domingo, 28 de setembro de 2014

O post que não é sobre mim...

Estou de volta aqui, mas a demora foi necessária. 

Nos últimos dias estou experimentando diversos e violentos turbilhões na mente, e esse texto de hoje, na verdade, pretende ser uma síntese fiel e descompromissada com aprovação - seja de qualquer leitor e até mesmo de mim. Eu até gostaria que esse post fosse escrito por outra pessoa mas, de fato, quem tem que continuar dando a cara a bater sou eu. 


Esse post é um manifesto público e audacioso contra a "cultura selfie" tão em voga em nossos dias, cultura essa que simplesmente evidencia em "alto e bom som" (ou seria mau?) que somos viciados em nós mesmos - viciados em nos exibir, em buscar satisfazer nossa cobiça insaciável a qualquer custo, em nossa reputação e autoimagem, em nossa suposta "superioridade" (seja intelectual, seja moral, seja comportamental, seja econômico-social e também espiritual) e, finalmente, em arrogarmos para nós mesmos glória, direitos e méritos. E, embora sejamos tão solícitos em apontar o egoísmo alheio, dessa vez a intenção desse texto é atingir a todos - seja eu, seja você. Se a carapuça servir, o problema é meu, é seu, é nosso. 

Não é sobre mim. Não é sobre você. Mas, ao mesmo tempo, é sobre cada um de nós.

Como assim?


Primeiramente, não é sobre minhas opiniões ou sobre minhas "verdades".

Cada um de nós tem concepções, opiniões e perspectivas a respeito da vida e de tudo o que a ela se refere. Nesse contexto, a "cultura selfie" mencionada acima se mostra no fato de que, mais do que em qualquer outra época (provavelmente), nossas opiniões e "verdades" se baseiam tão-somente em conveniência e satisfação pessoal. Isto é, se algo nos faz "sentir bem" por atender a nossos caprichos e desejos e/ou se todos fazem (logo, é "certo", embora "certo e errado" sejam relativos não é?) e, por isso, qualquer postura contrária é "preconceito" e "intolerância", é isso que passamos a defender e praticar. Não se pode criticar nada, opinar sobre nada ou nem mesmo "pensar" diferente, porque a "geração mimimi" na qual estamos inseridos dará seus "chiliques" e irá se "manifestar" em suas vadiagens e sete cores vivas, ou mostrará todo o seu "amor fraternal" defendendo seus "gurus espirituais" com ataques ridículos a quem procura falar a verdade, doa em quem doer - ora, ninguém pode tocar nos "ungidos do Senhor", ninguém pode falar assim do Dr. Fulaninho, PhD. em sociologia e "professor quase-deus" da faculdade Y, nem mesmo falar sobre quaisquer princípios de vida e fé que "incomodem". Ah, se qualquer um de nós ainda é assim, todo cheio de "não me toque" ou de "frescurinhas", já está na hora de virar homem (ops, isso é machismo!) - melhor, virar gente madura e encarar que o universo não tem como centro o nosso umbigo. Mais do que isso, precisamos encarar a verdade de que há apenas uma única Verdade - a verdade que é uma Pessoa, que disse de Si mesma "eu sou A Verdade, eu sou O Caminho, eu sou A Vida". Se a nossa "verdade" não se chama Jesus Cristo, estamos nos enganando. Não tem jeito


Não é sobre nossa realização pessoal.

Por outro lado, outro aspecto identificador dessa "cultura selfie" é a busca ansiosa, desenfreada e doentia pela "realização pessoal" - nesse sentido, me recordo das palavras do sábio rei Salomão que disse que "todo o trabalho do homem é para sua boca, e contudo a sua cobiça nunca se satisfaz". Quanto mais corremos atrás de "coisas" na expectativa de que, quando conquistarmos essas "coisas", seremos "felizes e plenos", mais percebemos que nada disso adianta - pois, logo depois que alcançamos o que estávamos procurando, continuamos descontentes. Ou seja, ao corrermos à procura da felicidade nas "coisas" (dinheiro, sexo, poder, prestígio, conhecimento, títulos etc.), estamos, verdadeiramente, correndo atrás do vento. Como dizia o mesmo Salomão, tudo é vaidade - tudo. Ora, esse mesmo Salomão conquistou e desfrutou de tudo o que seus olhos desejaram mas, no fim de sua vida, ele afirmou que tudo tinha sido inútil. Obviamente, é bom desfrutar das coisas boas da vida, porém tudo acaba, perece, se consome, se desgasta, se desfaz. Não é possível levar nenhum desses "deleites temporais" para nossa sepultura, pois "tudo o que não é eterno é eternamente inútil".  

Entretanto, não basta apenas saber que as coisas passageiras são inúteis no fim das contas - é necessário reconhecer que nosso empenho diário para adquirir essa "realização pessoal" é, quase sempre, egoísta. Queremos mais e mais dinheiro na conta, mais viagens, mais roupas de grife, carros importados, imóveis em bairros de luxo, parceiros ou parceiras, mais poder e mais honra, mais renome ou fama e mesmo mais seguidores nas redes sociais. Tudo isso é egoísmo. Tudo isso é egolatria. E, para ser sincero, eu vejo isso tanto naqueles que vivem suas vidas para si mesmos quanto naqueles que dizem que vivem para Deus [particularmente dentre os "cristãos"] - por exemplo, eu mesmo. São os "admiráveis lamentáveis religiosos", amantes de si mesmos e amantes da glória que eles deveriam (e devem) dar apenas ao Deus que dizem servir. Se nos julgamos discípulos do Mestre Carpinteiro (o Deus-Homem), está na hora de andarmos como Ele andou, amando o próximo e dando a vida por eles. Sim, dói saber que a carapuça serve. 


