sábado, 28 de dezembro de 2019

Paixão pela pureza [de quem]?

O ano ainda não terminou e, finalmente, consegui ter tempo para vir aqui.

Logo, antes que o ano acabe - e que eu precise atualizar algumas configurações operacionais deste computador -, vou tentar expor algumas reflexões relacionadas às minhas últimas semanas e que, queira Deus, sejam úteis a quem vier lê-las.

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O tema desse texto é uma pergunta provocativa referente a um tema que tem me inquietado há um bom tempo - sobretudo por perceber, ao olhar dentro de mim mesmo, que não sou o "exemplo perfeito" dessa "paixão pela pureza". Todavia, antes de irmos ao clímax ou ao epicentro dessa postagem, vamos definir algumas coisas.

Paixão.

Não creio haver definição mais oportuna a respeito de "paixão" do que aquela encontrada nas clássicas "10 categorias do ser" de Aristóteles [as quais conheci por causa do contato com as Artes Liberais do Trivium], na qual vemos que "paixão" consiste no "sofrimento de uma ação" ou na "condição daquele que é alvo de um movimento externo". Desse modo, pode-se acrescentar também a noção de paixão presente no Cristianismo [a qual lhe é central, visto que se refere ao episódio da morte de Jesus Cristo], posto que está diretamente ligada ao "sofrimento" ou à "enfermidade" carregados pelo Filho de Deus, de tal sorte que o termo grego "pathos" e o verbo italiano "patire" possuem uma raiz comum e são correspondentes ao "padecer" na língua portuguesa. No mais, sabemos que os termos médicos/psicológicos terminados em "-patia" também podem ser associados aos mesmos vocábulos anteriores. 

Nesse ínterim, deve-se destacar que a paixão é algo que está sendo supervalorizado [ou mesmo deificado/divinizado] em nossos dias. Como resultado, o que mais se pode ver são frases de efeito ou declarações motivacionais dos tipos "nunca desista de seus sonhos", "siga o seu coração", "não vale a pena continuar se não há mais paixão" ou até "se apaixone por você mesmo e, então, veja se pode se apaixonar por alguém". Obviamente, a paixão em si mesma não é, necessariamente, algo ruim [como posteriormente pretendo esclarecer melhor]; todavia, desde que os ideais românticos e sentimentalistas tomaram conta de (quase) tudo e de (quase) todos os seres humanos que vivem neste planeta, a paixão por si só se tornou o critério principal (quiçá único) pelo qual todas as questões da vida e da realidade são avaliadas e, desse modo, todas as decisões tendem a ser tomadas tendo em vista a satisfação dessas "paixões" e a minimização de todo e qualquer desapontamento [por menor que seja]. Resumidamente, o que quero dizer é que, na mentalidade do mundo atual [talvez mais intensamente que outrora], é a paixão que passa a definir o que é certo e o que deve ser adotado para a vida e não o contrário - i.e., não é mais a verdade nem o que é bom que determina onde devem estar nossas paixões e afeições, e sim os sentimentos e impulsos passionais humanos que redefinem o que é bom, justo e verdadeiro. 

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Pureza.

De maneira mais simples, pureza é a qualidade do que é puro, sem mistura, ou o que não é híbrido ou adulterado, mas sim imaculado ou mesmo santo. Em muitos sentidos, essa é uma palavra que se tornou uma das mais repulsivas às gerações recentes, visto que é normalmente vinculada a um modo de pensar/viver "retrógrado", "fundamentalista" e conservador - em outras palavras, é um termo cristão e, tão-somente por isso, já deve ser odiado e esvaziado de seu real significado. Ora, como a "nouvelle vague" do momento é o "progresso", a práxis social subseqüente é que, de tudo o que existe, quase nada deve ser "conservado" ou mantido "puro" mas, pelo contrário, é necessário remodelar ou desconstruir todas as coisas em todas as partes, pois só assim superaremos todos os males decorrentes de uma civilização repressiva e que nos impediu de desenvolver as reais "potencialidades" humanas, das quais a mais importante e venerada delas é a do "Coach Boticário": "você pode ser o que quiser"

Não obstante, é necessário reconhecer que, por outro lado, há um terrível problema que precisa ser abordado com toda a seriedade que nos for possível: o que eu vou chamar aqui de "ostentação vaidosa da pureza". O que isso significaria, então?

Do ponto de vista social e cultural, eu tenho sido um tipo de testemunha ocular de um fenômeno bastante louvável e positivo entre os de minha geração: o interesse dedicado e genuíno pelas coisas boas e virtuosas produzidas pela humanidade, sejam as que estão como que "eternizadas" após séculos [como os vitrais das catedrais góticas européias ou as epopéias dos povos do Oriente Médio ou dos gregos] ou algumas mais modernas [como os livros de autores como Roger Scruton, Theodore Dalrymple e T. S. Elliot]. É evidente que, numa época em que o fato de um policial usar o seu cassetete em uma abordagem causa mais indignação do que a existência dos lamentáveis "paredões" [que nada mais são do que uma evidência da corrupção moral e da degeneração estética de uma geração inteira de jovens que perderam o senso da beleza e da própria dignidade], é mais do que um alento perceber que nem todos estão sendo arrastados pelas correntezas da vulgaridade e do amor pelo que é feio e grotescoPorém, ainda existe um outro mal, mais sutil, o qual não advém das coisas virtuosas supracitadas, mas sim é inerente a nós mesmos: a soberba que provém da comparação com os que nos são semelhantes. Nesse contexto, auspiciosas nos são as palavras do sábio: "...antes da ruína vem a soberba, e a altivez de espirito precede a queda..." [Provérbios 16, vs. 18]

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Antes de ir para o assunto principal do texto, quero somente esclarecer que as coisas de nosso mundo real não são totalmente iguais entre si [e não devem ser, bem como jamais serão!], de tal modo que existem coisas que são boas, dignas de apreciação e que possuem valor intrínseco [como a música de Bach, a poesia de Shakespeare ou a ciência produzida por homens como Kepler e Pasteur] e outras que são em si inferiores ou mesmo abomináveis [a exemplo da música eletrônica que é útil nas horas de academia e, no último caso, as cartilhas de organismos internacionais que promovem o infanticídio/aborto em nome da "saúde pública" e do "direito feminino sobre o corpo"]. No entanto, o orgulho humano é um tipo de mal [ou mais precisamente, de pecado] que, nas palavras de Benjamin Franklin, é tão difícil de ser subjugado que, "quando tivermos a forte impressão de que já o vencemos, provavelmente nos orgulharíamos de nossa humildade". Portanto, o que gostaria de salientar é que a maior tentação/armadilha que aqueles que procuram buscar as coisas excelentes da vida [seja culturalmente, seja espiritualmente - ainda que cultura e espiritualidade sejam inseparáveis] deverão enfrentar é a da "vaidade velada" ou da "ostentação vaidosa da pureza", pela qual se começa a confiar demasiadamente em si mesmo e na própria sabedoria [tanto teórica quanto prática]. Consequentemente, os que caem nesse tipo de auto-engano passam a desprezar os outros [algumas vezes, muito superiores a eles] ao ponto de que, por causa desse "conhecimento superior" - numa espécie de "gnosticismo pós-moderno" -, se julgam acima dos males que se espalham pela "sociedade sem erudição ou sem precisão doutrinária" e, por isso, se fazem juízes dos que "não pensam como eles" ou "não lêem os livros que eles lêem" e, finalmente, os condenam ao próprio inferno. Diante disso, nada melhor do que algumas das palavras mais assustadoras escritas pelo apóstolo Paulo, onde se lê:

