quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

Sobre anjos e a Vida que nunca tem fim...

O ano está acabando, mas ainda tive tempo de escrever novamente.

De fato, esse foi o ano em que publiquei menos vezes aqui - creio eu por falta de inspiração ou, talvez, por estar cansado de ter de falar das mesmas indignações que me perseguem nos últimos dois anos. Assim, decidi poupar-vos de certas "vãs repetições" e escrever somente o que valeria a pena ser registrado.

Por tudo isso, eu estive pensando sobre o conteúdo dessa última publicação do ano e, após uma combinação de reflexões breves, decidi falar a respeito de uma música que inspirou o título deste texto para incrementar o seu tema principal: o Natal

Sem mais demora, vamos ao que interessa. 


A música à qual me referi no início do texto se chama "Anjos (pra quem tem fé)" - do grupo brasileiro de rock/rap chamado 'O Rappa' - e, como já fiz em outros textos anteriores, procurarei usar trechos específicos da letra que podem ser relacionados com o Natal para discorrer sobre o tema. No entanto, gostaria de inicialmente deixar bem claro que o objetivo desse artigo não é abordar as várias polêmicas que sempre voltam à tona a cada Natal (se a festa tem origem pagã, se é certo ou errado comemorá-lo etc.), mas unicamente trazer à nossa memória aquelas coisas que são a substância e o sentido do Natal, o que tem sido cada vez mais um ato de resistência - seja por causa de presépios constantemente vandalizados no mundo Ocidental, de comerciais com "papai-noel homossexual", de "produções artísticas" que colocam 'deus' (com 'd' bem minúsculo!) num prostíbulo e até mesmo de resoluções políticas (como ocorreu recentemente no Parlamento Europeu) que quase proibiram o uso do termo "Natal" e o substituíram por "temporada de festas". Logo, uma vez que a Coca-Cola da Noruega, o "Porta dos Fundos" e nem a União Européia paga as minhas contas ou possui qualquer mínima autoridade sobre minha consciência, eu "serei resistência" (nunca pensei que uma frase desse tipo poderia vir a calhar!) - e esse texto será uma expressão disso.  

Dito isso, o primeiro trecho da música que gostaria de destacar é:

"...Te mostro um trecho, uma passagem de um Livro antigo
Pra te provar e mostrar que a vida é linda
Dura, sofrida, carente em qualquer continente
Mas boa de se viver em qualquer lugar..."

Em poucas palavras, o autor parece fazer alusão a algum tipo de "literatura antiga ou sagrada", pela qual se pode entender o "lado bom da vida" ou "a beleza das coisas", de tal modo que ele deseja que um determinado destinatário a quem ele se dirige também possa adquirir e experimentar a mesma consciência. Por outro lado, o compositor não faz algum tipo de "vista grossa" com relação às mazelas e angústias de nossa realidade, uma vez que diz que a "vida que é linda" é também "dura, sofrida e carente em qualquer continente" e, nesse sentido, consolida a sua visão de mundo, a qual pode ser chamada de "realismo esperançoso".  


De fato, aquele que analisa com mais cuidado os textos que escrevo perceberá, com certa facilidade, que eu também sou um "realista esperançoso". Ora, sempre que abordo assuntos mais sérios e urgentes, procuro expor o que acredito com uma medida razoável de solenidade e firmeza (sem "papas na língua" ou "camuflagens") e, ao mesmo tempo, nunca deixo de apontar razões sólidas para que a esperança esteja viva na mente dos (muito poucos) que me lêem. Dessa maneira, um dos objetivos desse texto é ratificar a perspectiva do poeta conforme apresentada nos versos supracitados e, para isso, eu mostrarei aqui certos "trechos e passagens de um 'Livro antigo'" que nos fazem saber que, apesar de árdua e atribulada, a vida também pode ser bela e deleitável. Uma dessas passagens que é digna de menção diz:

"...Se o homem viver muitos anos, alegre-se em todos eles. Porém, lembre-se dos dias de trevas, porque serão muitos. Tudo o que está para acontecer é ilusão..." [Eclesiastes 11, vs. 8]

Nesse trecho, o sábio rei afirma categoricamente que aquele a quem Deus conceder longevidade deve se alegrar em todos os anos vividoscontudo não deve esquecer-se dos "dias de trevas", os quais serão em grande quantidade. Isto é, o desejo de Deus, de acordo com as palavras do mestre, é que nos alegremos durante os dias bons que desfrutarmos e, simultaneamente, que tenhamos em mente a imagem viva dos "dias maus", pois estes nos ajudam a não presumirmos o nosso futuro (vide Eclesiastes 7, vs. 14) e nos relembram que estamos num mundo quebrado e que está sob maldição divina (vide Gênesis 3, vs. 17-19) como resultado do 'pecado original' e, por extensão, da vida de pecado dos seres humanos desde então.  Por tudo isso, sob o ponto de vista da fugacidade da vida terrena, tudo quanto nos sucede (e sucederá) é vaidade, ilusão e se torna sem sentido, de forma que "é preciso ter outros olhos para enxergar melhor" ou, nas palavras do autor da canção, "...você sai em desvantagem se você não tem fé...".  

Outro trecho da canção que pode ser destacado diz:

"...Podem até gritar, gritar
Podem até barulho, então, fazer
Ninguém vai te escutar se não tem (tens) fé
Ninguém mais vai te ver..."


Nesta estrofe, o autor parece descrever uma situação na qual é inútil erguer a voz, fazer súplicas ou tomar qualquer atitude por meio da qual se possa ser ouvido se a fé está ausente - ou, conforme a própria letra diz, "ninguém vai escutar se não há fé" e "ninguém mais vai ver". Tal descrição evoca imagens que indicam abandono, decepção e falta de esperança, porém aponta para o fato de que "através da fé" é possível "gritar e fazer barulho" e ser, posteriormente, "ouvido" e "visto". Desse modo, pode-se deduzir que é suficiente "ter fé" - como se ela fosse uma espécie de "pensamento positivo" ou "otimismo natural" - para que "as coisas 'dêem certo'" e, assim, não nos sintamos esquecidos e desamparados. No entanto, a fé de que o "Livro antigo" já citado neste texto fala não consiste em nenhuma dessas coisasmas é definida, em uma de suas passagens célebres, como "...o firme fundamento das coisas que se esperam e a convicção de fatos que não se vêem..." [vide Hebreus 11, vs. 1]. 

Para se entender bem o que esse verso bíblico significa, acredito ser salutar lançar mão de um excelente argumento doutrinal apresentado pelo teólogo francês João Calvino, segundo o qual essa fé possui três dimensões: a "notitia", a "ascentio" e a "fiducia"Esses termos latinos significam, respectivamente, "percepção", "assentimento" e "confiança/certeza", de tal sorte que a fé "bíblica" ou "agradável a Deus" requer, obrigatoriamente, o conhecimento de Deus e do que Ele promete (a notitia), o acolhimento desse conhecimento na mente (a ascentio) e a convicção firme de que Deus e Suas promessas são totalmente dignos de confiança (a fiducia). Em outras palavras, a fé sem a qual não somos ouvidos nem vistos por Deus não é apenas "bom pressentimento" mas é certeza, nem é "mera positividade" mas sim "descansar sobre um solo firme", como se pode ver num hino antigo que diz:

"...On Christ, the Solid Rock, I stand / All other ground is sinking sand...", que traduzido é:
"...Em Cristo, a Rocha firme, eu permaneço / Todos os outros fundamentos são areia movediça..."

Nesse sentido, o Natal é o melhor exemplo desse tipo de fé, pois o nascimento de Jesus Cristo, o Filho de Deus, é o cumprimento de uma série de promessas divinas ao povo de Israel (nação escolhida inicialmente por Deus para que, por meio dela, todos os demais povos O conhecessem) e que foram ansiosamente aguardadas, durante séculos ou até milênios, por todos os que criam nEle. Ou seja, embora muitos dos que esperaram pelo nascimento de Cristo não tenham testemunhado a realização da promessa de Seu Advento, a fé na promessa do Messias que redimiria os homens de seus pecados continuou a ser transmitida geração após geração até que, quando Jesus nasceu, aparecem a profetisa Ana e o profeta Simeão - conforme Lucas 2, vs. 25-38 -, dos quais é dito que "aguardavam a consolação de Israel e a redenção de Jerusalém". Assim, muitas súplicas, orações e clamores foram certamente feitos a Deus com respeito a essa promessa desde a sua primeira menção (vide Gênesis 3, vs. 15) e durante todo o desenrolar da história do Antigo Testamento (as promessas e bênçãos dos patriarcas, as palavras de Moisés, as promessas feitas a Davi e à sua dinastia etc.) de maneira que, tanto os que creram sem ver a concretização da promessa quanto os que a viram cumprida foram "ouvidos e vistos" por Deus - i.e., a promessa aguardada com fé se manifestou diante dos olhos de todos, nos braços ternos de uma virgemna forma de um bebê.


Outra porção da música que creio ser importante mencionar é:

"...Volte a brilhar, volte a brilhar,
Um vinho, um pão e uma reza
Uma lua e um sol, sua vida, portas abertas...
[...]
Inclina seu olhar sobre nós e cuida..."

Nesses versos, o autor se direciona a alguém que precisa "voltar a brilhar", o que indica, dentro da "licença poética", que a sua situação atual é de abatimento ou "escuridão". Em seguida, ele cita alguns dos símbolos mais importantes do cristianismo - o vinho e o pão, usados nas celebrações de Eucaristia/Santa Ceia - e também fala sobre "lua" e "sol", cuja principal função é iluminar (seja a noite, seja o dia). Todavia, haveria alguma relação entre "voltar a brilhar" e elementos como "pão e vinho"? Será que o compositor "abusou" do lirismo ou, de forma despretensiosa, ele teve uma "sacada de mestre"? 

