quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Neutralidade, originalidade e outras vaidades...

Estou novamente aqui - após dois meses.

Sim, este blog ainda existe - e o meu desejo é que as palavras nele registradas façam jus a essa existência. No mais, enquanto estive ausente, não me ocorreram muitos momentos de inspiração [por assim dizer], porém acredito que, a partir de certos insights pontuais ocorridos, será possível fazer algo que valha o investimento. 

Sem mais atrasos, vamos adiante.

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Este texto será baseado em um pequeno conjunto de idéias relacionadas aos conceitos de neutralidade, originalidade e vaidade, de forma que, inicialmente, os termos serão brevemente apresentados com algumas aplicações subseqüentes de cada um deles e, finalmente, pretendo expor a relação que há entre ambos - espero ter sucesso, afinal.

Neutralidade.

Neutralidade é o substantivo relacionado ao adjetivo "neutro" [ou, na linguagem clássica, é o designativo de substância da palavra atributiva "neutro"], significando basicamente a condição daquele que permanece imparcial ou mesmo "objetividade". Na prática, a neutralidade se manifesta em situações tais como um julgamento de um réu [nesse caso, o juiz deve ser "imparcial" ou "neutro", de modo que deve emitir o seu veredicto sem privilegiar qualquer uma das partes envolvidas], na arbitragem de um jogo de futebol [caso, de certa maneira, análogo ao anterior, visto que o árbitro não pode demonstrar acepção para com um dos times] bem como, por exemplo, numa situação de conflito entre países [a exemplo da Segunda Guerra Mundial, quando os chamados "Aliados" lutaram contra o "Eixo" e países como a Suíça permaneceram "neutros"]. 

Por outro lado, em nossos dias [possivelmente como "nunca antes na história deste país - e do mundo!", parafraseando o demônio Nove Dedos], a neutralidade é alardeada como uma virtude supostamente inquestionável e concretamente possível. Isto é, proclama-se nos textões das redes sociais, em jornais e revistas, nos canais do Youtube, nas salas de aula [ou que, pelo menos, deveriam sê-lo] ou em qualquer outro lugar, em alta voz, abertamente ou nas entrelinhas, que os conceitos que constituem o "novo senso comum" [em outros termos, o "politicamente correto"] são simplesmente "obviedades racionais", sendo auto-justificados automaticamente e imunes a qualquer questionamento ou oposição, uma vez que seus paladinos [assim como os que são influenciados por eles] se dizem "representantes do povo", "defensores das minorias oprimidas", "guardiães do meio ambiente", "protetores dos animais", "a favor dos trabalhadores", "guerreiros da justiça social" e demais títulos genéricos e inócuos que buscam denotar uma falsa "neutralidade", cujo pressuposto é que só é possível existir verdade e bondade onde todos são "neutros". Ou seja, se alguém pertence a um/ou é incluído num determinado segmento social, político, cultural ou religioso [ou seja, se, e somente se for um branco, de descendência européia ou da América do Norte e rico, conservador ou mais alinhado à direita, ocidental e cristão/judeu ortodoxo e praticante], eis então um representante do mal, um sustentador do sistema selvagem, promotor da injustiça social, supremacista racial e ameaça para o progresso do mundo! Ora, ser "neutro é cool" e se aferrar a prerrogativas e a valores retrógrados e obsoletos é coisa de fascista

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Desse modo, resumidamente, a existência de algum pressuposto [qualquer que seja] já implica a ausência de neutralidade, de modo que esta, categoricamente, não é nada além de um mito [no sentido de ilusão, falácia ou fábula]. Aceite isto. 

Originalidade.

Se você, porventura, está lendo esse texto e possui uma boa memória para comerciais de TV, deve se lembrar de uma época em que o Guaraná Antarctica usava o slogan "seja original" ou ainda "o original do Brasil", cuja intenção era convencer o cliente a comprar o produto ofertado por meio do apelo à "originalidade", o que é normalmente atraente às pessoas, já que, à semelhança dos atenienses e freqüentadores do Areópago da época do apóstolo Paulo, a maioria de nós continua "não se ocupando de outra coisa a não ser de saber as últimas novidades". Isto posto, poderíamos conceituar originalidade como o "designativo de substância do atributivo original" ou "o substantivo associado ao adjetivo original", cujo significado é "qualidade do que é inusitado, do que ainda não foi imaginado, inovação, singularidade" ou ainda "capacidade de expressão independente e individual", normalmente relacionado à habilidade criativa. Se pensarmos bem nas palavras presentes nos enunciados acima, a originalidade se revelará algo bastante ousado ou audacioso - ora, singularidade, capacidade de se expressar de maneira independente e imaginação inovadora são características um tanto atrevidas, pois supõem que o possuidor dessa "originalidade" é alguém "diferente das pessoas ou criaturas comuns", "independente de influências externas" e até mesmo um tipo de "criador ex nihilo" - atributos normalmente associados à realidade transcendente ou diretamente a Deus. Ou seja, a não ser que Deus ou qualquer idéia análoga a Ele seja um completo "delírio", a originalidade é, no mínimo, uma cogitação humana assaz pretensiosa

