quinta-feira, 18 de abril de 2019

Sob as chamas do Labirinto de Fausto - uma oração

Da falta de inspiração
E com consciência de minha inadequação
Ouso dirigir a Ti, ó Deus,
A minha oração.

Grande ousadia é, portanto,
Que qualquer pecador, tal como sou,
Compareça diante do Único Santo
Sem possuir o devido temor -
Pois, se Ele levasse em conta as transgressões,
Quem, então, subsistiria?
Contudo, visto que conheço o Gentil Mediador,
Pelo qual todos se achegam a Ti,
Em Seu nome é que me aproximo
Através do Novo e Vivo Caminho,
Sabendo qual Sacerdote por mim intercede
- Grande, Sublime, Separado e Inocente,
Simpático para conosco em nossas tentações,
Sendo propício para com os Seus para sempre. 

Como sabes, ó Eterno,
Reconheço que sou mais um peregrino 
- Um peregrino por inteiro,
Já que não possuo aqui cidade permanente.
Porém, "ao longo da longa jornada" que trilho,
Muitas vezes me percebo num labirinto,
De tal sorte que "ando em círculos"
E, assim, não logro dar muitos passos adiante.

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Sou uma espécie de combinação entre "Fausto" e "Cristão".

De um lado, cientista por vezes frustrado,
Sem possuir o conhecimento desejado,
E, por isso, às vezes da vida desiludido.
De outro, fugitivo de um mundo condenado,
 Levando sobre os ombros um fardo pesado
Enquanto caminha rumo ao destino final prometido.
Além disso, sendo por "Mefistófeles" rodeado,
Leão voraz pronto para devorar,
Nem sempre sou sóbrio e vigilante
Mas sim distraído e vacilante.
"Senhor Deus dos desgraçados",
Dá-me Tua sobriedade, em mim ausente,
Para que somente o Bem seja por mim estimado
E o mal não me seja mais atraente.
Não devo buscar alegria no que criaste
Mas, pela fé, satisfazer-me apenas em Ti,
Pois, estando firmado sobre a Pedra Angular,
Permanecerei de pé quando Ele se manifestar.

Eis a minha esperança:
Assim como o fardo foi removido de "Cristão",
Caindo de seus ombros sem auxílio de mãos,
Eu também sou de meus pesos libertado
Quando contemplo o Salvador Crucificado.

Ainda que me perca por falsos atalhos
E seja capturado para o "Castelo do Desespero",
Ou mesmo seduzido pelas "Feiras da Vaidade"
Bem como por "Apoliom" ferozmente atacado,
Tu és Aquele que me guarda,
Sendo "minha sombra à mão direita,
Guardando minha saída e minha entrada
Desde agora e até a eternidade".
Protege-me, pois, também, de mim mesmo,
E de todos os "Mefistófeles interiores"
A fim de que não caia no auto-engano
De "chamar o que é doce de amargo
E considerar o que é amargo doce".
Somente Tu, meu Deus e meu Redentor,
És verdadeira doçura e bem-aventurança;
Fixa meus olhos em Tua Beleza,
E, assim, me alegrarei com Tua semelhança.  

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Temos vivido dias de tragédias.

Sejam ciclones que devastam
Levando mais miséria a quem já tem tão pouco,
Ou barragens que se rompem
E arrastam tudo que pela frente encontram.
São chacinas em escolas e ataques a igrejas,
De sorte que até obras emblemáticas,
Que outrora resistiram a guerras e revoluções,
Perecem em chamas ante os olhos incrédulos
De uma geração que há muito se esqueceu
De dar o devido valor a Ti, Senhor meu Deus.
Rejeitar-nos-ás, pois, perpetuamente,
Ou tornarás a apiedar-Te de nós?