Embora eu não saiba quais foram as reais intenções do letrista, eu ousarei afirmar que, mesmo que de modo irônico, a presença de todos esses termos nessa pequena estrofe parecem se adequar com o tema deste texto - o Natal. Para isso, colocarei aqui mais algumas "passagens do Livro antigo", nas quais se lê:

"...O povo que andava em trevas viu uma grande luz, e resplandeceu a luz sobre os que habitavam a região da sombra da morte..." [Isaías 9, vs. 2] 
"...Mas para vocês, que temem o Meu nome, nascerá o Sol da Justiça, trazendo cura em Suas asas..." [Malaquias 4, vs. 2]
"...Bendito seja o Senhor, Deus de Israel, que visitou e redimiu o Seu povoe nos fez surgir uma salvação poderosa na descendência de Seu servo Davi... graças à profunda misericórdia do nosso Deus, pela qual a Aurora lá do alto nos visitarápara iluminar os que estão nas trevas e na sombra da morte, e guiar os nossos pés no caminho da paz..." [Lucas 1, vs. 68-69 e 78-79] 


Todos os versos bíblicos citados acima dizem respeito a uma única coisa: na plenitude dos tempos, conforme fora prometido, Deus enviou o Seu Filho ao mundo para nascer da Virgem Mariaassumir a forma humana, sendo feito semelhante a nós em todas as coisas (exceto o pecado) a fim de, nas palavras do evangelista Mateus, "salvar o Seu povo dos pecados deles" [vide Mateus 1, vs. 21]. Olhando os versos com mais atenção, conclui-se que todos os seres humanos estavam em trevas e sob o domínio da morte antes do Advento do Filho de Deus, bem como distantes do "caminho da paz" e desesperadamente necessitados de cura/salvação. Por tudo isso, o Natal é o marco temporal inicial da redenção que viria a ser conquistada por Jesus Cristoa qual foi consumada numa cruz sangrenta e cruel, onde Seu corpo foi partido e Seu sangue foi vertido em favor de todos os que Lhe pertencem "de toda tribo, povo, língua e nação" [vide Apocalipse 5, vs. 9]. Eis aí "o vinho e o pão" relembrados pelo poeta na canção, os quais representam o corpo e o sangue de Jesus Cristo e que apontam para a "poderosa salvação" trazida pelo "Deus de Israel"pela qual os que jazem nas sombras da morte podem ser verdadeiramente iluminados e, assim, possam "voltar a brilhar" como "luzeiros no mundo" [vide Filipenses 2, vs. 15] até que venha o glorioso dia em que "os justos resplandecerão como o Sol no reino do Pai" [vide Mateus 13, vs. 43]. 

Além disso, pode-se dizer que o Natal é o ato de Deus "inclinar o Seu olhar sobre nós"o que mostra a condescendência divina para com criaturas que não são somente inferiores a Ele mas também rebeldes e indignas de Seu favor e benevolência. Como dito anteriormente aqui, o primeiro Advento (ou primeira vinda) de Cristo foi parte de muitas orações e petições de homens e mulheres tementes a Deus num passado distante; porém, o segundo Advento (ou segunda vinda) de Cristo deve ser parte de nossas orações e petições hoje, posto que esta é a nossa única e derradeira esperança em face do mal - seja fora de nós, seja dentro -, o qual parece cada vez mais "onipresente" e "invencível". Nas palavras das antigas "Antífonas do Ó", podemos clamar: "...Ó Raiz de Jessé, Chave de Davi, Emanuel, não tardes mais..." ou, com palavras inspiradas diretamente por Deus, "...Tu és meu auxílio e libertador; não Te demores, ó Deus meu... Maranata!" [vide Salmo 40, vs. 17 e Apocalipse 22, vs. 20]. 


O último trecho da letra que gostaria de comentar é:

"...Em algum lugar, pra relaxar,
Eu vou pedir pros anjos cantarem por mim:
Pra quem tem fé a vida nunca tem fim..." 

Como pode-se perceber, há diversas frases ou excertos da canção que apontam para realidades metafísicas ou religiosas - mas este último, em particular, remete a uma das mais emblemáticas imagens do Natal: anjos que cantam sobre uma "vida que não tem fim para quem tem fé". De acordo com conhecidas palavras do "Livro antigo", sabemos que:

"...Havia pastores que estavam no campo, à noite, tomando conta do rebanho.
um anjo do Senhor apareceu diante deles, e a glória do Senhor os cercou de resplendor; e ficaram com muito medo.
Mas o anjo lhes disse: não tenham medo, porque lhes trago novas de grande alegria para todo o povo; é que hoje, na Cidade de Davi, lhes nasceu o Salvador, que é Cristo, o Senhor
E este será o sinal para vocês. acharão um menino envolto em panos, deitado em uma manjedoura
Então, de repente, uma grande multidão do exército celestial apareceu junto ao anjo, louvando a Deus e dizendo: 'glória a Deus nas maiores alturas, e paz na terra entre os homens a quem Ele ama'..." [Lucas , vs. 8-14]

A situação é a seguinte: alguns pastores de ovelhas (e outros animais) estavam fazendo o seu trabalho de rotina quando, sem que eles esperassem, um anjo apareceu diante deles a ponto de eles ficarem aterrorizados devido ao resplendor da glória de Deus decorrente da presença do anjo. Em seguida, lemos a fala do anjo que contrasta com o temor dos pastores, visto que ele lhes diz para que "não tivessem medo", pois a razão de sua aparição era a proclamação de "boas-novas de grande alegria para o povo", as quais eram o cumprimento cabal da promessa há muito aguardada com fé e expectativanaquele dia, na Cidade de Davi, da linhagem do rei "segundo o coração de Deus", nascia o Verdadeiro Rei, o Homem perfeito, o Servo do Senhor em quem Ele se agrada, o Salvador do mundo, o Messias prometido, o Kyrios (ou Senhor) de Davi e também de tudo e de todos - Jesus, chamado Cristo e conhecido como "o Nazareno".

Além disso, o Rei que nascia naquela noite em Belém da Judéia (uma cidade pequena e sem grande importância) seria encontrado "envolto em panos e deitado numa manjedoura", o que testifica que foi do agrado de Deus, o Pai, que o Seu Filho viesse ao mundo sem "pompas reais" ou "aparente ostentação de nobreza"mas sim como um bebê frágil gerado miraculosamente no ventre de uma humilde virgem. No entanto, é exatamente após essa declaração que indica o "esvaziamento do Filho de Deus (outrora "eternamente gerado do Pai") que um número incontável de anjos irrompeu em louvor a Deus, dizendo: "glória a Deus nas alturas, e paz na terra entre os homens a quem Ele quer bem". Em outras palavras, muito antes do poeta da canção aqui abordada dizer que iria "pedir aos anjos para cantarem para ele" a respeito de "uma fé que conduz a uma vida sem fim", pode-se concluir que Deus, ao responder as orações e anseios de Seu povo fiel, enviou seus milhares de milhares de anjos até aqueles pastores para cantarem o anúncio da encarnação Daquele "em quem está a vida" - a qual é a Luz dos homens! -, de tal modo que todo aquele que Nele crê não perece, mas tem "a vida que nunca tem fim" [vide João 3, vs. 16]. Eis a sublimidade do Natal! 


Finalmente, é importante ressaltar que não é apenas no relato do "primeiro advento" que vemos registros de anjos aparecendo para louvar a Deus ou anunciar uma mensagem da parte Dele, como mostram as seguintes "passagens do sagrado Livro antigo": 

"...Então olhei e ouvi a voz de muitos anjos, milhares de milhares e milhões de milhões que rodeavam o trono... e cantavam em alta voz: 'Digno é o Cordeiro que foi morto de receber o poder, a riqueza, a sabedoria, a força, a honra, a glória e ações de graças'..." [Apocalipse 5, vs. 12]
"...Todos os anjos estavam em pé ao redor do trono, dos anciãos e dos quatro seres viventes. Eles se prostraram diante do trono e adoraram a Deus, dizendo: 'Amém! Louvor e glória, sabedoria, ações de graças, honra, poder e força sejam ao nosso Deus, para todo o sempre. Amém!..." [Apocalipse 7, vs. 11-12] 
"...O sétimo anjo tocou a sua trombeta, e houve fortes vozes nos céus, que diziam: 'os reinos do mundo se tornaram de nosso Senhor e do Seu Cristo, e Ele reinará para todo o sempre'..." [Apocalipse 11, vs. 15]
"...Então ouvi uma forte voz dos céus, que dizia: 'Agora veio a salvação, o poder e o reino de nosso Deus e a autoridade do Seu Cristo, pois foi lançado fora o acusador de nossos irmãos, que os acusa diante do nosso Deus, dia e noite. Eles o venceram pelo sangue do Cordeiro e pela palavra do testemunho que deram... Portanto, celebrem-no, ó céus, e os que neles habitam! Mas ai da terra e do mar, pois o diabo desceu até vocês! Ele está cheio de fúria, pois sabe que pouco tempo lhe resta'..." [Apocalipse 12, vs. 10-12] 

Essa série de perícopes do Apocalipse falam basicamente das visões do apóstolo João nas quais anjos e criaturas celestiais (incluindo os que foram redimidos) exaltam a Deus Pai e a Jesus Cristo (o "Cordeiro que fora morto") e também proclamam o seu domínio e vitória sobre os reinos do mundo e sobre satanás - o que se consumará no "segundo advento". Portanto, em certo sentido, o nosso momento atual se situa entre a garantia divina da vitória futura e a "vinda do diabo à terra e ao mar" com toda a sua fúria


Com efeito, eu ouso dizer que os derradeiros séculos (em particular, os últimos 100 anos e, mais intensamente, desde 2020 até agora) têm sido caracterizados pela "fúria do diabo" como nunca antes, tendo em vista a extensão da iniquidade que prospera no mundo pelas mãos de homens perversos e que, certamente, também estão "endemoninhados" - qual definição seria mais adequada do que "demoníaco" para a coação da população mundial (contando com crianças e até bebês) a um experimento biotecnológico que envolve riscos de danos irreversíveis a médio/longo prazo para a saúde e que já tem causado mortes por todo o planeta? Os poucos que lêem este blog estão cientes de como fico "calmo, sereno e tranqüilo" - à semelhança de Moisés quando quebrou as tábuas dos Dez Mandamentos ou de João Batista em seus "diálogos amistosos" com os fariseus - ao falar sobre essas coisas, mas o meu consolo é saber que, como está escrito, "resta pouco tempo" para satanás fazer (so to speak) as suas "satanagens" e, conseqüentemente, para todos os que estão a serviço dele. 

