidade e da vida é um compêndio de sofismas e de falsificações, nossa tendência será de formar a nossa visão do mundo (e, conseqüentemente, de Deus e de tudo o que é religioso) sob bases falaciosas e/ou fraudulentas. Logo, se as concepções que adotamos a respeito do que constitui a vida e as relações humanas/sociais (bem como nossa imagem de Deus e da espiritualidade/religião) não são igualmente verdadeiras e fidedignas, tudo o mais estará comprometido

Dessa maneira, quando um cristão não vê problema algum em acreditar que, depois de 2020, a realidade possa ser descrita em termos de "A.C./D.C." (e.g., "antes da COVID/depois da COVID", em vez de continuar sendo entendida como "antes e depois de Cristo") ou passa a absorver todo a aparato da propaganda massificada e manipuladora presente em todos os lugares (jornais, redes sociais, outdoors, comerciais etc.) sob o guarda-chuva da "ciência" e da biopolítica, ele precisa ser despertado de seu estado de letargia intelectual e espiritual para que perceba a extensão da ignorância à qual está sendo submetido. Nesse processo, será necessário estar pronto para desenvolver a autoconsciência de sua condição de miséria e estupidez, pois somente os que possuem a real compreensão do que sabem, do que não sabem e, especialmente, de que "ainda não sabem como convém saber", estão aptos a adquirir uma sabedoria verdadeira.

Por outro lado, em virtude desse tal vírus chinês (do qual já se tem notícia de ao menos uma nova cepa que pode ser supostamente mais contagiosa que a primeira variante, ainda que não se possa afirmar nada a respeito), “soprado pelo vento” há cerca de 1 ano desde os primeiros casos na China, nem mesmo o Natal conseguiu se desvencilhar do "cancelamento" orquestrado pelos detentores do poder – tudo, é claro, em nome da “saúde pública”, da “segurança sanitária” e, acima de tudo (e todos), da “ciência”. As populações de várias cidades em diversos países ocidentais, onde as medidas de engenharia e controle social (i.e., de “contenção do contágio”) vêm sendo aplicadas com mais rigor e de modo mais "eficaz" – leia-se ditatorial (ou “ditadorial”, caso prefiram) -, estão se vendo obrigadas, através de um “terrorismo higienista” nunca visto, a abrir mão de celebrar com suas famílias e entre amigos um dos momentos mais significativos da história (e do próprio universo) para que, hipoteticamente, não morram em frente à mesa da Ceia ou, numa situação ainda pior, transmitam o vírus para os avós e se transformem em “assassinos”. Ora, nada poderia ser mais eficaz para controlar o ser humano de modo ilimitado e irrestrito do que explorar o seu “medo da morte” – seja a sua própria, seja a dos que lhe são caros e amados -, especialmente quando se pode colocar o peso da culpa. 

Entretanto, já se tem demonstrado, por meio de diferentes pesquisas científicas sérias, que a taxa de sobrevivência dos que foram infectados pelo vírus é, em todas as faixas etárias (incluindo os famigerados “grupos de risco”), superior a 94% (no mínimo) juntamente com a eficácia de diferentes tipos de tratamento precoce (profilático ou terapêutico), a exemplo do protocolo HCQ/AZYT/Zn/IVM do Dr. Vladmir Zelenko nos EUA e do uso do plasma hiper-imune na Itália. Desse modo, por que permitiríamos que o que talvez possa ser o único momento de alegria desse ano sombrio seja roubado por pessoas perversas que não se saciarão até que tenham se fartado com o máximo de sangue inocente possível - embora ainda alardeiem que são os verdadeiros “salvadores do mundo”? Será que nossa inteligência e nossa alma já estão tão irremediavelmente corrompidas e apáticas ao ponto de rejeitarmos Aquele que “veio em nome de Seu Pai” para aceitarmos a qualquer que “venha até nós em seu próprio nome" - o que não é outra coisa senão trocar o Cristo verdadeiro por algum “anticristo”? 