Por isso, você é indesculpável quando julga os outros, não importando quem você é. Pois, naquilo em que julga o outro, você está condenando a si mesmo, porque pratica as mesmas coisas que condena.
Bem sabemos que o juízo de Deus é segundo a verdade contra os que praticam essas coisas.
E você, que condena os que praticam tais coisas, mas faz o mesmo que eles fazem, pensa que conseguirá se livrar do juízo de Deus? [Romanos 2, vs. 1-3]

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Considerando que, num texto anterior que escrevi (creio que no início de 2018), eu fiz uma crítica mais direta a esse tipo de vaidade em referência aos novos "intelectuais salvadores da civilização ocidental" - falo como um brasileiro que ama as minhas raízes civilizacionais e que deseja que essas coisas sejam resgatadas na medida do possível -, dessa vez a razão que me levou a escrever esse texto é ainda mais lamentável. A situação é aquela do tipo "eu não gostaria de ter que escrever sobre isso, mas não há escolha". Que Deus me ajude!

No mês passado, eu participei de um evento cristão em minha cidade como voluntário [especificamente na área de literatura e venda de livros] e, no primeiro dia de programações, durante um momento em que estava indicando um determinado livro para alguns visitantes do stand, eu fiz a seguinte recomendação:

"Pelo que ouvi falar deste livro [no caso, "A vida de Deus na alma do homem"], a leitura dele foi determinante para a conversão de John Wesley, um dos maiores pregadores/evangelistas da história do Cristianismo protestante".

Imediatamente, alguém que estava naquele grupo de pessoas olhando os livros disse: "...isso não faz diferença, porque o John Wesley não era cristão. Se ele não acreditava nas 'doutrinas certas', ele não era convertido e eu não o considero irmão de fé...". Diante de tal declaração infeliz, eu procurei controlar meus ímpetos, mas tentei deixar muito claro para aquela pessoa [no caso, era um jovem rapaz seminarista - se não estou enganado, de uma igreja de linha reformada mais "puritana"] que é somente Deus "...que conhece os que Lhe pertencem..." [2 Timóteo 2, vs. 19,  citação de Números 16, vs. 5], de modo que nenhum de nós deve ter a ousadia de usurpar o lugar que é exclusivamente Dele a fim de definir "quem é e quem não é convertido", i.e., "quem é salvo e quem não é". Após alguns curtos minutos na busca de apaziguar a discussão [embora nada sério tenha ocorrido], eu percebi que não haveria proveito em continuar e fui atender outras pessoas que estavam chegando para ver mais livros. A partir desse momento, eu não mais encontrei o rapaz mas espero, sinceramente, que os momentos em que passamos ouvindo canções que destacavam a grandeza de Deus e de Seus feitos bem como pregações fielmente baseadas na Bíblia tenham produzido frutos nele - e também nos demais [incluindo a mim mesmo] que lá estiveram. 

Vale ressaltar que, nesse dia, havíamos acabado de ouvir uma pregação baseada no versículo "...bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus..." [Mateus 5, vs. 3]! Será mesmo que alguém que reage dessa forma é humilde nos termos indicados pelo próprio Cristo? E se não o é, do que adianta então "ter as doutrinas certas" na mente quando o coração parece continuar mais sujo que os sepulcros caiados citados por Jesus em sua mensagem contra os fariseus? Em suma, episódios como esse apenas ratificam o fato de que o pecado é algo tão sorrateiro, traiçoeiro, vil e destruidor que, até mesmo quando achamos que estamos sendo o melhor exemplo de "paixão pela pureza" - particularmente, a "paixão pela pureza doutrinária" - a nossa "piedade" não passa de uma "piedade ímpia", a qual causa asco no Deus que achamos que estamos impressionando. As Escrituras são claras em condenar a "espiritualidade dissimulada" quando dizem "...este povo me honra com os lábios, mas o seu coração está longe de mim..." [Isaías 29, vs. 13] e chegam a dizer que os próprios demônios "crêem que há um só Deus e estremecem..." [Tiago 2, vs. 19] - logo, que vantagem haveria em tão-somente conhecer corretamente as coisas a respeito de Deus sem que isso mude o nosso ser por inteiro? Se não tememos [nem trememos] quando exercemos juízo temerário sobre alguém [visto que "...com a medida com que julgarmos, seremos também julgados..." - Mateus 7, vs. 2], será que este não seria um estado mais miserável do que o dos próprios demônios? 

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Ora, a minha pergunta é [falo aos cristãos inicialmente, e aos demais leitores por consequência]: por qual pureza devemos ser apaixonados? A pureza de quem deve ser o alvo de nossa inspiração? 

Inicialmente, quero apenas fazer algumas considerações que julgo ser importantes. Ora, é fundamental compreendermos que, sem o correto conhecimento de Deus [conforme revelado nas Escrituras de modo especial], não é possível experimentar uma experiência/relação genuína com Ele pois, onde não há esse tipo de conhecimento, nossa tendência sempre será "inventar um deus conforme nossa própria imagem e semelhança". Nesse sentido, eu tenho discordâncias com a teologia adotada por John Wesley [especialmente no tocante às questões referentes à predestinação], contudo não posso sequer me comparar a ele nos quesitos "consagração a Deus", "vida de oração", "fervor evangelístico" e "amor pelo próximo", cujas características são conjuntamente evidências de uma vida verdadeiramente transformada pelo Evangelho e onde há o "fruto do Espírito" [vide Gálatas 5:22-23]. Portanto, nunca ousei e pretendo jamais ousar questionar a sua idoneidade como cristão e, embora tenha diferenças doutrinárias em relação a ele [e aos seus seguidores], eu o chamo e continuarei a chamá-lo de irmão. Quisera Deus, por Sua graça, me conceder o mínimo da devoção de Wesley e de seus amigos do "Clube Santo" de Oxford - talvez assim o meu campus não seria uma "Nova Babilônia". 

Nesse caso, se a salvação de alguém é dependente de "precisão teológica" ou de uma "adequação doutrinária" por parte da mente e do discurso, eu apenas precisaria ler tratados de teologia sistemática puritana, decorar os 4 volumes das Institutas da Religião Cristã [nada contra as Institutas em si - elas são uma obra brilhante e fiel às Escrituras] e seguir todo o Diretório de Culto de Westminster [não pretendo com essa menção desrespeitar a boa tradição do puritanismo britânico, a qual é muito cara aos meus irmãos presbiterianos!] para ser livrado da condenação eterna. Em outras palavras, eu seria o meu próprio salvador mas permaneceria iludido achando que minha confiança estaria em Jesus Cristo e em Sua obra - ora, qual teologia poderia ser mais bíblica do que a minha? De fato, talvez esse seja o meio mais eficaz pelo qual o diabo, com suas astutas ciladas, pode e tem conseguido enganar alguns religiosos que, enquanto se apegam ao que eles mesmos constroem em seu intelecto a respeito de Deus com base em suas muitas leituras, igualmente se esquecem de que a salvação é uma obra exclusiva de Deus - ou melhor, é um ato "monergístico", termo que é mais "chique" [do jeito que esses "reformodinhas" gostam!], embora seja, ao mesmo tempo, factualmente verdadeiro. 

