sábado, 7 de dezembro de 2013

E por falar em Apartheid...

De volta, finalmente.

Após um novembro embalado por uma espécie de "Bitter and Sweet Symphony" [quem leu os posts do mês passado vai entender rs], decidi colocar novas reflexões para fora. Como se diz por aí, vamos em frente. Sempre.


Essa semana o mundo assistiu a morte de Nelson Mandela, personagem dos mais importantes do século XX, dada a sua importância na luta pelo fim do regime de segregação racial na África do Sul - o chamado Apartheid. Na verdade, Mandela não foi um ícone de uma luta armada (assim como Gandhi na Índia algumas décadas antes dele e Steve Biko na mesma África do Sul), mas sim um moblizador pacífico da mentalidade de seu povo na luta pela igualdade étnica, visto que a cor da nossa pele não nos faz melhores ou piores do que os outros. Isto posto, embora não tenha tanto conhecimento a respeito dessa luta em si, faço uma menção digna a um grande exemplo de consciência humana e de amor por sua pátria. "Rest in peace", "Madiba".


Mas não é exatamente sobre o "Apartheid" sul-africano que queria falar aqui.

Existem outros "Apartheids" disfarçados, camuflados ou até mesmo explícitos por aí e que ainda precisam ser combatidos e desfeitos. Pensando bem, desde o princípio das civilizações humanas, houve excluídos e privilegiados, descartados e acolhidos, ignorados e valorizados - uma postura que reflete quem de fato somos e o que de fato existe dentro de nós: sentimento de superioridade, indiferença, violência e maldade. 

Mas... E aí? O que seriam esses "apartheids"?


Dentre os diversos exemplos de "segregação" perceptíveis nas diversas camadas ou segmentos da sociedade, queria destacar o que eu poderia chamar de "Apartheid Religioso". Bem, desde já queria deixar claro que as diferenças religiosas sempre existirão e que, devido a isso, nunca haverá um consenso total entre as variadas manifestações de fé e crença - ou seja, apesar do respeito que deve existir entre as pessoas que professam crenças e princípios de fé e conduta distintos, não há nenhuma obrigação no sentido de se concordar com aquilo que é diferente em nome de uma "pretensa tolerância". Resumindo: cada um de nós tem uma forma de pensar e a "tolerância" consiste em considerar o direito do outro de pensar como ele julga ser correto e justo, bem como no direito de expressar as próprias convicções de forma contundente e firme, apesar das discordâncias. Espero ter sido claro (risos). 

Entretanto, quero ser mais particular e falar de "apartheid religioso" dentro dos denominados "ambientes cristãos". 


Primeiramente, desde os tempos bíblicos, existe exclusão em nome de uma "falsa superioridade". Os mais ricos desprezavam os mais pobres, os mais religiosos desprezavam os "pecadores", os mais intelectuais desprezavam os "sem instrução" e assim por diante. Em todo o Antigo Testamento (especialmente nos livros dos profetas), Deus manifesta através das mensagens proféticas sua indignação diante de todas essas coisas e anuncia a todos os que andavam nessas práticas para que se arrependessem e vivessem de maneira justa e bondosa. Por outro lado, no Novo Testamento, Deus não apenas falou por meio de profetas para que houvesse compaixão pelos desprezados, amor pelos esquecidos, misericórdia para com os "pecadores" e justiça para com os necessitados... Deus FEZ isso na real, na carne. Ele "fez questão", por assim dizer, de vir a este mundo e dar a Si mesmo por meio de Seu Filho para que todos nós, negros ou brancos, pobres ou ricos, instruídos e indoutos - gente de todos os tipos - entendessem que diante Dele todos somos miseráveis pecadores e carentes de Sua benignidade, não importando a cor da nossa pele, nem o nosso nível social ou mesmo a nossa sabedoria humana. 


