sábado, 6 de dezembro de 2014

Der "Baader-Meinhof post"...

Estou de volta apenas hoje, após cerca de duas semanas.

A rotina por aqui tem sido bem intensa e agitada - mas, em meio àquelas responsabilidades de sempre, resolvi escrever sobre novas ideias nas quais tenho refletido ultimamente. Como dizia o poeta, "o tempo não para" - por isso, vamos lá.


O título deste post - talvez estranho para alguns - é uma mistura de inglês e alemão em referência a uma canção do primeiro álbum lançado pela Legião Urbana, em 1984 [alguns anos antes de eu nascer], chamada "Baader-Meinhof Blues". Nesse texto, discutirei alguns trechos da música que me fazem pensar bastante, os quais estão listados a seguir:

"E essa justiça desafinada
É tão humana e tão errada... [1]
[...]
Não estatize meus sentimentos
Pra seu governo o meu estado é independente... [2]
[...]
Já estou cheio de me sentir vazio... [3]
[...]
Todo mundo sabe, ninguém quer mais saber
Afinal, amar ao próximo é tão 'demodê'..." [4]


Justiça desafinada. Tão humana e tão errada. 

Primeiramente, não precisamos pensar e analisar muito a nosso redor para percebermos (se tivermos o mínimo de bom senso) para concluirmos que "justiça" é um tesouro jogado no lixo pela nossa sociedade. Somos naturalmente inclinados ao favorecimento ilícito, ao maldito "jeitinho brasileiro", ao enriquecimento fácil, à opressão disfarçada de democracia participativa dentre outras injustiças, denotando precisamente que a questão principal não é a nossa conduta, mas quem de fato somos - somos injustos e inclinados à injustiça por natureza. Apesar de toda a provável manipulação dos meios de informação e da grande mídia, o que vemos sobre a situação do nosso país nos jornais impressos, na televisão e na internet mostram [sem sombra de dúvida] que estamos (digo em termos gerais) cada vez mais corruptos e conformados com a corrupção, desde que tenhamos algum benefício com isso [seja um emprego público, sejam mandatos políticos sucessivos ou mesmo uma grana esparsa proveniente de "assistencialismo social"]. Sim, os fins continuam justificando os meios. 

Ora, visto que a sociedade é injusta em seu âmago, a "justiça" aplicada pela própria sociedade será obrigatoriamente deficiente ou, nas palavras do poeta, "desafinada, humana e errada". Como sabemos, nada é mais sofrível na música do que o "ser desafinado" [desculpas sinceras, João Gilberto] - logo, uma "justiça desafinada" é aquela que sai do padrão, que se desvia do alvo, que se distancia do tom ideal. No entanto, por ser justiça humana, não poderia ser perfeita [em outras palavras, teria de ser inevitavelmente desafinada e errada] - isto é, "justiça afinada e correta" tem de vir de uma fonte perfeita ou de alguém totalmente justo, o qual chamamos de Deus. Dele se diz que "é justo e que ama a justiça", que "é justo em todos os Seus caminhos" e, finalmente, que "julgará o mundo com justiça". Minha única esperança é esta, nas palavras de outro poeta: "Deus vai dar aval, sim, o mal vai ter fim". 


Não estatize meus sentimentos. Pra seu governo, o meu estado é independente. 

Numa época em que "tudo é igual a tudo" (ou seja, não existe nada a não ser a mesmice) - homem pode ser mulher e vice-versa, corintiano pode ser são-paulino e vice-versa [ops, não mesmo], cristão pode ser teologicamente liberal e liberais são cristãos etc.) ou em que "todos devem ser iguais" - sabe, aquele papo "pseudorespeitoso" de igualdade que esconde a busca da opressão pelos supostos "oprimidos"? sim, esse mesmo -, a onda é a "estatização dos sentimentos", num nível quase literal. Traduzindo - a cultura vigente, a qual pode ser representada pelo Estado ou outra instância social de mesma influência ou poder (governo, autoridades religiosas etc.) sendo, dessa forma, maciçamente propagada e sorrateiramente imposta, nos obriga [ainda que aparentemente numa condição de liberdade de consciência - consciência?] a pensarmos do jeito que eles querem que pensemos. Ora, quanto mais pessoas pensarem do mesmo jeito ou possuírem a mesma visão de mundo e da vida, mais fácil de se exercer controle e de se aumentar o próprio poder - ou seja, se todos enxergam através das mesmas lentes ou dos mesmos ângulos (por assim dizer), basta que eles continuem sendo ignorantes a respeito de todo o resto, de modo que quem tem o poder determina o que é "verdade" ou o que é "mentira" [embora as "verdadeiras verdades" e as mentiras continuem existindo]. Assim, todos nós acabamos sendo "massas de manobra", embora acreditemos que estamos do lado da "intelectualidade superior" e da liberdade de pensamento. Ledo engano.

