sexta-feira, 23 de maio de 2014

Soli Ecclesia Gloria?

Demorei um pouco menos, mas voltei.

Mas não pense que a indignação se apaziguou - na verdade, eu não tenho mais esperança de que, finalmente, não terei mais motivos para me revoltar. Depois dos "50 tons de incoerência" da semana passada, vamos aos novos turbilhões que precisam sair pelas comportas abertas de minha mente. Enfim, que a serenidade coexista com o zelo pela verdade. 


O tema de hoje é uma adaptação de um dos 5 lemas que nortearam/caracterizam o pensamento cristão formado na época da Reforma Protestante, cuja versão original dá título a este blog - o que chamamos "Soli Deo Gloria", que traduzido é "somente a Deus seja a glória". 

Mas não é essa a realidade regente da vida humana. 

Em suma, tudo o que os homens mais ignoram é a glória de Deus e o que mais odeiam é lidar com o fato de que a glória pertence apenas a Ele. E, pra variar, mais uma vez o meu foco nesta postagem é denunciar que, onde se deveria buscar enaltecer a glória de Deus com todo o zelo, amor e alegria, muitas vezes, é onde esta glória é mais negada ou mesmo substituída por outras "falsas glórias". Bem, hoje eu quero denunciar o "Soli Ecclesia Gloria" - o que seria, resumidamente, "somente à igreja seja a glória". 


Primeiramente, quero esclarecer algo: eu acredito na igreja como instituição estabelecida por Jesus Cristo, o Filho de Deus, e também como um organismo vivo, pelo qual Deus e o Seu reino se manifestam no mundo.  

A Bíblia diz que a Igreja é Dele e que Ele mesmo a edificaria, que é por meio da Igreja (como comunidade dos seguidores de Jesus) que a multiforme sabedoria de Deus é tornada conhecida e que ela é a coluna e baluarte da verdade. Eu amo a Igreja de Jesus Cristo. Ela é descrita como a noiva imaculada do Filho de Deus, aquela que Ele mesmo comprou pelo Seu sangue e a purificou por meio da Sua Palavra. Logo, se eu não amo o que Ele mesmo estabeleceu, eu não posso me considerar um seguidor verdadeiro Dele. 

Por outro lado, devido às próprias contradições humanas (as quais também resultam, em certa medida, da nossa condição caída e corrupta devido ao pecado), existem várias "igrejas", "denominações", "religiões" e "seitas". Tem para todos os gostos: carismáticas, tradicionais, independentes, reformadas, pentecostais, neopentecostais, hexacostais (the zwera never ends), sociedades secretas, naturalistas, liberais etc. Talvez você possa até inventar a sua própria "igreja"! Mas, apesar das minhas ironias, o que tem me indignado é ver que, em nome de um "pretenso zelo" por doutrinas e correntes teológicas, temos pisado em verdades profundas que as próprias Escrituras (que julgamos, por certo, estar obedecendo) nos mostram claramente. Como diz certo poeta, "a morte se esconde atrás dos templos". 


A denúncia deste post se baseia nas afirmações feitas pelo Apóstolo Paulo, assim registradas nos escritos do Novo Testamento:

Mas Deus estruturou o corpo dando maior honra aos membros que dela tinham falta, a fim de que não haja divisão no corpo, mas, sim, que todos os membros tenham igual cuidado uns pelos outros. [...]
Ora, vocês são o corpo de Cristo, e cada um de vocês, individualmente, é membro desse corpo. [1 Coríntios 12:24-25, 27]

O conhecimento traz orgulho, mas o amor edifica.
Quem pensa conhecer alguma coisa, ainda não conhece como deveria. Mas, se alguém ama a Deus, este é conhecido por Ele. [1 Coríntios 8:1-3]

Por isso, pela graça que me foi dada digo a todos vocês: ninguém tenha de si mesmo um conceito mais elevado do que deve ter; mas, ao contrário, tenha um conceito equilibrado, de acordo com a medida da fé que Deus lhe concedeu. [Romanos 12:3]


Paulo, nos outros versículos presentes nos textos mencionados, mostra que, assim como num corpo há muitos membros, os quais são diferentes entre si, assim é com respeito a Cristo e ao Seu corpo, à Igreja. Essa babaquice de "uniformidade", onde todos devem ser "iguais a todo mundo", onde se "é proibido pensar", em que reina a "espiritualidade Gabriela" e todos são forçados a ser "Maria vai com as outras" não é o modelo bíblico de Igreja. Obviamente, o fundamento deve ser apenas um, e este já está estabelecido - Jesus Cristo. No entanto, é exatamente pelo fato do fundamento ser Cristo (o Deus de toda a graça, da graça multiforme) que devemos reconhecer que haverá diversidade entre os que seguem a EleSim, Cristo não está onde há desvio da verdade e negação das Escrituras, contudo a mensagem dada aqui é para que todos tenham IGUAL cuidado uns dos outros, que não haja divisão no corpo, que cada um não se considere superior ao seu próximo e que Deus conhece os que O amam, e não os que julgam saber demais sobre Ele. 