De fato, eu temo que, assim como fez Esaú diante de Jacó ao trocar o seu direito de primogenitura (e as bênçãos dele decorrentes) por um guisado de lentilhas, muitos de nós (em particular, os cristãos) sejamos profanos e imorais ao ponto de sacrificarmos a recordação concreta do nascimento de Cristo [e tudo o que ele significa para nós e para a realidade cósmica] em troca de nossas "lentilhas" de proteção sanitária e de "crédito social" - não exatamente o sistema de controle feito pelo regime comunista chinês, mas sim aquela "aura de intelectualidade" pela qual se evita dar a cara a bater em meio a gritos ensandecidos de "negacionista, revoltado antivax, obscurantista, terraplanista e astrólogo ad hitlerum". Ou seja, à semelhança dos membros do Sinédrio dos dias de Jesus que, embora cressem Nele, "amavam mais a glória dos homens do que a glória de Deus" e não confessavam sua fé publicamente, temos sido uma grande massa de covardes medrosinhos, com nossos frascos de álcool em gel na mochila, limpando tudo a todo momento e usando uma focinheira (vulgo máscara) acompanhada, muitas vezes, de um ridículo escudo facial de plástico em todos os lugares em que andamos (inclusive na praia!) até que, ao contrário do que lemos nas obras de C. S. Lewis, não tenhamos mais rostos - e nem alma.


Na contramão dessa paranóia coletiva, é mais que oportuno citar um dos episódios mais curiosos e emblemáticos do século XX: a “Trégua de Natal de 1914”, ocorrida no meio da I Guerra Mundial, promovida por soldados dos exércitos britânico e alemão [incluindo talvez soldados franceses]. A guerra havia começado, os diferentes combatentes estavam nas trincheiras e nos campos de batalha e, assim, a Europa passava a ser palco do maior conflito da história até então – cujo terrível saldo foi de alguns milhões de mortos. Nesse contexto, promulgou-se uma espécie de “trégua” por parte do papa da época, a qual deveria acontecer pelo menos na “noite em que os anjos cantaram” . Na véspera do dia 25 de dezembro de 1914, alguns soldados alemães começaram a se reunir para passar um tempo juntos cantando e, do lado britânico, o líder do exército ergue um bandeira escrito "Merry Christmas" para que os alemães a vissem, cuja resposta foi com outra bandeira que exibia a frase "Thank You!"... Desse modo, o que parecia improvável aconteceu: os líderes de ambos os exércitos se encontraram enquanto os demais olhavam através das trincheiras num clima tenso e, no fim das contas, os soldados britânicos e alemães se uniram, celebraram o Natal e até fizeram uma barbearia improvisada para cuidar uns dos outros. Assim, pôde-se comprovar que nem mesmo a guerra foi capaz de impedir que, naquele Natal de 1914, homens de lados opostos nos campos de batalha pudessem partilhar algo em comum - a saber, a recordação do nascimento do "Príncipe da Paz", enviado ao mundo para dar fim à inimizade entre os homens e seu Criador a fim de que, mediante tal reconciliação, os homens pudessem parar de "fazer guerra" contra Deus, 'depondo suas armas' diante de Sua majestade para, então, ser 'acolhidos em seu abraço paterno'. Em outros termos, a I Guerra Mundial 'acabou' naquele Natal de 1914 [mesmo que por apenas algumas horas], o que alude a um dos versos da música que inspirou esse post - como mostrado a seguir:

"...How many times must the cannonballs fly / Before they're forever banned?..."
que, traduzido, significa:
"...Quantas vezes as balas de canhão devem 'voar' / Antes que elas sejam para sempre banidas?..."