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Finalmente, chegou o momento de responder à pergunta principal do texto: qual é a pureza que deve ser o alvo de nossa paixão? A que [o a quem] ela pertence?

No tocante ao tipo de pureza em questão [i.e., pureza espiritual], todo raciocínio deve começar do seguinte ponto: todos somos impuros. É bastante comum que, ao nos compararmos com outras pessoas, possamos nos sentir superiores a elas [especialmente no tocante à moral] - ora, eu mesmo poderia dizer que, de certa maneira, eu sou uma pessoa muito "melhor" do que a que Mao Tsé-Tung foi, uma vez que não tenho na minha conta um genocídio populacional de dezenas de milhões de pessoas num espaço de menos de 30 anos. Entretanto, a referência com a qual todos nós, sem exceção, devemos nos comparar, não são aqueles que dentre nós foram os mais perversos [ao menos na prática], mas sim Aquele que é chamado de "Santo, Santo, Santo" por seres celestiais sem pecado e que, mesmo nesse estado glorioso, temem olhar diretamente para esse "Santo" ao cobrirem os seus rostos ou se prostrarem diante Dele. Sem rodeios, quando se trata de "pureza", somente Deus está em condições de exibir/exigir prerrogativas, pois está escrito que "...todos nós somos como o imundo, e todos os nossos atos de justiça são como trapos de imundícia..." [Isaías 64, vs. 6] ao passo que Ele "...é tão puro de olhos que não pode suportar o mal..." [Habacuque 1, vs. 13] bem como que "...Deus é fidelidade, e Nele não há injustiça; é justo e reto..." [Deuteronômio 32, vs. 4]. Eu poderia procurar diversas outras passagens da Bíblia para reforçar o meu argumento, mas creio ser suficiente nos atentarmos cuidadosamente aos textos apresentados, como nas palavras do saudoso R. C. Sproul: "God is holy, but I am not" ou "Deus é santo, mas eu não sou"

Além disso, ao considerarmos essa "pureza", é fundamental relembrar que, antes do pecado original, o ser humano [assim como a criação como um todo] era "muito boa" - vide Gênesis 1, vs. 31 -, de sorte que tudo o que Deus havia feito era sem pecado, embora distinto Dele próprio quanto à Sua plenitude. Nesse sentido, nós só poderíamos continuar nessa "condição de pureza" se não houvéssemos sido rebeldes à autoridade divina mas, como os primeiros seres humanos criados deliberadamente desobedeceram a Deus e, assim, foram destituídos de Sua glória, a nossa participação ou comunhão com Deus foi radicalmente rompida. Como resultado, nos separamos da nossa única e real "fonte de pureza" - mais do que isso, nos tornamos odiosos em relação a tudo o que é santo e, até esse momento, pode-se ver que, à parte da graça de Deus, todos somos "apaixonados pela impureza" e vivemos de acordo com essa paixão. 

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Isto posto, como é possível despertar em nós a paixão pela verdadeira pureza?

Primeiramente, nenhum de nós pode/poderia/poderá produzir tal paixão por si só, pois o pecado afeta a natureza humana em todos os seus domínios - a vontade, as afeições, o intelecto e mesmo o próprio corpo. Doravante, como todos nós estamos sob essa condição caída e em rebelião contra Deus, estamos semelhantemente sob o Seu juízo [como citado em parágrafos anteriores], de modo que necessitamos de algo que nos livre de tal condenação - mais precisamente, precisamos de Alguém que seja como nós (para ser nosso substituto quanto à punição devida ao nosso pecado) e que seja também como Deus (para que, assim, possa efetivamente ser o Salvador daqueles a quem representa). Isto é, precisamos de Jesus Cristo.

Nós ainda estamos na "estação do Natal" - conforme o calendário litúrgico - e nada poderia ser mais oportuno do que falarmos a respeito de Jesus Cristo. Não há ninguém na história tão importante e "divisor de águas" quanto o Rei que se fez menino e que foi adorado até por astrólogos (os magos do Oriente eram provavelmente estudiosos de astrologia/astronomia e ligados ao Zoroastrismo persa) ao nascer na pequena vila de Belém, o Senhor que encarnou para ser o Servo Sofredor, o Deus que se esvaziou para assumir a nossa humilhada forma humana, o Eterno que "se limitou" ao entrar no tempo, o Criador que precisou ser acolhido nos braços da mãe que Ele mesmo criara, o Todo-poderoso que veio ao mundo para dar a Sua vida voluntariamente, o Descendente prometido que, nascido de mulher e sob a Lei, se manifestou para redimir os que estavam debaixo da Lei para que esses redimidos fossem adotados como filhos de Seu Pai celestial e, assim, fossem feitos herdeiros Dele. 

Reflitamos um pouco sobre a sublime maravilha do Natal: Deus nasceu! Será que realmente paramos tempo suficiente para meditar no que isso realmente significa? Muitos de nós até perdem tempo com discussões inúteis e infundadas sobre uma "possível origem pagã" do Natal bem como de seus símbolos [como a árvore e seus adereços], todavia são raros aqueles que, ao ouvirem a cada fim de ano que o Natal é a comemoração do nascimento de Jesus Cristo [ou de seu "aniversário", como é comum de se ouvir], são conduzidos ao encanto que deve advir da percepção da grandeza desse acontecimento - Deus estava vindo ao mundo na forma de um bebê, Aquele que "nem os céus dos céus podem conter" saiu de Sua glória e "coube" dentro do ventre de uma virgem. Como, então, não entender a reação de Isabel ao ouvir a saudação de Maria quando João Batista, ainda no ventre, se alegrou com a visita daquela que seria "a mãe de seu Senhor"? Como não exultar juntamente com os anjos que, diante dos pastores no campo, cantaram "...glória a Deus nas alturas, e paz na terra entre os homens a quem Ele quer bem..." [Lucas 2, vs. 14]? Creio que um bom resumo de tudo isso se dá mediante os primeiros versos do Benedictus [Cântico de Zacarias], onde se lê:


Bendito seja o Senhor, Deus de Israel, pois que visitou e redimiu o Seu povo. 
[Lucas 1, vs. 68]

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Dessa maneira, o Natal é algo glorioso não somente pelo que o caracteriza em si, mas igualmente pela sua finalidade: Deus precisou "nascer" para posteriormente "morrer", pois ninguém poderia ser redimido por Ele sem que Ele oferecesse um sacrifício à altura de nossa necessidade. Na verdade, a obra redentora de Deus em favor dos homens pecadores [e da criação inteira, por extensão] começou desde a Encarnação, o único momento da história em que foi gerado um ente genuinamente puro e santo. No entanto, a "pureza de Jesus Cristo" não foi parte de Sua vida apenas nos seus primeiros anos [p. ex., pelo fato de ele ser, naquele momento, uma "criança inocente"] ou mesmo até os Seus doze anos [idade na qual há relatos nas Escrituras de Seus debates com os mestres de Lei bem como de Sua sabedoria incomum], mas Ele foi santo em todo Seu proceder, de sorte que "...nele não se achou pecado, nem foi encontrado engano em Sua boca..." [1 Pedro 2, vs. 22] e que Ele "...achado em forma humana, humilhou-se a Si mesmo, sendo obediente até a morte..." [Filipenses 2, vs. 8]. Em outras palavras, Jesus Cristo foi o único homem que, verdadeiramente, viveu uma vida de "paixão pela pureza" - o que nada mais é do que o Seu amor e devoção à vontade do Pai - e, conseqüentemente, a única pureza pela qual devemos ser apaixonados é a pureza de Cristo, uma vez que toda e qualquer suposta pureza que não seja a Dele não é nada além de iniquidade mascarada