De acordo com as palavras de João, um dia "os reinos do mundo pertencerão apenas a Deus e a Jesus Cristo" e, a partir de então, não haverá mais espaço para "palhaços cínicos" que, por enquanto, estão "brincando com a humanidade" como se fossem mini-deuses, nem para idiotas que, devido à consolidação das redes sociais, parecem infestar o mundo com sua "burrice pandêmica" - ou "pandeminiônica" - e nem mesmo para essa versão atual de mim (Deus seja louvado!), a qual ainda está sujeita aos efeitos do pecado e do mal. Bendito será esse Dia, através do qual todos os assassinos de bebês terão seu sangue salpicado nos pés e nas vestes do Cordeiro (que os esmagará como uvas num lagar), os violadores de mulheres e crianças receberão o que merecem (a morte definitiva e a condenação pelos seus crimes), os ladrões e opressores que fomentaram a miséria para viverem regaladamente verão sua riqueza destruída para sempre (bem como suas almas!), os "psicoronopatas" e demais "donos do poder" serão abatidos em sua soberba e impunidade até os "abismos mais profundos do inferno" e, para não me delongar, todos os falsos mestres, os "lobos devoradores que se vestiram como ovelhas" e que transtornaram a Igreja de Jesus Cristo para fazer de seus seguidores "filhos do inferno" (assim como eles próprios), igualmente sofrerão a devida punição pelos seus pecados. 


Nesse exato instante, Deus acabará com toda a palhaçada que temos suportado à nossa volta pois, como dissera C. S. Lewis em certa ocasião, "quando o diretor entra no palco, a peça acabou". Ou seja, o segundo Advento dará um fim à ordem presente (e a todas as "novas ordens" que possam surgir e estiverem vigentes) para que venha um "novo começo", a partir do qual "...não haverá mais maldição alguma, o trono de Deus e do Cordeiro estará na Cidade e os Seus servos O servirão..." [Apocalipse 22, vs. 3]. Embora a angústia e as tribulações nos assaltem tão violentamente a cada dia, a redenção prometida também está cada vez mais próxima e, quando ela for revelada, aqueles que a aguardam "verão a face de Deus", "terão o Seu nome em Sua fronte" e "não mais precisarão de luz de candeia nem da luz do sol, pois o Senhor Deus os iluminará e eles reinarão para todo o sempre..." [Apocalipse 22, vs. 4-5]. Por tudo isso, resta aos que crêem Naquele sobre quem os "anjos cantaram" no primeiro Natal "fazerem a vontade de Deus com perseverança" para que, assim, "alcancem a promessa", pois "...em breve, muito em breve, Aquele que há de vir virá e não tardará..." [Hebreus 10, vs. 37]. Por outro lado, quanto aos que ainda desprezem o Emanuel, o Deus encarnado, a única alternativa é o arrependimento e a fé no Único que pode dar "vida sem fim" a quem Nele confia. 

E quanto a você?
Seus olhos enxergam apenas a dureza e o sofrimento da vida ou, como o poeta, você é capaz de ver que vida "é linda" e "pode ser boa de se viver em qualquer lugar"?

Que tipo de fé você tem cultivado? Aquela que se confunde com um "pensamento positivo" e está direcionada para quem a possui ou a fé Naquele que é verdadeiramente digno de nossa inteira confiança?

Você pode reconhecer que o Natal exibe de forma clara que "Deus inclinou o Seu olhar sobre nós" a fim de cuidar de nossa situação de pecado e perdição? O que o "cântico dos anjos" sobre "a vida que nunca tem fim" diz a você hoje?

Finalmente, você está preparado para o Segundo Advento? De qual lado você estará - dos que sofrerão eterna punição diante da glória Daquele que virá para julgar os vivos e os mortos ou daqueles que ouvirão "venham e tomem de graça da fonte da água da vida"? 




Pela fé inabalável na vitória que virá,




Soli Deo Gloria!

sábado, 30 de outubro de 2021

"One" and "Alone" - uma confissão

"Quando os fundamentos são destruídos
O que pode fazer o justo?"

Assim exclamou, outrora, um poeta antigo,
De quem tomo emprestadas as palavras,
Uma vez que tal realidade está bem clara
Em tudo o que tenho visto e ouvido
Embora não me julgue justo por mim mesmo,
Reconheço minha inquietação e impotência,
Restando-me, tão-somente, exercitar a paciência,
Ao aguardar por Aquele de Quem vem o veredicto.
Seja eu apenas um contra todos os demais,
Sozinho em face da oposição do mundo
Ou sob os ataques e ardis de satanás,
"Eu não voltarei atrás" - que Deus me ajude.

Dentre as vozes e os discursos que me cercam,
Tanto tradicionais quanto modernos,
Há apenas um ao qual firmemente me apego,
Posto que é o único permanente e eterno.
Livro Sagrado, Palavra Viva,
Firmada para sempre no céu, 
A qual o Seu autor plenamente fez escrita,
Para que nós, como crianças inexperientes,
Ouvíssemos Sua voz, clara e imponente,
Diante da qual todas as bocas são silenciadas
E toda altivez é abatida e humilhada.
O melhor da sabedoria humana passa,
Assim como as grandes tradições obsolescem,
Mesmo os céus e a terra se desvanecem,
Porém o que Tu dizes dura eternamente -
"One Word", que um dia se fez Homem,
"And the Word alone", cuja luz ilumina quem a ouve


"E agora, o que eu posso esperar?
Em Ti é que está minha esperança". 

Eis a minha relutante e firme confissão,
Conforme dissera o velho poeta noutro lugar,
Pois, quanto a mim, não sou limpo de mãos
E muito menos puro de coração -
Como, então, poderia achegar-me a Ti,
Se não Te compadecesses de mim?
Nossos melhores atos nada são senão trapos,
E ainda piores são os nossos pecados,
De modo que ninguém poderá subsistir
Sem que antes seja por Ti perdoado.
Por isso, temível és, ó Soberano Senhor,
Deus de toda a graça e abundante em amor,
Pelo qual Tu nos livras da condenação
E, irresistivelmente, nos conduzes à salvação.
Doce é o som pelo qual falaste
A nós, meros vermes, mas que Tu salvaste -
"One Grace", razão do envio do Filho,
"And the Grace alone", a qual é tudo que preciso

Se, antes, "muitos confiavam em carros de guerra",
Ou mesmo em "cavalos", escudos e espadas,
Tal confiança está, hoje, nas "novas idéias",
No dinheiro, poder e até em "tecnocratas",
Os quais querem construir uma "nova humanidade"
Na qual "quem não tiver nada" achará a felicidade.
Eu, porém, guardo em mim outra fé,
Dádiva divina, dom gratuito, 
Pela qual todo aquele que crê vence o mundo,
Sendo também, gratuitamente, por Ti justificado
Tal justiça não é por nós produzida,
Nem mesmo é por Ti em nós infundida,
Mas é totalmente Tua, sendo-nos atribuída
Em Teu Filho, que por nós "foi feito pecado" -
"One faith", certeza daquilo que não se vê,
"And the faith alone", pela qual todo justo há de viver


"Minha salvação e minha glória estão em Ti,
Pois Tu és minha fortaleza e meu refúgio". 

Embora, no princípio, nos criaste para Ti,
Decidimos, arredios, seguir outro caminho,
E, após comermos do fruto proibido,
Atraímos sobre nós Tua justa maldição.
Outrora feitos à Tua imagem, todos nós caímos
E, desde então, de Ti temos fugido,
Ao passo que, desejando ser redimidos,
Temos buscado, sem Ti, alcançar a salvação.
Certas são as palavras que dizem
"Tenhas a todos os homens por fracos,
Mas nenhum mais fraco que a ti mesmo" -
Assim, como guias de nossa própria ruína,
Estaríamos fadados à mais terrível sina
Se não houvesse a encarnação do Verbo.
Bendito és, Único Mediador,
Pois nos trazes de volta à comunhão do Pai,
De modo que nada mais é necessário
Visto que és para sempre suficiente.
A minha teologia é a "teologia da cruz"
E o meu credo é o Evangelho,
O qual é "poder de Deus para a salvação"
E "único tesouro da verdadeira igreja" -
"One Christ", Rei dos Reis e Servo Sofredor,
"And Christ alone", que de tudo e de todos é Senhor

Bem sei que Tuas palavras são verdade e vida,
E que nelas nos revelas Tua graça infinita,
Graça que nos concede a fé que justifica,
A qual está firmada tão-somente no Filho Amado
Assim, envergonhas a toda soberba e vaidade
Dos que se exaltam em sua futilidade,
Lançando por terra toda "aparência de piedade"
Para que Teus escolhidos sejam santificados.
Como és magnificente, Deus eterno e Pai nosso,
Cuja glória é manifesta no firmamento,
Que suscitas força nos frágeis e pequenos,
Para silenciares os nossos adversários.
Aguardo, confiante, pelo Dia em que julgarás
Ao mundo com justiça, da qual ninguém escapará,
Para que, finalmente, os reinos do mundo
Sejam dados Àquele para Quem tudo existe, 
E em cuja face a Tua glória reside.
Glória eterna, peso que nos humilha,
Glória exclusiva, que jamais é dividida,
Glória excelente, da qual provém indizível alegria,
Glória eminente, que rasgará o céu na "parousia" -
"One Glory", que um dia encherá toda a terra,
"And Your Glory alone", nosso sumo bem e herança eterna.




Soli Deo Gloria!

quinta-feira, 29 de julho de 2021

From and for these below...

Quem é vivo sempre aparece - e, por isso, estou novamente aqui.

Ultimamente, meu computador está tendo alguns problemas e isso me impediu de escrever nos últimos meses. No mais, os poucos que lêem este blog sabem que é a indignação (com doses homeopáticas de raiva e acidez) que me inspira a publicar - não obstante isso, graças a Deus que nunca me faltam motivos para estar furioso ou indignado. Logo, creio que chegou a hora de expor algumas de minhas mais recentes reflexões. Por fim, admito que normalmente não tenho muito sucesso em expor o que julgo ser necessário de um modo mais sucinto, porém espero ter mais sucesso dessa vez. 


