quarta-feira, 25 de abril de 2012

Por que as mentiras têm teologias? - parte 4

Caros leitores,

Esse deverá ser (pelo menos por enquanto) o último post da série "Por que as mentiras têm teologias" e, por isso, espero me inspirar enquanto escrevo esse texto. As "mentiras teológicas" só se tornam cada vez mais "verdadeiras" com o passar do tempo e, como me declaro um "cristão subversivo", não consigo me calar... Pelo menos neste espaço virtual, posso expressar minhas indignações sem correr o risco de desrespeitar o outro, a despeito de minhas opiniões convictas e, por certo, bastante radicais - na maioria das vezes.


Bem... neste texto quero sintetizar os conceitos abordados nos posts anteriores e, ao mesmo tempo, falar sobre algo que me fez pensar bastante essa semana, precisamente conforme o seguinte questionamento: eu sou uma boa pessoa? 

A questão mencionada se refere, basicamente, sobre que conceito eu tenho a respeito de mim mesmo, o qual está diretamente ligado ao meu conceito sobre Deus, conforme diz as Escrituras:

"E disse Deus: façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança... E criou Deus o homem à Sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou." Gênesis 1:26a-27

"O Senhor olha desde os céus e está vendo a todos os filhos dos homens. Do lugar da sua habitação contempla todos os moradores da terra. Ele é que forma o coração de todos eles, que contempla todas as suas obras."
Salmos 33:13-15

"Tudo Ele fez formoso em seu tempo; também pôs o mundo [ou a eternidade, em algumas traduções] no coração do homem, sem que este possa descobrir a obra que Deus fez desde o princípio até o fim". Eclesiastes 3:11

Ora, se eu fui criado por Deus, a única alternativa para que eu saiba quem realmente sou é, primeiramente e primordialmente, conhecer Aquele que me criou. Com base nisso, a única forma de responder à pergunta "eu sou uma boa pessoa?" é descobrir o que Deus revelou em Sua Palavra a esse respeito.


Entretanto, quando esta frase - o que importa é o que Deus diz a meu respeito - é dita, normalmente caímos em uma das "mentiras" que as diversas "teologias" construíram no decorrer da história e que, como mencionado anteriormente, se converteram em "verdades" quase inquestionáveis. Logo, os subversivos como eu devem estar em maus lençóis.

Mas, que mentira é essa a que me refiro? Ei-la: nós somos pessoas boas, amáveis, virtuosas, altruístas, generosas... E mais ainda: nós amamos a Deus, nós queremos que Ele esteja no controle de nossa vida, nós O temos dentro de nós... Mentira! Não é nada disso que as Escrituras (a Bíblia) mostram. Nós não somos pessoas boas, não somos amáveis, virtuosos, altruístas, generosos... E mais do que isso: não amamos a Deus, não queremos que Ele controle a nossa vida e não O temos dentro de nós. Mas, num ímpeto descontrolado, você pode estar aí em frente de seu computador e dizendo:

"Esse blogueiro é um inconsequente! Ele está delirando! É claro que eu tenho Deus no meu coração! Eu faço o bem às pessoas, eu não mato nem roubo... Eu sempre fui da igreja, até cantei no coral e já 'ganhei' muitas pessoas pra Jesus..."


Veja bem: a nossa base para qualquer conceito (principalmente para os que se declaram cristãos) deve ser somente a Bíblia, pois ela mesma diz: "... a Tua Palavra é a verdade ..." (João 17:17b). Mas, afinal, o que a Bíblia diz sobre mim além de que fui criado por Deus e que ele forma o meu coração de modo que eu não possa entender a sua obra desde o início até o fim? Para isso, quero me recorrer ao que alguns chamam de "Acrópole das Escrituras" - o texto da Epístola do Apóstolo Paulo aos Romanos, capítulo 3, versículos 9 ao 28, dos quais destacarei alguns como segue:

"Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus... Sendo justificados gratuitamente pela Sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus... Ao qual Deus propôs para propiciação, pela fé no Seu sangue, para demonstrar a Sua justiça pela remissão dos pecados anteriormente cometidos, sob a paciência de Deus... Para demostrar a Sua justiça neste tempo presente, a fim de que Ele seja justo e justificador daquele que tem fé em Jesus... Onde está, então, o motivo de vanglória? É excluído. Por qual lei? Das obras? Não, mas pela lei da fé. Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé sem as obras da Lei". Romanos 3:23-28

Primeiramente, não existem pessoas boas porque TODOS PECARAM. Todos - Hitler, Mussolini, o maníaco do parque, eu, você - são pecadores e, mais do que isso, todos são igualmente pecadores e sujeitos ao julgamento de Deus (eu não sou melhor do que Mussolini nem você é melhor do que o casal Nardoni), pois o mesmo texto de Romanos 3 diz que "...nós sabemos que o que a Lei diz, aos que estão debaixo da Lei o diz, para que toda a boca esteja calada e todo o mundo seja condenável diante de Deus..." (vs. 19). Todos somos condenáveis diante Dele. Todos nós temos de calar a nossa boca diante Dele. Ele é o Justo Juiz. Ele odeia o pecado e derrama Sua ira contra todos os que praticam o mal (Salmos 5:4-5 e Romanos 1:18-19). Quanto atrevimento nosso achar que somos bons, pois Jesus disse ao jovem rico (o qual se achava acima do bem e do mal por causa de sua religiosidade exemplar) "...não há ninguém bom, senão um só, que é Deus..." (Mateus 19:17). Estamos em uma masmorra espiritual e não temos a chave conosco, nem temos poder algum para encontrá-la. Só Deus é bom de fato, e ponto final - para complementar esse raciocínio: Salmos 14, Romanos 3:9-18, Jeremias 17:9, Isaías 64:6 e Mateus 15:18-20.