Mas eis então a "boa-nova" do Evangelho [aqui vale o pleonasmo]: a pureza de Cristo pode ser contada como se fosse nossa, se nos arrependermos de nossos pecados e crermos em Seu nome. Ou seja, todo e qualquer pecador, por mais impuro que seja, sempre poderá achar em Cristo mais misericórdia do que a medida de seus pecados, de modo que se crermos que "Deus enviou o Seu Filho ao mundo para que o mundo fosse salvo por Ele" [João 3, vs. 17] - i.e., se entendermos e nos dermos conta do real sentido do Natal -, a justiça de Cristo é creditada em nosso favor e o nosso pecado é lançado sobre Ele. Nossa "pureza teológica" não importa; nosso "virtuosismo intelectual" também não; somente Cristo importa. A Cruz é o lugar onde todos não têm qualquer opção a não ser a humilhação, "o total desprezo de si mesmo" [nas palavras de Tomás de Kempis] e a adoração exclusiva ao "Cordeiro que foi morto, mas que ressuscitou e que vive pelos séculos dos séculos" [Apocalipse 1, vs. 18]. 

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Como temos lidado com a paixão e com nossas "paixões"? 
Temos superestimado [em lugar de subjugar] aquilo que normalmente nos leva ao engano e a praticar os piores pecados?

Quais têm sido as nossas principais paixões? As coisas temporais ou as coisas eternas?

Por qual "pureza" temos nos apaixonado? A pureza do "intelecto refinado", a da "precisão hermenêutico-doutrinária" ou a pureza de Jesus Cristo - o Único realmente puro?

E, se já estamos cientes do que Cristo fez por nós ao nascer para posteriormente dar Sua vida, até quando continuaremos adiando a nossa resposta a esse amor? 
Porque não nos arrependermos de nossa vida impura para nos apropriarmos da pureza Dele?


Pela alegria de ser participante da pureza Dele,







Soli Deo Gloria!

segunda-feira, 28 de outubro de 2019

Reformatio et Remuntarem - uma breve oração

Até quando, Senhor?
Até quando clamarei
E não me escutarás?

Embora eu não seja profeta
Faço menção de tais palavras
E, como que num "lamento de poeta",
A Ti apresento minha oração
E Te aguardo com esperança.

Rei meu e Deus meu,
Atenta para os meus gemidos
E guarda-me, porque só em Ti confio.
Visto que não tenho outro bem
Senão a Ti, a Ti somente,
Faze-me continuar expectante
De que, embora em meio às tormentas,
Posso crer que me fortaleces.
Tu tens o Teu caminho na tempestade
E fazes tremer os montes e colinas -
Quem pode, então, resistir-Te?
Nem os males que me arrebatam
Ou os pecados que de mim se alastram
Prevalecem contra Ti, pois és Luz,
E onde a Tua Luz resplandece,
As trevas não permanecem.

Se até a Tua ira contra nós Te dá louvor,
Bem-vindas sejam as aflições
Pelas quais nos trazes para junto de Ti.
Contudo bendito és, Deus gracioso,
"Pues Tu enojo no dura para siempre",
E, assim, choraremos nas noites escuras,
Até que o sol se levante
E nos alegre a alma como antigamente. 

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Responde-me quando suplico,
Ó Tu que me fazes justiça,
Pois não tens prazer na impiedade
E Contigo o mal não habita.
Que eu não peque em minha indignação
Mas, sim, aquiete a minh'alma,
Ao consultar no travesseiro o coração,
O qual toda noite me ensina
Quando a solidão é minha única companhia. 

Sinto-me como que em disputas eliminatórias
Nas quais sou "goleado nos jogos de ida".
Será que poderia haver "reviravolta"
Diante de tantos "7 x 1" diferentes?

Para quem aprecia o futebol,
Ouve-se que ele "é uma caixinha de surpresas"
Bem como que "o jogo acaba 
Apenas após o apito final".
Ah, a vida também "imita o esporte",
Pois, enquanto enfrentamos nossos adversários
[Muitas vezes, nada amistosos],
Devemos nos lembrar de Ti, o Justo Juiz,
Ao Qual todos deveremos prestar contas,
Inclusive de nossos atos ocultos -
Quer sejam bons, quer sejam maus. 
Além disso, assim como o futebol testifica
De vitórias através de viradas "impossíveis",
Sei que podes reverter qualquer situação,
A fim de glorificares a Ti mesmo
Uma vez que só de Ti vem a salvação. 

Restaura-nos para Ti, ó Senhor,
E então retornaremos!
Renova os nossos dias
Como outrora nos concedeste!
Embora a Tua mão pareça encolhida
E os Teus ouvidos agravados,
Sei que podes nos resgatar das profundezas,
Conduzindo-nos para a vida
Após termos sido por Ti atribulados.

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Sustenta a minha fé débil e vacilante,
Posto que creio em Ti,
Ainda que seja muitas vezes inconstante.
Como um vaso quebrado
Ou um "odre em meio à fumaça",
Por vezes me vejo esquecido
Ou até mesmo repudiado
Aos olhos de quem outrora me amava
E que, como na parábola do Samaritano,
Ao me ver semimorto "passa de largo".
Sabendo que sou sujeito ao auto-engano,
Faz-me pensar, ó Deus, os Teus pensamentos,
Os quais são puros e verdadeiros
Cheios de justiça e amabilidade
Bem como fontes de boa fama e virtude,
Para que eu guarde as portas da mente
A fim de que o pecado ali não entre. 

Somos todos obras inacabadas
E, por isso, todos precisamos de reforma.

Completa, pois, em nós, a Tua obra, 
A qual começaste desde que a nós vieste,
Para ser o nosso triunfante Redentor
Até que nos leves à Tua morada celeste.
Enquanto isso, habitamos esse tabernáculo
- O qual não deixa de ser um cárcere -,
Contudo ansiamos estar fora do corpo
Para que estejamos onde Tu estiveres.
Sendo vivificados pela Palavra que nos deste
Recebemos a fé pela qual os justos vivem,
Cuja justiça provém do Único Mediador
No Qual toda graça e verdade residem.
Glória e honra sejam, portanto, só a Ti
O único Deus verdadeiro,
Que nos deste a vida eterna em Teu Filho
De modo que viveremos para conhecê-Lo

Vivemos ainda, ó Deus, "na terra daqui",
Porém seguimos avante, "peregrinos no Caminho",
À espera de Tua volta
Embora não saibamos o dia nem a hora. 
Do céu "bem além das nuvens" Te esperamos
E, fixando nele o nosso olhar,
Firmamos os nossos passos "sobre este chão",
A fim de "viver a eternidade no dia-a-dia"
Até que se consume a nossa redenção.
Quero viver "a terra do céu",
Na qual a "eternidade invade o tempo",
Deixando que Ele arranque o que se há de esquecer
Para que, em breve, eu possa agradecer,
Uma bela e nova estação.