Não é sobre nosso ativismo religioso ou sobre nosso "ministério".

De fato, é muito mais fácil perceber defeitos ou falhas em atitudes do lado de fora dos "arraiais religiosos" - especialmente para quem é religioso. No entanto, quando penso na frase "isso não é sobre mim" e, ao mesmo tempo, em minha realidade como religioso (cristão), vejo que o nosso "ativismo" ou o nosso "desempenho" é a pior das armadilhas - ora, quanto mais "fazemos coisas para Deus" (seja estudar em um seminário e, ao mesmo tempo, fazer teatro, instrumento, canto, ministério infantil, participar de projetos missionários ou se envolver em grupos cristãos na universidade), mais estamos sutilmente suscetíveis a um orgulho sorrateiro e pernicioso. Logicamente, quem olha para a vida de alguém que faz todas essas coisas (particularmente ao mesmo tempo) de imediato pensa e diz: "que pessoa consagrada, que bênção!". E, se nós somos os alvos desses "elogios", nosso ego se infla violentamente, mas mesmo assim não percebemos - estamos muito ocupados "servindo ao Senhor" ou "cumprindo nosso chamado" para cuidarmos do nosso orgulho disfarçado. Contra tudo isso, cito um trecho de uma música que ouvi esses dias enquanto participava de uma conferência que inspirou esse post, a qual diz:

"É mais que ter um ministério, é cada dia ser mais servo..." [Bruno Gusmão]

Eu vou mais além - não é sobre ter um ministério, é sobre cada dia ser mais servo. Não é sobre o que eu faço e nem sobre quantas tarefas eu desempenho, mas é sobre quem estou me tornando. Não é sobre quantas regras e desafios eu obedeço à risca, mas é sobre a consciência de que a única forma de agradar a Deus não é tentando agradá-Lo mas, sim, buscando imitá-Lo. Ora, Ele só aceita aquilo que procede Dele mesmo e, por isso, apenas o que é conforme ao que Ele faz e determina é agradável a Ele, pois as boas obras para as quais fomos criados (e que devemos praticar) foram preparadas por Ele, preparadas de antemão


Não é sobre o nosso renome nem sobre a nossa honra. 

Enquanto todos nós continuamos a "querer ser Deus", o Deus (que não é nenhum de nós) diz que "não dará a Sua glória a outrem nem o seu louvor a ídolos". Sobre esse mesmo Deus, único e todo-poderoso, se diz que "Dele, por Ele e para Ele são todas as coisas, a Ele seja a glória eternamente". Não há espaço para usurpações de nossa parte - Deus é quem merece, total e continuadamente, ser adorado, louvado, engrandecido e exaltado. Glória é algo que não é propriedade de ninguém além do próprio Deus, porém muitos de nós que dizemos louvá-Lo agimos como "ladrões de glória" - queremos manipular o universo a nosso favor, julgamos ter poderes mágicos que se transfiguram em orações e "palavras proféticas" falsamente humildes (ou mesmo abertamente arrogantes) e queremos impressionar todos ao nosso redor com nosso "bom comportamento" mascarado de "bom testemunho". Chega! Chega de tanta hipocrisia, incoerência, falsa piedade, falsa integridade, exibicionismo religioso e autoglorificação humana! Não existe honra que não pertença a Deus, uma vez que a verdadeira honra vem somente Dele; logo, se nos consideramos servos Dele, viveremos sabendo que não somos nada e que Ele é tudo.


Finalmente, ao olhar para mim mesmo, posso saber que nada sou. 
O espelho que Deus põe diante de mim também me faz saber que nada posso fazer

Logo, o que resta é me render a Ele, arrependido de quase sempre viver para o meu próprio ventre ao fazer dele o meu deus, saciando meus apetites impuros e egocêntricos e, assim, me fazendo inimigo da cruz do Cristo que me resgatou. Se algum de vocês que leu esse post também se reconheceu como "dono das verdades" e das "opiniões incontestáveis", um "psicopata da autorrealização", um ativista religioso e "idólatra do próprio ministério" e, por fim, até mesmo como um "ladrão" da glória que é devida somente a Deus, arrependa-se agora mesmo - você pode ser um pastor, missionário, teólogo, filósofo, professor renomado ou mesmo alguém sem muita instrução e prestígio social. Não importa. Todos precisamos de arrependimento diário e genuíno, pois essa é a única maneira de mostrarmos (especialmente para nós mesmos) que vivemos Nele, por Ele e para Ele. Mas, claro, não é sobre "a nossa autenticidade de vida com Deus", mas sim sobre a realidade do poder da graça Dele em nós, pela qual Ele nos faz semelhantes a Si mesmo. Ele é tudo que importa. 






Pela alegria de saber que nada é sobre mim,





Soli Deo Gloria!

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