No entanto, muitas vezes o que se vê não é a prática do Evangelho de Jesus Cristo, mas a substituição de uma vida de compaixão e graça diante das pessoas por uma conduta repleta de arrogância e/ou descaso com o outro em nome de uma audaciosa "supersantidade". Se o outro não tem a mesma "teologia" que a minha, se o outro não adota as mesmas práticas litúrgicas que a minha igreja local, se o outro adota técnicas de impacto social ou missionário diferentes daquelas que eu acho corretas ou ainda se ele não tem status ou não tem boa "aparência"... Nada feito. Embora existam coisas que, de fato, não devam ser toleradas, o fato de [porventura] estarmos do lado certo da moeda não nos dá o direito de nos enxergarmos como juízes ou como pessoas "acima do bem e do mal". Como dizem as próprias Escrituras:

Irmãos, não falem mal uns dos outros. Quem fala mal de seu irmão e julga a seu irmão, fala mal da Lei e julga a Lei. Ora, se você julga a Lei, não é mais observador da Lei, mas juiz.
Há um só Legislador e Juiz, aquele que pode salvar e destruir; Você, porém, quem é, para que julgue o seu próximo? [Epístola de Tiago, cap. 4, vs. 11-12]


Ao nos portarmos como "juízes", nos fazemos nossos próprios deuses. Julgamos o outro pela roupa que usa, pelo corte de cabelo, pelas músicas que escuta, pela teologia que adota como base de fé e prática, pelos relacionamentos interpessoais que vivencia (inclusive o namoro) e, desse modo, achamos que o papel de "salvar" ou "destruir" é nosso. Que pretensão estúpida! Eu fico com as Escrituras, que dizem: "...a minha glória, pois, não darei a outro...". Deus é Deus e ponto final. Apenas Ele e nenhum outro. 

Enfim, Deus é quem julga no fim das contas. E, diferentemente dos juízes humanos, Ele tem autoridade absoluta sobre tudo - se Ele quiser salvar e livrar, nada pode impedi-Lo de fazer isso mas, se Ele quiser destruir e condenar, ninguém pode impedi-Lo também. Nós, com nosso ousado e pretensioso orgulho, que nos faz frequentemente desprezar e zombar o nosso próximo, estamos totalmente vulneráveis à justiça divina. E, se existe algo que produz um temor profundo (ou até mesmo um certo terror em mim) é saber que estou à mercê de Deus e de Sua soberania. Como diz certa música, "...I am walking on a wire..." - portanto, se Ele cortar a corda, já era. 


Finalmente digo que eu, na busca por ser um cristão cada vez menos hipócrita e mais verdadeiro, sei que devo estar do lado da verdade mesmo que eu venha parecer "intolerante". Todavia, não existe "estar do lado da verdade" sem amor pois, "...se eu não tiver amor, nada me aproveitará...". E, se eu amo a Deus, tenho sobre mim a ordem de também amar o meu irmão, até porque quem diz que ama a Deus e não ama o seu próximo é mentiroso. Nesse sentido, peço a Deus que me livre de estar vivendo como um "mentiroso" e para que eu possa amar o outro por saber que Ele me amou primeiro. Nada de "apartheids religiosos" em nome de uma falsa piedade! Nada de "segregações" com capa de "vida justa"! Não!

Jesus, o Deus santo encarnado, mostrou que ser santo de verdade é ir até os pecadores perdidos em seus pecados e mostrar a eles como podem se tornar pecadores arrependidos e resgatados do domínio do pecado para o reino de Deus, a fim de que sejam santos como Ele é. Ele, o Justo, se deu uma vez por todas pelos pecados de todos nós, injustos, para que pudéssemos voltar para Deus. Agora, nos resta apenas responder ao Seu supremo ato de amor e reconciliação e ir a Ele, pois Ele diz que "...aquele que vem a Mim de maneira nenhuma o lançarei fora...". Com Ele não tem "apartheid" - a não ser que você O despreze; aí, no caso, o "apartheid" foi seu. 


Um dia muitos, de todas as tribos, povos, línguas e nações, estarão na eternidade com Aquele que deu a Sua vida para salvá-los de seus pecados. Enquanto você lê esse texto, ainda há esperança. Seja qual for a cor da sua pele, a sua condição social e seu grau de instrução, venha a Cristo! Arrependa-se de ter se "apartado" Dele pelo seu pecado e creia em Seu amor, o qual pode te resgatar para sempre. 




Pelo amor que nunca me deixará "apartar" Dele,




Soli Deo Gloria!

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