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Soli Deo Gloria!

sábado, 14 de setembro de 2019

The "Love Delusion" and "Les Fleurs du Mal"...

Este é um texto escrito a duras penas.

De fato, em certas situações, tudo o que existe é o caos, a confusão e o desejo de fuga para qualquer lugar a fim de se achar alento - se é que esse tal lugar existe ou qualquer alento possa ser encontrado.  

Todavia, embora o que eu pretenda tratar neste post seja bastante árido e amargo (em muitos sentidos), espero ser hábil o suficiente para lançar algumas sementes de doçura e esperança a cada palavra que for escrita. 

Certa vez alguém disse: "...tudo é dor e toda dor vem do desejo de não sentirmos dor..." - o que não deixa de ser uma verdade. Contudo, mesmo levando em conta a razoável precisão do poeta, eu me aproprio de algumas célebres palavras registradas no livro de Jó, onde se pode ler:

Bem-aventurado é o homem a quem Deus castiga; não despreze, portanto, a disciplina do Todo-poderoso. 
Pois Ele fere, mas trata do ferido; Ele machuca, mas as Suas mãos curam
[Jó 5, vs. 17-18]

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Dessa maneira, esse será um texto escrito sob a consciência da "ferida de Deus" [ferida que talvez demore em ser sarada], cujas flechas traspassaram a alma e cujas ondas submergiram o barco que outrora navegava seguro rumo ao cais

Agora não há mais barco, nem cais, nem mesmo navegantes

A tempestade é real, o terror e o desespero dominam os tripulantes até então concentrados na peregrinação e no porto almejado e, para completar a tragédia, um "pirata" [que parece não ser afetado pelo mar bravio] se aproveita da situação, saqueia os bens daquela pequena embarcação e os que ali estavam juntos se separam. De repente, um dos navegantes nota que aquela situação parece uma armadilha astutamente arquitetada, pois o seu antigo "companheiro de viagem" entra no navio pirata e se revela seu aliado. Diante disso, é oportuno destacar o episódio em que Jeú assume o trono de Israel ao matar o rei Jorão (e, posteriormente, sua mãe Jezabel), conforme está escrito:

Quando Jorão viu Jeú, perguntou: "Você vem em paz, Jeú?" Jeú respondeu: "Como pode haver paz, enquanto continuam toda a idolatria e as feitiçarias de sua mãe, Jezabel?"
Jorão deu meia-volta e fugiu, gritando para Acazias: "Traição, Acazias!
Então Jeú disparou seu arco com toda a força e atingiu Jorão nas costas. A flecha atravessou-lhe o coração e ele caiu morto. [2 Reis 9, vs. 22-24]

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Embora, nesse texto, Deus estava utilizando Jeú como um instrumento para dar fim à descendência do rei Acabe e para punir severamente a Jezabel - que trouxera ruína a Israel por meio da idolatria e de outros pecados, conforme as palavras do profeta Elias -, é pertinente salientar o aspecto de como o rei Jorão se sente "traído" quando se dá conta de que a vinda de Jeú não era de paz e sim de guerra. Conseqüentemente, o rei Jorão foge para tentar salvar-se, porém inutilmente - uma flecha traspassa o seu coração e ele morre. De maneira figurada, aquele que se enxerga como "traído" morre pouco tempo depois de compreender a sua condição após uma flechada que lhe perfura o coração, assim como alguém que experimenta a deslealdade ou o desprezo pode descrever a dor correspondente a essa experiência. Apesar de escrever dessa maneira, reitero meu desejo sincero de semear esperança e candura neste texto, tanto para o bem dos leitores (caso alguém se interesse na leitura) quanto para o meu próprio bem, visto que "...bom é ter esperança..." bem como que "...tudo aquilo que o homem semear, isso também ceifará...". Seja Deus o meu auxílio. 

O título dado a esse texto é uma combinação de duas referências: a primeira delas é uma alusão ao famoso título "The God Delusion" [traduzido em português por "Deus, um delírio"] do biólogo britânico ateu Richard Dawkins (da Universidade de Oxford) e a segunda é o livro "Les fleurs du mal" [trad. "As flores do mal"], escrito por Charles Baudelaire e que é um marco da poesia simbolista francesa. Isto posto, afirmo que o objetivo do texto não é fazer qualquer análise dos livros citados [uma vez que não os li até esse momento e, por isso, não é sábio ousar opinar sobre o que não se conhece devidamente] mas, lançando mão das idéias gerais expressas em ambas as obras, discorrer sobre o tema já introduzido: a percepção do que posso chamar de "açoite divino", a qual é acompanhada da perda temporária [embora seja quase que irreversível] de qualquer esperança de libertação ou alívio

Inicialmente, queria dar atenção à primeira parte do título - "The Love Delusion", que pode ser traduzido por "A desilusão do amor" ou mesmo "Amor, um delírio". Neste momento, em que estou a escrever este texto, uma convicção parece estar cada vez mais sedimentada e certa em minha mente: o amor é uma ilusão. Sim, é isso que você leu - não é mais razoável acreditar em "amor", em "mensagens de 'eu te amo' com emoticons legais" ou mesmo em declarações que nos fazem acreditar, equivocadamente, que "...nunca seremos deixados para trás..." ou que "...sempre teremos alguém a nosso lado 'fino alla fine'...". Todas essas coisas são passageiras, efêmeras, breves e transitórias, sendo firmes como uma teia de aranha ou, em outros termos, tem "data para vencer" - i.e., quando o prazo de validade de um determinado produto chega, o que se faz é trocar de produto (uma vez que aquele anterior "não serve mais") ou, mesmo que tal prazo não tenha chegado, basta o consumidor desejar ter algo novo, supostamente melhor e que satisfaça seus caprichos e comodidades para que a troca seja feita com a maior facilidade. Um poeta certa vez foi preciso em seus versos temperados de melancolia quando disse:

"Se lembra quando a gente
Chegou um dia a acreditar
Que tudo era pra sempre
Sem saber que o 'pra sempre' sempre acaba?
[Renato Russo, música Por Enquanto, 1984]

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Mas, talvez, você pode estar pensando... Será que isso não é um exagero? 
Como assim "o amor é uma ilusão"? 
Talvez o autor deste blog possa estar deprimido ou está vivendo um dia em que tudo deu errado... Talvez? Será? 

O que está, de fato e de verdade, por trás de palavras tão amargas e severas?

Eis o momento de começar a esclarecer as coisas.

