O ano está terminando mas ainda separei um tempo para escrever aqui.
Diferentemente do texto anterior (o qual foi propositadamente severo), espero conseguir ser mais sereno dessa vez.
Logo, é hora de escrever antes que o ano acabe.
Esse texto conterá reflexões relacionadas ao Natal (visto que, neste momento em que escrevo, estamos a 3 dias do 25 de dezembro) juntamente com algumas considerações referentes a uma canção do compositor Paulo Nazareth chamada "O Extraordinário em nós", a qual inspirou o título dessa postagem.
Inicialmente, é importante fazer determinados esclarecimentos a respeito do Natal [como o conhecemos no "mundo ocidental"] para elucidar alguns impasses bem como resgatar valores a ele associados, dado o fato de que quaisquer símbolos que representem alguma "oposição" ou "ameaça" ao "novo mundo" ou à "nova ordem" [i.e., o que pode ser chamado de "nova ordem mundial"] a ser estabelecido(a) no "porvir" estão sendo destruídos ou corrompidos pelos seus "paladinos", a fim de serem substituídos por qualquer outra coisa inócua e sem substância.
Portanto, o primeiro lembrete necessário a respeito do Natal é que a palavra "natal" está relacionada a "nascimento", "natividade" ou "natalidade", numa menção direta ao "Advento", termo usado pelos cristãos para se referir ao nascimento de Jesus Cristo. Desse modo, o conceito de Natal não pode ser dissociado do Cristianismo em nenhuma medida, uma vez que a figura central é o menino da manjedoura, cujo nascimento é considerado o marco divisor das eras no contexto do Ocidente - ora, o tempo é didaticamente dividido em A.C. (antes de Cristo) e D.C. (depois de Cristo), embora hoje já se está utilizando o termo "Era Comum" em vez de "Era Cristã", para (provavelmente) evitar "ofender" quem quer que seja ou "não incluir" alguma "minoria" qualquer.
Além disso, ainda que seja mais lógico considerar ou supor que Jesus Cristo não tenha nascido [de fato] no período do calendário hebraico/judeu equivalente ao mês de dezembro - em virtude das descrições contidas nos Evangelhos - bem como apesar de se atribuir ao Natal um certo ar "pagão" [em razão da hipotética substituição de celebrações pagãs ou simbologias religiosas pela celebração do nascimento do "Filho de Deus" nas nações ditas "cristianizadas"], deve-se salientar que o Natal talvez seja um dos momentos mais simbolicamente essenciais para a identidade ocidental, de sorte que celebrá-lo não é em si pecaminoso simplesmente pelos fatores supracitados, mesmo que a não-celebração consciente também não é errada ipso facto - ou seja [digo isso aos cristãos], cada um deve estar seguro em seu próprio ânimo, não julgando quem o faz ou desprezando a quem não o faz, sabendo sobretudo que "...tudo que não provém de fé é pecado...".
Em contrapartida, existem dois aspectos dessa época que, embora também não sejam errados por definição, podem se tornar um subterfúgio para depreciação do Natal ou, por outro lado, acabam por ser enfatizados como uma característica principal, de maneira que Jesus Cristo é transformado em um mero adereço pictórico ou é alegorizado em frases de efeito sem qualquer eficácia como "...Jesus precisa nascer nos corações para que sejamos pessoas melhores em um mundo melhor, não para sermos religiosos...". Neste caso, me refiro tanto à compra e troca de presentes quanto às ações solidárias tão comuns nesse período do ano.
De um lado, a famigerada mobilização [por vezes imoderada] para as compras de Natal tanto pode evidenciar uma face "consumista e materialista" de nossa sociedade [ainda que seja saudável e válido compartilhar presentes com os familiares, amigos ou colegas de trabalho] como pode ser instrumentalizada em desculpas falaciosas do tipo "...Para quê existe o Natal? Isso é coisa do capitalismo!...", as quais para nada servem senão para tentar desmoralizar o valor e o significado do Natal e expressam a idéia errônea e mentirosa de que qualquer coisa que possa ser vinculada ao capitalismo (seja legitimamente, seja de modo ilegítimo) é automaticamente maléfica ou desprezível tão-somente porque o capitalismo é "selvagem", "instrumento de opressão" ou outro espantalho fabricado pelos discursos dos que esbravejam contra ele enquanto usam iMac, passam férias em Nova York, Santorini ou Paris e, claro, possuem contas secretas nos paraísos fiscais e/ou na Suíça assim como roubam sem culpa pelo fato de que "roubar para o 'Partido' é um bem necessário à causa".
