quarta-feira, 27 de junho de 2018

Senta que lá vem história...

Antes de tudo, não pretendo escrever muito - embora o título escolhido para esse texto pareça indicar o contrário.

Além disso, pelo fato de que estamos em época de Copa do Mundo, muito dificilmente alguém priorizaria ler um texto de um "blogueiro" desconhecido em lugar de compartilhar todos os memes sobre a eliminação da seleção alemã na primeira fase do mundial. 

Mas, como eu também não poderia deixar de fazer, "Auf wiedersehen, Alemanha"! Dessa vez o 7x1 mudou de lado!

No entanto, vamos agora ao que interessa - ao menos nesse blog.

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Sempre que ouço a frase "senta que lá vem história", algumas coisas e lembranças me vêm à mente - desde o fato óbvio de que a pessoa que fala quer dizer que aqueles que a ouvem devem aquietar-se a fim de escutar com calma toda a "história" bem como de alguns momentos que anteciparam uma viagem que fiz há alguns anos para Cabo Verde (arquipélago da costa ocidental africana), de tal modo que sempre que alguma grande novidade estava acontecendo, a primeira frase que lia em alguma nova publicação no nosso grupo do Facebook era: "senta que lá vem história"

Todavia, esse texto não é propriamente a respeito dessas coisas, mas um breve conjunto de reflexões baseadas numa canção da banda Resgate chamada "História", cuja letra parece ser um relato de alguém que conta sua "história" desde a infância até à vida adulta, destacando certos momentos do ambiente familiar bem como o aprendizado daí recorrente. Dentre os trechos que poderia salientar, o primeiro que acredito ser pertinente é:

"Mas a gente sempre tem certeza
Que a razão come na nossa mesa
Ninguém quer olhar pro céu e ver
Que existe algo a mais..." 
[História - Banda Resgate]

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De fato, o autor da canção faz, através destes versos, um diagnóstico preciso de uma das características mais endêmicas e massificadas do "Zeitgeist" - termo alemão para "espírito da época" -, especificamente do espírito de nossa época, visto que, de maneira praticamente hegemônica, as pessoas dessa geração estão "sempre certas de que estão certas" ou, no mínimo, ainda que seja um senso comum enraizado no imaginário popular de que "cada um tem a sua própria verdade" bem como de que "todas as opiniões/cosmovisões/perspectivas de vida são igualmente válidas", a "razão de cada um" sempre é mais racional que a "razão do outro". Desse modo, cada um está em si mesmo convicto de que a "ratio" (como a chamavam os intelectuais medievais, embora o conceito seja provavelmente grego) está tão próxima de si como aquele convidado de honra de um jantar especial - já que "estar à mesa" traz a idéia de comunhão íntima e participação mútua - e, como resultado, "...cada um faz o que é certo a seus próprios olhos...". 

Por conseguinte, como o trecho mencionado assinala, "...ninguém quer olhar pro céu e ver que existe algo a mais...", o que denota que, além da supracitada autoconfiança expressa na "certeza quanto às próprias razões", a humanidade atual tem se esquecido de "olhar para o céu a fim de entender a terra" [conforme escrevi num texto anterior] por acreditar que esse "algo a mais que existe acima de nós" não é nada mais do que um compêndio de ilusões que nos foram legadas por uma civilização/cultura que já foi superada intelectualmente e que, por isso, seus valores ainda remanescentes devem ser eliminados completamente a fim de que a "libertação" seja finalmente alcançada. Ora, para aqueles que "sempre estão à mesa com a razão" e que são os "donos das certezas", a última atitude a ser considerada plausível [e possível] é olhar para fora de si para buscar alguma coisa, uma vez que, na verdade, não existe nada a ser "buscado fora ou acima de si", constatação que ratifica algumas palavras do apóstolo São Paulo:

"...o Deus deles é o ventre e a sua glória é para vergonha deles mesmos, os quais só pensam nas coisas terrenas..." [Filipenses 3, vs. 19]