No que se refere ao livro de Dawkins, pode-se deduzir de seu título que o equívoco principal reside no fato de que o autor busca desmoralizar a crença em Deus [algo fundamentalmente metafísico e transcendente, ainda que também tenha um aspecto imanente] com base no naturalismo filosófico e em supostas "evidências científicas" incontestáveis, de tal modo a esconder os seus próprios pressupostos religiosos que, no fim das contas, expressam o seu desejo de que Deus não exista. Ou seja, com a suplantação da religião [mais particularmente, do cristianismo] pelo cientificismo como "novo paradigma de verdade" [ao menos nesse caso, uma vez que, por outro lado, o relativismo quase absoluto ou mesmo o "não-comprometimento intelectual" passam a constituir a nova "hegemonia do imaginário"], é suficiente disfarçar de "conhecimento científico" qualquer convicção filosófica/religiosa ou algum "gosto pessoal" para que surja uma nova "verdade" que não pode ser contestada. Em suma, assim como idéias equivocadas a respeito de Deus nos conduzem, inevitavelmente, ao auto-engano, à ilusão e à insensatez, são as idéias equivocadas a respeito do amor [e de como ele deve ser cultivado e praticado] que igualmente nos arrastam para muitas ilusões e para a loucura. Portanto, sabendo-se que o conhecimento correto e concreto de Deus é conditio sine qua non para se compreender e vivenciar adequada e plenamente todas as demais realidades da existência, é a "desilusão de Deus" [no sentido de "alienação" e "ignorância" em relação a Ele] que está na base de toda má concepção a respeito do amor ou, por assim dizer, de todo tipo de amor que não passa de delírio e nulidade. Qualquer tipo de "amor" que não esteja alicerçado em Deus [que é Amor em si mesmo] e que não reflita as características correspondentes ao Seu amor não merece, definitivamente, nenhuma confiança

Nesse sentido, creio ser sensato afirmar que, desde o surgimento das idéias que emergiram nos movimentos românticos do século XIX (especialmente na literatura, mas também em outras formas de arte e até mesmo na filosofia), a concepção correta do que seja o amor foi se perdendo [ou sendo corrompida] gradativamente até o nosso funesto estado atual, de modo que provavelmente não mais exista nenhum ambiente, contexto social, segmento intelectual ou comunidade religiosa em que esta já não esteja afetada. Por tudo isso, pode-se inferir a partir das obras produzidas por esses românticos [e por todos os que foram e são ainda hoje influenciados pelas suas idéias] que a marca distintiva deste pensamento é a supervalorização dos sentimentos em detrimento da realidade ou a compreensão equivocada ou mesmo doentia de que "tudo precisa fazer sentido" - sentido para um determinado indivíduo, obviamente - e, por isso, a busca desenfreada pelo prazer e auto-satisfação constantes associada à rejeição obstinada de toda e qualquer dor ou atitude de auto-sacrifício tem se tornado uma espécie de "idolatria emocional". Como resultado, temos sacrificado nos altares do "fazer sentido" ou das "relações ideais" não somente experiências enriquecedoras e que nos acrescentam maturidade e virtude mas também as próprias pessoas envolvidas nelas, à semelhança [de modo alegórico, no caso] de tantos cultos pagãos dos tempos bíblicos e que Deus severamente abominou [e abomina], a tal ponto de que povos inteiros que os praticavam foram dizimados por vontade expressa Dele e pelas mãos do povo de Israel, como durante a conquista da Terra Prometida. Queira Deus, em Sua misericórdia, poupar-nos de tal destino

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De fato, o sofrimento em si mesmo não é algo agradável nem digno de apreciação, mas é parte inevitável de nossa realidade [neste caso, um resultado direto do pecado e da subseqüente separação de Deus] e, por isso, não há como escapar dele - assim como não é possível escapar da luz do sol durante o dia num lugar a céu aberto. Logo, na medida em que as gerações dos últimos 2 séculos [e especialmente a minha própria] foram formadas de acordo com esses "novos paradigmas", nos tornamos homens e mulheres cada vez mais ensimesmados, cheios de autopiedade, tendenciosos à manipulação mediante chantagem, ávidos por autopreservação e indolentes para a doação em prol do próximo. Falando mais especificamente aos cristãos [ou aos que assim se declaram], temos nos esquecido de que as relações com os nossos semelhantes são um meio que Deus nos concedeu para que aprendamos a "sair de nós mesmos", uma vez que "o amor deve ser sem hipocrisia" [Romanos 12:9] a fim de que "prefiramos em honra uns aos outros" [Romanos 12:10] e "não atentemos apenas para o que é propriamente nosso, mas também para o que é dos outros" [Filipenses 2:4], visto que "nisto conhecemos o amor: Jesus Cristo deu a Sua vida por nós e nós devemos dar a vida pelos irmãos" [1 João 3:16].

Por outro lado, no tocante à obra de Baudelaire mencionada, me recordo de uma canção com o mesmo título cuja idéia central é relatar a brevidade das relações [neste caso, relações amorosas] devido a fatores como dissimulação, traição e mesmo mentiras, de sorte que o compositor até ousa dizer que a "indecência alheia não tem mais serventia" e que "tal pessoa ficou para trás" com "seu perfume barato e truques banais". O teor despudorado e sarcástico desses trechos [provavelmente também presente na obra original] demonstra claramente a extensão do estrago que tais comportamentos e traços de caráter podem causar, por exemplo, num namoro ou casamento. Ou seja, considerando que a literatura e a arte, de certo modo, tanto refletem as nossas experiências reais de vida como nos ajudam a compreender e assimilar essas mesmas experiências através da memória e da imaginação, muitos de nós talvez já ouvimos histórias semelhantes às da música ou mesmo as vivenciamos. Logo, quanto àqueles que, factualmente, "cultivaram 'flores do mal' em seus respectivos jardins" - as quais, em algum momento, os feriram com seus espinhos ou lhes inocularam algum tipo de veneno -, o que muitas vezes lhes resta [ou restará] é a dor intermitente de feridas que parecem incuráveis e a consciência (ou pavor) de que a sua vida será irremediavelmente solitária. Todavia, quanto a mim, faço coro com a seguinte citação de As Crônicas de Nárnia:

"Homens como eu, conhecedores da sabedoria oculta, 
Não estão presos a essas regras vulgares... do mesmo modo como estamos distanciados dos prazeres vulgares.
Nosso destino, meu filho, é solitário, mas está acima de tudo". 
[André Ketterley ou "Tio André", personagem de O Sobrinho do Mago]

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Apesar de não me recordar exatamente em qual contexto específico a frase acima pode ser encontrada, a sua idéia central me remonta a uma das minhas partes favoritas da crônica "A Viagem do Peregrino da Alvorada" [cujo enredo se passa ao longo de uma viagem em alto mar através de ilhas, tempestades e diversos perigos (como tesouros encantados e a temida "Serpente do Mar"), em que Ripchip (vide imagem acima), após o fim da travessia e a chegada do navio em terra firmedemonstra grande bravura e um desejo resoluto de abandonar tudo para ir ao "País de Aslam" - ainda que sozinho. Isto é, talvez esse curioso personagem (embora seja um rato e não um homem), dadas as características acima, "não estivesse preso a regras nem a prazeres vulgares" bem como possuísse um "destino solitário" que estava "acima de tudo", uma vez que nada mais lhe importava exceto seguir seu caminho "rumo às terras de além-mar"

Portanto, lançando mão da máxima de que "a vida imita a arte", o exemplo de Ripchip ensina que a consciência de um propósito superior ou um destino mais excelente deve produzir em nós uma disposição em renunciar tudo o que for de menor valor (até mesmo coisas lícitas, se necessário) para que tal destino ou propósito seja alcançado. Ripchip poderia ter escolhido ficar com seus parceiros de peregrinação e/ou voltar para Nárnia, todavia ele queria estar junto ao "Imperador d'Além-mar" - embora soubesse que fosse uma decisão de uma vez para sempre e que não lhe permitiria "olhar para trás". Do mesmo modo, acredito que [falo aos cristãos, mais especificamente, ainda que valha para qualquer pessoa] a vida real pode nos reservar [ou sempre nos reserva] situações semelhantes, nas quais o certo a se fazer é, nas palavras do apóstolo Paulo, "ter por perda todas as coisas para poder ganhar a Cristo" [Filipenses 3:8] ou, como disse o próprio Jesus, "...perder a própria vida por amor Dele para salvá-la..." [Lucas 9:24]. Ou seja, se Cristo é o Filho de Deus e Salvador, sendo o próprio Deus encarnado [João 1:14], denominado de "imagem do Deus invisível" [Colossenses 1:15] e "expressão exata do Ser divino" [Hebreus 1:3], ninguém nem nada deve ser prioridade em Seu lugar, de tal sorte que Ele é digno de que toda criatura reconheça a Sua excelência e, na medida em que esta criatura se percebe atribuindo seu amor e adoração a algo que não seja Ele mesmo, ela possa enfim abandonar seus ídolos - quaisquer que sejam - a fim de adorar somente o Deus verdadeiro

No entanto, alguns questionamentos ainda permanecem.

