domingo, 14 de setembro de 2014

O paradoxo do meu palco...

Eis-me aqui, outra vez.

Após os megafones que soaram no post passado, desta vez eu continuarei a dar ênfase a expressões fortes e à transparência, sem máscaras - eu sei que darei a minha cara a bater e, ao fazer isso, poderei parecer um "falso humilde" ou qualquer coisa do tipo... Não me importo.  

Ora, esse blog não é uma tentativa superficial de exibir uma superioridade moral, intelectual e, obviamente (por se tratar de um blog escrito por um cristão) espiritual - é apenas um forma que encontro de mostrar que o mundo é real, que as pessoas não são "mocinhos e mocinhas de contos da fadas" ou "heróis e heroínas de filmes de Hollywood" e, sobretudo, por mostrar que somos todos miseráveis, procuro provar que há apenas Um a Quem deve ser dada toda glória


O título deste post se baseou numa frase da canção da banda de rock brasileiro Palavrantiga, onde se diz:

"Eu monto um paradoxo no palco, você anda zombando da Cruz..." [Rookmaaker - Palavrantiga] 

Paradoxo.

Segundo o Dicionário Informal online, paradoxo significa "conceito que é ou parece contrário ao comum, contrassenso, absurdo ou disparate". Em outras palavras, "paradoxo" se relaciona a incoerência, controvérsia e inconsistência - é algo que nos faz ter reações como "como assim?", "não faz o menor sentido" ou "quem diria, não é?" Em suma, o paradoxo pode nos surpreender ao nos desvendar certas coisas como elas [de fato] são ou pode nos fazer ter concepções erradas a respeito de outras coisas bem como de pessoas, visto que muitos dos paradoxos são superficiais e, portanto, não correspondem à realidade como um todo. Por outro lado, o fato é que todos nós somos, em certa medida (seja mais, seja menos), "paradoxos ambulantes" - todos temos nossas inconsistências, controvérsias, disparates e/ou (como disse em um post mais antigo) nossos "50 tons de incoerência". Eu não escapo dos paradoxos, nem você e nem ninguém. Se você acredita ser a "coerência encarnada" e tem se iludido com isso, eu sinto muito por sua ilusão. 


O "paradoxo" que cada um "monta no palco". 

Dentre os vários "paradoxos" que cada um de nós "monta nos palcos do dia-a-dia", eu gostaria de falar dos meus próprios paradoxos - sim, eu mesmo, que escrevo/falo/argumento/leio/aprendo sobre humildade e autocontrole mas destilo autossuficiência em muitas de minhas palavras e irrompo em fúria por coisas bobas, como a lentidão do computador, o leite em pó derramado ou mesmo ao ver erros nos downloads do iTunes. Sim, pessoas de personalidade ardente, pertinaz e indomável como a minha sempre são os mais controversos e, especialmente quando (por um lado) se luta contra todas essas inconsistências e (por outro) frequentemente se pratica, gente assim sempre acaba incomodando mais ou perturbando a "ordem" e, em tudo isso, causando mal a muitos ao redor ou dando a impressão de que é do tipo "duas caras". Às vezes isso faz sentido, mas muitas vezes a controvérsia não implica falsidade ou ilegitimidade - na verdade, os mais falsos normalmente parecem ser os mais coerentes ou menos paradoxais pois, como disse certo poeta, "tudo aquilo contra o que sempre lutam / é exatamente tudo aquilo que eles são"

Resumidamente, os paradoxos do meu palco me fazem lembrar de um dilema relatado por certo escritor bíblico do primeiro século, talvez um dos registros mais transparentes já escrito:

Porque eu sei que em mim, isto é, em minha carne, não habita bem algum; pois eu tenho o desejo de fazer o bem, mas não consigo realizá-lo.
Porque eu não faço o bem que quero, mas o mal que não quero esse eu faço.
Ora, se eu faço o que não quero, já não o faço eu, mas o pecado que habita em mim. 
[Epístola de Paulo aos Romanos, cap. 7, vs. 18-20]


Não há como ser mais explícito - em nossa natureza humana não há nada de bom que nos permita fazer o bem, ainda que o desejemos. Vez por outra, sempre caímos em erros e pecados recorrentes, mesmo aqueles dos quais sempre nos arrependemos e procuramos abandonar. No fim das contas, o ensino dessa passagem consiste na realidade relutante do pecado dentro de nós - no caso, daqueles que foram alcançados pela graça de Deus por meio de Jesus Cristo, mas ainda são humanos e imperfeitos - e, por isso, praticamos o mal que odiamos em vez de fazer o bem que amamos. Enfim, somos os protagonistas desse "espetáculo de contrassensos" e, a cada "palco montado" por nós, novos paradoxos são (e serão) inevitavelmente exibidos. Não tem jeito, como diz outra música: "...o bem que eu quero, esse eu não faço / o mal que não quero, persegue os meus passos..." [Meus passos - Oficina G3]. "Isso é o que somos nós" agora, mas "no desapontamento a esperança nasce" - a esperança de que Aquele que é santo e justo se manifestará e, a partir desse momento, seremos semelhantes a Ele. 