Embora haja sincera tristeza
Devido a tantas e irreparáveis perdas,
Sei bem que, mais violento do que qualquer vento,
Será o sopro da boca do Cristo
Pelo qual Ele destruirá seus inimigos,
Assim como mais ferozes que as chamas
Que pairaram sobre o teto da Notre-Dame
Cuja fumaça se espalhou "sous le ciel de Paris",
São aquelas do juízo e tormento eternos,
Reservadas para o "Mefistófeles da vida real",
Bem como para seus anjos e todos os perversos.
Na verdade, todos nós assim o somos
Pois, separados de Ti, que és puro e reto,
Nada há em nós senão o que é mau,
Como certo dia dissera Teu fiel servo:

"Senhor, Tu és a minha justiça
E eu sou o Teu pecado.
Levaste sobre Ti o que era meu
Mas colocaste sobre mim o que era Teu.
Tu te tornaste o que não eras
Para que eu pudesse me tornar o que eu não era".

Logo, embora passemos pelo fogo das tribulações,
Ou sintamos os ardentes terrores do inferno
Sobre nossas cabeças e corações,
Tu disseste que nada nos queimaria,
Bem como chama alguma em nós arderia
E em Ti nós confiamos.
Tu nos formaste e nos remiste,
Chamando-nos pelo nome;
Agora somos preciosos a Teus olhos
Pois bem sabemos que, de fato, Tu nos amas. 
Ao contrário das mais belas catedrais
Que podem até sucumbir a incêndios e desastres,
O Teu amor é mais forte,
"Mais até que o inferno e a morte",
De sorte que, mesmo em meio aos escombros,
Ele resplandece intacto e triunfante.

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Entretanto, das piores tragédias que vivemos,
Nada se compara ao crescente desprezo
Que Tuas criaturas têm dado a Ti,
Que as sustentas e delas cuidas com zelo.
Transformando a Tua verdade em mentira
Elas adoram a si mesmas e Te desonram;
E, pela sua maldade e corrupção 
- Que nada é senão o coração rompido,
O "estupro de uma alma pura" -,
Também desonram uns aos outros
Em suas paixões, desejos e sentimentos.
Julgando-se sábios, se revelam loucos, 
 E, desejando viver como que sem culpa,
São indesculpáveis perante Teus olhos

 Quase todos têm se afastado, Senhor,
E muitas vezes parece que só eu fiquei.
Eu vejo celebrações de crimes e sinistros
Contra Teus servos e Teus símbolos,
De modo que, como disseste nos Profetas,
"Pereceu da terra o homem piedoso,
E entre os homens não há quem seja reto".
No entanto, Tu tens conservado um remanescente
Que não se dobra aos "ídolos modernos",
Ao qual guias na justiça por amor de Teu nome
E que habitará em Tua casa para sempre. 

Assim como, em dias passados,
Tu também preservaste um povo escolhido
Da praga do Anjo destruidor,
Que "passou por cima" de todas as casas
Marcadas com sangue de cordeiro nas portas,
Tu me livraste da morte eterna
- A praga que eu merecia receber -
Através do sangue do Verdadeiro Cordeiro, 
Daquele que tira o pecado do mundo.
Teus olhos "passaram por cima" de meus pecados
E Tu tornaste pecado "Aquele que não conhecera pecado"
Para que, sendo justificado pelo Seu sangue,
Eu fosse, ao mesmo tempo,
Salvo de Ti mesmo mas também para Ti mesmo.

Essa é a minha páscoa.

A páscoa cujo símbolo não é um coelho,
Mas um Cordeiro;
Cujo sabor não é o doce dos ovos de chocolate,
Mas o amargo da ira de Deus sobre Seu Filho;
Cujo sentido não é a "ressurreição de bons sentimentos",
Mas a do Filho de Deus em Seu corpo glorificado.

Graças dou a Ti, meu Deus e Rei,
Porque estava morto, mas revivi,
Estava perdido, mas fui encontrado.
Tirado fui do "labirinto de Fausto" -
No qual as chamas eternas me cercavam
E "Mefistófeles" me tinha em seu poder.
Hoje pertenço a outro Senhor, bom e benigno,
 Ao qual seguirei por onde quer que for,
Visto que o mesmo "Cordeiro", o Servo Sofredor,
É também o Leão da Tribo de Judá, o Rei Vencedor.


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Soli Deo Gloria!