quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Viver é apenas sentir?

Novamente, após cerca de 1 mês e meio ausente, volto a escrever aqui.

Nesse ínterim, responsabilidades acadêmicas, atividades em família e ocupações diversas - incluindo a cada vez mais freqüente falta de inspiração, provavelmente - deixaram-me sem tempo para colocar as idéias em ordem; porém, neste texto, espero ser bem-sucedido nesse objetivo. 

E, como se diz na Itália, "avanti!" ou "andiamo!"

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O tema desse post se baseia numa frase que li certa vez em algum lugar da universidade onde estudo - todavia, o que estava escrito era: "viver é apenas sentir". Ora, como sou provocador por natureza, decidi usar a afirmação de outrora e transformá-la numa pergunta, a qual lanço a todo leitor que, porventura, visitar este blog: "viver é apenas sentir"? De fato, não tenho a expectativa de dar respostas exaustivas e convincentes a todos, mas, caso seja gerada uma reflexão honesta sobre o tema, ficarei mais que satisfeito. 

Inicialmente, acredito ser pertinente partir da sentença na sua forma afirmativa e tecer alguns comentários a respeito do que ela traz consigo ou, de outra maneira, dos conceitos que ela comunica. Desse modo, a primeira idéia que me vem à mente quando penso nas palavras "viver é apenas sentir" é o fato de que os seres humanos de nosso tempo são basicamente sensitivos/sensoriais/sentimentais ou são movidos predominantemente por seus anseios e afeições - não importa quais sejam. Particularmente, acredito que o refrão da banda brasileira Los Hermanos, que diz "...quem é mais sentimental que eu?...", pode ser uma honesta expressão do modus vivendi da maioria de nós, visto que certamente não é apenas o escritor da frase de meu campus que vive como se "viver fosse apenas sentir" - embora acreditemos piamente, mais do que em qualquer época, que o que nós sentimos é [na linguagem iluminista] "a medida de todas as coisas", medida essa que muda mais rápido do que a quantidade de batidas das asas de um beija-flor, de acordo com a conveniência. 

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Mas talvez você esteja se perguntando: "onde estão as evidências de que somos uma geração imersa em sentimentalismo e que vive dessa maneira"? 

Nesse sentido, posso mencionar alguns fatos que indicam claramente a presença de um tipo de "sentimentalismo tóxico" [conforme as palavras do escritor britânico Theodore Dalrymple em seu livro "Podres de Mimados" - alguém já está sentindo o espírito natalino bater à porta?] em todas as esferas de nossa sociedade - ora, basta observarmos as letras das músicas que mais fazem sucesso [as quais normalmente falam de "amores mal-resolvidos" ou de como tudo é banalizado com base numa relação "custo-benefício"], os tipos de livros que mais vendem nas livrarias [todos sabemos que as seções de auto-ajuda, de erotismo descompromissado e hedonista ou daqueles títulos que ensinam "X passos para ser uma pessoa de sucesso" ou "o segredo dos homens mais ricos" etc. são as mais comumente procuradas], os índices de divórcio [uma vez que o casamento não é mais tratado como uma união vitalícia na qual o amor é aperfeiçoado com o tempo e por meio de bons e maus momentos, mas como um contrato que pode ser rescindido na medida em que uma das partes - ou ambas - "não sente(m) que as coisas estão dando certo"], a trivialização das relações humanas [ou o completo desprezo por elas a partir do momento em que o outro "não serve mais para meus interesses"] e ainda a histeria doentia [até assassina!] que move aqueles que se explodem para matar "infiéis" bem como outros para erguer cartazes em universidades com apologia ao genocídio de seus "inimigos" em nome de sua "nobre causa revolucionária"

Eu poderia citar outros exemplos mas, como pretendo não escrever inutilmente, suponho que estes já sejam mais do que suficientes para nos fazer pensar que somos totalmente subservientes ao que sentimos (seja nas artes, na produção literária, nos relacionamentos ou nas idéias que nos impulsionam) - e, como se pode perceber, nossos sentimentos normalmente não nos têm conduzido a coisas boas, mas exatamente o contrário. 

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Além disso, outra idéia que acompanha a frase "viver é apenas sentir" consiste no pensamento de que a realidade é uma espécie de "inimiga de uma vida feliz", de maneira que a nossa tendência mais recorrente, quando diante de situações desagradáveis ou que fogem de nosso controle, é tentar "fugir da realidade" ou simplesmente "fazer de conta que os problemas não existem" para que os sentimentos não sejam "feridos" ou "machucados" - por um lado, admito, é mais "fácil" ignorar aquilo que nos perturba ou mesmo nos causa desespero na esperança de que tudo simplesmente desapareça como "poeira levada pelo vento", entretanto esses tais problemas irão continuar existindo até que sejam encarados e resolvidos devidamente e, após a resolução destes, outros certamente nos sobrevirão, uma vez que o testemunho da experiência humana prova que intempéries e decepções nunca deixarão de ser parte da vida ou, segundo as palavras do escritor bíblico em Jó, "...o homem, nascido de mulher, vive pouco tempo e é cheio de inquietações..." [Jó 14, vs. 1]

Talvez existam outros pontos que poderiam ser abordados a respeito da afirmação de que "viver é apenas sentir", no entanto creio que uma maneira eficaz de apresentá-los aqui é considerar com mais detalhes a pergunta que dá título ao texto, na qual você já deve estar refletindo desde que começou a leitura. 

