sábado, 31 de maio de 2014

Ser ou não ser... eis a questão?

Maio já está no final. E eu estou de volta. 

Enquanto todo o mundo (de certa maneira) espera pelo início do maior evento esportivo do futebol - a Copa do Mundo, que começa daqui a duas semanas em São Paulo, com a estreia da Seleção Brasileira na Arena Corinthians - , eu continuo tendo um ou outro "insight" aqui e ali. E, como sempre, eu preciso colocar pra fora.


Ser ou não ser.

Essa era a "questão" célebre da obra "Hamlet", escrita pelo ilustre escritor William Shakespeare. Embora eu não recorde detalhes, acredito que o paradoxo "ser ou não ser" inquieta o ser humano desde tempos remotos da história. De fato, mesmo que os últimos tempos estejam sendo caracterizados pelo "ter ou não ter, eis a questão", no fim das contas a busca (ou anseio) primordial de cada ser humano está mais ligada à sua essência do que a qualquer outra coisa. 

Ser... Mas ser o quê? Quem?


Primeiramente, todos nós já somos alguma coisa - ora, já nascemos e estamos aqui. Cada um tem um nome, um tipo físico, uma família, gostos pessoais, habilidades, desejos, defeitos, frustrações, crenças e princípios. Mesmo que, neste sentido, todos nós já "sejamos" algo, a insegurança pessoal ou mesmo a crise de identidade continua sendo a "trademark" do século. Somos eternos insatisfeitos - mudamos a aparência, mudamos de emprego, mudamos de universidade ou de curso superior, mudamos de escola, terminamos e começamos novos relacionamentos, mudamos os nossos amigos, mudamos de igreja ou de religião e, ironicamente, nada muda debaixo do sol. Sempre estamos à procura de novidades que possam nos dar essa "convicção de identidade" mas, obviamente, não resolvemos o problema. Permanecemos descontentes com tudo e todos pois, não percebemos que em vez de irmos atrás de coisas que nos ajudem a "ser", devemos estar seguros de quem já somos para priorizarmos as coisas certas. 

Não ser... Não ser?


"Não" é uma palavra incômoda. Só usamos o "não" quando nos é conveniente. Por exemplo, não gostamos de ser incomodados quando estamos sozinhos em casa tranquilos, não queremos tirar notas ruins nas atividades da escola ou faculdade ou não queremos namorar alguém que nos confronte quanto a nossos defeitos - porém, nem todos os "nãos" são apreciáveis a nossos olhos. Cada "não" que ouvimos de nossos pais quando éramos crianças, o "não" daquela pessoa que despertou seu interesse, o "não" ser aprovado no vestibular desejado - isto é, os "nãos" podem ter causado muitas lágrimas a cada um de nós, mas todos eles são necessários. Em suma, a ilustre questão de Hamlet - "be or not to be" - me faz pensar que a nossa mais profunda necessidade é saber quem de fato somos (logo, quem também não somos) para saber o que precisamos ser (portanto, o que precisamos "não ser"). 

Quanto a isso, queria mencionar um trecho curto de uma passagem bíblica, onde se lê:

"Pela graça de Deus, sou o que sou..." [1 epístola aos Coríntios, cap. 15, vs. 10a]


O escritor bíblico afirma, de maneira indubitável, que o que ele é vem da graça de Deus. Ele fala de todo o seu trabalho e, mesmo assim, se considerava o menos importante dentre todos os que trabalhavam na mesma missão que ele, declarando que tudo o que ele fez foi resultado da graça de Deus nele. Ou seja, se consideramos as Escrituras como verdadeiras ou divinamente inspiradas, não há meio-termo ou segunda opção - não somos nada e, se somos alguma coisa (seja lá o que for), é pela graça de Deus. Não há qualquer margem para vanglória, autopromoção ou autoengrandecimento; o homem é nada e Deus é tudo. Eu não sou nada e, caso eu seja alguma coisa, isso é dom, dádiva, pura graça da parte de um Deus que faz tudo livremente sem compromisso com nada ou com ninguém, a não ser com Sua própria glória e conforme Sua vontade. 