O maior mandamento sempre será o "amar a Deus" e não simplesmente o "saber coisas sobre Ele". Quando eu conheço sobre Deus e não passo a amá-Lo de todo o coração, alma, entendimento e forças, o meu conhecimento não me diferencia em nada de um demônio, pois "até os demônios creem que há um só Deus, e estremecem".


Glória seja dada à igreja... À minha, de preferência. 

Nunca se viu tantas "guerras frias religiosas" como nos dias atuais, particularmente entre os arraiais "cristãos". Católicos tradicionais x católicos carismáticos, fundamentalistas x liberais, reformados x neopentecostais - sim, hoje tem guerra e amanhã também! - configuram disputas acirradas por influência, por "autolegitimação" ou tão-somente para não perderem "debates". Sabe de uma, eu estou cansado dessas coisas! Sim, embora eu ame a teologia reformada e tenha críticas severas e implacáveis contra certos aspectos do liberalismo e do neopentecostalismo, o fato de eu julgar mais coerência em uma determinada corrente teológica não me dá o direito de buscar "ter a razão" quanto a todo e qualquer aspecto da vida, pois as "teologias" são também construções humanas e, por isso, são imperfeitas [por mais que algumas sejam esdrúxulas e outras sejam inspiradoras]. 

Minha esperança está no que o mesmo Paulo diz: quando vier o que é perfeito, então o que o é em parte será aniquilado. Chegará o dia em que nossas "percepções parciais" sobre Deus e tudo o que diz repeito a Ele serão extintas. Não haverá mais "denominações" ou "segmentos", "teologias históricas" ou "teologias modernas" - todas essas construções intelectuais serão desnecessárias e vãs, pois o Deus verdadeiro, a quem devemos tudo o que temos e somos, Aquele em quem vivemos, nos movemos e existimos, para Quem são todas as coisas e por Quem todas elas vieram a existir, se mostrará plenamente glorioso e belo para aqueles a quem Ele resgatou para Si mesmo. Ele será o bastante. 


Mas, por enquanto, o "narcisismo teológico" vigora. Infelizmente.

Ultimamente, estamos nos tornando cada vez mais idólatras disfarçados - seja pela veneração cega e estúpida para com os "falsos ungidos do Senhor" com suas "patriarcagens apostólicas", seja pelo apego inquestionável a teologias humanas (ainda que muito valiosas, mas ainda humanas e incompletas). Eu não quero ser um "narcisista teológico" com aparência de piedoso e zeloso (Deus me livre disso), pois Cristo não me dá nenhuma autorização para ser alguma coisa além de Seu discípulo, Seu escravo, Seu imitador. Logo, como discípulo, escravo e imitador Dele, devo dizer o que Ele disse e fazer o que Ele fez - isto é, anunciar a Boa Nova do Reino de Deus, (ou Reinado de Deus, que consiste em justiça, paz e alegria) por meio do convite ao arrependimento dos pecados e à fé Nele, assim como ser sal da terra e luz do mundo, de modo que os que vêem as boas obras que Ele me concede realizar glorifiquem a Ele. 

Finalmente, reafirmo o que disse Abraham Kuyper: "Não há nenhum centímetro quadrado no universo, em todos os domínios de nossa existência, sobre os quais Cristo, que é soberano sobre tudo, não clame: é Meu". Ora, se Ele é o Senhor de cada centímetro quadrado do Universo, todas as coisas criadas (a começar de mim) devem expressar (e expressam desde já) a Sua glória e majestade, exibindo para quem quiser ver que, mais valioso do que elas mesmas, é o Seu Criador. A vida cotidiana, a sociedade, o trabalho, a cultura, a religião, a ciência, a educação, os esportes, a arte, a família - tudo foi feito para Ele, Nele e por meio Dele. Não há como seguir a Cristo sem ser inteiro, integral ou completo, pois "Nele habita corporalmente toda a plenitude da Divindade e, por estarem Nele, que é o Cabeça de todo poder e autoridade, vocês receberam a plenitude". Se Cristo é "tudo em todos", eu só posso ter vida se tudo em mim for para Ele. Mais do que mero conhecimento sobre Ele, eu quero conhecer a Ele, pois conhecê-Lo é a própria vida - e vida eterna. 



E você? 
Quer se contentar com um conhecimento inchado de Deus (o que coloca você no mesmo patamar de um demônio) ou quer conhecer a Ele a fim de amá-Lo e segui-Lo?





Pela alegria de poder amá-Lo e ser conhecido Dele,




Soli Deo Gloria!

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