Naquela noite de 25 de dezembro, há pouco mais de um século, aqueles soldados mostraram ao mundo da época [e a nós também em 2020] que não deve haver motivo justo para deixar de se  trazer à memória e festejar o Advento de Cristo - mesmo que, infelizmente, a guerra não tenha terminado ali em definitivo. Deve-se salientar, porém, que não pretendo fazer qualquer tipo de apologia ao 'desarmamentismo' ou ao 'pacifismo' característico da pós-modernidade [cujos principais frutos são o aumento da criminalidade organizada em escala mundial - com perdas humanas análogas ou piores que aquelas de uma grande guerra - e a emasculação "quasi-hegemônica" dos homens], mas tão-somente reverbero que aquela "Trégua de Natal" foi uma espécie de "banimento das balas de canhão" - mesmo que temporário -, decorrente da consciência da solenidade de um símbolo que aponta para uma manifestação de suprema sacralidade, posto que está escrito que o Anjo Gabriel, ao anunciar o nascimento de Jesus a Maria, lhe revelou que "...o Ente santo que de ti haverá de nascer será chamado Filho de Deus..." [Lucas 1, vs. 35]. Todavia, dada a nossa ausência de brio e de senso do que é realmente santo, muitos dentre nós não farão como os soldados citados anteriormente, mas, ao contrário, nos submeteremos a quaisquer tiranias e abusos de autoridade arbitrários por amarmos, acima de tudo, o nosso conforto e segurança, abandonando a oportunidade de estarmos juntos com familiares e amigos bem como de ajustar a nossa "imaginação litúrgica" a partir da "história de Deus expressa na história de Cristo". Diante de tal realidade, a minha oração é a mesma registrada pelo profeta Isaías - coincidentemente (?) chamado de "profeta messiânico" -, que registrou:

"...Ó Senhor, Deus nosso, outros senhores têm tido domínio sobre nós, mas nós adoramos apenas ao Teu nome..." [Isaías 26, vs. 13] 


Antes de ir para a parte final do texto, outros versos da música que me parecem pertinentes em relação ao que já tenho tratado aqui são:

"...How many years can some people exist
Before they're allowed to be free?
Yes, n' how many times can a man turn his head
And pretend that he just doesn't see?..."

Que traduzido é:

"...Por quantos anos algumas pessoas podem existir
Até que se permita que sejam livres?
Sim, e quantas vezes um homem pode virar a cabeça
E fingir que simplesmente não vê?..."

De modo simples e direto, o que o autor parece destacar é a combinação de dois fatos: 1) a apatia e a infelicidade existencial de quem vive sem liberdade por tempo indeterminado e 2) a indiferença de quem vê essa realidade aprisionadora e, simplesmente, “finge que não vê”. Ao olharmos para a civilização ocidental de modo intelectualmente honesto, concluiremos que ela se tornou, ao longo dos séculos, a expressão social mais vívida e factível da liberdade e do florescimento humanos, dadas as suas raízes culturais e filosóficas remetentes ao mundo greco-romano e, de modo muito mais determinante, aos efeitos profundos do cristianismo bem como de muitos princípios judaicos em sua moral, ética e organização civil. Em contrapartida, os últimos séculos vêm sendo marcados por uma alteração radical e irônica desse paradigma, pois o surgimento já citado dos mais terríveis tiranos da história humana [incluindo os que estão entre nós] é, em grande medida, produto de ideais alicerçados no mote “liberté, egalité et fraternité”. Destarte, a conclusão óbvia (e ofensiva, para variar) é que a luta pela “igualdade universal” não produz mais liberdade e sim o oposto – i.e., o totalitarismo de alguns poucos sobre o resto da humanidade, chamado cinicamente de “democracia” pelos seus proponentes - e, com isso, não pode haver fraternidade alguma, exceto aquela entre os compadres (ou ‘companheiros’) que mandam em tudo e todos, sem nunca dar satisfações a outrem e cujos crimes são, quase sempre, mantidos impunes, visto que as “não tão-supremas cortes” são igualmente ou mais criminosas que eles. 

