Um
novo semestre começou. 1º de julho de 2012 - embora eu só tenha conseguido
postar o texto hoje, dia 03 de julho.
Primeiro
de Julho. Não posso passar por este dia sem me lembrar de certa frase de uma
música com o mesmo nome, composta pelo Renato Russo nos seus últimos meses de
vida, onde se diz:
“Não
basta o compromisso, vale mais o coração...”
Logo,
no sentido de que, no fim das contas, o que vale mais é a essência e não a
aparência, o caráter em vez de uma maquiagem, quero continuar a pensar nas
perguntas que têm me incomodado há alguns dias, como fiz no post anterior.
O
que é a verdade? Por que existem tantas “verdades”? Qual é a “verdade” sobre a
verdade? Espero que minha insistência nesse tema seja útil.
Entretanto,
nesse texto, meu objetivo é me ater a uma problemática relacionada às nossas
concepções a respeito de nossos diversos “modus
vivendi” (individualmente) e em relação aos dos outros. Deixe-me traduzir o
que quis dizer.
Nós
somos pessoas particulares. Cada um é único. Você, se tiver irmãos, embora
tenha sido (provavelmente) educado e criado no mesmo ambiente e pelos mesmos
pais, é diferente deles e eles são igualmente diferentes entre si. Se você tem
irmão(s) gêmeo(s), não se engane: ainda assim, a verdade é que vocês não são
iguais. O que dizer, então, de pessoas criadas por famílias diferentes, em
contextos culturais diferentes, sob valores e crenças diferentes, em condições
sociais diferentes e até mesmo em climas diferentes? Obviamente, as diferenças
entre pessoas nesse escopo serão muito mais acentuadas. No entanto, todos são
seres humanos e, desse modo, os mesmos traços de personalidade e índole se
fazem comuns ---> por exemplo, tendemos a achar nossa cultura, nossos
costumes religiosos, nossas preferências, nossas heranças sociais e ideológicas
superiores às dos outros. Ah... O orgulho sempre nos persegue. Melhor (ou seria
pior?), ele lateja, vibra, pulsa e se agita dentro de cada um. Em mim e em
você. Não há saída.
Dentre
esses aspectos, um deles me deixa extremamente preocupado e, ocasionalmente, é
alvo de meus “desabafos” aqui neste blog: a “verdade inquestionável” do etnocentrismo
cultural-religioso cristão [se é que eu posso chamar isso de algo relativo ao
Cristo das Escrituras...]. Normalmente, julgamos nossos “usos e costumes” mais
“corretos” ou mais “santos” do que os dos demais. Definimos que nossa estrutura
litúrgica mais digna dos créditos divinos do que as dos outros segmentos
religiosos ou denominações. Sacralização e demonização. Petulantemente,
consideramo-nos habilitados para definir aquilo que é “santo” e “correto” de
acordo com nossa “sabedoria humana” (sabedoria?) [e, quase sempre, o que é
“sacralizado” é aquilo que é do nosso interesse] e, ao mesmo tempo,
classificamos todo o resto (seja a cultura, a liturgia religiosa etc.) como
algo mau em si mesmo e, portanto, desagradável a Deus... Que dEUs?
Por
outro lado, nós também sacralizamos elementos de outras culturas
(particularmente, norte-americana e europeia – nada contra a cultura deles, até
porque meu sangue é luso-italiano) e demonizamos a nossa própria identidade
----> samba e ijexá são coisas da “cultura africana”, rock é coisa de gente rebelde e incrédula, música secular é consagrada ao demônio etc... Logo, não tem nada a
ver com Deus... Que absurdo! Contra toda essa estupidez, cito o Apóstolo Tiago:
“Quem
é sábio e inteligente entre vocês? Mostre com a boa conduta as suas boas obras
em mansidão de sabedoria.
Mas,
se vocês têm amarga inveja e um espírito contencioso, não se gloriem e nem
mintam contra a verdade.