O título dado a esse texto é uma referência ao nome de uma música da banda folk britânica Mumford and Sons chamada "For those below" (i.e., "para aqueles lá abaixo"), embora o seu conteúdo não seja primariamente baseado na letra desta canção. Contudo, o trocadilho presente no título resume, em alguma medida, do que o texto se trata - a saber, uma mensagem de alguém que está "aqui abaixo" [no caso, na Terra] para outros que também estão "aqui abaixo". Mais precisamente, este post é como um pequeno manifesto de minha parte "para estes aqui abaixo" (ou "for these below") no qual buscarei expressar um pouco do que considero mais do que urgente em face de nosso tempo presente e de nosso futuro próximo. 

Antes de começar propriamente o texto, gostaria de salientar que todos nós, em certo sentido, estamos “aqui embaixo", de forma que tanto eu quanto aqueles que porventura visitarem este blog habitamos o mesmo mundo, lidamos com as mesmas estruturas e contingências da realidade (ainda que cada um viva a sua própria "história") e trazemos aspirações, deformidades e incertezas comuns. Dito isso, eu me posicionarei como um homem que está inserido no mesmo contexto dos "destinatários" do que escreverei aqui e, desse modo, minhas posições não serão (essa é minha intenção) sem uma medida mínima de propriedade. Isto é, este será um conteúdo "from and for these below" - quem lê, entenda. 


A existência "debaixo do sol" - como dissera Salomão no Eclesiastes - pode ser descrita, em termos mais humanos, como uma combinação de bons e maus momentos, conquistas e perdas, avanços e retrocessos, aprimoramento e deterioração, apogeu e decadência, prosperidade e miséria, paz e terror, vida e morte. Seja em maior ou menor grau, a sucessão de todas essas coisas tem sido uma espécie de selo de identificação da realidade tal como somos capazes de percebê-la e interpretá-la e, por isso mesmo, uma consciência mais clara e precisa desses aspectos nos ajudam a enxergar a vida "debaixo do sol" de um modo mais realista (porém sem maniqueísmo ou pessimismo fatalista) e, ao mesmo tempo, com aquela "dose de esperança" - a qual, sem dúvida alguma, não será encontrada em frascos/ampolas da Pfizer, Johnson&Johnson, AstraZeneca ou qualquer vacina experimental feita "a toque de caixa" para "imunizar a humanidade" (sic) contra o vírus chinês. Todavia, se você é como aquele repórter da "Rede Goebbels" que "sentia a vibração" ao tocar as caixas das vacinas - num exemplo claro de "neopaganismo pseudocientífico" ou, sendo mais direto, de "macumba covidista" -, talvez a situação de estupidez já seja irreversível. 

Ironias necessárias à parte, o que realmente deve estar contido nesse "breve manifesto" decorre de dois conceitos básicos: 1) não há nada de novo 'debaixo do sol' e 2) tudo é 'vaidade' ou 'correr atrás do vento'

Não há nada de novo. 

O argumento apresentado por Salomão no texto de Eclesiastes é que "o que foi, isso é o que há de ser; e o que se fez, isso se tornará a fazer" (cap. 1, vs. 9), denotando que, em última análise, as ações humanas e as situações da "vida debaixo do sol" sempre se repetem, mudando apenas o local, o momento histórico e os agentes envolvidos. Por exemplo, uma simples observação da história revela que, em todas as épocas, pessoas nascem e morrem, cidades são construídas e destruídas, governos se levantam e terminam e até mesmo civilizações inteiras surgem e desaparecem. Desse modo, a despeito das diversas particularidades de cada época e do respectivo contexto sócio-cultural, os fatos mais elementares são os mesmos e, com base nisso, podemos olhar para o passado a fim de entendermos melhor o momento presente e, sobretudo, não nos esquecermos de quem realmente somosNesse sentido, ao considerarmos o fato de que, mais recentemente, expressões como "novo normal" e "nova ordem mundial" (sem entrar em maiores detalhes sobre a questão) estão cada vez mais presentes nos discursos políticos e sociais, tais nomenclaturas podem ser tão-somente novos signos ou rótulos para o antigo e constante desejo humano de autonomia e poder absolutos - nesse caso, autonomia para se fazer o mal ilimitada e impunemente e poder para impedir e eliminar qualquer resistência ao mesmo mal


Tudo é vaidade e correr atrás do vento.

Por todo o conteúdo do livro de Eclesiastes, Salomão lança mão da frase acima - ora parcialmente, ora de forma plena -, de modo a inculcar na mente de seus leitores a realidade de que "nos dias da vida debaixo do sol" (ou enquanto estivermos "aqui embaixo") estaremos sujeitos à fugacidade e à efemeridade da vida.  Mais especificamente, o autor bíblico ressalta que o trabalho no qual o homem se empenha (cap. 1, vs. 3 e vs. 13-14), a busca de sabedoria e conhecimento (cap. 1, vs. 17-18), as grandes realizações e os prazeres (cap. 2, vs. 1-11), o labor árduo desprovido de desfrute (cap. 2, vs. 17-23 e cap. 4, vs. 8), o poder (cap. 4, vs. 13-16), a aquisição de riquezas (cap. 5, vs. 13-17) sem o seu usufruto (cap. 6, vs. 1-6), a inquietação pelo que não se possui (cap. 6, vs. 9), a impunidade dos ímpios e a punição dos justos (cap. 8, vs. 14), a juventude e o seu vigor (cap. 11, vs. 9-10) e tudo o mais que possa existir é vaidade ou ilusão, como está escrito: "...Tudo é ilusão, diz o sábio, tudo é ilusão..." (cap. 12, vs. 8).  Sabendo-se que a palavra para "vaidade" presente no texto traz a idéia de algo que é "como um sopro" - que "agora sentimos que está presente" e, no momento seguinte, "já não mais existe" - e que "correr atrás do vento" é intuitivamente inútil e sem sentido, tal diagnóstico esmiúça toda pretensão de nossa parte de conferir a nossos próprios feitos, identidade e até à totalidade de nossa existência um status de autodeterminação e perpetuidade, à semelhança da descrição da grande estátua do sonho do rei Nabucodonosor (vide Daniel cap. 2) que é reduzida a pó por uma pedra que, sem auxílio de mãos, destrói a estátua e se transforma numa imensa montanha, a qual representa o reino de Deus, cujo poder é superior ao de todos os reinos humanos e que, por isso mesmo, será perpétuo. 


Ditas essas coisas, a mensagem central desse "post-manifesto" é: abandonemos toda prepotência autocrática e tola em relação à vida, às circunstâncias e à própria natureza e nos reconheçamos como criaturas, sujeitas às debilidades e vícios inerentes, bem como à realidade (que dá vários socos em nossa cara e diz "eu estou aqui e você precisa entender isso!") e, acima de tudo, a Deus, uma vez que "Nele vivemos, nos movemos e existimos"  (Atos 17, vs. 28) e que "a terra e tudo o que nela existe" Lhe pertencem (Salmo 24, vs. 1). 

O ser humano, desde que deu ouvidos às lorotas de uma velha serpente enquanto habitava o "jardim de delícias", começou a crer que sua condição de "imagem e semelhança de Deus" (Gênesis 1, vs. 27) não lhe era digna o suficiente e, em sua rebeldia e cobiça, desejou ser o que não lhe fora permitido (cap. 3, vs. 5-6) e nem era possível, submetendo toda a sua futura descendência à maldição do afastamento de Deus e, conseqüentemente, à morte (tanto física quanto espiritual). Esse estado de "carência da glória de Deus", nas palavras do apóstolo Paulo aos cristãos de Roma (Romanos 3, vs. 23), continua a ser a sina triste e cruel de todos os "nascidos segundo a carne" (João 3, vs. 6a) até que Deus, por livre graça e com grande poder, se revele ao homem, de tal modo a destruir as suas resistências, subjugar a sua vontade arredia e altiva e, de modo "violentamente gentil", incliná-lo a desejar o que outrora repudiava assim como a ver excelência no que lhe era anteriormente desprezível. Nesse processo, o homem reconhece os seus pecados e a gravidade deles, passa a colocar sua confiança inteira e exclusivamente em Jesus Cristo para a sua salvação e, desse modo, volta-se para Deus em arrependimento e fé, sendo assim, e tão-somente assim, libertado de sua escravidão ao pecado para "servir a Deus sem medo, em santidade e justiça diante Dele" (Lucas 1, vs. 74-75). 

Por outro lado, todos os demais seres humanos que ainda não viveram essa experiência seguem distantes de seu Criador, alheios à percepção de que foram feitos por Ele e para Ele e, por isso, se vêem como "seus próprios líderes" de tal sorte que, como o personagem dos versos iniciais de "A Montanha Mágica", "andam em círculos", voltados para si mesmos, desprovidos de uma consciência da realidade e também de autoconsciência. Portanto, uma vez que Deus "não está em nenhum de seus desígnios" (vide Salmo 10, vs. 4), o homem O substitui por qualquer simulacro ou ídolo, ainda que seja por ele próprio ou alguma autoprojeção, o que implica inevitavelmente a noção equivocada de que podemos fazer o que bem entendermos e, finalmente, ser o que quisermos - basta que sejamos "ungidos" com algum perfume de O Boticário. 