Conseqüentemente, as últimas gerações vêm sendo, em diferentes partes do mundo, compostas por milhões (e até bilhões) de pessoas que simplesmente “existem, mas não vivem", visto que suas vidas se tornaram propriedades de um "Estado-deus" ou tão-somente instrumentos úteis nas mãos de alguns dos homens mais abastados do planeta, cujo maior fetiche é "brincar de Demiurgo" enquanto o próprio dinheiro não acabao que talvez dure mais tempo que suas próprias "existências". No entanto, mais lamentável que tal realidade em si é a atitude de vários de nós que, à semelhança do “homem que vira a cabeça e finge que simplesmente não vê” o que está ao redor, são indiferentes e apáticos frente ao que lhes está escancarado aos olhos, o que pode ser um claro sintoma de uma existência analogamente vazia e sem vida - embora possa se dizer constantemente, fazendo “soprar aos quatro ventos”, que devemos “cuidar da saúde e salvar vidas”, esquecendo-se contudo de que, parafraseando os evangelistas sinóticos, “não adianta ao homem ganhar a saúde do mundo inteiro e perder a sua alma”Ora, “o que o homem poderia dar em troca de sua alma” ou, como está em voga, qual vacina poderia ser eficaz para impedir que sua vida se lhe escape como “um sopro ao vento” no dia em que esta encontrar seu fim


Finalmente, ainda me restam algumas linhas a escrever que anseio ser proveitosas.

Dentre as figuras mais presentes em minhas últimas reflexões está a clássica imagem contida no romance “Dom Quixote de la Mancha” do escritor espanhol Miguel de Cervantes - que possivelmente afirmou que ‘o português é a língua mais sonoramente bela que existe’ -, na qual o personagem principal (o cavaleiro denominado Dom Quixote) é considerado louco por confundir os “moinhos de vento” com dragões ou gigantes, contra os quais ele teria lutado sozinho até que os houvesse vencido. Porém, apesar desse trecho pitoresco da narrativa [do qual deduzir-se-ia que o ‘Cavaleiro da Triste Figura’ era um fidalgo sem juízo], o mesmo personagem afirma, em outro lugar da estória, a máxima “yo sé quien soy” [“eu sei quem sou”], indicando que, algumas vezes, os que parecem mais loucos e que aparentemente podem estar combatendo inimigos considerados “imaginários” – o 'Grande Reset' é ‘teoria da conspiração’, não se pode duvidar do “consenso científico”, “você é tão burro quanto aos que fizeram a Revolta da Vacina?” et ceterasão os únicos que estão atentos ao curso dos eventos que os circundam, uma vez que quem tem a correta “consciência de si” certamente está mais habilitado a ter a correta percepção da realidade

Nesse sentido, ninguém pode desenvolver a autoconsciência de forma legítima e genuína sem que, antes, possua referenciais absolutos a partir dos quais esse desenvolvimento possa ser feito de tal maneira que alcance o seu devido fim. Em outras palavras, só é possível conhecer a si mesmo e ter ciência desse conhecimento através de um fundamento confiável para tal, de maneira que, como seres humanos, só podemos conhecer quem de fato somos [bem como adquirir a autoconsciência daí decorrente] ao voltarmos o olhar para Aquele que nos criou – melhor ainda, ao darmos atenção ao icônico vocativo “Ecce Homo!” (i.e., Eis o Homem!), proferido por Pôncio Pilatos quando este estava diante de Cristo há poucos instantes da crucificação. Tais palavras ainda “sopram ao vento” – e sem a necessidade dos 'moinhos de Dom Quixote' - mesmo que já tenham se passado quase 2000 anos e, dessa forma, é apenas na contemplação do ‘Deus que se fez como um de nós’ que, enfim, podemos começar a saber quem somos, tanto individualmente quanto coletivamente. Para isso, fez-se necessário antes de tudo que este Deus, sempiterno e outrora imaterial, assumisse um “corpo que lhe fora preparado”, a fim de que fosse participante de nossa condição e, sendo totalmente justo e dando Sua vida pelos injustos, pudesse reconduzi-los a Si mesmo. Eis aqui o Natal!

Os últimos trechos da música que acredito serem importantes para a conclusão desse texto – se é que alguém teve paciência para ler até esse momento – são mostrados a seguir:

“…How many roads must a man walk down / Before you call him a man? […]

Yes, n’ how many times must a man look up / Before he can see the sky?

How many ears must one man have / Before he can hear people cry?

Yes, n’ how many deaths will it take ‘till he knows / That too many people have died?...”