Esta
não é a sabedoria que vem do alto, mas é terrena, carnal e diabólica.
Pois,
onde há inveja e sentimento faccioso, aí há desordem e toda a obra perversa”.
[Tiago
3:13-16]
Onde
há orgulho não pode haver qualquer centelha de Deus. Onde há desprezo pela
beleza da pluralidade cultural dos diferentes povos que Deus criou com suas
peculiaridades, não há uma consciência correta da revelação das Escrituras,
onde se lê que vai chegar o dia em que se verá “...uma multidão que ninguém
podia contar, de TODAS as nações, tribos, povos e línguas, em pé diante do
trono e segurando palmas nas mãos, cantando um novo cântico que dizia: a
salvação pertence ao Senhor que está sentado no trono, e ao Cordeiro...”
(Apocalipse 7:9-10). De todas as nações. De todas as línguas. De todos os
povos. De todas as tribos. Integridade da adoração. Deus ama isso e Ele diz em Sua Palavra que é
isso que nos aguarda.
Que
lindo! Todas as culturas, com sua identidade, sua beleza e suas cores louvando
a Deus, numa orquestra colossal. Imaginem só, que cena: tambores e atabaques
(num batuque ritmado), acordeons, triângulos e zabumbas (nordestinizando o céu),
pianos e violinos (ah, o clássico!), trompetes, trombones e saxofones (levando
a precisão do jazz), guitarras e gaitas (trazendo a alma e o coração do blues e
do rock)... Faltar-me-ia tempo se eu tentasse lembrar dos outros instrumentos,
mas o que importa é apenas uma coisa: vai ter gente de todos os povos, tribos,
nações e línguas lá. Se você julga ser (ou tem consciência que faz) parte deste grupo, é melhor ir se
acostumando com essa bela “pluralidade divina” desde já.
De
fato, diante de tamanha miscigenação prometida nas páginas da Escritura, “vale
mais o coração” do desígnio de Deus do que o nosso “compromisso” com nossas
medíocres opiniões. Vale mais a essência da beleza da graça de Deus manifesta
nos diversos povos e em suas culturas (inclusive no nosso povo e em nossa
cultura) do que o nosso apego aos rudimentos do mundo, como disse o apóstolo
Paulo:
“Visto
que vocês já morreram com Cristo para os rudimentos do mundo, por que vocês
ainda se submetem a mandamentos como se ainda vivessem no mundo, tais como: Não
toques? Não proves? Não manuseies?
Todas
essas coisas desaparecerão pelo uso, pois são preceitos e doutrinas de homens,
as quais têm alguma aparência de sabedoria, em falsa devoção, falsa humildade e
disciplina do corpo, mas não têm valor algum a não ser para a satisfação dos
desejos da carne.”
[Colossenses
2:20-23]
Sublime!
Liberdade para desfrutar do que Deus faz e concede às suas criaturas! A boa
música (de mensagem religiosa ou não), a pintura, o cinema (cristão ou não), a
literatura (teológica ou não, devocional ou não)... Certamente, nada é
comparável às Escrituras mas, curiosamente, é nas próprias páginas das
Escrituras que podemos entender e reconhecer essa liberdade para a contemplação
e o usufruir da graça comum Dele em cada canto (literalmente), em cada traço na
tela, em cada claquete, em cada parágrafo. O resto é para satisfação da carne.
O resto perece pelo uso. O resto é ensino humano. É rudimento, é coisa que deve
ficar pra trás. É falsa santidade. É falsa devoção. É falsa humildade. É um
fardo pesado. Mas eu aprendi que o fardo Dele é leve. Eu também aprendi que o
jugo Dele é suave. “Deus está, eu sei, Deus está...”, já dizia uma bela música.
Onipresença.
Soberania. Graça. Deus em todo lugar. Essa é a verdade.
Pela
verdade da Onipresença,
Soli Deo Gloria!
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