Dentre os diversos exemplos que poderia citar para ilustrar o argumento anterior, nenhum é mais oportuno do que a patética presunção de que, em certo sentido, atingimos um patamar tão "evoluído" (uso o termo também no sentido darwinista, embora defenda uma perspectiva diametralmente oposta) como seres humanos ao ponto de sermos capazes de controlar as forças e os entes da natureza de forma análoga aos alquimistas de tempos atrás, como se cada um de nós pudesse olhar para o planeta - e até para o universo - como um enorme laboratório e em nossos jalecos estivesse escrito "Dr. Gandalf" ou "Professor Mithrandir" - "peço perdão por isso, Tolkien". Nesse caso, não é necessário possuir uma ampla variedade de equipamentos e/ou reagentes, mas apenas frascos de álcool em gel (em grande número e preferencialmente portáteis, para poder levar na mochila ou fazer de chaveiro na bolsa), quantas máscaras for possível se usar na cara (i.e., quantas o Dr. Fauci/Fraudi mandar) e, obviamente, o "soro milagroso", o novo "elixir da longa vida", o "novo Santo Graal", a saber, a "picada" salvadora, mas que já tem gerado sequelas como miocardite, trombose, síndrome de Guillain-Barré, convulsões, perda de movimentos e mortes - muitas mortes. Contudo, o que importa mesmo é que esses são "efeitos raros" (o que parece tão verdadeiro como os "lobos solitários" dos atentados terroristas na Europa) e, portanto, não devem ser considerados, pois as "agências checadoras de fatos" [conhecidas como "fake-checkers"] têm colocado em todas as publicações do Facebook e do Instagram que "as v4cin@s estão sob respaldo de rigorosos testes de segurança e eficácia" - e quem é você, ou quem sou eu, para questionar a "Ciência"? Ah, e quem recusar a ser nossa cobaia, vai ganhar um passeio turístico de ida para os "campos de reeducação" em Xinjiang. Não ouviu falar? É tão paradisíaco quanto um Gulag - mas pior. No nosso "mundo pós-pandêmico", não há espaço para "não-picados" (ou seja, não-pessoas), e quem discordar é "negacionista". 

Eu tenho constatado e posso atestar: a religião que mais cresce no mundo não é o Islamismo (a despeito de sua política de famílias numerosas e da ascensão de sua influência no mundo ocidental), nem o Hinduísmo (que é estritamente nacionalista, embora seja característica do país cuja população cresce grandemente) e muito menos o Cristianismo (o qual, embora sempre avance, tem sido cada vez mais atacado por fora e, infelizmente, corroído por dentro), mas um tipo de "neognosticismo positivista". Eu creio já ter tratado deste assunto em algum texto anterior de modo mais genérico, mas diante dos desdobramentos sociais e políticos dos acontecimentos dos últimos 16 meses, é necessário afirmar, com todas as letras, que esse novo movimento gnóstico e técnico-cientificista está presente em toda a parte - comunidades religiosas, universidades, seminários, associações de bairro, instituições políticas e jurídicas, clubes de esporte, meios de comunicação e demais segmentos da sociedade de forma praticamente onipresente e inescapável. Esse "neognosticismo positivista", que pode ser atualmente chamado de "Covidismo", tende a ser o "novo imperativo divino categórico" de uma "nova humanidade" que, por se autoproclamar "senhora da natureza" e julgar ter descoberto o "segredo de uma vida eterna" desvinculada do próprio Deus, pode ser qualquer coisa, exceto humana


Mas, o que isso tem a ver com "correr atrás do vento" e com "vaidade"?

Antes de tudo, eu sou um homem das ciências - especificamente, das ciências naturais - e, portanto, considero a ciência (conforme o seu significado legítimo de "scientia" ou "conhecimento") uma das maiores dádivas de que o ser humano desfruta e participa. Logo, é exatamente por amar a ciência - e, sobretudo, por amar Aquele de quem toda verdadeira ciência e sabedoria procedem -, que não tenho tido um único dia de tranquilidade no que se refere ao "mundo científico" vigente. Todos os dias, sem exceção, me deparo com idéias insanas, narrativas absurdas, iniciativas reprováveis e até crimes inaceitáveis sendo mascarados (isso não foi um trocadilho!) por uma "ciência" (ou "siênssia") fraudulenta e perversa, cujos agentes e fomentadores não passam de vigaristas oportunistas e, em alguns casos, verdadeiros genocidas "nos padrões maoístas de qualidade". Além disso, os muitos outros que ainda têm procurado levar o labor científico a sério a fim de ajudar seus semelhantes e honrar a sua vocação estão sob constante ataque, censura, cancelamento e demais medidas totalitárias orquestradas pelos mesmos que aprovam e apoiam os vigaristas supracitados. De fato, há o risco considerável de que, num futuro relativamente próximo, não haja mais liberdade para ser ou fazer qualquer coisa que não seja "de acordo com a nova ordem", mas até mesmo estes superpoderosos, que ora parecem mandar em tudo e todos, desaparecerão “in un attimo”, pois está escrito que "...na verdade, todo homem, por mais firme que esteja, é apenas um sopro..." [Salmo 39, vs. 5].

Nesse sentido, tais tentativas de obter controle sobre os fenômenos naturais e processos de caráter biológico ou físico-químico através de certas técnicas ou metodologias apenas revelam, sob um novo matiz, a mesma atitude presente no Éden, visto que somente Deus tem poder e direito de exercer domínio absoluto sobre a realidade criada (seja ela material ou imaterial) e, dessa forma, almejamos usurpar o lugar Dele quando agimos como se fôssemos capazes ou possuíssemos prerrogativas de poder total sobre a natureza.  Logo, sabendo que, nas palavras de Ortega y Gasset, "yo soy yo y mis circunstancias", nós somos quem somos (e não Deus) e nossas circunstâncias também são um pouco do que somos, de maneira que se as negarmos ou lutarmos contra elas a fim de eliminá-las, estaremos lutando contra nós mesmos e deixaremos de ser o que devemos ser. Você não é quem você gostaria de ser, nem possui ou possuirá tudo o que desejaria possuir, a realidade não tem compromisso com seus sentimentos e expectativas e você precisa, de uma vez por todas e o quanto antes, considerar isso seriamente. Em boa hora, portanto, vêm à mente as palavras do salmista, que disse: "o Senhor conhece os pensamentos do homem, e sabe como são fúteis" [Salmo 94, vs. 11].


Por fim, recordando as últimas linhas do Eclesiastes, temos a apoteose do que pretendi apresentar nesse texto, onde se lê: 

"...De tudo o que se tem ouvido, aqui está a conclusão: teme a Deus e guarda os Seus mandamentos, pois esse é o dever de todo o homem. Pois Deus trará a julgamento tudo o que foi feito, inclusive tudo o que está escondido, seja bom seja mau..." [Eclesiastes 12, vs. 13-14]

Isto é, no fim das contas, o que realmente "conta" é temer a Deus e obedecê-Lo, pois apenas assim é possível adquirir sabedoria verdadeira e dar a honra devida Àquele que nos formou "para a Sua glória" [Isaías 43, vs. 7]. A justificativa imediata das Escrituras para que temamos a Deus e o obedeçamos é que Ele trará todas as coisas a juízo, incluindo as coisas que estão ocultas, sejam as virtudes ou os pecados, as boas ações ou os crimes perfeitos, a piedade privada ou a depravação abscôndita, as palavras justas e amáveis e os discursos frívolos - nada ficará de fora. Como resultado, não haverá nenhum ser humano que poderá criar "narrativas hegemônicas" para ludibriar a Deus, posto que "Ele é Luz" e "para Ele as trevas e a luz são a mesma coisa" (1 João 1, vs. 5 e Salmo 139, vs. 12). O que eu estou dizendo, sob a autoridade de Deus por meio das Escrituras, é: todo habitante deste planeta precisa desistir, imediatamente, de continuar alimentando a ilusão idiota de que conseguirá "passar Deus para trás", como se Ele acreditasse em matérias da CNN, da Folha e do The New York Times, perdesse tempo dando ouvidos ao Jornal Hoje ou respeitasse quem usa "linguagem neutra" em narração de futebol olímpico. "Deus não é como nenhum de nós, criatura" (imaginem o Jonas Madureira falando isso) e, em contrapartida, nós não somos iguais a Ele, de modo que "não podemos acrescentar uma hora que seja à duração de nossa vida" [Mateus 6, vs. 27] e "nem sabemos o que acontecerá amanhã" [Tiago 4, vs. 14]. Não serão doses da "picada da vida eterna" (sic) que poderão nos preservar a vida e nos conceder segurança, mas sim "se o Senhor quiser, viveremos e faremos isso ou aquilo" [Tiago 4, vs. 15]. Não nos gloriemos, portanto, dessas “presunções”, pois tal vanglória é maligna [vs. 16]. 

Se você é um cristão, você é ainda mais responsável por levar a sério a advertência bíblica - já que você professa servir ao Deus que inspirou esse livro e Se revelou através Dele. Todavia, se a mentalidade pseudocientífica já ocupou todo o seu imaginário e o seduziu por meio das lisonjas de "sinalização de virtude", "empatia" e "defesa da ciência" ("viva o SUS!", "v@cin4 boa é v4cin@ no braço" etc.), nada mais auspicioso que o seguinte verso da música mencionada no início:

"You told me life was long, but now [that] it has gone..." 
ou 
"Você me disse que a vida era longa, mas agora [que] ela se foi..."


Para muitos que acreditaram (e têm crido) na "salvação pela ciência", a vida longa prometida está se esvaindo ou, infelizmente, já se foi. No entanto, o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo não faz promessas vazias ou "promessas de vaidade", mas é verdadeiro em tudo o que diz e cumpre tudo o que promete. Dentre tantas promessas, talvez a mais importante seja a vida eterna [vide 1 João 2, vs. 25], cuja lembrança é feita pelo apóstolo em sua carta por causa "daqueles que os querem enganar" [vs. 26]. Nos dias de João, o engano consistia na falsa idéia de que não era possível ter certeza da vida eterna; em nossos dias, porém, o engano está na afirmação de uma certeza de "imortalidade" sem Cristo e com a "Ciência". Seja Deus servido, portanto, de nos conceder discernimento e perspicácia para não cairmos em nenhum dos dois erros, visto que a promessa da vida eterna foi feita por Quem não pode mentir e que "essa vida está no Filho" [1 João 5, vs. 11] - e Nele somente. 

And so what? 

Você tem colocado sua confiança na "ciência" e numa idéia de "progresso humano" de modo cego? Será que você ainda não parou para refletir que a "ciência é a cultura da dúvida" e não do dogma?

Qual é o seu grau de autoconsciência no tocante à transitoriedade de sua vida e das coisas que estão a seu redor? Você realmente acredita que pode fazer com que as coisas durem para sempre - ou mesmo propiciar a própria imortalidade?

Finalmente, até quando você continuará sem dar a devida atenção ao fato de que o Filho de Deus veio "aqui embaixo", se fazendo como um de nós, para que todos aqueles que Nele cressem estivessem, por assim dizer, lá em cima" com Ele - e para sempre?