A primeira frase, que diz “…quantas estradas um homem deve trilhar até que ele seja chamado de ‘homem’?...” parece transmitir uma idéia de que o reconhecimento de alguém como “homem” (seja no sentido de ser humano, seja quanto à sua maturidade) está diretamente ligado ao quanto tal ‘homem’ realizou ou experimentou durante a vida - ou seja, o autor traz à tona que um homem “dá testemunho de si mesmo” ou “mostra que sabe quem é” por meio de situações reais e não de abstrações. A esse respeito, a realidade do Natal vem trazer à tona que “o Verbo que estava com Deus e era Deus” seria aquele que “se tornaria semelhante a Seus irmãos em todas as coisas” [Hebreus 2, vs. 17] e “embora fosse Filho, aprenderia a obedecer por meio daquilo que sofreria” [Hebreus 5, vs. 8], de sorte que Jesus Cristo é, par excellence, o Homem que trilhou “quantas estradas Lhe foram necessárias”, tendo dado um verdadeiro testemunho de Si mesmo de que “havia sido enviado por Deus Pai” e que “viera para fazer a vontade Dele e não a Sua própria” [João 6, vs. 38], por cuja obediência a “maldição do primeiro Adam” - que se rebelou no “jardim de delícias” - foi revertida pela bendita submissão do “último Adam” – desde o “jardim das aflições” até o Calvário

A segunda e a terceira frases destacadas, que dizem "...e quantas vezes um homem deve olhar para cima até que ele veja o céu?... E quantos ouvidos um homem deve ter até que ele possa ouvir as pessoas chorarem?...", podem ser conectadas com o verso do parágrafo acima, já que também contêm a figura do 'homem' no eixo central. Nesses trechos, o autor intenciona mostrar que, para enxergar aquilo que está sempre presente [e, neste caso, acima de todos nós], muitas vezes temos que olhar atentamente, sem distrações ou negligência - o que me lembrou uma frase que, certa vez, li num cartaz de um evento sobre astronomia enquanto visitava uma pequena cidade no norte da Lombardia/Itália, a qual dizia "...guardare il cielo per capire la terra..." [ou " olhar o céu para compreender a terra..."]. De modo análogo, a pergunta subsequente a respeito dos "ouvidos que devem ouvir o choro alheio" também reitera o mesmo raciocínio, pelo qual somos compelidos a atentarmos para a dor e a aflição dos nossos semelhantes assim como Deus o fez, pois está escrito que "...Ele se lembrou de nós em nossa humilhação... e nos livrou de nossos inimigos..." [Salmo 136, vs. 23-24], o que foi igualmente mencionado no 'Benedictus' [o Cântico de Zacarias, pai de João Batista, o mesmo que "preparou o caminho do Senhor"], onde lemos que "...o Deus de Israel visitou e redimiu o Seu povo, e promoveu uma poderosa salvação para nós... salvando-nos de nossos inimigos e de todos os que nos odeiam para mostrar Sua misericórdia..." [Lucas 1, vs. 68-69 e 71-72]. Isto é, a expressão máxima do "amor de Deus que dura para sempre" é vista em todo o seu esplendor no Natal, quando o Eterno 'deixa a eternidade para entrar no tempo' e o "...Sol da Justiça nasce do alto sobre os que habitavam em trevas e na sombra da morte..." [Lucas 1, vs. 78-79] por meio do nascimento de um bebê que teria uma manjedoura como seu primeiro berço. Eis o "Grande Mistério da Piedade"!

No último trecho da música mostrado acima, o qual diz “...e quantas mortes serão necessárias para que ele saiba que morreram pessoas demais?...”, nota-se que o autor lança mão da imagem mais dramática que nos é concebível [e.g., a realidade da morte] para despertar a atenção e as emoções de quem ouve a música na direção da compaixão, bem como para longe da frieza e da insensibilidade perante o mal em todo o seu horror e miséria. Tal reflexão normalmente nos faz pensar numa ocasião de guerra (como supracitado), numa epidemia de alta letalidade (o que não é o caso da COVID-19, a despeito da narrativa dominante) ou nalguma grande catástrofe natural (como tsunamis ou terremotos).