Por outro lado, o texto de Romanos traz algo ainda mais assustador, ao dizer que Deus nos considera justos (somos justificados) gratuitamente por Sua própria graça - somos presenteados por Deus sem motivo algum para isso. Isso é alucinante e deve produzir em nós um temor profundo diante de Deus, pois esse "presente sem motivo" custou a vida do Seu Filho - o qual foi morto numa cruz para remissão dos pecados de todos aqueles que creem em Seu nome. Na verdade, só poderemos entender melhor a sublimidade do amor de Deus em Cristo pelos pecadores se reconhecermos intensamente o quanto somos indignos desse amor e, por conseguinte, só poderemos reconhecer que somos absolutamente indignos do amor de Deus quando vermos o quanto somos pecadores e, finalmente, só poderemos saber a seriedade de sermos pecadores maus e desesperadamente corruptos ao conhecermos a Deus - um Ser único, infinito, perfeito, completamente santo e puro, justo e reto em seu caráter e que não tolera nada que seja mau. Logo, tudo sempre acaba onde tudo começa: conhecer a Deus é a razão preeminente de nossa existência - conforme a velha assertiva que afirma que "o fim supremo do homem é glorificar a Deus e desfrutá-Lo plena e eternamente". 

Finalmente, o texto de Romanos 3 derruba qualquer motivo de vaidade ou orgulho de nossa parte, pois está escrito que Deus demostra a Sua justiça "para que Ele seja justo e justificador daquele que tem fé em Jesus". Deus é o justificador. Ele é quem faz a justiça ser concreta. Eu não sou meu próprio justificador; Ele é quem me justifica (Romanos 8:33). Pensando bem, como um ser corrupto e pecador como eu poderia se justificar, se eu mesmo estou tão longe de qualquer padrão de justiça? Só me resta agradecer a Deus porque existe Alguém que tem todos os requisitos para ser Justo e Justificador. Se você é um cristão, seja muito grato a Ele por isso... muito grato mesmo. A gente não tem ideia do supremo valor dessa justificação. Paulo conclui, então, dizendo com muita segurança e propriedade: 

"Onde está pois, o motivo de vanglória? É excluído. Por qual lei? Das obras? Não, mas pela lei da fé". (cap. 3, vs. 27).

Se nos orgulhamos de sermos salvos por Deus, somos todos idiotas e inúteis petulantes. Não tem que haver qualquer centelha do orgulho em mim nem em você por isso. Mas você pode até dizer: "...eu cri no evangelho, eu coloquei a minha fé em Cristo...". Não, você não poderia colocar algo que você não teve antes de Deus te dar, pois a Bíblia diz que a fé para a salvação vem de Deus (Efésios 2:8 e Romanos 10:17). Ninguém tem a fé para a salvação; Deus é quem nos dá isso como Lhe agrada (Atos 11:18, Atos 13:48 e João 1:12-13) e, portanto, não há razão para nos sentirmos superiores. Ao contrário, devemos sim sermos humildes, nos rebaixarmos ao nosso lugar de míseros pecadores - "vermes", como diz a célebre canção do John Newton "Amazing Grace" - e darmos TODA a glória a Quem de fato é digno dela (Romanos 11:36). 


Sim... a "maravilhosa graça veio com o seu doce som e salvou um verme como eu..." Sim, um verme como eu, como você, como todo pecador que, arrependido dos seus pecados, foi conquistado pelo eterno amor do Cristo crucificado e que ressuscitou... "Antes eu era perdido, mas agora fui achado... era cego, mas agora eu vejo..." A graça nos traz à Luz, nos tira das trevas, nos dá vida enquanto ainda éramos mortos. Como cair na "mentira teológica" de que sou bom? Como muitos de nós ainda estão se enganando com um pseudoevangelho da autoestima humana? Chega de cultivar a autoestima! É preciso cultivar, na verdade, a baixa-estima humana, cultivar a realidade de nossa miséria espiritual para que, quando olharmos para Cristo, não termos outra reação a não ser nos entregar a Ele inteiramente, humildemente, alegremente e em completa adoração e admiração ante a Sua maravilhosa graça, ante a Sua suprema grandeza, ante a Sua completa santidade... enfim, ante ao Deus das Escrituras. 

Diante de mais uma "mentira teológica" desmascarada, só me resta dizer...



Soli Deo Gloria!

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