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Nessa passagem, o escritor bíblico está anteriormente discorrendo sobre pessoas a quem ele denomina, com lágrimas, de "inimigos da cruz de Cristo", dos quais é dito que o destino final é a destruição e que aquilo em que se gloriam será para a sua confusão, visto que a mente deles está voltada somente para as coisas visíveis, temporais, tangíveis e pertencentes ao patamar terreno. Isto é, em última análise, todo aquele que vive como se houvesse uma "autonomia absoluta" em relação a qualquer instância superior ou transcendente e que, além disso, crê e apregoa que essa tal autonomia é um direito a ser conquistado a todo e qualquer custo, pode ser enquadrado como um desses "inimigos de Cristo" [sem ignorar o sentido mais claro do texto bíblico em seu contexto], pois, sabendo-se que Cristo é Senhor sobre tudo o que há na realidade criada e, particularmente, de todos os homens [inclusive dos ímpios, embora não seja o Salvador deles], tudo o que existe, em qualquer esfera e âmbito, deve obediência a Cristo [vide 2 Coríntios 10, vs. 4-6], de maneira que toda e qualquer atitude de independência em relação à Sua autoridade é rebelião contra Ele e, portanto, todos os que se rebelam se fazem Seus inimigos - inimigos aos quais resta apenas o tempo até que venha sobre eles o dia determinado, no qual Deus os colocará como estrado dos pés Daquele a Quem traspassaram e de Quem escarneceram (e ainda escarnecem) como se fossem ficar incólumes e impunes. Ironicamente, nem o fim de Policarpo Quaresma foi tão triste quanto este que os aguarda e que os apanhará de surpresa, pois a esse respeito está escrito que "...quando disserem 'paz, paz', então lhes sobrevirá repentina destruição, como nas dores da mulher grávida, e de modo algum escaparão..." [1 Tessalonicenses 5, vs. 3].

Outro trecho da canção que merece ser citado é:

"Mas a gente acha que tem o mundo
O nariz é nosso latifúndio 
Ninguém quer olhar pro céu e ver
Que existe algo além..."

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No mesmo tom dos versos anteriores, o compositor continua a fazer o seu despretensioso diagnóstico ao trazer à tona outro aspecto fundamental do "Zeitgeist do século XXI", o qual foi descrito na canção como a atitude de "...achar que é dono do mundo e que o próprio nariz é como um latifúndio...". Nesse sentido, gostaria de esclarecer que não tenho nada contra latifúndios nem contra latifundiários em sua essência - ora, a fase de acreditar em "movimentos de reforma agrária" que se fazem de miseráveis "sem-terra" mas que organizam congressos nos Estados Unidos em hotéis de luxo ou nos discursos políticos correspondentes já faz parte de um vergonhoso "passado de idiota útil" que jamais voltará a ser parte do presente -, exceto se os latifúndios são fruto de roubo/enriquecimento ilícito ou sua produtividade e prosperidade não são usufruídas legitimamente nem utilizadas para o bem do próximo. Isto posto, os versos da canção são precisos em denunciar o pensamento cada vez mais totalitário e abrangente e que é apropriadamente expresso na sentença "...nenhum direito a menos..." associada à extinção definitiva da "responsabilidade individual" para se dar lugar às responsabilidades "social", "ambiental", "sexual" ou qualquer outro sofisma semelhante. 

Portanto, pode-se afirmar que a nossa geração é determinantemente caracterizada pelo "óbvio ululante" de que "...ter direitos é algo bom em si mesmo..." e que, por isso, sempre que se inventa um novo "direito" pelo qual se deve lutar, não se pode aceitar qualquer crítica, oposição, questionamento ou desconfiança mas, se alguém ousa ir na direção contrária, aquela série de adjetivos amáveis que conhecemos [com os sufixos -fóbico e -ista] já está na ponta da língua de todos os "guerreiros da justiça social" ou de qualquer pessoa que já está mergulhada na Matrix de (macro)desinformação criada pelos mesmos "guerreiros". De fato, existem direitos que são justos e inalienáveis [como o direito ao nascimento, à vida digna, à propriedade privada, à liberdade de consciência e de crença/religião - ainda que com sérias ressalvas, de se educar os filhos segundo os próprios valores etc.], porém, em um momento histórico em que a "conquista das virtudes" foi substituída pelo "empoderamento sócio-político e cultural", o nosso mundo está repleto de pessoas eternamente insatisfeitas, cuja insatisfação cresce na medida em que se adquire mais e mais "direitos" - como dizia o poeta, "...esse é o nosso mundo, o que é demais nunca é o bastante..." -, cuja histeria provém da falsa idéia de que "...eu sou dono do meu nariz..." e, dessa forma, o mundo deve sempre "conspirar a meu favor" ou, em outros termos, "...eu devo construir um 'admirável novo mundo' conforme o meu bel-prazer...". Para a decepção dessa turma ensandecida, o mundo já tem um Dono e Ele não divide esse direito de soberania com ninguém, pois "...Do Senhor é a terra e tudo o que nela existe..." [Salmo 24, vs. 1] e "...a minha glória, pois, não a darei a outrem..." [Isaías 48, vs. 11].

