sexta-feira, 21 de novembro de 2014

The "optimistic gospel"...

Três semanas se passaram e, finalmente, consegui voltar.

Após o último texto publicado neste blog, meu computador sofreu um "bug" em seu Hard Disk e, mesmo depois de tê-lo consertado, só agora me sobrou um tempo para colocar novas ideias e reflexões pra fora. Muitas coisas vieram à mente, porém acredito que uma delas é a mais pertinente para o momento. Sigamos em frente.


O tema deste texto é baseado num pequeno trecho de uma canção chamada "Optimistic", da banda de rock britânica Radiohead, o qual diz:

"If you try the best you can
The best you can is good enough..." [Optimistic - Radiohead, Kid A]

Em português, a letra diz: "se você tentar o melhor que você pode, o melhor que você pode é bom o suficiente"

Primeiramente, eu gosto da música - ela é muito bem arranjada, embora a letra seja um tanto psicodélica (risos). Além disso, por um lado, a ideia de se "buscar fazer o melhor" ou "tentar ser bom o suficiente" é um princípio digno, especialmente numa sociedade em que tudo está banalizado e distorcido - por exemplo, tudo de ruim e de anti-intelectual é chamado de "arte" ou de "ciência", muitas "bandeiras sociais" nada mais são do que "censuras disfarçadas" feitas em nome de caprichos de determinados grupos e, como se não bastasse os traços destacados da "imbecilização coletiva" anteriormente mencionados característicos da humanidade dos dias atuais, uma parte considerável do que as pessoas têm feito "em nome de Deus" ou "dentro dos contextos ditos religiosos" não chega nem a ser medíocre, pois é pior que isso. Enfim, o "livre pensar", o "ideal revolucionário" e, em última instância, o que pode ser chamado de "liberalismo teológico" não tem implicado avanço intelectual, social e cultural - muito pelo contrário, os "idiotas úteis" estão cada vez mais em maior número e, por isso, a excelência, a busca pelo melhor nas diversas áreas da vida humana e, finalmente, a seriedade quanto ao assunto "Deus" estão praticamente no esquecimento. Já dizia Cícero: "O tempora, O mores!" ou "Que tempos, e que modos!".


Na verdade, eu poderia falar de várias coisas neste post, porém o que mais me preocupa (como cristão e cidadão pensante - vejam, que paradoxo!) é o que nomearia de "optimistic gospel" ou "evangelho otimista", fazendo uma alusão ao título da música. O "optimistic gospel" diz/prega/proclama (ou melhor, declara, profetiza e determina) que, se nós tentarmos fazer o melhor que podemos, isso será bom o suficiente. Na prática, isso se revela nas várias "campanhas de sacrifícios em busca de bênçãos" [se você der uma oferta de R$ 50, não receberá a bênção de quem der R$ 1000 - por isso, dê mais e você convencerá Deus a te dar mais], nos "jejuns de causas impossíveis", nos "pactos disso e daquilo" e, como não poderia deixar de ser, no legalismo disfarçado de devoção a Deus [onde se acredita comprar a salvação por meio de "novas indulgências" ou "novas penitências" como, por exemplo, não ouvir música "do mundo", não ir ver o futebol domingo, não usar camisas pretas de bandas de rock etc.], no abuso de poder e manipulação das mentes transfigurado de "cobertura espiritual" e, finalmente, na ideia basilar de todas essas evidências - eu sou bom (ou, no mínimo, não sou tão ruim assim) e, já que eu procuro seguir o "caminho do bem" e que Deus é "amor", Ele não tem o direito de não me salvar ou não pode punir a ninguémOu seja, "se eu tentar o melhor que eu posso", "o melhor que eu posso é bom o suficiente" para "fazer a média" com Deus e, assim, eu me livro do julgamento divino sozinho, sem precisar Dele.  

Mas isso não é o que Deus disse a esse respeito. O que Ele disse, afinal?


Resumidamente, o que Deus diz sobre o "optimistic gospel" é que não podemos fazer algo "bom o suficiente" diante Dele - mais do que isso, não podemos nem tentar fazer algo bom ou nos preparar para fazê-lo, uma vez que qualquer noção de bondade ou de virtude que possamos ter sobre nós mesmos e sobre a vida será (ou já está) distorcida - ora, "todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus" e, portanto, não somos capazes de compreender ou de assimilar o verdadeiro bem ou a verdadeira virtude, pois isso só seria/é possível quando estivermos/estamos diante Dele, que é o Bem Supremo. Enquanto a nossa cultura enfatiza o "pensar positivo", o "falar/fazer coisas boas para atrair coisas boas", Deus dá um diagnóstico estarrecedor sobre a nossa condição, como escreveu o profeta hebreu Isaías:

Mas, prosseguindo nós em nossos pecados, Tu te iraste. Como, então, seremos salvos?
Mas todos nós somos como o imundo, e todos os nossos atos de justiça são como trapos de imundície; nós murchamos como folhas, e nossas culpas como um vento nos arrebatam.
Não há ninguém que clame pelo Teu nome, que se anime a apegar-se a Ti, pois escondeste de nós o Teu rosto e nos deixaste perecer por causa de nossas iniquidades.
[Isaías 64:5-7]


Essa passagem das Escrituras é clara: o povo para quem o profeta estava destinando a mensagem continuou a ser rebelde contra Deus e permaneceu em seus próprios pecados, de modo que Deus se irou contra eles e levando o profeta a clamar: como, então, seremos salvos? Isto é, a realidade da ira de Deus contra os nossos pecados deve nos conduzir a um senso claro da total incapacidade de nos salvarmos por nós mesmos, visto que ninguém pode medir o poder da ira de Deus nem mensurar o temor que a Ele é devido. Além disso, a passagem diz que todos nós somos como o "imundo" (no contexto do povo hebreu, "imundo" era uma palavra associada aos leprosos, o que dá a entender que, como pecadores, somos espiritualmente leprosos diante de Deus) e que nossos atos de justiça são como trapos sujos - ora, se nossos melhores atos são como "trapos sujos" para Deus, o que diremos de nossas más ações, palavras fúteis, pensamentos impuros e desejos egoístas? Logo, como criaturas reféns do pecado, nós murchamos como folhas que rapidamente secam e somos arrebatados pela nossa culpa porém, mesmo assim, o texto continua dizendo que "não há ninguém que clame pelo Teu nome e que se anime a apegar-se a Ti", ratificando que a nossa situação como pecadores é tão grave a ponto de, embora sofrendo todas as consequências de nossos erros e de nossa má conduta, continuamos ignorando a Deus e fazendo de conta que Ele não existe [ou, no mínimo, que Ele coloca "panos quentes" sobre nossos pecados e "passa a mão" na nossa cabeça]. Não - Ele não faz isso.

No texto que lemos, Deus deixou o povo perecer por causa de suas próprias injustiças. Deus não mudou [e não muda] e, por isso, todos os que vivem ainda hoje deste modo estão sujeitos ao mesmo juízo divino.


Finalmente, numa época em que o "optimistic gospel" [ou, de modo mais amplo, o "optimistic way of life"] está cada vez mais vigente - vivemos a "ditadura da felicidade", a "ditadura dos egos massageados", não se pode criticar nada, opinar sobre nada, questionar nada que seja parte de nossa "cultura evoluída" porque seremos os "beltranofóbicos intolerantes opressores fundamentalistas hegemônicos normativos" -, a reflexão deste post será certamente impopular. Não me importo muito com isso, pois é essa mensagem impopular, chocante e positivamente transtornadora que pode mudar a realidade em que vivemos a partir da transformação das pessoas que a tomarem para si mesmas, sendo assim transformadas por ela. Curiosamente, a continuação do texto diz:

Contudo, Senhor, Tu és o nosso Pai. Nós somos o barro, e Tu és o nosso Oleiro. Todos nós somos obras de Tuas mãos.
Não Te ires demais, ó Senhor! Não te lembres constantemente das nossas maldades. Olha para nós, nós somos o Teu povo! [Isaías 64: 8-9]


Diante do fato de sermos miseráveis pecadores [e, como resultado, somos derrubados por nossas próprias maldades e estamos vulneráveis ao justo julgamento de Deus], façamos dessas frases uma oração - isto é, que nos reconheçamos como barro nas mãos de Deus, sabendo que Ele pode refazer um vaso quebrado e danificado, tendo também esperança na misericórdia Dele, pela qual Ele nos perdoa os pecados e nos livra da ira que um dia Ele mesmo manifestará. Nossa única saída é que Deus não permaneça irado conosco, de forma que não se lembre de nossos pecados - nesse sentido, a única maneira de tudo isso ser real para nós é por meio de Jesus Cristo, que veio para salvar pecadores porque Deus assim amou o mundo, amando de tal maneira a ponto de dar Seu Filho unigênito por eles. Se você ainda não se importou com isso, arrependa-se e se volte para Deus - olhe para Cristo e creia Nele, pois está escrito: "...olhem para mim e sejam salvos, todas as extremidades da terra; pois Eu sou Deus, e não há outro"

Abandonemos o "optimistic gospel" (segundo o qual podemos brincar de ser Deus e, assim, "fazer e acontecer") e voltemos às "velhas verdades", pelas quais podemos conhecer um Deus justo e santo e, ainda assim, um Deus que amou pecadores e se entregou por eles.





Pela satisfação de não seguir um "optimistic gospel",





Soli Deo Gloria!