Ora, qual seria a relação disso tudo com a "desilusão do amor" anteriormente abordada? 
Será que haveria algo em comum entre C. S. Lewis com "As Crônicas de Nárnia" e Charles Baudelaire com suas "flores do mal"?

É o que pretendo tentar descobrir e conseguir escrever nas poucas linhas restantes. 

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Uma observação mais atenta ao tema central desse texto conduzirá à conclusão inevitável de que tanto as "desilusões do amor" como o "cultivo das flores do mal" são "afluentes de um mesmo rio" ou "torrentes de uma mesma fonte": o pecado. Nesta situação, porém, tanto os "amantes iludidos" como os que os iludem [ou tanto as "flores do mal" quanto aqueles que as plantam ou colhem] possuem essa fonte dentro de si mesmos, de modo que, em última análise, as desilusões e os males dela decorrentes nunca são unilaterais. A despeito da absoluta impopularidade dessa verdade, o pecado é, talvez, a realidade mais inegável da existência humana e, por isso, todos os humanos (e, conseqüentemente, todo o cosmos) estão radicalmente contaminados por ele, de maneira que nossa vontade, intelecto, afeições e até nosso próprio corpo sofrem as terríveis conseqüências desse mal hediondo - ora, todos os dias pessoas morrem e, portanto, nada mais é necessário para mostrar a vileza e malignidade do que Deus, pelas Sagradas Escrituras, define como pecado. Nesse sentido, está escrito que "...o aguilhão da morte é o pecado..." [1 Coríntios 15:56], passagem que descreve a morte como um "escorpião letal" que usa o pecado para aplicar o seu "veneno mortífero" e, assim, matar a sua presa. Isto é, assim como um escorpião não pode causar dano algum sem usar o seu aguilhão, a morte não poderia existir de fato sem a presença do pecado - logo, se o pior de todos os nossos inimigos só exerce o seu poder através do pecado, todos os demais infortúnios e sofrimentos "dessa vida de vaidade debaixo do sol" [nas palavras do sábio Salomão] também são resultados dele. Diante disso, creio serem oportunas as palavras do teólogo britânico Matthew Henry:

Quando os homens começam a se queixar mais de seus pecados do que de suas aflições, começa a surgir alguma esperança para eles. [Matthew Henry, pastor puritano]

A esse respeito, vale mencionar um trecho bíblico que provavelmente é o mais oportuno para o nosso texto, no qual se lê:

Já pereceu da terra o homem piedoso, e não há entre os homens um que seja justo; todos armam ciladas de sangue; cada um caça a seu irmão com a rede.
As suas mãos fazem diligentemente o mal; assim demanda o príncipe, e o juiz julga pela recompensa, e o grande fala da corrupção de sua alma, e assim todos eles tecem o mal.
O melhor deles é como um espinho; o mais reto é pior do que a sebe de espinhos. [...]
Não creiam no amigo, nem confiem no seu guia; daquela que repousa em teu peito, guarda as portas de tua boca.
Porque o filho despreza ao pai, a filha se levanta contra sua mãe, a nora contra sua sogra, e os inimigos do homem são os da sua própria casa.
Eu, porém, olharei para o Senhor; esperarei no Deus da minha salvação; o meu Deus me ouvirá. [Miquéias 7, vs. 2-4a, 5-7] 

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No trecho bíblico acima, o quadro descrito pelo profeta é de absoluta impiedade, desolação, perversidade e ruína, pois é dito que "os piedosos desapareceram da terra" de sorte que os homens que restam vivem para "armar ciladas de sangue" e para "fazer diligentemente o mal". Além disso, lemos que, de modo figurado, o melhor dentre eles "é como um espinho" e o mais justo "é pior do que uma cerca de espinhos". Finalmente, como que num "golpe de misericórdia", o profeta ousa dizer que o amigo não mais é digno de confiança e nem mesmo aquele(a) que recosta a cabeça em nosso peito e, portanto, a conclusão aterradora é a de que "os inimigos do homem são os de sua própria casa". De fato, embora esta mensagem deva ser diretamente aplicada ao respectivo público-alvo, pode-se comprovar que os mesmos elementos de maldade e destruição têm perdurado na história humana até os dias atuais - quem ousaria negar isso? -, de maneira tal que, se nos determos tão-somente nas amarguras e males a nosso redor, nos tornaremos tão amargos e maus quanto os próprios infortúnios que nos sobrevêm. Contra todo esse terrível diagnóstico, o profeta diz, com uma confiança surpreendente, que ele "olhará para o Senhor" e "esperará no Deus da sua salvação", pois sabe que "o seu Deus o ouvirá". 

Portanto, ainda que o profeta pudesse olhar para si mesmo e julgar que seus pensamentos, desejos, palavras e ações eram diferentes das que ele estava denunciando, a sua confiança não estava, em última instância, nele mesmo ou em sua suposta "inocência" ou "direito de justiça", mas unicamente no "Deus de sua salvação". Ora, ao se referir a Deus como o "Deus da salvação", está implícito que o próprio profeta se via como completamente perdido à parte da compaixão divina e, por isso, ele confessa que sua esperança estaria em Deus, no Deus que salva. Quanto a mim, dado o que já foi exposto até aqui, eu reconheço que, muitas vezes, tenho sido tentado a ser consumido pela sede de "vindicação da justiça devida" ou pelo "direito de retribuição" e, como resultado, talvez possa agir ou falar com aspereza e amargor para com o meu próximo - contudo, embora esse não seja um texto em forma de oração, eu suplico a Deus, o Deus de minha salvação [i.e., que me salva de mim mesmo para Si mesmo], que não leve em conta as minhas ocasionais palavras torpes e repletas de acidez, ou mesmo as minhas ações e pensamentos desprovidos de amor e candura e, acima de tudo, que Ele se agrade de limpar o meu coração com o sangue de Seu Filho Jesus Cristo, o Cordeiro de Deus, pois, assim, não haverá nenhum pecado (por mais horrível que seja) que permanecerá sem ser tirado de dentro de mim. Que bendita consolação!