Por tudo isso, faz sentido afirmar que "viver é apenas sentir"?

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De fato, não é possível viver sem sentir - ainda que uma cosmovisão forjada pelo imaginário materialista e/ou naturalista nos induza a pensar que toda a realidade (em particular, o gênero humano) possui apenas dimensão material, o que implica que aquilo que chamamos de "sentimentos" não passam de resultados de processos físico-químicos desprovidos de qualquer fator não-natural, o fato é que nós, seres humanos, de certo modo, temos um componente emocional que nos faz ser quem somos ou, mais corretamente, conforme as palavras do Gênesis, nós somos "almas viventes" [cap. 2, vs. 7], de modo que o "sentir" é algo necessário e inevitável pelo fato de que somos como somos. Estudando a linguagem hebraica, constata-se que o termo para "alma" presente em Gênesis 2:7 e mais usualmente empregado no texto bíblico hebraico é "néfesh" [transliterado], o qual também é aplicado, curiosamente, ao conceito do que poderia ser descrito como "garganta faminta" - i.e., o ser humano como "alma vivente" não pode "viver sem sentir" porque ele é, essencialmente, um ser "desejante" ou "anelante", de forma que ao mesmo tempo que "possui desejos, sentimentos e vontades" de diversas coisas [dinheiro, sexo, prestígio, poder político etc.] ele é, em si, desejo e anseio por algo que o satisfaria por inteiro [caso esse "algo" seja encontrado]. Ou seja, enquanto o homem não se depara com aquilo pelo que ele é, ontologicamente, desejo, ele continuará entoando dentro de si o refrão que diz:

"But I still haven't found what I'm looking for..." [U2]

Ou:

"Mas eu ainda não encontrei o que eu estou buscando...",

Cujas palavras remontam às célebres citações do filósofo Agostinho de Hipona nas emblemáticas "Confissões":

"Quia fecisti nos ad Te et inquietum est cor nostrum, donec requiescat in Te",

Que em latim quer dizer "Porque Tu nos fizeste para Ti, e inquieto está o nosso coração, enquanto não repousa em Ti".

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Uma vez mais você pode estar questionando: quem seria esse "Tu" a quem o filósofo se refere como "Aquele que nos fez para Si e que seria o nosso único lugar de descanso"?

Para tirar essa dúvida, o ideal seria estudar as obras do próprio Agostinho, contudo, pelo que já li de seus escritos, afirmo que esse "Tu" que "nos fez para Si e em Quem nosso coração encontra descanso" nada mais é do que "Deus" - porém não um "deus qualquer", a quem damos o "nome" que bem desejarmos na hora que quisermos, como se "ele" fosse manipulável [ou mesmo uma cogitação de nossa mente] em vez do Criador de tudo o que existe e que nos permite conhecê-Lo por Sua própria iniciativa [o que chamamos de "auto-revelação divina"], como dizia C. S. Lewis: "...quando se trata de conhecer a Deus, toda a iniciativa depende Dele; se Ele não quiser se revelar, nada do que façamos nos permitirá encontrá-Lo...". Isto é, em última instância, se o C. S. Lewis estiver com a razão, dependemos totalmente de Deus para encontrar Deus, de tal sorte que, quando alguém começa a "buscar a Deus querendo achá-Lo", esse "ser anelante" ou "alma vivente" somente O encontrará quando Ele se deixar ser achado, pois assim está escrito nos Profetas bem como nas próprias palavras de Jesus Cristo:

"...'E buscar-me-eis, e me achareis, quando me buscardes de todo o vosso coração.
E eu me deixarei ser achado por vós', diz o Senhor..." [Jeremias 29, vs. 13-14a]

"...Está escritos nos Profetas: e todos serão ensinados por Deus. Portanto, todo aquele que do Pai ouviu e aprendeu vem a Mim...". [João 6, vs. 45] 

Em suma, o que os textos juntos afirmam é que todos aqueles que buscam a Deus de todo o coração [na literatura hebraica bíblica, "coração" é como uma união entre a mente, a vontade e os sentimentos] irão achá-Lo, pois Deus se deixará ser achado por eles, os quais só vêm até Ele porque foram ensinados por Ele e aprenderam Dele, como se lê em outro lugar: "...bem-aventurados os puros de coração, porque eles verão a Deus..." [Mateus 5, vs. 8].

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Por outro lado, a pergunta ainda paira... viver é apenas sentir? 

Se "sim" [alternativa que desconsidera todos os contrapontos desse post], por quê? Se não, quais as razões?