Além disso, Hamlet me fez lembrar de uma canção recente de uma de minhas bandas de rock favoritas, que diz:

Por que quero e tento ser o que não sou
Se Aquele que é abriu mão de "ser" e se fez o menor? [Não ser - Oficina G3]

O poeta questiona a si mesmo sobre a ávida e desenfreada busca do homem por "máscaras" de grandeza e de glamour [tentar ser o que não se é] em contraste com a atitude do próprio Jesus Cristo que, quando esteve neste mundo, "não se apegou ao fato de ser Deus mesmo sendo Deus, esvaziando-se e assumindo a forma de homem, humilhando-se à forma de escravo e sendo obediente até a morte, e morte de cruz". Não importa o ambiente - religioso ou não, moralista ou não, politicamente correto ou não -, todos nós somos seduzidos por "parecer" o que não somos na realidade, pois isso impressiona os outros e infla o nosso orgulho. Amamos nos exibir em nossa "espiritualidade artificial e fajuta", somos sempre prontos a negar a corrupção furiosa de nosso coração mas, do outro lado, está Cristo - sim, o Verbo que é Deus, por meio de Quem o universo foi feito, em Quem tudo se sustenta e para Quem tudo foi criado está ali, humilde e manso, chamando os pecadores (religiosos ou não) para renunciarem a si mesmos e à própria vaidade para aprenderem Dele. Logo, por querer e tentar muitas vezes ser o que não sou, devo me arrepender e, então, abrir mão de "ser alguma coisa" para "ser", dessa maneira, mais parecido com Aquele que é. 


Então... Qual é a questão?
   
A questão primordial não consiste no que "eu sou" ou "não sou" nem mesmo se eu devo "ser" ou "não ser". Antes de tudo, Deus é - independentemente do que eu pense sobre Ele ou mesmo se eu nem pensar Nele, Ele continua sendo. Certos poetas gregos da Antiguidade diziam que "somos descendência Dele" e que, por isso, vivemos e nos movemos Nele. Na verdade, a humanidade está em busca da coisa errada - todos querem se promover ou se engrandecer, querem montar altares para si mesmos (ou palcos, em alguns casos) para serem adorados [inclusive aqueles que dizem ser "servos" de Jesus Cristo] e vivem para a própria fama

No entanto, se nenhum de nós é Deus (ou melhor, se Ele é totalmente distinto de nós, separado, elevado e incomparável), o que devemos fazer é promover a "fama" Dele ou viver para o "renome" Dele, pois está escrito que "em Teu nome e em Tua memória está o desejo de nossa alma, pois esperamos em Ti ao andar pelo caminho dos Teus juízos". Eu não preciso ser quem eu não sou e nem preciso deixar de ser o que já sou por causa dos outros nem por causa de mim mesmo - eu preciso tão-somente que a graça de Deus, pela qual já sou o que sou, faça com que eu seja mais semelhante a Ele. Ao invés de viver na crise de "querer parecer" ou ainda de "tentar ser" o que os outros esperam que eu seja, eu vou "procurar a Paz que não se encontra em mim" , pois a plenitude de vida "não se pode achar em alguém como eu". 


Quem você é (ou não é)? Quem você tem buscado ser (ou não ser)? 
Você já entendeu que a questão é que Ele é tudo e você não é nada? 





Pela alegria de ser tudo o que preciso ser Nele,




Soli Deo Gloria!

Um comentário:

  1. Nós, humanos, e nossa constante tentativa de parecer ser com o fim de sermos admirados, aceitos ou até mesmo para nos convencermos de que somos melhores do que nos vemos. Bendito é o Eterno, Deus dos Céus, que nos vê hoje, pecadores, como se já estivéssemos revestidos da nossa verdadeira habitação!!

    Amei esse texto!! Pessoalmente confrontador.

    Deus te abençoe mais, Dedé!

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