quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

O Sertão vai virar mar...

Um mês se passou e eu estou de volta.

No post anterior, falei sobre o Projeto Férias no Sertão [um trabalho organizado pela Associação Agape Sertão e pelo projeto Plantar Igrejas no Sertão em parceria com a Cruzada Estudantil e Profissional para Cristo] e todas as expectativas e intenções relacionadas a mais um janeiro em missão. 


Como sempre, todas as expectativas foram supridas, mas muito do que aconteceu me surpreendeu. Nunca me esquecerei dos vários momentos preciosos e divertidos. Entretanto, terei também lembranças muito dolorosas. Enfim, depois que se vai para o Sertão, não se pode permanecer mais o mesmo.


8 de janeiro de 2013, 4:30am.
Aqui se iniciou, oficialmente, minha jornada rumo a Quixaba, sertão pernambucano. 

Após muito tempo de espera, entrei no ônibus que levava a equipe do Projeto Sertão e comecei a encarar a estrada. 
Após cerca de 20h de viagem, chegamos ao nosso destino. E, para tornar a viagem mais legal, no primeiro dia eu fui dormir nas primeiras poltronas do ônibus. Já eram mais de 4h da madrugada.
No primeiro dia, ficamos a maior parte do tempo em treinamento e momentos devocionais incluindo, no final do dia, um bate-papo com a nossa psicóloga Graça [sem trocadilhos teológicos, rs]. 

Por outro lado, a partir do segundo dia de projeto, começamos a atuar em regiões específicas da cidade [bairros de São Sebastião, no centro e no Sítio Barros]. Nossa equipe era dividida em grupos e, por sorte, fiquei no grupo que iria atuar na área mais pobre. 

Mas você pode estar se perguntando: sorte? Que sorte? 

Sim, sorte. Mais do que isso: privilégio. Conhecer aquelas ruas de terra sem iluminação noturna, aquelas casas bem simples e, acima de tudo, conhecer pessoas que, apesar da situação em que vivem, sempre andam com um sorriso no rosto ou jogam futebol no campo de terra como se estivessem no Delle Api [estádio da Juventus de Torino], me relembram o quanto eu devo ser grato pela vida que tenho e, dessa forma, o quanto devo reconhecer o amor e o cuidado de Deus em tudo. 


Nossa rotina foi bem agitada: acordávamos quase sempre às 7h para o café e, logo em seguida, tínhamos o tempo devocional. Em seguida, saíamos pela cidade para o evangelismo e, na medida em que as pessoas com quem conversávamos mostravam interesse em aprender mais sobre o Evangelho, marcávamos um tempo de ensino a posteriori [discipulado]. Voltávamos para o almoço e, após um tempo livre, saíamos novamente para o evangelismo/discipulado toda tarde. Finalmente, as noites também eram preenchidas [exibição de filmes para evangelismo, reuniões de oração, tempo de homens e tempo de mulheres etc.] e, em alguns momentos, realizamos impactos em localidades próximas [Sítio Carnaubinha e Coqueiro Alto]. Nas noites de domingo, nos uníamos à Igreja Batista de Quixaba para o culto - nesse caso, tivemos a oportunidade de servir junto àqueles irmãos nos momentos de louvor. 

Enquanto escrevo este texto, tenho vontade de voltar no tempo e fazer tudo de novo. Nada pode trazer mais satisfação a mim do que a certeza de estar me unindo ao que Deus está fazendo pelo mundo - seja na Itália, seja em Minas Gerais ou no meu querido sertão. Nele vivemos. Nele nos movemos. Nele existimos. 


Diante de tantas coisas que aconteceram neste projeto - evangelismo, discipulado, impactos, Tarde da Beleza para mulheres, trabalhos com a igreja etc. -, minhas lembranças mais valiosas estão nos momentos mais simples [especialmente o futebol com as crianças do Sítio Barros e a Escola Bíblica de Férias/EBF]. Embora eu não seja talentoso com a bola nos pés, foi muito bom me sujar de terra e fazer dois gols pelo meu time no dia do futebol. Detalhe: estava de camisa branca e meias brancas... Sacaram o resultado? Além disso, me fantasiar para tocar as músicas infantis e dar um pouco de alegria àquelas crianças tão sofridas me fez ver que eu posso ser útil para trazer um pouco de Deus para elas. Cada dia era um visual novo. Certamente, se um dia eu voltar ali, serei lembrado por muitas daquelas crianças. Isso é verdadeiramente gratificante. 


Em último lugar, encerramos nosso tempo de projeto com um evento na praça principal da cidade - com música, teatro e pregação. Foi bom ter a oportunidade de fazer com que as pessoas que nos receberam tão bem em suas casas [quase sempre com direito a biscoitos, refrigerante e frutas] ouvissem, mais uma vez, a mensagem de Cristo - aonde o som chegasse. 

Voltamos para o ônibus e pegamos novamente a estrada.
Viajamos cerca de 22h e chegamos em Andaraí/BA, local já conhecido de muitos de nosso grupo. Lá reencontramos algumas pessoas da igreja com a qual sempre fizemos parceira em projetos e ficamos lá no dia seguinte.


28 de janeiro de 2013. Horário de almoço. 
Lembrar disso me corta o coração pois, nesse dia e horário, perdemos alguém muito precioso. 
Não gostaria de me prender a detalhes. 
Quero somente ratificar que a nossa vida é um sopro e que, desse modo, temos de vivê-la intensamente. Mais do que isso: temos de vivê-la intensamente em Deus, por Ele e para Ele. 
A lembrança desta pessoa especial [que agora está perto Daquele a quem serviu com tanta seriedade durante sua vida tão curta] me reacendeu a chama do temor sincero e do primeiro amor. E não somente em mim, mas em todos que a conheceram durante o projeto.
Mesmo com a dor da perda, sabemos que Deus continua no controle de tudo. Sempre.


Após quase um mês fora de casa, estou plenamente convicto de que fiz o que deveria fazer. Por mais que meu coração estivesse triste por não ter retornado à Itália para continuar a fazer missão [ou por ter, mais uma vez, adiado meu retorno a um projeto integral do Brasil Música e Missão/BMM], sei que fiz a coisa certa. Deus esteve o tempo todo em tudo. 

Autoconfrontação. Crescimento pessoal. Valorização da vida que tenho. Amor pelos mais humildes. Resgate das lembranças da infância. Oportunidade de compartilhar Cristo num contexto bem diferente do que estava acostumado. Fazer novos amigos e estreitar os relacionamentos existentes. Poderia falar de várias outras coisas, mas resumo o Projeto Sertão em uma palavra: gratificante. Espero voltar em breve, se assim tiver de ser. 

Meu desejo é somente um: que o Sertão vire mar, quando a Água da Vida no coração de cada nordestino entrar... 




Pela satisfação de levar a Água Viva para o Sertão,



Soli Deo Gloria!

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