Pela certeza de que não sou daqui de baixo,




Soli Deo Gloria!

terça-feira, 30 de março de 2021

Relicários de um não tão "admirável mundo novo"...

Depois de um razoável período ausente, enfim pude retornar aqui. 

De fato, desde o Natal (data da última publicação) tenho andado bastante atarefado e, além disso, não me surgiram idéias que fossem deveras dignas de um novo texto - mas somente até agora. E, como normalmente se dá, a "inspiração" é mais latente quando vem acompanhada de indignação - neste caso, bastante indignaçãoTalvez eu nunca estive tão repleto de razões para estar verdadeiramente irado, enfurecido e sem paciência alguma para frescuras ou idiotices e, por essa razão, é muito provável que alguém que acesse esse texto sem a intenção de lê-lo já esteja irritado com essas primeiras linhas. Tais sentimentos não me importam - nem quaisquer outros -, pois esse texto não é um editorial da 'Foice de São Paulo' nem prefácio de uma coleção de contos eróticos da Maria Flor [cuja histeria e beleza são de dar vergonha alheia em baratas voadoras entontecidas por algum inseticida]. 

Desse modo, aqueles que não encaram de frente a própria insensatez (ou nem mesmo consideram fazê-lo), que são presunçosos em sua burrice e cujo prazer é exibir as supostas virtudes para disfarçar uma falsa piedade devem sair daqui o quanto antes se quiserem continuar em paz com sua existência patética e medíocre. Contudo, se alguém desejar ir até o fim, possivelmente me odiará mais do que houvera pensado - e que bom que seja assim! Nada poderia ser mais vergonhoso para mim do que ter o apreço daqueles que não possuem nenhuma robustez ou nobreza de alma e que, como dizem os versos da canção "Espelhos Mágicos" do Oficina G3, "nada vêem além de si mesmos". No mais, vamos ao que interessa - até porque este espaço é muito curto para ser desperdiçado com menções a coisas e, acima de tudo, a pessoas inúteis. 

O tema desse texto está baseado na combinação de duas referências: a canção chamada "Relicário" (conhecida no Brasil nas vozes de Cássia Eller e Nando Reis) e a famosa distopia de Aldous Huxley "Admirável Mundo Novo". Se não me falha a memória, eu escrevi há algum tempo outro texto no qual mencionei brevemente esta obra, porém sem fazer comentários mais precisos sobre ela pelo fato de, na época, não ter o conhecimento mínimo para tal. Dessa vez, estou melhor familiarizado com a temática geral do livro e, como resultado, pretendo expor as indignações supracitadas através das pistas dadas pelos versos da música bem como por algumas idéias contidas na narrativa distópica ou referentes a ela. 
Entretanto, antes de irmos ao assunto propriamente dito, é importante destacar que "relicário" é um termo que se refere ao "lugar ou a algum objeto onde são guardadas relíquias de santos ou  artefatos sagrados". Portanto, seu significado é essencialmente religioso, de maneira que tais bens ou tesouros são tidos em alta conta por aqueles que constituem os ambientes religiosos correspondentes. Sabe-se, por exemplo, que os católicos-romanos possuem um apreço particular por esse tipo de artefato sacro [conforme suas tradições] e, desse modo, tais relíquias são preservadas com todo o zelo em catedrais, monastérios e basílicas por todo o mundo - a título de curiosidade, eu mesmo já tive a oportunidade de visitar igrejas na Itália e na França nas quais supostamente se encontram restos mortais de escritores do Novo Testamento (p.ex., Basilica di San Marco, Venezia) ou mesmo a coroa de espinhos usada por Jesus Cristo no dia de sua crucificação (La Sainte-Chapelle, Paris). 
Dito isso, tenhamos em mente que a tese central que pretendo desenvolver aqui é que "existe um 'mundo novo não tão admirável' em construção (ou seria desconstrução?), no qual todos desejamos ter nossos 'relicários de estimação' para colocar neles nossas próprias 'relíquias'  a fim de que sejamos admirados e recebamos glória" - assim como muitos têm feito ao longo dos séculos até hoje. Ora, todo assunto que põe em xeque a glória de Deus produz em mim o mesmo sentimento de Jesus enquanto expulsava os vendilhões do templo [visto que está escrito que "o zelo por Tua casa me consumiu" - João 2:17], de tal modo que necessitarei de mansidão como talvez nunca precisei antes - embora eu não queira nada disso. Como dissera Lutero, "a paz, se possível; a verdade, a qualquer preço". 
Nesse sentido, eu gostaria de começar o desenvolvimento do argumento citando um pequeno verso da canção já citada que diz: 
               "...O que está acontecendo? O mundo está ao contrário e ninguém reparou..."
Sem considerar as reais intenções do autor ou o contexto imediato da letra, creio que as primeiras impressões ou imagens que esse trecho evoca em quem o lê são de inquietação, dúvidas e perplexidade diante de determinada situação que, aos olhos do escritor, parece óbvia - apesar de todos ao seu redor estarem completamente desatentos para tal realidade. Mais explicitamente, "algo está acontecendo" à vista de todos, de forma que pode-se notar claramente uma inversão absoluta do que poderíamos chamar de "ordem natural das coisas". Contudo, parece-me que o tom usado pelo compositor quer dar a entender que tudo "está ao contrário" de tal modo que ninguém é capaz de repará-lo - i.e., todos fomos subjugados a uma condição na qual não há mais qualquer vestígio de normalidade ou sanidade, havendo apenas uma "loucura triunfante generalizada" ou um "império mundial da histeria". Embora certamente o poeta não teve essa intenção, ouso dizer que, se minha análise acima está correta (como creio estar), tais versos são uma descrição exata e irrefutável do que o mundo está vivendo nos últimos 12 meses. Quem tem olhos para ver, veja

Desde o fim do primeiro trimestre de 2020, a vida humana em todo o planeta foi mudada radicalmente por ocasião do surgimento (ou disseminação dolosa) do vírus chinês e sua subseqüente propagação e, como resultado, todas as esferas das relações interpessoais, familiares, de trabalho e demais aspectos da realidade foram forçadamente adaptados ao famigerado "novo normal". A higienização do próprio corpo (em particular das mãos) bem como de todos os pertences se tornou um 'ato litúrgico' e tão indispensável quanto as refeições diárias, o uso de máscara/focinheira facial (a despeito de todas as controvérsias no tocante à sua eficácia e aos riscos reais de danos à saúde respiratória e cerebral) foi consagrado a símbolo máximo de "virtude moral" e de "empatia para com o próximo" [ao ponto de secretários de saúde, sob o pretexto de "salvar vidas", incitarem o "banimento social" de quem não utilizá-la] e, como sobremesa desse "manjar turco", os mini-ditadores se multiplicam diariamente por toda parte como "greemlins" às primeiras borrifadas de água (ou de álcool em gel). Tais mudanças foram (e estão sendo) assimiladas por grande parte da população mundial (em particular, no Brasil) sem qualquer reflexão sobre o assunto [conforme as técnicas de subversão psicológica explicadas por Pascal Bernardin em 'Maquiavel Pedagogo'], o que reverbera a conhecida regra da relação entre "senhores" e "escravos" nos tempos antigos: "não me faça perguntas; simplesmente obedeça"

Para reforçar isso, basta que nos lembremos de como foi o mês de fevereiro do ano passado - milhões de pessoas nas ruas e nos sambódromos durante o carnaval, eventos presenciais em diversos lugares, pessoas viajando para passar o tempo com familiares e amigos etc. - até que no dia 11 de março de 2020, com uma simples declaração do diretor-geral da Organização Mundial da Sacanagem (ou Organização Maoísta da Saúde)/OMS, iniciou-se a remodelagem total (e, provavelmente, irreversível) de todos os comportamentos humanos em todo o planeta. Após a praga chinesa ser declarada uma "pandemia" [o que é cada vez mais questionável ou mesmo fraudulento], nunca mais fizemos as coisas como as fazíamos dias antes de tal declaração, visto que deixamos de abraçar e de cumprimentar devidamente os amigos, nunca mais entramos em locais fechados (e mesmo andamos ao ar livre) sem um pedaço de pano na cara que serve apenas como um meio de falsa proteção, perdemos o direito de nos divertir, fomos impedidos de trabalhar para sustentar nossas famílias e, finalmente, estamos diariamente sendo assediados em nossa liberdade religiosa e de culto público, bem como de ir e vir e até mesmo de existir - embora tudo seja "para nossa segurança" e "com base na ciência". Ironicamente, essa foi a mesma tática usada pelos nazistas enquanto espalhavam seu terror nos anos do Terceiro Reich e que é aplicada "com maestria" até hoje em ditaduras comunistas (p.ex., na China), de modo que, se eles dizem que é "para nosso bem", não devemos "questionar" mas "obedecer". Ora, quem mais poderia saber o que é melhor para nós senão esse panteão de demiurgos iluminados? 
 


Todavia, embora o verso da canção citada acima expresse uma constatação aparentemente solitária [como se apenas o poeta "reparasse que o mundo está ao contrário"], eu tenho sido testemunha de que, assim como nos dias do profeta Elias [sem ignorar as devidas e imediatas aplicações do texto bíblico correspondente], Deus tem conservado os seus "sete mil" que não têm se prostrado diante dos ídolos mais recentes de nosso tempo, a saber, a "empatia vaidosa" e a "ciência sem consciência". Tais idólatras, no auge de sua "insolência falsamente solidária", não somente exibem suas "virtudes higienistas" diante de quem quiser ver [e, assim, "já têm recebido a recompensa" que buscam], mas igualmente se constituem juízes dos vivos ["olha só, os dois estão sem máscara!"] e até dos mortos ["fulano esteve em manifestação contra o lockdown antes de ser internado e falecer por 'complicações devidas à Covid-19'"], ao ponto de usurparem o lugar que pertence apenas a Jesus Cristo - como dizem as Escrituras e o Credo Apostólico. 

