quarta-feira, 23 de novembro de 2011

A arte não precisa de justificativa...

Caros leitores, 

Inspirado num livro do nobre filósofo cristão holandês Hans Rookmaaker, gostaria de pensar um pouco sobre a arte e a relação dela com a fé cristã...

Será que todo tipo de arte agrada a Deus? Será que existe algum talento artístico que não é de Deus? Será que é pecado usar elementos artísticos característicos de minha cultura ou da cultura de outros povos como meio de me aproximar das pessoas como estratégia para levar o evangelho a elas? Isso é, de fato, "enfeitar a pregação"? Essas perguntas não são simples de serem respondidas, mas vou tentar esclarecer algumas coisas aqui com base nas Escrituras e no bom senso... Espero ter sucesso! (risos)... 



Bem... o primeiro conceito que devemos levar em conta quando pensamos na arte e em suas diversas expressões (música, dança, pintura, dramaturgia, fotografia, artesanato etc.) é que as variadas formas de se expressar artisticamente refletem a natureza do Deus Criador, pois a Bíblia diz que fomos feitos à imagem e semelhança de Deus (Gên. 1:26 e 9:6). 

Visto que, por meio das coisas criadas, todos os homens são indesculpáveis no que se refere a ter certo conhecimento de Deus (Rom. 1:20), posso afirmar com toda a certeza que Deus é o Ser criativo por excelência (o que dizer da sublime complexidade, da notável  beleza e do surpreendente mistério intrínseco ao universo e a tudo o que nele existe?) e que, por tudo isso, pode ser parafraseado como o "Grande Artista" - como diz a minha nobre amiga, missionária e cantora Klécia Corcino (muniiiitaaaa! *-*) e, como consequência, também temos "centelhas" dessa criatividade em nós (basta nos lembrarmos de Bach, Amadeus Mozart, Frida Kahlo, Boticelli, Copolla, Tolkien, Lewis, Rodin, Villa-Lobos, Tom, Vinícius, Stênio Marcius, Juninho Afram, Steve Vai, João Carlos Martins etc.)... Faltaria espaço para citar tantos que, em sua particularidade e talento, ratificam a grandeza do Deus Único que domina sobre todas as coisas (Sal. 103:19). 

Logo, todo talento digno de ser apreciado e belo por si mesmo (seja um exímio pianista, um cineasta inteligente, um bailarino preciso em seus movimentos, um ator de teatro que transmite vida enquanto atua ou um fotógrafo que escolhe o melhor ângulo para registrar algum momento de nossa rotina) veio de Deus e, de algum modo, revela a Sua glória. E, aproveitando o ensejo, gostaria de fazer um destaque e parabenizar todos os músicos pelo seu dia ontem (ou melhor, pelo "nosso dia", pois eu também estou nesse grupo) pois, de todas as manifestações artísticas, a música é a que mais nos enobrece, uma vez que nos traz para mais perto do Único que é realmente Nobre!

Bem... gostaria de me deter aqui na área da música, a qual, infelizmente, é a forma de arte mais demonizada (ou sacralizada) pela igreja (nem quero falar da dança aqui, pois a polêmica seria ainda maior)... Mas, você pode estar se perguntando: 
- Como assim? A igreja demoniza a música e ao mesmo tempo a sacraliza?
Deixe-me ser mais claro: a igreja demoniza normalmente aquilo que nunca fez parte de seus costumes ou aquilo que ela acredita não ser necessário para o louvor a Deus e sacraliza aquilo que foi recebido como uma herança histórica por considerar essa herança como "divinamente inspirada".

De início, nada é "divinamente inspirado" no seu sentido pleno a não ser as Escrituras (2 Tim. 3:16). Embora eu goste muito dos hinos antigos (Cantor Cristão, Hinário para o Culto Cristão - esses hinos são simples, belos e possuem quase sempre um excelente conteúdo teológico), eles não podem ser vistos como "divinamente inspirados" na mesma extensão das Escrituras... Isso é heresia! Isso é que deve ser "demonizado" ou exterminado do pensamento da igreja! [perdão pelo desabafo!]

Ora, se a arte reflete a glória de Deus e é uma dádiva do próprio Deus para os homens (sejam eles cristãos ou não, salvos ou não), ela não precisa de justificativa... Faz sentido considerar a necessidade de se justificar alguma coisa advinda de Alguém que é a Justiça em pessoa? Se Ele é absolutamente justo, tudo o que vem Dele é justo, puro e perfeito em si mesmo e, por isso, não há a menor necessidade de se "justificar" a arte ou qualquer outra coisa que venha Dele... Na verdade, isso é ignorância.

A Bíblia diz que TODAS as coisas são puras para os puros e que NADA é puro para os contaminados e incrédulos (Tito 1:15), que a minha liberdade não pode ser julgada pela consciência do outro e que TUDO que fazemos deve ser feito para glorificar a Deus (1 Cor. 10:25-31), que TODAS as coisas criadas por Deus são boas, sendo santificadas pela Palavra de Deus e pela oração (1 Tim. 4:4-5), que devemos abandonar os rudimentos do mundo por eles serem somente para satisfação da carne (Col. 2:20-23), que o sangue de Cristo é suficientemente poderoso para purificar os nossos corações para servirmos ao Deus Vivo (Heb. 9:11-14), que Cristo nos fez livres e nos tirou do jugo de escravidão (Gál. 5:1)... Faltaram muitos outros versículos aqui, mas acredito que esses já podem nos ajudar a entender que a nossa vida deve ser dedicada a Deus "na íntegra", isto é, quando oramos, quando lemos a Bíblia, quando nos reunimos como igreja, quando vamos trabalhar, ao sair com os amigos, quando ouvimos música, quando vamos ao teatro etc... Como dizia Spurgeon: "...para quem vive para Deus, nada é secular: tudo é sagrado..."!

Embora seja inquestionável o fato de que a arte tem sido cada vez mais depreciada, transgredida e vulgarizada (como resultado do pecado, não por ser assim em si mesma) e que, por isso, nem tudo que é considerado artístico é artístico em sua essência - pelos motivos que citei agora há pouco -, ainda vejo Deus nas diversas maneiras de se expressar e acho que todas as formas de arte podem e devem ser usadas para glorificar a Deus, sendo também um meio de nos aproximarmos das pessoas para levarmos o Evangelho a elas (contanto que não haja modificação alguma na mensagem bíblica nem qualquer depreciação da arte, é claro)... "...em tudo vejo o Teu amor, em tudo vejo Tuas mãos..."

Finalmente, todos os BONS ritmos musicais (sejam brasileiros, italianos, africanos, gregos, judaicos, orientais, ocidentais ou uma mistura de todos eles etc.) juntamente com um BOM CONTEÚDO (com poesia, beleza, profundidade e, no caso da música cristã, com uma teologia saudável e cristocêntrica) podem e devem fazer parte da vida do cristão... Desse modo, vou intercalando Bach com Beatles e, depois de um tempo, ouvir um pouco de Los Hermanos com Stênio e, no fim do dia, curtir a poesia da Legião Urbana junto com os hinos antigos nas versões do Thalles Roberto! 

Enfim, como diz outra amiga cantora e também "muniiiitaaa" (só não é missionária, né Juliana Ribeiro? rsrs), "silêncio é bom, mas é vazio"...

Viva a arte genuína... Viva a boa música... Dele, por Ele e para Ele são TODAS as coisas!



Soli Deo Gloria!

Um comentário:

  1. Jubal ficaria feliz ao ler esse texto, assim como eu fiquei.
    PS.: Quem não conhece Jubal ==> Gn 4 : 21

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