Entretanto, isso não acontece apenas na esfera social e política (por exemplo), mas também nos arraiais religiosos - os "super-homens impecáveis" que se declaram "mediadores" entre os meros mortais leigos [e menos espirituais] e o próprio Deus e, assim, usurpam o lugar do Único Mediador (o Cristo, Filho de Deus) crescem assustadoramente, como um vírus que se replica em frações de segundo e contamina todo o ambiente. Os "ungidos" [se é que há alguma unção divina aí] estatizam nossa percepção de quem é Deus, de quem nós somos, do que a Bíblia diz e do que ela não diz, do que devemos fazer ou não fazer, de onde devemos ir ou não e, assim, podemos pensar que estamos andando com Deus e conhecendo a Ele, mas provavelmente estamos enganados. Em contrapartida, eu sigo a alma do poeta e digo: não estatize meus sentimentos pois, pra seu governo, meu estado é independente! Ou, nas palavras do apóstolo Paulo - não me deixo escravizar por filosofias vãs e sutis, que se baseiam nas tradições dos homens e nos princípios do mundo e não em Cristo, entendendo que Nele está toda a plenitude e, quando estou unido a Cristo, eu já sou pleno. Deus me chamou para a liberdade de Seu Filho e, agora, não sou escravo de ninguém, exceto Dele - meu amado Senhor que me amou e se entregou na cruz por mim. Como diz outro poeta, "se tenho a Cristo, tenho a verdade..." Sim.  


Já estou cheio de me sentir vazio. 

Certa vez ouvi uma frase de um certo filósofo francês, que diz: "o homem cheio de si sempre estará vazio". Depois que ouvi isso, olhei para mim mesmo e me vi alguém vazio, exatamente por estar cheio de mim mesmo. De fato, o orgulho é um mal (ou pecado, no sentido mais real e duro da palavra) que raramente admitimos possuir, uma vez que é o mais sorrateiro e pernicioso. Além disso, parece um contrassenso dizer que se estamos cheios, estamos vazios ao mesmo tempo. Será?

Bem, quanto a isso, me recordo de algumas poucas palavras do mesmo Paulo, ao escrever sobre Jesus Cristo:

"Pois foi do agrado do Pai que toda a plenitude habitasse Nele..." [Colossenses 1:19]

Foi do agrado do Pai. Sem rodeios, a razão pela qual toda a plenitude está na pessoa de Cristo não é nada mais nada menos do que a vontade soberana do Deus Pai. Ele, o Pai, se agradou (esteve afim, se sentiu absolutamente satisfeito em) de dar ao Seu Filho toda a plenitude. Nada poderia impedir Deus de fazer isso, pois Ele pode todas as coisas e nenhum dos Seus desígnios pode ser frustrado. Por outro lado, essa plenitude total habita unicamente em Cristo, de maneira que fora de Cristo não existe nada a não ser o "oco", o vazio, o vácuo, o "nada vezes nada". Enfim, se estamos cheios de nós mesmos não temos nada de Cristo dentro de nós, de forma que nossa "suposta plenitude" é, na verdade, nada menos do que nada. Só podemos ser alguma coisa ou ter alguma coisa (no fim das contas, sermos o que devemos ser e ter o que precisamos ter) se estivermos unidos ao Filho de Deus por uma fé vinda Dele mesmo sendo, por isso, uma fé sincera e firme. Resumindo, talvez esteja na hora de você (que está lendo esse texto) ficar "cheio de se sentir vazio" a fim de buscar "essa plenitude que não se pode achar em alguém como qualquer um de nós", já que tudo está Nele. 


Todo mundo sabe: amar ao próximo é tão "demodê".

Amar ao próximo. Provavelmente, não existe nada mais deturpado atualmente do que o "amor ao próximo". O segundo maior mandamento se tornou um viés de toda permissividade imoral e antiética, onde se tolera impureza e pecado e onde se é conivente com a falsa liberdade social e toda espécie de corrupção - sim, amar ao próximo como a si mesmo é cada vez mais utópico e "fora de moda", pois em vez de nos doarmos em favor do outro assim como desejamos que sejamos tratados [mesmo que o outro nos trate mal], permanecemos em nossas próprias inconveniências e exigimos que os outros nos "amem" [ou seja, tolerem qualquer maldade de nossa parte com um afago na cabeça]. Em poucas palavras, é impossível amarmos ao próximo como a nós mesmos se não praticarmos o primeiro grande mandamento - amar a Deus de todo o coração, alma, entendimento e forças. Quem não ama a Deus (que é superior) jamais poderá amar o próximo (que é semelhante) e vice-versa - quem não ama o próximo a quem vê, não está amando a Deus, a quem não vê. Enfim, contra o individualismo que impera em todo canto do mundo [inclusive em mim mesmo, muitas vezes], amar ao próximo é algo esquecido, embora Deus por meio de Cristo nos advirta que "desses mandamentos depende toda a Lei", significando que o padrão de conduta que agrada a Deus consiste no amor que devemos a Ele e, como resultado de amarmos a Ele, devemos amar o outro. Ora, "o cumprimento da Lei é o amor". 


E você? Já parou pra pensar nisso?
Você reconhece que Deus é justo e que apenas a justiça Dele não falha, a qual em breve se manifestará?
Você entende que conhecer a Cristo (que é a Verdade) basta para que você seja pleno e satisfeito, mesmo que haja perdas?
Você já refletiu e reconheceu seu próprio orgulho a fim de não ser mais vazio por crer Naquele em quem está toda a plenitude?
Finalmente, você tem usado do "amar ao próximo" como uma desculpa para uma conduta errada ou já entendeu que só podemos amar de fato o outro quando amamos a Deus?

Quanto a mim, que Deus sempre imprima isso em minha mente, pois "olhando pra mim, posso saber que nada sou e que nada posso fazer".





Pela alegria de ser livre, pleno e amado Nele e por Ele,




Soli Deo Gloria!

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