Este ano, mais do que nunca na história humana, tem sido o ano da “compaixão de pose” - nas redes sociais, nos jornais, nos programas de televisão e por onde temos caminhado. Embora a humanidade já esteja na terra há alguns bons milênios, nossa geração de “iluminados benevolentes” e “especialistas da dor humana”vulgo “coronalovers”têm se constituído juízes de todos os demais seres humanos no tocante a “lamentar as vidas perdidas por causa da pandemia” [quando esses “outros” não “sentem como eles dizem que todos devem se sentir”], como se por toda a história ninguém teve de aprender a lidar com a dor da morte e com diversos tipos de doenças letais [incluindo outras pestes e epidemias] mas, agora, enfim, eles estão aí para nos ensinar a encarar a morte com aquele “sentimentalismo barato” aliado àquela “demagogia revolucionária” típica da liderança da UNE ou de alguma facção terrorista ao estilo BLM ou Antifa. Mas “quem são eles” - ou “quem eles pensam que são” - para se julgarem aptos a ensinar o mundo inteiro sobre a realidade mais dura da vida enquanto jogam “Free Fire”, celebram o aumento de seguidores no Tik Tok ou, ainda pior, fazem parte do corpo editorial da Folha de São Paulo [ou do Antagonista] ou apresentam o Jornal Nacional? O mais triste em tudo isso é, para mim em particular, ter de admitir que irmãos de fé parecem estar seduzidos por uma “piedade exibicionista”, segundo a qual é mais importante “parecer estar condoído” com as mortes pela COVID-19 em lugar de cultivar o amor ao próximo sem desejar “ser vistos pelos homens e glorificados por eles” pois, assim, “a recompensa já terá sido conquistada” - a qual, infelizmente, não será da parte do Pai que está nos céus.

Ora, se nos confessamos como cristãos, devemos lembrar que o amor consiste “...não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que Ele nos amou e enviou o Seu Filho como propiciação pelos nossos pecados” [1 João 4, vs. 10] e que “...se Deus nos amou de tal maneira, também devemos amar uns aos outros...” [1 João 4, vs. 11], de maneira que é somente à luz do amor de Deus manifestado a nós que poderemos amar uns aos outros devidamente. Ou seja, é “vivendo por meio de Cristo”, o qual nasceu para nos redimir de nossos pecados, que verdadeiramente amaremos o próximo para a glória de Deus e o bem de outrem, ao invés de usarmos a “aparência de piedade” para alardear os nossos pecados gloriosos. 

Entretanto, pior do que a morte em si é a causa por trás dela, a qual é denominada na Bíblia de pecado, dado que “...o salário do pecado é a morte...” [Romanos 6, vs. 23]. De fato, essa é a suprema razão pela qual o Natal existe, pois naquela “noite feliz”, em que os pastores nos arredores de Belém estavam cuidando dos rebanhos, o anúncio do anjo foi de “...boas-novas de grande alegria para todo o povo, pois na Cidade de Davi nascia o Salvador, que é Cristo, o Senhor...” [Lucas 2, vs. 10-11]. A virgem havia concebido e, finalmente, Emanuel viera para ser “Deus conosco", de modo que “a resposta” dos milhares e milhares de anjos da milícia celestial “soprou ao vento” ao ecoar a doce canção [vide Lucas 2, vs. 14]:

“Glória a Deus nas alturas, e paz na Terra aos homens aos quais Deus concede sua bondade”!

