quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Culpado, até que se declare o contrário...

Eis-me aqui, após alguns dias sem muita inspiração.

Mas, uma vez que "nada como um dia após o outro", ontem surgiram alguns "insights" por aqui e, por isso, decidi escrever um pouco. Mas espere... Se você nunca visitou este blog e não está habituado à linguagem utilizada nele, desista de querer encontrar auto-ajuda ou qualquer mensagem motivacional - eu não tenho esse hábito "pós-moderno". No entanto, se mesmo assim você se interessar por ler até o fim, agradeço sua paciência e atenção.

Logo, vamos em frente. 


Inicialmente, o tema desta postagem remete a um marcante acontecimento histórico ocorrido na Europa há quase 498 anos, mais precisamente na Alemanha - a Reforma Protestante. Desde que este blog foi criado, eu procuro escrever alguma coisa que faça alusão à Reforma em si ou a alguma "bandeira" ou "valor" característico dela. Logo, no próximo 31 de outubro serão quase 500 anos desde que o monge agostiniano Martin Luder (forma alemã do nome "Martinho Lutero") publicou as denominadas "95 teses" na Catedral do Castelo, na cidade de Wittemberg. Por outro lado, este post também deriva de algumas coisas que tenho estudado atualmente bem como de uma experiência cotidiana mais específica, que será mencionada mais tarde. 

Sem mais delongas, o título do post pode causar certo incômodo ao ser lido - "Culpado, até que se declare o contrário". 

Culpado? Quem é culpado? 
Culpado de quê? 
Que culpa é essa que só será removida caso haja uma determinada "declaração"? 
Quem é que pode declarar "inocência" ou "liberdade da culpa"?

Desse modo, como diria Jack, aquele assassino cruel, "vamos por partes". 


Culpado.

A primeira pergunta a se fazer é: o que é ser culpado? Dentre os vários sentidos da palavra, pode-se mencionar "aquele sobre quem recai uma culpa por um erro cometido" ou "aquele que se sente remorso ou pesar por algo errado que fez". Todos lidamos com esses sentimentos ou situações ao longo da vida, porém, dessa vez, a questão não é trivial - a "culpa" à qual me refiro aqui é uma sentença, algo semelhante a uma declaração proferida por um juiz para um réu. No entanto, a situação é pior do que você pensa, pois o réu aqui é você (sou eu, é o seu melhor amigo, sua namorada ou mesmo um ídolo seu) e o juiz é Deus - em outros termos, a resposta da pergunta "culpado?" é "sim", de forma que todos nós estamos sob essa dura e implacável sentença divina: somos culpados, sem qualquer exceção. 

Mas... culpado de quê? Eu sou uma "boa pessoa"!

Não - você não é uma "boa pessoa". Eu não sou uma boa pessoa. Vamos parar de uma vez por todas com essa ilusão. Vamos parar de acreditar nesses "mitos rousseaunianos" de que "nascemos bons e a sociedade nos corrompe", pois a "sociedade corrupta e corruptora" é formada por nós, de maneira que a corrupção existe porque nós somos "os corruptos" e também somos "os corruptores". Mas, para não ficar somente nas minhas palavras, cito um trecho das Escrituras, onde se lê:

Ora, nós sabemos que tudo o que a Lei diz, ela diz aos que estão debaixo da Lei, para que toda a boca esteja calada e todo o mundo esteja sujeito ao juízo de Deus. [Romanos 3, vs. 19]


Em poucas palavras, a razão fundamental pela qual estamos "sob a condenação de Deus" [ou seja, porque somos culpados] é porque transgredimos a Sua Lei e, uma vez que "se alguém procura guardar toda a Lei e tropeça em um só ponto, se torna culpado de todos os outros", ninguém escapa dessa verdade universal e terrível: todos são condenáveis aos olhos de Deus. Entretanto, Deus não é como alguns juízes de futebol [que podem ser subornados com "malas pretas"] ou mesmo como o STF do Brasil [todo aparelhado para defender um projeto de poder permanente em favor dos "corruptos de vermelho"] - Deus é um juiz justo, Ele não está sujeito a qualquer suborno, Ele não tem certos padrões "hoje" e outros "semana que vem" ou, resumidamente, Ele não é igual a você, embora você pense [e queira com toda a sua relutância insolente] que Ele seja. Além disso, esse juízo de Deus pode cair sobre qualquer um de nós a qualquer momento - ou você acha que Deus tem a obrigação de nos dar uma aviso sobre o dia em que Ele aplicará seu julgamento sobre nós para que tenhamos tempo de "dar um jeitinho" e "nos livrarmos"? Deus não tem compromisso com nada nem com ninguém, a não ser com Sua própria glória e com aquilo que Ele determinou fazer.

Nesse sentido, você precisa entender que nada - nem as suas "artimanhas baratas", nem suas pretensiosas "boas ações" cheias de barganha inútil e nem mesmo a sua zombaria blasfema de que "Jesus nunca existiu" ou em frases como a que li essa semana numa camisa de um estudante em minha universidade ["The Gospel died on the cross" - O Evangelho morreu na cruz - e também "God's spreading cancer" - Deus está espalhando câncer, embaixo de um desenho de Jesus crucificado] -, nada poderá livrar você de Deus ou, melhor ainda, nada poderá livrar você de Jesus, pois, se você acha que Jesus é só um "cara legal com jeito de hippie" ou "um revolucionário tipo Che Guevara do século I", você saberá [e isso da maneira mais horripilante possível] que Ele, Jesus Cristo, é Aquele que executa o juízo de Deus, pois "Ele mesmo é quem pisa o lagar do vinho do furor da ira do Deus todo-poderoso" [Apocalipse 19, vs. 15]. Em suma, todos os que hoje escarnecem e "tiram sarro" de Jesus e do Evangelho serão pisados por Ele quando Deus manifestar a ferocidade de sua ira - e isso para sempre, sem qualquer alívio, sem nenhum consolo, pois "estes irão para o tormento eterno" [Mateus 25, vs. 46]. 