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Por outro lado, como que num "pleonasmo poético", lê-se na canção que "...ninguém quer olhar pro céu e ver que existe algo além...", frase que reafirma o mesmo conceito outrora apresentado, segundo o qual todos nós, mais ou menos intensamente, tendem a olhar somente para si mesmos - como os "...homens dos espelhos mágicos..." - de forma que, neste caso, a razão principal é a falácia de que, para cada um, a antiga máxima de que "o céu é o limite" já se tornou obsoleta, pois toda noção de "limitação" ou de "tolerância repressiva" [seja contingente, seja imposta, seja de qualquer outro tipo] deve ser superada. Em outros termos, alguns versos do hino da "Internacional Socialista" [originalmente escrito em francês] traduzem bem o que pulsa em seus corações e mentes:

"Il n'est pas des sauveurs suprêmes,
Ni Dieu, ni César, ni Tribun;
Travailleurs, sauvons-nous nous mêmes,
Travaillons au salut commun..."

Que traduzido é:

"Não há salvadores supremos,
Nem Deus, nem César, nem Tribuno;
Trabalhadores, nos salvemos a nós mesmos
Trabalhemos pela salvação comum..."

Ou seja, considerando-se que não há Deus ou qualquer outra espécie de autoridade a quem se deva prestar contas ou se submeter, cada um salva a si mesmo e todos unidos lutam pela chamada "salvação comum", cujo objetivo final é a concretização da utopia do "novo mundo igual para todos", o que nada mais é do que uma manifestação da frase "...a gente acha que tem o mundo e o nariz é nosso latifúndio...", cujas bocas falam com arrogância "...com as nossas línguas prevaleceremos e nossos lábios são por nós; quem poderia nos dominar?" [Salmo 12, vs. 4b], aos quais, como está escrito, Deus silenciará no tempo devido.

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O último trecho da letra que gostaria de destacar é:

"Mas a gente é dono da verdade
Sempre pensa que já tem idade
Ninguém quer olhar pra dentro 
E ver o que ainda não tem...".

Embora as temáticas dos versos escolhidos por mim para este post sejam em parte semelhantes e em parte complementares, essa última estrofe traz uma lição particularmente importante, uma vez que, diferentemente das abordagens dos parágrafos anteriores, o que compreendo desses versos confronta especialmente a mim - para os que me conhecem mais de perto, uma das características humanas mais latentes em minha personalidade é a confiança resoluta nas próprias convicções [o que não é um mal em si mesmo, ainda que seja cada vez mais ofensiva em nossos dias], contudo há uma linha tênue entre uma firmeza saudável e uma obstinação prepotente que se torna grande empecilho para o aprendizado com o outro e, portanto, para o amadurecimento ao longo da vida. Com certa freqüência eu me sinto uma espécie de "...dono da verdade..." e, como nunca antes, a sensação de que "...sou mais experiente do que outros a meu redor..." tem sido mais recorrente, de forma que as seguintes passagens bíblicas têm se tornado mais úteis do que costumavam ser, como mostrado a seguir:

Melhor é um jovem pobre e sábio, do que um rei idoso e tolo, que já não aceita repreensão. [Eclesiastes 4, vs. 13]

Foge das paixões da juventude e segue a justiça, a fé, o amor e a paz com os que, com um coração puro, invocam o Senhor. [2 Timóteo 2, vs, 22]

Com base nessas passagens, tanto um rei velho e tolo que não acha que precisa aprender com os outros [provavelmente por confiar demasiadamente em sua "experiência de vida"] como um jovem cheio de impulsividade e sem autocontrole não são exemplos bons para serem seguidos - i.e., eu não devo ser seduzido pelos pensamentos de que sou o "dono da verdade" nem de que "já tenho idade", mas ser como aquele pobre jovem sábio mencionado por Salomão bem como seguir à risca o conselho/imperativo de Paulo ao jovem pastor Timóteo a fim de cultivar a justiça, a fé, a paz e o amor para invocar a Deus com um coração puro, pois como diz outra canção da mesma banda, "...o que me faltar, Deus já me deu...". 