Ao longo do Antigo Testamento, o povo de Israel [e todos os não-israelitas que se voltaram para o Deus Único e foram agregados ao “povo da aliança”] ergueu sua voz em clamor como se cantassem “...O Come, O Come Immanuel / To ramsom captive Israel...” até que, dos céus, o Espírito Santo “envolveu Maria com a Sua sombra” a fim de gerar em seu ventre Aquele sobre quem o “Espirito do Senhor” estaria durante toda a Sua vida e até Sua morte, pois está escrito que Cristo se ofereceu a Deus como um sacrifício imaculado “pelo Espírito eterno” a fim de “purificar a nossa consciência... para servirmos ao Deus vivo” [Hebreus 9, vs. 14]. O Natal e toda a sua beleza humilde, na qual se vê os magos do Oriente seguindo a “Estrela de Belém” [que supostamente ‘apareceu’ essa semana pela conjunção entre Júpiter e Saturno] até encontrar o Rei que nascera na Judéia para adorá-Lo com seus tesouros, finalmente tem seu propósito plenamente manifestado quando aquele menino, que “estaria destinado a causar a queda e a elevação de muitos em Israel, e a ser um sinal de contradição, de modo que o pensamento de muitos corações seria revelado” [Lucas 2, vs. 34-35] é rejeitado pelo Seu povo, tratado como o pior dos malfeitores e é crucificado entre dois deles. Na cruz, Deus Pai consuma o Seu plano de redenção ao “despertar a espada sobre o Pastor das Ovelhas” e, ao mesmo tempo, uma espada “transpassa a alma de Maria” – mas, felizmente, a história não havia terminado. 

Após três dias, o mesmo Espírito, que como uma "brisa suave" havia envolvido o ventre daquela jovem virgem judia  para trazer o Filho de Deus ao mundo, soprou como um "vento poderoso" e vivificou o "Filho do Homem", fazendo rolar a grande pedra do sepulcro e ressuscitando Aquele que seria o "Primogênito dentre os mortos". Não estou certo se o Bob Dylan já tenha pensado nessas coisas que expus aqui, mas, independentemente de qual seja a situação dele, o que cabe a nós é dar a devida importância à "resposta de Deus" diante de nossa rejeição a Ele, a qual está "soprando ao vento" há cerca de 20 séculos, na medida em que a Sua voz é ouvida por meio da proclamação do Evangelho, desde o Dia de Pentecostes - no qual Deus "soprou" sobre os discípulos no Cenáculo e os revestiu do poder do Espírito Santo para que, assim, nascesse o Corpo de Cristo, que é a Igreja - até os nossos dias. Por fim, apesar de que, provavelmente, a tendência é que a oposição e a hostilidade contra os que seguem fielmente a Jesus Cristo seja cada vez maior e mais severa com o passar dos anos, a minha viva e grande esperança é que, mesmo que matem o meu corpo (seja por decapitação pelas mãos de um jihadista, através da fome ou mesmo sob o pretexto de "imunização" contra um vírus mortal), jamais poderão destruir a minha alma, pois "a minha vida está escondida com Cristo em Deus" [Colossenses 3, vs. 3] e, sabendo que Ele ressuscitou para não mais morrer, todos os que foram "gerados de novo pelo Espírito Santo" e estão unidos a Cristo também ressuscitarão um dia para não mais morrerem - assim, todo dia será uma comemoração do nosso "Novo Natal", quando nascemos de Deus para, finalmente, habitarmos com Ele, onde a morte já terá sido derrotada e aquela alegra anunciada pelos anjos no "Gloria in Excelsis Deo" será nossa de uma vez para sempre.

E você? Será que tem dado ouvidos ao real sentido do Natal (que "sopra pelo vento" há 2000 anos)?

Você tem real consciência de si mesmo? Quais têm sido seus referenciais para saber quem você realmente é?

Além disso, será que você tem sido um "falso sábio" e tem ignorado os "loucos" que têm visto os reais inimigos que você tem ignorado por parecerem "loucura" ou "conspiração"?

Finalmente, à Luz do nascimento do Filho de Deus, que foi feito Homem como nós no Primeiro Advento, qual será a sua resposta? Você continuará querendo salvar a sua própria vida (como se fosse possível fazê-lo) ou reconhecerá que somente Ele pode ser o seu verdadeiro Salvador - desde esta vida presente e também na vida futura após o Segundo Advento?



À Sabedoria de Deus, a Adonai, à Raiz de Jessé, à Chave de Davi, à Estrela da Alva, ao Rei das Nações e ao Emanuel



Soli Deo Gloria!