Tendo considerado o aspecto "sentimental" da vida de modo breve, a resposta que trago como a correta para a pergunta [certo e errado continuam existindo!] é a de que "viver não é apenas sentir", já que só poderíamos levar em conta que somos "almas viventes" no sentido de "seres desejantes em nós mesmos" pela compreensão objetiva e racional da mensagem de um livro chamado Bíblia [inclusos os conhecimentos gramaticais de hebraico!] e a subseqüente aceitação de sua mensagem como fidedigna, auto-justificável e verdadeira, a despeito de toda e qualquer opinião contrária - ora, isso pressupõe a confiança na autenticidade de seus escritos atuais, na preservação de seus textos originais ao longo dos séculos, na veracidade de seus relatos e, finalmente, na possibilidade de termos um conhecimento seguro a respeito, o que indica que podemos confiar objetivamente no que nos é apresentado como parte do todo da realidade e, em particular, na Bíblia e em sua mensagem. Dessa maneira, se "viver fosse apenas sentir", não poderíamos confiar em qualquer "livro sagrado" ou científico e nem em nossos próprios sentimentos [dada a inconstância deles], consoante as palavras do poeta barroco Gregório de Matos, que dizia que "...temos toda a nossa firmeza somente na inconstância...". Em outros termos, a vida não é apenas "sentir" tampouco é apenas "raciocinar" - não há dicotomia, pois o homem, como um todo, sente [é "alma vivente"] e pensa ["cogito, ergo sum"].

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Finalmente, não poderia deixar de expor o aspecto principal dessas reflexões, o qual deriva de outra pergunta: viver consiste em sentir e pensar ou é mais do que isso? O que é "viver" no fim das contas?

Com base na idéia de que fomos "criados por Deus à Sua imagem e semelhança" e que Ele "soprou em nós o fôlego de vida" [Gênesis 1:27 e 2:7], confirmo as palavras de Paulo em seu discurso na Acrópole de Atenas, as quais dizem que em Deus "...vivemos, nos movemos, e existimos..." [Atos 17, vs. 28] - i.e., nossa vida natural depende de Deus, de forma que todos [incluindo todos os que não crêem Nele] só respiram/estão respirando agora porque Deus não tirou o ar deles. Todavia, não é somente isso.

Na verdade, Deus não apenas nos criou para termos uma vida física que provém Dele e que reconhecêssemos isso, mas sobretudo nos fez para "...o louvor de Sua glória...", o qual é o "fim supremo e principal do homem" de acordo com as palavras dos cristãos ingleses de Westminster. Todavia, como se pode ver, tudo o que temos feito é não viver para a glória de Deus desde que pecamos contra Ele em Adão até agora [pois continuamos a pecar], de modo que espiritualmente não temos vida ou "estamos mortos" [Romanos 6, vs. 23a] - ou seja, hoje não sabemos mais o que é viver verdadeiramente, pois a vida de Deus não está mais em nossa alma, de modo que temos procurado substituí-Lo por outras coisas que não satisfazem e jamais nos satisfarão. Em contrapartida, a única solução para este problema - um problema de peso eterno! - é ter essa "vida de Deus" de volta, vida essa que "...estava com o Pai e que nos foi manifestada, e nós a vimos..." [1 João 1, vs. 2], que "...era a Luz dos homens..." [João 1, vs. 4], que "...veio para o que era Seu, e os Seus não O receberam..." [João 1, vs. 11] mas que para "...todos quantos O receberam, aos que crêem em Seu nome, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus..." [João 1, vs. 12]. Não é possível ser mais preciso sobre o tema do que o próprio Cristo já foi, pois Ele disse que é "...o Caminho, a Verdade e a Vida..." [João 14, vs. 6] - ou seja, a vida de Deus que todo homem precisa para ser satisfeito como "alma vivente", como "ser que sente e que pensa" está somente em Jesus Cristo, como está escrito:

"Porque para mim o viver é Cristo..." [Filipenses 1, vs. 21a]

"Já estou crucificado com Cristo; já não sou mais eu quem vive, mas é Cristo que vive em mim, e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus, o Qual me amou e a Si mesmo se entregou por mim". [Gálatas 2, vs. 20]

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O homem que encontra Jesus Cristo - ou, no caso de Paulo, o homem a quem Cristo encontra - é aquele que entende que só vive de verdade se for em união com Ele ou, mais do que isso, é aquele cuja vida é o próprio Deus vivendo Nele na pessoa de Jesus Cristo, o Deus encarnado, que veio ao mundo "buscar e salvar o que se havia perdido", motivo pelo qual Ele buscou a Paulo naquele caminho de Damasco [vide Atos 9] e que, muitos séculos depois disso, igualmente me buscou e, ao me achar em mísero estado, também me salvou [Salmo 116, vs. 6].


Você já sabe o que é viver de verdade [ou já sabe que tem a vida de Deus em você]? 

O que você tem usado como base para viver? Os seus sentimentos enganosos ou a Verdade?

Se você ainda está afastado de Jesus Cristo, você precisa da vida de Deus - assim como eu precisava/e ainda preciso... O que você vai fazer diante desse quadro?

Sabendo que a Vida de Deus já nos foi manifestada em Jesus Cristo, até quando continuará fazendo de conta que pode "viver sem Ele" hoje e também depois da morte?





Por saber que viver é sentir-me satisfeito Nele,




Soli Deo Gloria!