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Finalmente, eu não poderia deixar de mencionar alguns dos versos mais oportunos do salmo 119, nos quais estive meditando recentemente:

Os Teus mandamentos me tornam mais sábio do que os meus inimigos, pois eles estão sempre comigo.
Eu tenho mais discernimento do que todos os meus mestres, porque os Teus testemunhos são a minha meditação.
Eu tenho mais sabedoria do que os velhos, porque tenho observado os Teus preceitos. 
Afasto os meus pés de todo caminho mau, para observar a Tua palavra.
Não me tenho distanciado dos Teus juízos, pois Tu mesmo me tens instruído.
[Salmo 119, vs. 98-102]

Em poucas palavras, o ensino presente nesses versos é de que, sem a Palavra que vem de Deus até nós, não é possível ser mais sábio do que aqueles que podemos considerar os mais sábios - sejam pessoas que nos odeiam, sejam aquelas mais doutas, sejam os mais experientes. Porém, quando Deus nos dá de Sua sabedoria e nós damos a ela o devido valor, não importa se somos jovens demais, iletrados ou mesmo se não temos a malícia dos homens maus, pois a sabedoria divina torna em insensatez e estultícia qualquer outra sabedoria, reduzindo tudo a pó, pois Deus é aquele que "...apanha os sábios em sua própria astúcia..." [Jó 5, vs. 13]. Além disso, a sabedoria de Deus dada àqueles que O temem e buscam não consiste apenas em "informações corretas a respeito da vida, da realidade e do próprio Deus", mas sim em uma sabedoria viva, que se encarna naquele a quem Deus a concede, pois aquele que é instruído por Deus pode dizer juntamente com o salmista que "...por meio de Teus preceitos me torno inteligente; por isso, odeio toda duplicidade..." [vs. 104] - ou seja, toda sabedoria adquirida pelo homem, por mais que tenha valor quanto à vida natural, intelectual, política, científica e para as relações humanas [ainda que também venha de Deus, visto que toda boa dádiva vem Dele] e que não nos conduz a detestar todo caminho de mentira para amar a verdade [o que implica, obrigatoriamente, em amar a Jesus Cristo, a Verdade Encarnada] não nos faz inteligentes em sentido último, pois assim está escrito:

"...Falamos da sabedoria entre os que já tem maturidade, mas não da sabedoria deste século ou dos poderosos desta era, que estão sendo reduzidos a nada.
Ao contrário, falamos da sabedoria de Deus, do mistério que estava oculto, o qual Deus preordenou, antes dos tempos dos séculos, para nossa glória,
Ao qual nenhum dos poderosos desta era entendeu, pois, se o tivessem conhecido, não teriam crucificado o Senhor da glória...". [1 Coríntios 2, vs. 6-8]

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Diante de Deus, todos os poderosos são reduzidos a nada

Em face da sabedoria de Deus, a sabedoria humana é demonstrada ser loucura

A sabedoria de Deus é tão excelente que só pode ser conhecida a partir do momento em que deixa de ser um "mistério oculto" e passa a ser revelada - ninguém pode conhecê-la antes de Deus a tornar manifesta

Sobretudo, a suprema sabedoria de Deus, a saber, Cristo, era esse grande mistério que "esteve oculto em todos os séculos e por todas as gerações" mas que, na plenitude dos tempos, "Deus manifestou aos Seus santos, aos quais quis fazê-Lo conhecido", pois aqueles que não O compreenderam [pelo fato de Deus não fazê-los entender] rejeitaram o Deus-Homem, matando-O numa cruz, como um criminoso, mas cujo castigo nos trouxe a paz, paz eterna, paz com Deus, de quem outrora éramos inimigos... ah, não poderia haver história mais bela!

E você? Qual tem sido a sua história até aqui? De pretensa autonomia de Deus ou você já se deu conta de que precisa buscá-Lo?

Se você reconhece que não tem se "lembrado do Criador em sua mocidade", o que você está esperando para se voltar para o Deus-Salvador e "viver sob o dom do Amor pela eternidade"?





Pela certeza de que minha história está nas mãos Dele,





Soli Deo Gloria!

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