quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Quais são as suas lentes?

Estive longe por quase três semanas, mas retornei.

Depois de dias inesquecíveis em terras pernambucanas, aprendendo sobre ir à luta e sobre sair do comodismo para se colocar na linha de frente bem como me divertindo com os velhos amigos e conhecendo novos lugares, voltei pra minha rotina de estudante. Porém, no último fim de semana, fiz outra pequena viagem para um acampamento de estudantes e, como sempre, novos amigos surgiram, além de muito aprendizado sobre a vida e a certeza de que estava no lugar certo. 

Bem, é hora de ir em frente.  


Sendo bem direto, o que tem sido objeto de minhas reflexões desde a viagem à Recife até agora pode ser bem resumido pelo título deste post. De modo mais claro, quais são as nossas lentes? Através de qual prisma/meio/perspectiva enxergamos o mundo e a nós mesmos? O que norteia nossas afeições, sentimentos, pensamentos, mentalidade e atitudes? Em um mundo onde (provavelmente) o principal problema é a crise de autoidentidade - nós não sabemos quem nós somos e, por isso, não sabemos o que fazer da vida nem como lidar com o que está a nosso redor - , acabamos "deixando a vida nos levar aonde ela quiser" e, depois que já estamos praticamente arruinados, "botamos a culpa no destino", como se não fôssemos [de certa maneira] responsáveis por nossos atos... Somos especialistas em escapismo mas, a qualquer hora, isso não vai dar certo. 

Lentes... elas nos dizem muita coisa.


Primeiramente, para aqueles que usam óculos devido a algum problema de visão, as lentes são adaptadas ao tipo de defeito que precisa ser corrigido (astigmatismo, hipermetropia, miopia etc.). Por outro lado, quando saímos para a praia num dia ensolarado ou para outro passeio qualquer e usamos nossos óculos de sol, as lentes nos fazem enxergar a paisagem ao redor com cores diferentes das reais - isto é, a depender das lentes pelas quais olhamos para o que está diante de nós, isso se nos apresentará de uma maneira específica. O filósofo iluminista alemão Immanuel Kant dizia que "os homens olham para o mundo através de lentes..." - ou seja, cada um tem suas próprias lentes e por elas observa o mundo e, com base no que vê, estabelece para si o que vai constituir a sua mentalidade e nortear a sua conduta. Além disso, Jesus Cristo também disse que "a lâmpada do corpo são os olhos" de forma que, a depender do fato de nossos olhos serem bons ou maus, nossos corpos serão iluminados ou estarão em trevas. 

Mas a questão que quero levantar aqui é mais profunda.


Não é apenas a maneira de ver as coisas - é se conseguimos enxergar "além do que os olhos podem ver"... Entende?

Mas você pode me dizer: isso não é um paradoxo? Sim, é. Na verdade, eu até gosto de certos paradoxos. Então... como ver "além do que se pode ver"? 

Particularmente, acredito que a melhor resposta para essa pergunta foi dada pelo escritor bíblico da 2ª carta aos cristãos da cidade de Corinto, onde se lê:

"Por isso não desanimamos; pois, ainda que exteriormente estejamos a nos desgastar, interiormente estamos sendo renovados dia após dia... Pois a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós um eterno peso de glória acima de toda comparação... Assim, fixamos os olhos, não naquilo que se vê, mas naquilo que não se vê; porque o que se vê é transitório, mas o que não se vê é eterno..." 
[II Coríntios 4:16-18]


Considerando o que o texto bíblico diz, estamos meio que entregues ao desgaste e à corrupção no que se refere às aparências. Pensando bem, o mesmo escritor diz em outra carta enviada aos cristãos de Corinto que "devemos usar das coisas do mundo como se elas não existissem, porque a aparência desse mundo passa...". A realidade de que a nossa vida é frágil e efêmera perturba a qualquer um de nossa geração atual, mas a verdade é essa. Como dizia certo poeta que sofreu na pele com uma vida breve, "tudo passa, tudo passará...". Eu. Você. Nosso dinheiro, nosso saber, família e bens. Tudo.  