Nesse ínterim, o maior dos males deste momento em questão não se têm manifestado, sobretudo, através das "pessoas comuns" (so to speak) - auto-consagradas a patamares de autoridade comportamental e ética, a fim de policiar toda e qualquer atitude exterior que "viole os protocolos de segurança" -, mas a proliferação exponencial ["pandêmica?"] de ditadores de 'pequeno, médio e grande porte' por nossas cidades, sejam fardados ou engravatados em seus gabinetes [mas sempre de máscara, claro!]. De fato, não há mais como contar, e muito menos caracterizar devidamente, as inúmeras atrocidades que se sucedem diariamente somente no Brasil - pessoas são ameaçadas com armas de calibre 12 pelo "crime" de jogar vôlei, trabalhadores ambulantes sofrem confisco de seu ganha-pão com requintes de crueldade até vomitarem de desespero, atletas são presos nas orlas marítimas por cometerem a hediondez de "pedalar sem máscara" e, finalmente, cidades inteiras entram em colapso como resultado de medidas desumanas de confinamento absoluto (como no interior de São Paulo). Se, por algum motivo, há alguém que esteja lendo esse texto mas que não acordou para o que está acontecendo [ou pior, está percebendo e não sente indignação alguma perante tamanha perversidade], é muito provável que as últimas centelhas de afeição natural que lhe restavam já não mais existam - i.e., você se tornou o exemplo vivo da genial constatação do francês François Rabelais, que disse: "a ciência, sem consciência, não passa da ruína da alma". Em outras palavras, quando os seres humanos deificam um falso conceito de amor [que não é fundamentado na verdade e na bondade], tal "amor" é apenas a "simpatia hipócrita dos demônios"

Não se apresse, porém, em me ofertar aplausos em sua mente ou em mostrar esses parágrafos a alguém que você julga estar precisando desse tipo de "exorcismo" - eu estou falando de você


Por outro lado, a fim de ratificar e ampliar o argumento central supracitado, vale destacar o seguinte trecho (o qual soa até mesmo 'profético') do livro "Admirável Mundo Novo", onde se lê:

"...Pessoas atordoadas por entretenimento bobo, privadas de linguagem, incapazes de refletir sobre o mundo, mas felizes com sua sina..." 

Esse trecho do livro descreve com precisão espantosa e irrefutável a sociedade atual, embora Huxley estivesse inicialmente apresentando uma realidade distópica em sua obra. Logo, pode-se deduzir que, de certo modo, algum tipo de "espírito profético" o impeliu a escrever tais coisas, posto que ele já estava mostrando o que iria acontecer ao ser humano num futuro próximo. As pessoas a nosso redor (e muitos de nós, igualmente) estão, mais do que nunca, "atordoadas por distrações estúpidas e idiotizantes" - a exemplo dos programas de humor sem qualquer graça e repletos de feiura e imoralidade, telejornais que não passam de propaganda enganosa e de instrumentos de dissonância cognitiva e/ou "reality shows" que não tem relação alguma com a "realidade" e que para nada servem senão para nos afastar dela. Como resultado, já não sabemos mais dominar (ou sequer conhecemos minimamente) o instrumento mais importante para que apreendamos a realidade tal como ela nos é dada [sejam as coisas fora de nós, seja a consciência de nós mesmos] - estamos, lastimavelmente, "desprovidos de linguagem". Portanto, "não temos sido mais capazes de refletir sobre o mundo", de tal modo que nos resta tão-somente a histeria coletiva presunçosa, através da qual aqueles que são mais espertos do que nós (e que normalmente nem sabemos que existem ou que ignoramos) já nos têm controlado total e exaustivamente - mas apenas enquanto lhes formos úteis. Finalmente, pode-se notar que não é mais necessário usar de truculência a todo momento para que as massas sejam dominadas de forma eficaz e permanente mas, pelo contrário, o que se percebe a olhos vistos é que as pessoas, de modo crescente, têm desejado e até implorado por esse tipo de dominação em troca de "conforto e segurança"

Dessa maneira, como que num 'anacronismo às avessas', a maioria de nós parece assumir o pathos e o ethos do personagem de Dostoiévski em "Memórias/Notas do subsolo" que dissera "...contanto que eu tome o meu chá, o mundo pode se destruir por inteiro lá fora..." - ou, numa versão pós-fraudemia, "...contanto que eu tenha o iFood para pedir minha comida, a NetFlix para me divertir e o meu salário garantido, os outros podem morrer lá fora...". Neste último caso, "se a morte for 'por COVID' é até melhor", pois assim será possível mostrar aquela "empatia vaidosa" e pedir aos outros que #fiquememcasa, pois nenhuma celebridade ou milionário deve ser exposto a germes quando for à praia, ao shopping, ao cinema ou ao parque. Como dizem por aí, "o choro é livre!" - só você e eu que não



Diante de tudo isso, será que estamos buscando encher nossos "relicários" com coisas semelhantes a estas? 
Será que, igualmente, já fomos 'abduzidos' pelo "mindset" desse "admirável mundo novo pós-pandemia" a fim de corroborar as "profecias distópicas" citadas acima?  
Em contrapartida, esses novos "padrões de comportamento" seriam realmente virtuosos ou não passariam de "pecados gloriosos com verniz de piedade"
E, nesse caso, quais seriam as verdadeiras "relíquias" que deveríamos guardar com zelo para que jamais as perdêssemos

Inicialmente, é importante salientar que todos nós, sem exceção, tendemos a condenar os outros ao mesmo tempo que cometemos os mesmos pecados que condenamos neles (vide Romanos 2:1-3), de forma que, diante de Deus, todos são indesculpáveis devido às suas transgressões. Nenhum de nós está, neste sentido particular, num patamar superior a qualquer outro ser humano, visto que Coram Deo não há como ter olhos altivos ou quaisquer prerrogativas de mérito, pois está escrito que "a Escritura encerrou tudo debaixo do pecado" [Gálatas 3, vs. 22] e que "todos estão debaixo do pecado" [Romanos 3, vs. 9]. Portanto, quando nos lembramos de que o único referencial digno em relação ao qual devemos nos avaliar mutuamente é Deus (assim como Ele se revela nas Escrituras), é impossível que nossa soberba e estultícia não sejam esmigalhadas em pedaços para que, assim, não ousemos ter um conceito elevado demais de nós mesmos e saibamos devidamente como pensar a nosso respeito e dos outros. 

Desse modo, embora esse texto esteja denunciando - com uma dose severa de acidez da qual não me arrependo - a degeneração crescente da saúde mental, da inteligência e da bondade humanas em razão das mudanças sociais e psicológicas decorrentes da praga chinesa (i.e., do Partido Comunista Chinês e seus aliados mundo afora), estou ciente de que sou sujeito a ter meus "relicários", nos quais posso estar entesourando minhas "relíquias" a fim de, muitas vezes, sacralizá-las e, com isso, buscar honra e prestígio diante dos outros enquanto acredito estar "buscando a glória que vem só de Deus" [vide João 5, vs. 44]. De fato, a vida de todos os homens, desde o dia em que Adão e Eva pecaram no Éden até esse momento exato, consiste na mais tola e abominável 'usurpação de papéis', mediante a qual cada um de nós, mais aberta ou mais disfarçadamente, têm desejado "ser como Deus" e "conhecer o bem e o mal" da maneira que só Ele conhece ao passo que, como afirmara Pascal, "fazemos Deus conforme a nossa própria imagem". Isto é, temos sido ávidos em "vencer disputas" de ordem teológica ou religiosa [p. ex., "calvinismo x arminianismo" ou "catolicismo romano x protestantismo/fé reformada" etc.] ou, por outro lado, temos desenvolvido uma mentalidade (a qual já é a dominante) pela qual nada, nem um único mínimo detalhe da normalidade da existência, que represente qualquer conceito ou símbolo "ofensivo" aos edificadores do "não tão admirável mundo novo", deve ser tolerado - especialmente as "pessoas ofensivas" ou "não-essenciais" -, o que evidencia a mesma raiz do "pecado original", pois apenas os que desejam (e acreditam que possam) ser "como Deus" e que julgam "conhecer o bem e o mal" tanto para si mesmos quanto para o universo inteiro agem como se estivessem "acima do bem e do mal" assim como do próprio Deus. Ora, neste caso, tal "admirável mundo novo" pode ser adequadamente chamado de 'inferno', posto que sabemos exatamente quem foi que desejou "estabelecer seu trono acima de Deus e ser semelhante ao Altíssimo" [ver Isaías 14, vs. 13-14]. 



Nesse sentido, pode-se dizer que, quanto às três primeiras perguntas, muitos de nós têm aproveitado a situação de comoção mundial em virtude da peste chinesa para acumular suas "relíquias de empatia e solidariedade" nos "museus e santuários virtuais das redes sociais", tendo em vista a própria "beatificação" sob os auspícios dos "sacerdotes da religião do novo normal". Sem dúvida, essa é possivelmente a 'religião' que mais cresce no planeta, uma vez que ela passou a ser seguida, como que num lapso, por ateus, muçulmanos, judeus, espíritas, sincréticos e, majoritariamente, por cristãos (e de todos os segmentos). Ora, qual é o grupo social mais vulnerável à manipulação emocional por influência de narrativas que explorem o "amor ao próximo", a "preocupação com quem se ama", o "respeito às autoridades" e o "medo de morrer e de provocar a morte de outrem", senão a comunidade cristã? Se refletirmos bem, nenhum de nós quer carregar o fardo de "desobedecer a Deus" bem como ousar colocar em risco a própria segurança, a dos parentes e amigos para ser uma "ameaça" à ordem e à saúde públicas, de maneira que nos tornamos mais suscetíveis que os demais a adotar quaisquer idéias, hábitos e condutas que nos sejam sugeridos [sejam esses benéficos ou não, baseados em fatos ou enganosos] como "indispensáveis" para os fins correspondentes. Logo, com a faca e o queijo nas mãos, os únicos beneficiários de todo este cenário [i.e., os mega-bilionários donos do dinheiro mundial, as 'tiranetes de gabinete' espalhadas pelo planeta e a ditadura chinesa] estão "deitando e rolando" sobre nossa "estupidez com verniz de benevolência" enquanto pisam nos cadáveres dos que têm morrido pelo mundo - não importando a causa. Como tenho dito, "não se trata de saúde, mas de controle" - um controle total, indestrutível e irreversível sobre os comportamentos, a normalidade da vida, as dinâmicas sociais em escala supranacional e, finalmente, sobre a natureza e a alma humanas

