Depois
de alguns dias, finalmente estou de volta.
Não
foi por falta de inspiração ou de assunto para escrever; foi por falta de tempo
mesmo.
Desde
o último dia 13 me envolvi em algo conhecido como 24-7 (para maiores
informações a respeito, acesse www.24-7prayer.com)
e, para completar, estou de viagem marcada para amanhã por ocasião de um
projeto missionário (que já está em curso) na região da Chapada Diamantina/BA –
logo, ainda estou organizando as coisas da viagem... Mas, como esse blog tem um
caráter “autoterapêutico” (como alguns já devem ter notado), precisei voltar a
escrever.
Bem,
a pergunta “por que as verdades têm autonomias?” ainda não saiu da minha mente
e, nesse sentido, gostaria de escrever sobre outra “verdade” presente na
comunidade cristã que me causa profunda revolta, principalmente pelo fato de
expressar uma “aparência” de amor a Deus, de humildade e de centralidade em
Deus... Ora, visto que tudo pode ser uma questão de “aparência” e não de
“verdade” propriamente dita, a revolta interior é quase inevitável. As
Escrituras afirmam: “Porque nada podemos contra a verdade, senão pela
verdade...” (2 Coríntios 13:8). Nada podemos contra a verdade. A verdade, no
fim das contas, sempre prevalece.
O
tema desse texto se consolidou após uma determinada postagem no facebook (na
qual fui marcado por um colega), onde se lia: “trabalhe como um arminiano e
durma como um calvinista” – citação do pastor Mark Driscoll (Igreja Mars Hill,
Seattle/USA). Como a maioria das pessoas que estavam comentando no post, eu
levei a afirmação na brincadeira (embora preferisse não comentar nada no
momento)... Porém, um comentário me decepcionou, no qual se dizia:
“Eu
discordo. A Bíblia diz: “Sede meus imitadores, como eu também, de Cristo” (1
Coríntios 11:1). Ou seja, eu não imito homens, eu imito a Jesus (risos)”.
Com
o perdão da palavra, é uma ignorância revoltante.
Primeiramente,
o texto bíblico usado pela pessoa que fez o comentário diz exatamente o
contrário do que ela intencionou defender, pois o apóstolo Paulo diz que
devemos imitá-lo, pois ele procurava imitar a Cristo – logo, os cristãos aos
quais Paulo deu essa ordem estariam imitando a Jesus na medida em que o
imitassem. Isto é, um dos meios pelos quais Deus nos conforma à imagem de Jesus
Cristo (ver Romanos 8:29) é através de bons exemplos humanos, de pessoas que
procuram seguir a Cristo verdadeiramente e viver para a Sua glória. Não há o
que discutir: Paulo disse aos crentes de Corinto para que eles o imitassem. É
isso que o texto diz. Na verdade, se bons exemplos humanos não fossem
importantes, todos os cristãos poderiam jogar o capítulo 11 do livro de Hebreus
(o conhecido relato dos “heróis da Fé”, embora eu discorde desse termo
“heróis”) no lixo...
Mas
ninguém faria isso, não é?
Diante
disso, prefiro as palavras do rei Salomão, que disse que “...Na multidão de
conselheiros há segurança” (Provérbios 11:14b). Precisamos dos outros para
crescer na graça e no conhecimento de Deus. Eu não posso seguir a Cristo por
mim mesmo. Na verdade, é muito melhor caminhar com Deus com a companhia de
outros do que achar que é possível fazer isso sozinho (Eclesiastes 4:9-11) –
pensando bem, isso é orgulho. E, como é incontestável nas Escrituras, Deus
abomina o orgulho. Você entendeu? Deus abomina. Deus odeia. Deus detesta o
orgulho profundamente (Provérbios 6:16-19 e Tiago 4:6b). Mais do que isso: Ele
se opõe aos orgulhosos. Sinceramente, eu não quero ter Deus como meu oponente.
Em
segundo lugar, todos nós temos referenciais pessoais – seja na família, no
nosso círculo de amigos, na igreja e também na sociedade. É muita hipocrisia
dizer que não somos influenciados por outras pessoas. Nós vivemos em sociedade
e constituímos uma coletividade. Logo, somos influenciados pelas pessoas e
igualmente as influenciamos, independentemente do grau dessa influência.
Portanto, a afirmação de que “não imitamos pessoas, imitamos a Jesus” está mais
próxima de ser uma espiritualidade forçada (conforme discutido no texto
anterior) ou mesmo uma espiritualidade fingida. Eu imito pessoas. Você imita
pessoas. Todos imitam pessoas (pelo menos em determinada instância). Embora
Jesus deva ser o único referencial de conduta para aqueles que O seguem (ou
julgam que fazem isso) – até porque Ele disse que “nos deu o exemplo, para que
façamos como Ele fez” [ver João 13:15] -, as Escrituras não defendem esse tipo
de postura ascética. Esse ascetismo disfarça uma postura arrogante do coração,
pois traz consigo o pensamento equivocado de que “eu sou seguidor de Cristo,
mas os outros seguem homens” e de que “eu não preciso de outros para seguir a
Cristo”. Tudo isso é vaidade. É falsa devoção. É superficialidade. É espiritualidade
exibicionista. Eu me cansei disso. Cansei.