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Em contrapartida, será mesmo que a originalidade existe? 

Será que é possível ser "totalmente inovador" em algum empreendimento, "inteiramente independente" de fatores externos e "exaustivamente singular" enquanto ser humano?

De fato, cada ser humano é, de certo modo, único [pois cada um possui em sua personalidade, aparência, maneira de pensar e modus vivendi atributos/características próprias que o distinguem de todos os demais], no entanto existem muito mais coisas que são partilhadas por todos os seres humanos, sem exceção - todos pertencem à mesma espécie [embora alguns já acreditem ser cavalos ou um gatinho siamês], todos se enquadram nos sexos masculino ou feminino [ideologia de gênero e demais "desconstruções revolucionárias" são uma babaquice cretina - o que você sente a respeito não tem importância alguma, mas apenas a realidade], todos precisam dos mesmos alimentos para sobreviver, apesar dos diferentes gostos culinários e variedades culinárias culturais [quem sobrevive de cenoura e de espinafre são os coelhos e o Popeye, respectivamente - embora eu, particularmente, também goste de legumes e verduras], todos são vulneráveis ao calor e ao frio extremos [não viaje pelo deserto sem muito suprimento de água, pois você não vai se transformar num cacto por se sentir como se fosse um ou, ainda, não visite os Alpes italianos sem estar bem agasalhado, já que também você não é um urso] e, derradeiramente, todos possuem os mesmos questionamentos e inquietações em relação à vida cotidiana, ao que virá no futuro, à descoberta e ao conhecimento do que é a verdade e, desse modo, do propósito das coisas e do que há depois da morte. Ninguém escapa de nenhum desses dilemas, por mais que muitos neguem a relevância deles a todo custo e com toda a veemência. Mais cedo ou mais tarde, você terá que lidar com isso, por bem ou por mal, para bem ou para mal, inevitavelmente. Trocando em miúdos, a originalidade total e absoluta também é uma ilusão, um factóide, nada mais do que um belo sofisma. 

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Vaidade.

Sendo mais direto, vaidade é uma palavra normalmente associada ao cuidado exagerado com a aparência e a beleza estética, todavia este não é o sentido mais acurado da palavra, pois "vaidade" é um termo diretamente relacionado a "vazio", "vácuo" ou "inutilidade", de forma que quando o antigo sábio afirmou "...vaidade de vaidades, vaidade de vaidades! Diz o pregador, tudo é vaidade..." [Eclesiastes 1, vs. 2], ele quis dizer [sob inspiração divina particular] que, no fim das contas, todas as coisas da nossa realidade temporal, visível, tangível, possíveis de serem experimentadas, mensuradas, calculadas e provadas pelos sentidos são restritas ao tempo que passarmos vivos neste planeta e completamente sem nenhum valor permanente - por isso, todas elas são "vãs", "inúteis", corruptíveis ou, na figura usada por ele mesmo, são como "correr atrás do vento". Considerando-se somente um exemplo, uma grande evidência da validade dessa sabedoria é que não houve ninguém, por mais bem-sucedido e próspero que houvesse sido, que levou consigo para o túmulo seu renome, seus grandes feitos e suas riquezas adquiridas em vida, pois tudo ficou para os que ficaram vivos depois dele ou se tornou apenas uma lembrança imprecisa, conforme está escrito:

"...Um homem pode realizar o seu trabalho com sabedoria, conhecimento e habilidade, mas terá que deixar tudo o que possui para alguém que não se esforçou por aquilo. [...]
Que proveito tem um homem de todo o esforço e de toda a ansiedade com que trabalha debaixo do sol? 
Durante toda a sua vida, seu trabalho é pura dor e tristeza; mesmo à noite, sua mente não descansa..." [Eclesiastes 2, vs. 21-23]

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Dessa maneira, tendo como base o que já foi exposto, há alguma relação entre os três conceitos rapidamente explanados ou, em outras palavras, será que as famigeradas neutralidade e originalidade "pós-modernas" são inúteis, vazias e vãs? Isto é, elas não passam de vaidades da imaginação humana?