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Semelhantemente, se é certo que "sempre haverá mais misericórdia em Cristo do que pecado em nós" - nas palavras do puritano Richard Sibbes -, Ele também pode perdoar e purificar aqueles que nos ofenderam e feriram severamente de forma que, se Cristo os perdoa livremente e não lhes imputa esses pecados [quando devidamente confessados e em sincero arrependimento], quem sou eu [ou quem somos nós] para não fazer o mesmo? Quão diferente eu sou [ou nós somos] de Cristo! Enquanto o Único Santo - e que, por isso mesmo, é também o único que teria [e tem] o direito de não perdoar um só pecado - é benevolente e cheio de longanimidade, nós [que não temos direito algum sobre nada nem mesmo sobre o nosso próximo] pensamos ter prerrogativas para exigir do outro a "reparação dos danos causados" quando, ao mesmo tempo, nos esquecemos de que Deus nos poupa constantemente dos ultrajes que praticamos contra Ele. Ora, se Deus deixasse de me tratar de modo longânimo e paciente, antes mesmo de eu terminar essa frase eu já teria sido incinerado pela Sua ira feroz e ardente - contudo, eu ainda estou escrevendo porque Ele continua a ser benevolente e gracioso. 

Portanto, nós precisamos entender que, se professamos o nome do Senhor, devemos "nos apartar da iniquidade" [2 Timóteo 2, vs. 19b] - seja das que são cometidas fora de nós e, especialmente, daquelas que abrigamos em nosso coração - pois, "se o Senhor observar as iniqüidades, quem poderá escapar?" [Salmo 130, vs. 3]. Além disso, uma vez que, pelo exemplo do salmista, sabemos que "se abrigarmos iniquidade no coração, Deus não nos ouvirá" [Salmo 66, vs. 18], também temos de Deus o imperativo de nos desvencilhar "do pecado que tão de perto nos rodeia" [Hebreus 12, vs. 1] e, aguardando somente no "Deus de nossa salvação", buscarmos a Ele em oração no meio de nossas aflições e angústias a fim de que Ele "não afaste de nós a sua misericórdia" [Salmo 66, vs. 20]. Portanto, embora possamos ser assolados por pensamentos de que "pusemos a perder" coisas preciosas que, provavelmente, jamais serão recuperadas [daí a ênfase num tipo de "dor sem fim" ao longo de todo o texto], eu ainda tenho fé e digo com confiança as mesmas palavras do profeta já citado:

"...Ainda que eu tenha caído, eu tornarei a me levantar; se morar nas trevas, o Senhor será a minha luz. [...] Ele me levará para a luz, e eu verei a Sua justiça.
Quem é semelhante a Ti, ó Deus, que perdoas a iniquidade e Te esqueces da transgressão do remanescente da Tua herança? O Senhor não retém a Sua ira para sempre, porque tem prazer na benignidade.
Ele voltará a ter compaixão de nós; pisará aos pés as nossas iniqüidades e lançará todos os nossos pecados nas profundezas do mar.
Mostrará a Jacó a fidelidade e a Abraão, a misericórdia, as quais juraste aos nossos pais, desde os dias antigos..." [Miquéias 7, vs. 8b, 9b e 18-20]

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A última passagem bíblica mencionada é a continuidade do que fora exposto nos parágrafos anteriores, de modo que a convicção por parte do profeta de que "ele tornará a se levantar, mesmo que tenha caído" bem como de que "mesmo em meio às trevas, o próprio Deus será a sua luz" está baseada no fato de que ele poderia esperar em Deus porque Ele o ouviria. Do mesmo modo, qualquer um que teme verdadeiramente a Deus e que se sente aflito [e não somente eu] pode ter a mesma confiança, pois "não há Deus semelhante a Ele, que nos perdoa as iniqüidades e se esquece das nossas rebeliões", sendo gracioso a tal ponto que "não retém a Sua ira para sempre, pois tem prazer na misericórdia". Será que já paramos algum tempo para meditar nestas palavras? Deus, o Criador e Sustentador do Universo, Deus santo, justo, soberano, que olha para a terra e 'vê a seus habitantes como gafanhotos" e "as nações como uma gota de um balde e uma nulidade", não permanece irado para sempre para com os que Nele crêem porque tem prazer em demostrar amor - Ele não apenas é amor, mas se compraz em concedê-Lo. 

O que pode ser mais consolador para a alma que se percebe desamparada? 
O que mais poderia fortalecer aquele que está tão cansado que até vê a si mesmo como um fardo?
Qual esperança poderia ser mais viva para o coração afligido pelos próprios pecados [especialmente os pecados cometidos contra quem se ama verdadeiramente]? 

Entretanto, não é somente isto.

No mesmo texto, ainda se lê que Deus "tornará a ter piedade de nós", "colocará debaixo de Seus santos pés as nossas iniqüidades" e "lançará todos os nossos pecados nas profundezas do mar". Todos os pecados! Todos! Todos os pecados que foram cometidos contra nós e, principalmente, todos os que nós cometemos [se pusermos nossa fé Nele como nosso Redentor] contra os outros [inclusive contra quem mais amamos e que, por nossa maldade, se afastaram de nós e hoje talvez nos tenham repulsa] são por Ele lançados nas profundezas do mar - de onde jamais sairão. Eu creio, ó Deus, que o Teu amor cobre todas as transgressões e, por isso, eis-me aqui com todos os meus vis e abomináveis pecados! Se nos purificares, certamente ficaremos puros e, se derrubares as muralhas que nos separam uns dos outros, "viveremos em paz até com os nossos inimigos" [Provérbios 16, vs. 7]. Ainda que muitas coisas estejam destruídas, ó Senhor, não há nada arruinado que Tu não possas reedificar nem deteriorado que Tu não possas restaurar e, por isso, podemos invocar a Ti e, por amor de Teu nome, podemos crer que Tu nos ouvirás e nos "mostrarás fidelidade e misericórdia, como nos dias antigos". Mesmo sem luz nenhuma, podemos confiar em Ti e andar na Tua Luz, pois esta "resplandece nas trevas e as trevas não podem suplantá-la" [João 1, vs. 5].

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Diferentemente do que normalmente faço, queria concluir com algumas palavras de pacificação.

Primeiramente, se eu pequei contra Deus no modo e no conteúdo em algum lugar desse texto, que Ele não me impute esse pecado.

Em seguida, apesar de reconhecer que esse seria um texto árido e amargo, no mais íntimo de mim eu espero que as palavras ásperas possam ser esquecidas e indulgenciadas frente ao meu sincero desejo de não me render às tentações da amargura para ser como Cristo, que é "manso e humilde de coração" [Mateus 11, vs. 29].

Além disso, se algum leitor se enxergou no que eu escrevi, desejo a você que Deus também possa ajudá-lo a se livrar das raízes de amargura e de ressentimento, pois "Deus se opõe aos orgulhosos, mas concede graça aos humildes" [Tiago 4, vs. 6].

Finalmente, eu faço das seguintes palavras da música "Jardim - Canção de Oséias" de Os Arrais a minha consolação:

"...Eu cumpro a minha parte na Aliança
Não existe mais distância
No deserto onde estavas nascerá um Jardim
E a graça que te trouxe
Manterá você fiel a Mim..." [Os Arrais]

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Oro para que, no deserto onde muitas "ervas daninhas amargas" ou "flores do mal" foram cultivadas ou brotaram, Deus faça nascer um jardim com incontáveis orquídeas e lírios, cuja beleza apague da memória o horror do presente e confira eterna doçura ao futuro




Pela esperança que nunca nos decepciona,




Soli Deo Gloria!