Finalmente, a pergunta mais importante a ser respondida é: o que realmente deve ser entesourado por nós? 
Quais boas obras são, de facto, "boas obras" e, por isso, dignas de serem tratadas com o devido apreço
Em outros termos, a quem pertenceria o "relicário" com as verdadeiras "relíquias de grande valor" e que permanecerão eternamente no "verdadeiro admirável mundo novo"

Tais respostas não poderiam ser dadas com a devida seriedade e exatidão sem levarmos em conta o atual período do ano - e.g., a Semana Santa -, no qual pessoas em todas as partes do mundo, seja por tradição cultural ou como fruto de uma real compreensão de seu significado, se recordam dos últimos dias de Jesus Cristo até sua paixão, morte e posterior ressurreição no Domingo de Páscoa. Foi numa semana semelhante a essa que Jesus nos revelou a resposta de todas essas perguntas, cujas palavras se encarnariam Nele naqueles mesmos dias, como mostrado a seguir:

"...É chegada a hora de ser glorificado o Filho do Homem
Em verdade, em verdade lhes digo: se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, produz muito fruto.
Quem ama a sua vida a perderá; mas quem odeia a sua vida neste mundo irá guardá-la para a vida eterna. [...]
Agora a minha alma está angustiada, e o que direi? Pai, salva-me desta hora? Não, pois foi precisamente com este propósito que eu vim para esta hora. Pai, glorifica Teu nome!
Então veio uma voz do céu: já O tenho glorificado, e novamente O glorificarei..." 
[João 12, vs. 23-25 e 27-28]



Nesse trecho dos Evangelhos, o ensino de Jesus é claro: a glorificação do Filho do Homem (i.e., a Sua glorificação) consistiria em Sua crucificação, a qual se daria na "Good Friday" (a sexta-feira santa). Ou seja, o "grão de trigo" que deveria "cair na terra e morrer para dar muito fruto" era uma metáfora de Jesus sobre Si mesmo, visto que, nas palavras dos profetas, Ele "derramaria a Sua vida na morte" [Isaías 52, vs. 12] e "veria o fruto do trabalho de Sua alma e ficaria satisfeito" [Isaías 53, vs, 11]. Desse modo, é à luz do que Ele mesmo faria ao consumar a obra que o Pai lhe confiara que nos é dito que "aquele que quiser salvar a sua vida a perderá, e aquele que odeia a sua vida nesse mundo a guardará para a vida eterna"

As Escrituras nos ensinam, portanto, através das palavras do próprio Cristo, que toda tentativa de nossa parte em buscar "salvar a nossa vida" - seja espiritualmente, seja fisicamente (o que passou a ser a maior obsessão humana desde 2020) - é absolutamente inútil, pois o mesmo Jesus disse que "nenhum de nós, por mais ansioso que esteja, pode acrescentar uma hora à duração de sua vida" [Mateus 6, vs. 27].  Eu temo que, embora continuemos a nos reconhecer como cristãos, não estejamos andando em conformidade com Cristo ou no "padrão da vida em que fomos batizados", caso nossas maiores prioridades sejam "colocar álcool em gel a toda hora e por todos os lugares" [como se fosse uma "água-benta" ou alguma "unção neopentecostal" a fim de afastar "maus agouros" ou "germes malignos"], nunca sair de casa sem "focinheira" e jamais "promover aglomerações" ao invés de "desprezar a própria vida neste mundo para preservá-la para a vida eterna". É evidente que cuidar da integridade física e da saúde são implicações indiretas da obediência ao sexto mandamento ("não matarás/assassinarás"), todavia quem se declara discípulo de Jesus precisa estar ciente de que deve "buscar as coisas que são do alto, onde Cristo está assentado à destra de Deus" [Colossenses 3, vs. 1] bem como "pensar nas coisas de cima, e não nas que são da terra" [Colossenses 3, vs. 2], pois todo cristão "já morreu" - e não foi por causa do vírus chinês, mas pela sua união com Cristo - e a sua vida "está escondida com Cristo em Deus" [Colossenses 3, vs. 3]. Mais precisamente, todas as "coisas da terra" que são boas e dignas de serem desfrutadas só podem ser usufruídas devidamente em Deus e para Ele e, como resultado, sempre que superestimamos alguma coisa [até a nossa saúde e a segurança de nossos semelhantes] acima ou em lugar de Deus nos comportamos como idólatras, ainda que tal idolatria seja envernizada com "doses periódicas" de "empatia piedosa". Em suma, nossos relicários podem estar repletos de "novas relíquias" que nos parecem sacras e até providas de "poderes milagrosos" - quem imaginou que um "pano no rosto" pudesse ser capaz de matar um organismo nanométrico e mortal? -, contudo tais "tesouros" estão sendo "ajuntados na terra" e, irremediavelmente, serão destruídos "pela traça e pela ferrugem"

Dessa forma, se tudo o que podemos acumular para nós mesmos, nos poucos dias que temos debaixo do sol, por mais valioso que pareça a nossos olhos e diante dos outros, será consumido e se mostrará desprovido de real dignidade e excelência, quais "tesouros" de fato permanecerão para sempre? A quem pertenceriam tais tesouros e em qual "relicário" eles estariam guardados?

Na continuidade do trecho bíblico destacado, Jesus expressa abertamente a sua angústia por ocasião do que lhe estava prestes a sobrevir e, de modo resoluto e por meio de um surpreendente artifício retórico, declara que havia vindo precisamente para "aquela hora" - a hora do sofrimento atroz, da condenação injusta, da rejeição máxima por parte dos Seus, da traição "daquele que comia do mesmo prato" e, pior do que tudo, do "abandono" de Seu Pai conforme Ele mesmo diria: "Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?" [Salmo 22, vs. 1 e Marcos 15, vs. 34]. É exatamente aí, na atitude de perfeita obediência de Jesus para com o Pai, que descobrimos a solução para as perguntas finais desse texto, pois a "hora em que o Filho do Homem seria glorificado" (vs. 23) é a mesma "hora" referida por Jesus ao dizer "Pai, glorifica o Teu nome!" (vs. 28a), cujo pedido foi imediatamente atendido segundo a voz que disse "já o tenho glorificado, e novamente o glorificarei" (vs. 28b). 

Desse modo, os "tesouros" que não perecem debaixo do sol (ao contrário, permanecem para sempre) são aqueles que manifestam a glória de Deus e, em particular, residem na pessoa de Cristo, pois está escrito que "Nele estão ocultos todos os tesouros da sabedoria e da ciência" [Colossenses 2, vs. 3] e que o "mistério do Evangelho", que outrora estava oculto mas agora estava sendo revelado, é descrito como as "insondáveis riquezas de Cristo" [Efésios 3, vs. 8]. Diante de tal sublimidade, todos os tesouros e relicários humanos, por mais que possuam valor e artefatos preciosos [apesar de, em muitos casos, não possuírem valor algum, exceto uma aparência de religiosidade vazia], não passam de "esterco", "lixo", "escória" e "refugo" [ver Filipenses 3, vs. 8]. Portanto, se existe algum "relicário" cujas "relíquias" realmente são e continuarão a ser perenemente valiosas, este não é outro senão o próprio Evangelho, o qual provém do Deus Eterno e diz respeito a quem Ele é e ao que Ele realizou através de Seu Filho - o "Servo Sofredor" [Isaías 53] e também "o mais notável entre os homens" [Salmo 45, vs. 2], chamado de "blasfemador" [Marcos 14, vs. 64] embora seja Aquele que nos revelou o Pai [João 1, vs. 18], enviado ao mundo para salvar os pecadores [1 Timóteo 1, vs. 15] mas que breve voltará "para julgar os vivos e os mortos em Sua vinda e Seu reino" [2 Timóteo 4, vs. 1]. 

Não há, sem dúvida, um período mais oportuno para meditarmos sobre quais coisas realmente possuem valor eterno do que uma semana como essa, posto que há quase 2000 anos se consumou a obra redentora Daquele que é chamado de "Sumo Bono" ou "Bem Supremo" da alma e para quem todos fomos criados, o nosso único "lugar de descanso", "em Quem vivemos, nos movemos e existimos" [Atos 17, vs. 28] e de onde vem " toda boa dádiva e todo dom perfeito" [Tiago 1, vs. 17]. Abandonemos, pois, o quanto antes, toda e qualquer pretensão de "fazer um nome para nós mesmos" à semelhança dos homens de Babel [Gênesis 11, vs. 4] - principalmente mediante uma "falsa ciência" instrumentalizada por tiranos insaciáveis por nosso sangue -, uma vez que o fim reservado para os que assim procederem é a "confusão de línguas" [e a loucura total daí decorrente] e, finalmente,  o "abandono da fé em troca de tolices", como nos adverte o apóstolo Paulo [1 Timóteo 6, vs. 20-21]. Sejamos satisfeitos apenas com Cristo e Sua glória, pois Ele é quem "destrói a sabedoria dos sábios e aniquila a inteligência dos inteligentes" [1 Coríntios 1, vs. 19], "envergonha as coisas fortes" [vs. 27], "reduz a nada as coisas que são" [vs. 28] e que "foi feito da parte de Deus para nós sabedoria, justiça, santificação e redenção, a fim que 'quem se gloriar, glorie-se no Senhor'..." [1 Coríntios 1, vs. 30-31]. 



E quanto a você? 

Onde você tem juntado os seus tesouros? Ou melhor, o que você tem considerado como de fato precioso?
Você tem sido enredado por futilidades de modo a se perder da realidade e de si mesmo e, mesmo assim, continua "feliz com a sua sina"?

Você tem construído seus próprios "relicários" a fim de ostentar suas "virtudes" aos olhos dos outros sem se dar conta de que "tudo aquilo que não é eterno é eternamente inútil"?

Finalmente, sabendo da importância dessa semana para a humanidade [e igualmente para a todo o universo], até quando você continuará sem dar ouvidos à voz do Salvador, o Qual te chama para "segui-Lo e morrer com Ele" para que, posteriormente, você viva para sempre com Ele no "Admirável Mundo" que Ele preparou a todos os que Nele crêem?




Pela certeza de que meu tesouro está guardado Nele,




Soli Deo Gloria!