No tocante à neutralidade, abordou-se sucintamente que todos os seres humanos, sem qualquer exceção, vivem com base em pressupostos [ainda que não tenham consciência plena disso ou o queiram negar], de forma que a neutralidade é uma auto-contradição. Além disso, com base no fato de que os já citados "paladinos da neutralidade", em sua prática distintiva [vulgo, em sua militância], são intencionalmente parciais e sectários [uma vez que dividem "todos em nome da união de todos"], cujo sentimento faccioso vem tornando a todos cada vez mais separados uns dos outros, promovendo toda modalidade de "ódio" contra os seus "inimigos políticos e culturais" enquanto vomitam seu veneno ao esbravejarem contra os "discursos de ódio", construindo a própria supremacia ao mesmo tempo que caricaturam o espantalho da "supremacia branca" e outras ações afins, pode-se concluir, inequivocamente, que a neutralidade [em qualquer esfera da vida] é impossível, seja aquela dos referidos "paladinos", seja dos demais

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Contudo, a neutralidade mais enganosa e perigosa, a qual é, coincidentemente, a mais popular entre os seres humanos, é aquela em relação ao mal moral e, em última instância, em relação a Deus - i.e, todos se acham bons em si mesmos ou, no mínimo, neutros em relação a uma maldade intrínseca [essa história de "pecado original" ou de que "eu sou mau por natureza" por causa de uma mulher que comeu um fruto após uma artimanha de uma "cobra falante" é uma piada para alienar idiotas, não é?... eu acredito na ciência!], mas a verdade é que "...não há um justo só na terra, ninguém que só pratique o bem e nunca peque..." [Eclesiastes 7, vs. 20] e que "...da mesma forma que o pecado entrou no mundo por um homem, e pelo pecado a morte, assim também a morte veio a todos os homens, porque todos pecaram..." [Romanos 5, vs. 12]. Nenhum de nós é neutro em relação ao mal e a Deus - todos pecaram, não há nenhum justo dentre os homens na terra [inclusive eu, inclusive você], de modo que a doutrina do "pecado original" é aquela que é provada como verdadeira todos os dias, pois todos os dias pessoas estão morrendo. Portanto, já que não há neutralidade quanto a Deus, existem apenas duas opções: permanecer sob a condenação divina pela falta de fé em Jesus Cristo [ver João 3, vs. 36], ou ser feito filho de Deus, na medida em que Ele adota, como um Pai amoroso, aos que confessam Seu Filho como Salvador e Senhor [ver João 1, vs. 12 e Efésios 1, vs. 4-5]. Não acredite que eu escrevo essas coisas como se fossem apenas "mais uma perspectiva sobre a vida dentre tantas outras igualmente válidas" - a Palavra de Deus não pode ser tratada como uma "opção dentre várias opções", mas como a "verdade verdadeira", como dizia  Francis Schaeffer. 

E a originalidade?

Nesse sentido, além do que já foi discutido, vale mencionar outras palavras do mesmo sábio, onde se pode ler:

"...Todas as coisas trazem canseira, e o homem não é capaz de descrevê-las; os olhos não se fartam de ver, nem os ouvidos de ouvir.
O que foi, isso é o que há de ser; e o que se fez, isso se tornará a fazer; de modo que não há nada de novo debaixo do sol. 
Haverá algo de que se possa dizer: "vê, isso é novo?" Não! Já existiu há muito tempo, bem antes de nossa época..." [Eclesiastes 1, vs. 8-10 NVI]

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Se um dia você acreditou [como eu acreditei também] ou, talvez, ainda acredita na idéia de que existem "pessoas originais" ou na possibilidade da "originalidade", você está enganado - na vida humana, não é possível atingir um patamar de originalidade absoluta. Por mais inovador que um ser humano possa ser, ou por mais que muitas coisas dos dias hodiernos sejam bastante típicas, sempre haverá um percentual de repetição em tudo aquilo que se faz, que se projeta, que se diz, que se pensa, que se sente, que se cogita ou que se deseja. O ser humano só pode assimilar a realidade por meio de imitação [nesse caso, é necessário uma mediação externa bem como o contato com o mundo externo a si, de maneira que uma "capacidade de expressão independente" não faz sentido algum] e só pode conservar o que apreende da realidade a partir de símbolos [linguagem e língua, conhecimento científico e artístico, valores culturais, religião etc.] que podem ser usados para descrever ou interpretarem a realidade. No entanto, mais importante do que esses pequenos arrazoados filosóficos, é o fato de que, em última análise e sobre qualquer parâmetro, o ser humano só pode conhecer "qualquer coisa de qualquer coisa" por revelação divina, como está escrito:

Pois o que de Deus se pode conhecer neles se manifesta, porque Deus lho manifestou. [Romanos 1, vs, 19]

Isto é, se Deus não possibilitasse ao ser humano a capacidade de conhecer [de forma que o conhecimento daí decorrente não fosse somente possível, mas também verdadeiro e sem equívocos] assim como a possibilidade de que o homem O conhecesse, este não seria em nada diferente de qualquer criatura sem consciência de si ou mesmo seria como uma porta - i.e., em termos técnicos, o que se chama de "epistemologia monergística" [o termo "monergístico" significa, grosso modo, "trabalho de um único"] diz que ninguém conhece nada sobre coisa alguma [muito menos conhece a Deus] a não ser que Ele mesmo assim o queira, até porque Jesus Cristo afirmou explicitamente que "...ninguém conhece o Pai senão o Filho, e aqueles a quem o Filho o quiser revelar..." [Mateus 11, vs. 27]. Em suma, visto que todos nós dependemos de Deus para conhecer e, assim, para produzir coisas a partir desse conhecimento, somente Deus é "original", pois somente Ele é único e singular em seus atributos [mesmo que alguns desses atributos sejam "comunicáveis", em Deus todos estes são também singulares], somente Ele é independente de qualquer fator externo ou auto-existente e somente Ele criou [e ainda pode fazê-lo] coisas "ex nihilo", sem precisar de nada "pré-existente" para isso, pois uma das promessas do Apocalipse é a de que Ele "...fará novas todas as coisas..." [Apocalipse 21, vs. 5]

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Finalmente, sabendo-se que todo homem é, por natureza, pecador diante de Deus e, por isso, está sob seu juízo [ora, Deus é um ser santo e bondoso e só tolera o mal pela Sua longanimidade, não por conivência] e também que ninguém pode conhecê-Lo sem que haja a intervenção direta de Jesus Cristo como aquele que nos mostra o Deus Pai, não existe neutralidade em relação à verdade quanto àqueles dilemas supracitados - ou nos aproximamos de Deus em arrependimento e fé por meio de Jesus Cristo [o único por meio de quem se pode vir ao Pai] ou, no final de tudo, nos encontraremos com Deus Juiz, que será implacável em sua sentença, não tendo misericórdia de ninguém que desprezou o Seu Filho contumaz e insistentemente. Não existem "caminhos inovadores" ou "novas possibilidades", nem mesmo "religiões modernas originais" que venham superar ou sepultar o "retrógrado cristianismo". Queiramos nós ou não, queria você ou não, gostemos nós ou não, goste você ou não, Deus é real, o pecado atingiu toda a humanidade, todos são igualmente culpados aos olhos de Deus, todos merecem o inferno [começando por mim] mas, contra tudo isso, Deus garantiu um escape permanente para qualquer pessoa que queira vir a Ele - ou seja, Cristo, conforme as sublimes palavras de Charles H. Spurgeon:

"Nada trago em minhas mãos,
Simplesmente me apego à Tua cruz;
Venho nu a Ti, para vestir-me,
Indefeso, busco a graça em Ti!
Sujo, eu corro até a Tua fonte;
Lava-me, Salvador, ou morro!"

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Até quando iremos continuar nos iludindo em nossas vãs imaginações e em nossa suposta "neutralidade" quanto a nós mesmos e no tocante a Deus?

Permaneceremos criar nossos próprios "atalhos" para solucionar nossas inquietudes [ora, seja original!] e ignorar o Único Caminho, sem rogar pela Vida?

Talvez esse texto tenha algum efeito em algum leitor mas, se isso ocorrer, que seja unicamente para que Deus tenha a primazia, como acertadamente disse João Calvino: "...para nós, só a glória de Deus é legítima; fora de Deus só há mera vaidade...".





Pela certeza de que, nEle, tudo é plenitude,




Soli Deo Gloria!

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