Você anda zombando da cruz.


Primeiramente, "zombadores da Cruz" [no sentido literal] existiram desde o dia em que Jesus foi crucificado, pois muitos disseram "...se Tu és o Filho de Deus, salva a Ti mesmo e a nós..." - inclusive um dos homens que foi crucificado juntamente com Ele. Em nosso contexto, os "zombadores da Cruz" podem ser tanto aqueles que ignoram tudo o que diz respeito a Cristo e ao cristianismo quanto os que até possuem certa religiosidade mas, por concepções distorcidas da totalidade da verdade, estão prontos a lançar críticas e difamações - sem contar, é claro, os que dizem seguir o Cristo crucificado e ressuscitado, mas O negam com sua conduta e caráter. Nesse sentido, recordo-me de outros escritos do mesmo Paulo:

Você, pois, que ensina a outro, não ensina a si mesmo? Você, que diz que não se deve furtar, furta?
Você, que diz que não se deve adulterar, adultera? Você, que detesta os ídolos, rouba-lhes os templos? 
Você, que se gloria na Lei, desonra a Deus pela desobediência à Lei?
Pois, como está escrito: "o nome de Deus é blasfemado entre os gentios por causa de vocês". [Romanos 2:21-24]


Pra variar, mais uma vez está mais do que claro - se falamos contra ou concordamos com certas posturas ou princípios, devemos olhar para nós mesmos antes e ver se estamos vivendo de acordo com o que defendemos, pois se "falamos uma coisa e vivemos outra", só nos resta dar razão para que o nome de Deus seja difamado. Obviamente, devido à natureza corrupta do ser humano, todos naturalmente odeiam a Deus e estão em inimizade contra Ele [e, por isso, blasfemam Dele], mas se eu me considero [mesmo que seja com toda a humildade] um discípulo fiel do Cristo, eu não tenho outra opção a não ser a coerência e a consistência - isto é, a busca pela crescente superação de todos esses paradoxos. Está na hora de sairmos da teoria da "integridade ideal" para uma busca prática da "integridade real" - sim, algumas vias serão íngremes ou sinuosas, também cairemos e/ou tropeçaremos durante o percurso, mas isso não deverá ser uma desculpa esfarrapada para sairmos do Caminho. Deus deve ser levado a sério e, se algum de nós ainda não se deu conta disso, queira o próprio Deus que possamos nos dar conta antes que seja tarde demais. 

Porém, minha preocupação com a boa conduta como resultado do estilo de vida que professo adotar não está em nada ligada à minha reputação pessoal - eu "não estou nem aí" se desaponto as expectativas de alguns que me cercam por causa de meus "instantes de ira destemperada" ou se sou criticado porque alguns confundem convicção e firmeza com arrogância [embora eu saiba de meu próprio orgulho]. Eu lamento frustrá-lo, mas não tenho qualquer compromisso em ser seu bajulador - a única causa digna que me motiva a viver de modo coerente é me "apresentar aprovado diante Dele", pois "se eu procurasse agradar a homens, eu não seria servo de Cristo"


Finalmente, acredito que minha peregrinação - particularmente, essa é a melhor palavra para definir a minha vida hoje - será como vi num trecho de um livro há alguns anos, atribuído ao nobre escritor russo Liev Leon Tolstoi - não me lembro do que li de forma literal, mas recordo que havia um bêbado que voltava para sua casa andando pelas ruas, cambaleando e às vezes tropeçando... No fim da história, o bêbado consegue chegar em casa e encontra o descanso que tanto buscava. Ou seja, todos nós [de certa maneira] somos como esse ébrio ao seguir a Cristo - deslizamos em certas fraquezas e, quando damos conta de nossos erros e pecados, nos arrependemos e mudamos de direção em busca do lugar ao qual pertencemos. Nessa jornada de retorno, podemos tropeçar e cambalear mas, se sabemos de onde viemos e temos raízes firmes nisso, um dia chegaremos em casa. Trocando em miúdos, se sabemos que somos de Deus por verdadeiramente crermos em Cristo, jamais encontraremos satisfação e descanso para a alma fora Dele. Vacilos e falhas sempre existirão, porém são os que se reconhecem incapazes em si mesmos que estão aptos a receberem a graça Dele para poder caminhar - ora, os "donos da boa moral" e adeptos da "política da boa vizinhança" já se acham agraciados demais; Deus me livre de ser como eles.


E você? Quais são os paradoxos que você exibe nos seus palcos?
Você tem sido um "zombador da cruz" ou tem se dobrado diante Daquele que morreu nela para salvar pecadores como eu e você?





Pela esperança de que Nele os meus "paradoxos" terão fim,





Soli Deo Gloria!

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