Até que se declare o contrário.

Diferentemente do ditado comum que diz que "todo acusado é inocente, até que se prove o contrário", diante de Deus ninguém é inocente - na verdade, todos nós somos culpados, até que se declare o contrário.

Mas, se por um lado, Deus é quem sentencia a culpa sobre todo homem pecador que permanece em oposição a Jesus Cristo, quem é que pode "declarar o contrário"? Para a nossa maior humilhação (e, ao mesmo tempo, para nossa felicidade eterna), Deus é Aquele que pode "declarar o contrário" ou, em outras palavras, Ele é quem muda a nossa condição de "culpado" para "inocente" diante de Si mesmo - para nossa humilhação porque, no fim das contas, todos estamos absolutamente entregues à misericórdia divina para que sejamos "inocentados" [de modo que Deus não é obrigado a fazer esse favor a ninguém, senão que Ele concede isso livremente a quem Ele quer - ver Romanos 9, vs. 14-21 e João 5, vs. 21] e, simultaneamente, para nosso eterno deleite, porque se é Deus quem pode nos "declarar inocentes" diante Dele, nada pode invalidar isso e, portanto, a partir dessa "inocentação" [com a permissão do neologismo], podemos ficar seguros eternamente. 



Todavia, você pode me perguntar: como é que o mesmo Ser que condena alguém severamente pode também inocentar definitivamente?

Ora, é aqui que entra a relação da Reforma Protestante com este texto, pois o que fez com que ela ocorresse foi a redescoberta da verdade mais central das Escrituras [segundo o próprio Lutero, "o artigo de fé que mantém o cristianismo de pé e sem o qual ele cai"]: a justificação pela fé

Justificação pela fé? O que seria isso?

Justificação é o ato de Deus pelo qual Ele declara que o homem, antes pecador e condenado pelos seus pecados, agora é justo ante Sua presença santa mediante a imputação [transferência] da justiça perfeita e eterna de Jesus Cristo [Romanos 3:21-28 e 1 Pedro 3, vs. 18a], Seu Filho, sobre esse pecador, de maneira que todos os pecados desse pecador são lançados sobre Cristo - no caso, quando qualquer um de nós crê em Cristo como Aquele que Deus enviou ao mundo para salvar os pecadores, Deus assim nos declara justos. Isto é, todos somos culpados [e não podemos fazer nada de nós mesmos para mudar isso], até que Deus declare o contrário



Nas palavras de Lutero, aquele que crê em Jesus Cristo é "simul justus et peccator" ou "simultaneamente justo e pecador" - ou seja, ao mesmo tempo que, diante de Deus, a pessoa é vista como "justa", "inocente", "sem pecado algum", ela ainda lida com os efeitos do pecado enquanto está neste corpo terreno mas... a melhor parte é essa: um dia, talvez em breve, todos os efeitos do pecado serão tirados da criação e, para todos os que foram alcançados pelo amor de Deus por meio de Cristo, a obra estará terminada - os que agora são justificados pela fé em Jesus terão sido santificados e, então, serão glorificados no céu, onde verão Aquele que os amou com amor eterno, antes da fundação do mundo e, assim, serão semelhantes a Ele, "pois o verão assim como Ele é" [1 João 3, vs. 2b].

Finalmente, creio ser pertinente dizer que o tema desse post - "culpado, até que se declare o contrário" - não tem a ver com o que você sente, nem com o que eu penso sobre o assunto. Certo dia, escutei de alguém com quem eu conversava sobre Deus e espiritualidade no meu campus [especificamente sobre a declaração de Jesus de que "todo aquele que comete pecado é escravo do pecado" - João 8, vs. 34] de que a pessoa "não se sentia 'escrava' do pecado" como o texto bíblico aponta - ou seja, a pessoa se sente ou se acha "mais sábia" do que Jesus, mais conhecedora de si mesma do que "Aquele por meio de quem Deus fez o universo" [Hebreus 1, vs. 2] e que "sem Ele, nada do que foi feito se fez" [João 1, vs. 3] e, com toda sua arrogância, chama o Filho de Deus de mentiroso. Na verdade, o ciclo vicioso sempre se repete, pois os homens continuam a se julgar seus próprios "deuses", uma vez que eles continuam a projetar a sua própria imagem [imagem essa que é suja, podre, depravada e cheia de engano] como se fosse a expressão do Único Deus verdadeiro - sim, todos nós gostaríamos que Deus fosse igual a nós, mas ainda bem que Ele não é -, e isso só faz acumular os seus próprios pecados e, em breve, "a seu tempo, quando eles deslizarem os seus pés" [Deuteronômio 32, vs. 35], Deus os julgará. Resumindo, a nossa única alternativa para sermos libertados dessa condenação futura é nos apegarmos firme e unicamente a Cristo, pelo qual Deus "nos livrou da lei do pecado e da morte" [Romanos 8, vs. 2], nos fazendo passar "da morte para a vida" [João 5, vs, 24].



E você? Já entendeu que você é "culpado" - culpado de pecado eterno [por ter violado a Lei do Deus eterno]?
Diante disso, você ainda permanece sem interesse em Cristo, o Mediador de sua reconciliação com Deus e em Quem você é declarado justo por Ele?

Se você entendeu esse texto, corra agora mesmo para Cristo, implorando Sua graça e perdão e creia que, se você for humilhado até Ele, "de maneira nenhuma você será lançado fora" [João 6, vs. 37]. 




Pela certeza de ser livre de toda culpa Nele,





Soli Deo Gloria!

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