Por
outro lado, o mais interessante dessa questão é que, provavelmente, a pessoa
que criticou a frase do Mark Driscoll não discordaria se em lugar dos termos
“arminiano” e “calvinista” estivessem, por exemplo, Abraão e Paulo. Eu tenho me
perguntado: por que ninguém tem dificuldade de enxergar Abraão e Paulo como
exemplos de servos de Deus [e, desse modo, como bons exemplos bíblicos para os
cristãos de hoje], mas não podem nem ouvir falar de Armínio ou de Calvino?
Antes de criticarmos algo ou alguém, precisamos conhecer a respeito. Logo, não
podemos sair por aí criticando A ou B antes de saber do que se trata A ou B.
Isso é preconceito. É ignorância. É fugir da realidade de que, do ponto de
vista teológico-filosófico-doutrinário [para quem está mais integrado com o
assunto], dificilmente alguém fica fora de um dos lados. Ou se é
arminiano/sinergista ou se é calvinista/monergista. Sem entrar nos detalhes que
diferenciam ambas as correntes, o fato é que sempre caímos em um rótulo ou, no
máximo, podemos ficar no meio-termo. Essa história de “eu não sou nem A nem B,
sou apenas um aluno da palavra de Deus” soa hipócrita demais para meu gosto. Os
rótulos são inevitáveis. Contra toda essa ideia, cito o texto de Hebreus 13:7,
onde se lê:
“Lembrem-se
dos seus pastores, que lhes falaram a palavra de Deus, imitando a fé deles,
atentando para a sua maneira de viver”.
A
Bíblia diz para lembrarmo-nos de nossos pastores, pois eles nos falaram a
palavra de Deus. Além disso, a Escritura diz que devemos imitar a fé deles e
atentar no seu procedimento. Você leu com atenção? Devemos IMITAR a fé deles e
ATENTAR no seu modus vivendi. Armínio,
Calvino e tantos outros homens ao longo da história são, certamente, pessoas
nas quais muitos se espelham, em virtude de seus exemplos de vida e de seus
ensinos (seja de modo consciente do que isso significa ou não). Eu não posso
fingir que não tenho referências para minha caminhada com Deus. Eu PRECISO de
boas referências humanas para poder caminhar. Eu sou necessitado dos outros. Essa
necessidade é péssima para meu ego, mas é fundamental para que eu possa compreender
e reconhecer que não sou autossuficiente. Eu sou absolutamente dependente de
Cristo para ter uma vida frutífera [João 15:4-5], mas Jesus instituiu uma
comunidade chamada IGREJA [Mateus 16:18], que é o seu corpo – 1 Coríntios
12:27. Logo, quer eu goste ou não, quer você goste ou não, se eu ou você nos
julgamos (ou de fato somos) servos verdadeiros de Cristo, não podemos fugir da
coletividade. Nós precisamos da coletividade da igreja [1 Coríntios 12:12-25].
Deus AMA isso; ora, até Ele é um Deus trino - um Deus que é Pai, Filho e
Espírito Santo. Eis a “unicoletividade” divina.
Por
tudo isso, a “verdade” do “imitar a Cristo, e não imitar homens” é um grande
engano. Ainda bem que o ensino das Escrituras é que “...seguindo a verdade em
amor, cresçamos em tudo naquele que é a Cabeça, que é Cristo, do qual todo o
CORPO, bem ajustado e ligado pelo auxílio de todas as juntas, segundo a
operação de CADA PARTE, faz o aumento do corpo, para a sua EDIFICAÇÃO em amor”
[Efésios 4:15-16]. Eu louvo a Deus pelos bons exemplos dados na Sua Palavra,
pelos bons exemplos presentes na história e pelos bons exemplos da atualidade.
Noé, Abraão, Moisés, Davi, Salomão, Jeremias, Pedro, Paulo, João, Agostinho,
Policarpo, Tomás de Aquino, Francisco de Assis, John Huss, Martinho Lutero,
João Calvino, John Bunyan, John Wesley, George Whitefield, Charles Spurgeon,
David Brainerd, David Livingstone, William Carey, Geronimo Savonarolla, Jim
Elliot, Martin Lloyd-Jones, John Piper, Paul Washer, Mark Driscoll, Marcus
Vinícius, Rodrigo Mello, Matheus Cabral, Filipe Gomes, Mariana Lima, Evelyn
Santos, Juliana Ribeiro, Klécia Corcino, Janiê Sucupira, Henrique Vieira, Erlon
de Sousa, Liege Lopes, Fernando Bispo, Maurício Jaccoud, Gilberlei Oliveira,
Isaías Costa, Hermevaldo Macedo, Fabrício Cardozo, Iolanda Sodré, Alberto de
Souza, Solange Barreto, Jesus Cristo.
Muitos outros podem ser mencionados aqui, mas essa
pequena lista de nomes mostra o quanto Deus usa pessoas para nos inspirarem a
ser mais parecidos com Ele. Isso sim é verdadeiro. Que lindo! Deus, pela Sua
graça, usa pessoas imperfeitas para que outras pessoas igualmente imperfeitas
(como eu) se tornem, gradativamente, mais conformados à Sua perfeita imagem. Quanta
Graça! Quanto Amor! Misericórdia sem fim. Bondade indescritível.
Pelos
bons exemplos de vida,
Soli Deo Gloria!
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