No entanto, o mesmo texto acima diz que, interiormente, apesar da destruição exterior, podemos ser renovados dia após dia. Ou seja: a parte boa da história, a parte que permanece e que não perde seu valor ao longo do tempo, é aquela que está "além do que os olhos podem ver" - pois está no interior, e não na aparência. Embora estejamos sujeitos a todo tipo de sofrimento, o maior deles ainda é leve e momentâneo. Parafraseando outro poeta (esse ainda vivo), posso ousar dizer que "a vida é uma irrelevância diante da eternidade...". Por isso mesmo, de modo ironicamente estarrecedor, a Bíblia afirma que é a tribulação [ou o sofrimento] que produz um peso eterno de glória superior a qualquer dor ou aflição... Eternidade. Talvez a única coisa que possa dar sentido a todo esse paradoxo de ver "além do que se vê". 


Quais são as suas lentes? 
Em quais direções você focaliza seu olhar?

Se colocarmos nossa atenção nas coisas que são transitórias - as que existem hoje e podem acabar amanhã - , nunca estaremos satisfeitos, pois teremos que procurar outras coisas para substituir as que se perderam com o tempo. Normalmente, para resolver esse problema, buscamos novas coisas transitórias que irão acabar em algum momento no futuro e, com isso, o ciclo vicioso não para. Contudo, para aqueles que fixam seus olhos naquilo que é eterno - o que existe hoje e existirá amanhã e depois, e para sempre, sem variação - , não será necessário substituições para resolver qualquer insatisfação. Ora, se algo eterno me satisfaz hoje, por ser eterno continuará a me satisfazer amanhã e no mês que vem e também depois de minha morte, pois é eterno. 

Eu não posso desejar nada maior do que isso.


Finalmente, quando falo de fixar os olhos em algo eterno, não falo simplesmente de uma coisa inanimada ou que seja produto da minha imaginação - mas falo do Eterno, Daquele de quem vem toda boa dádiva e todo dom perfeito, a Quem pertence a terra e tudo o que nela existe, por meio do Qual todas as coisas foram criadas, em Quem todos vivem, se movem e existem e para Quem todos devem olhar a fim de serem iluminados e salvos de uma eternidade de sofrimento sem Ele. Esse "Eterno" um dia se fez como um de nós, passou por todo tipo de aflição e, acima de tudo, deu a Si mesmo numa cruz a fim de resgatar a todo aquele que crê Nele como o único Deus verdadeiro. 

Jesus Cristo, o Filho de Deus, enquanto esteve na terra, enxergou todas as situações "além do que se podia ver", pois dele se diz que "...pela alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz, desprezando a vergonha e assentou-se à direita do trono de Deus" [Hebreus, cap. 12, vs. 2]. Ele estava consciente de que o seu sofrimento seria parte de uma alegria superior e, por isso, viu "o fruto do penoso trabalho de sua alma e ficou satisfeito" [Isaías 53, vs. 11]. Em meio à dor da cruz, Ele viu homens pecadores salvos da condenação resultante do pecado e isso O alegrou... Jesus, certamente, é o melhor exemplo de ver "além do que se vê". 


E você? Você baseia sua vida naquilo que você vê [e que acaba num piscar de olhos] ou naquilo que você não vê [e que dura pra sempre]? 

Meu desejo é que você seja como um amigo meu que, em uma de suas canções, disse:

"Eu descobri o que me satisfaz
Eu vi que o tempo não desfaz
E quem provar vai perceber a diferença no viver..."

Eu quero me satisfazer a cada dia com o Eterno, pois somente isso traz diferença à minha vida passageira e tão frágil.





Pela alegria de viver por algo "além do que se pode ver",




Soli Deo Gloria!

Um comentário:

  1. Por isso mesmo, vivo eu aqui esse contentamento descontente como que se essa insatisfação com os prazeres fugazes, que trazem alegrias passageiras, apontasse para a necessidade de algo eterno, onde procurando eu aqui não encontro, só podendo haver uma resposta: esta fonte eterna de prazer está numa dimensão onde meus sentidos naturais não podem penetrar....ainda assim meu coração se alegra pelo descanso que porvir está, pois ele mesmo me lembra que meu gozo será pleno lá, do outro lado do rio.

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