Por outro lado, gostaria de ratificar que toda ação solidária é válida e benéfica em algum sentido e, obviamente, deve ser estimulada, em virtude do fato de que o ser humano possui dignidade intrínseca decorrente de sua imago Dei e, portanto, tomar atitudes que objetivem dignificar o semelhante ou, no mínimo, conferir um pouco de alegria a quem constantemente tem de lidar com o sofrimento e privação, é louvável e expressa o caráter amoroso de Deus bem como o ensino geral das Escrituras, as quais dizem que "...os que atendem ao clamor do pobre são bem-aventurados...", bem como que os "...misericordiosos são bem-aventurados, pois alcançarão misericórdia..." e que "...se alguém ver seu irmão necessitado de bens do mundo e, tendo como ajudá-lo, fechar o coração, como pode permanecer nele o amor de Deus?...", de modo que "...não devemos amar de palavra nem de língua, mas por obras em em verdade...". Todavia, o que sempre percebo nessa época é que o valor e importância do Natal são reduzidos a "fazer o bem", a "ajudar o próximo" ou a "lutar por um mundo melhor", de tal modo que o "ser humano solidário", juntamente com suas "boas obras", usurpam o lugar de preeminência que não lhes pertence, pois este é [e deve ser] somente de Jesus Cristo, assim como diz uma velha canção:
"...Eu sei o sentido do Natal
Pois na história tem o seu lugar:
Cristo veio para nos salvar!
O que Ele é pra mim?..."
[Nas estrelas - Vencedores por Cristo]
Isto é, o Natal não é sobre nós nem mesmo sobre as nossas "boas obras" em favor dos outros - até porque, como dizia Martinho Lutero, "...devemos nos arrepender não somente de nossas más obras, mas também de nossas 'malditas boas obras'..." -, mas é sobre Jesus Cristo e as obras Dele relatadas nas Escrituras. Em última instância, não existem obras que mereçam ser chamadas de "boas" a não ser unicamente as obras de Jesus Cristo, pois, no tocante à salvação, as únicas obras aceitáveis a Deus são aquelas realizadas pelo Seu Filho [o Qual cumpriu toda a Lei e satisfez todas as exigências da justiça divina] e, além disso, até mesmo as "boas obras" que são demandadas dos seguidores de Jesus Cristo como evidência da salvação foram "...preparadas de antemão por Deus..." e são feitas "...por intermédio Dele...", de modo que não há qualquer espaço para vanglórias inúteis ou vãs presunções para que "...quem se gloriar, glorie-se no Senhor...".
Conseqüentemente, a "assertiva natalina" de que "...Jesus precisa nascer nos corações para que sejamos pessoas melhores ao invés de religiosos..." também é uma falácia, pois não há possibilidade de sermos "transformados em pessoas melhores" [lançando mão dessa idéia] sem que Deus seja o "agente" dessa "transformação" e, dessa forma, só é possível ser "alguém melhor" [i.e., que realize as boas obras que Deus designou] tornando-se "religioso" - no caso, alguém autenticamente religioso e que siga a verdadeira religião, denominada de "pura e imaculada para com Deus Pai" e que [curiosamente] consiste em "...visitar os órfãos e as viúvas em suas tribulações e guardar-se da contaminação do mundo...". Em suma, somente Deus redime pecadores para restaurar neles a Sua própria imagem e, para que esse processo seja realizado, todos são reconciliados com Ele [ou religados a Ele], o que nada mais é do que aquilo que os antigos chamavam de "verdadeira religião", a qual envolve o exercício da misericórdia para com o outro bem como a vida de piedade e retidão.
No entanto, a tentativa de trazer de volta a realidade de que o Natal é digno de ser celebrado, posto que é símbolo essencial da identidade da civilização ocidental [a qual ainda preserva coisas boas essencialmente devido à sua sólida base judaico-cristã], e que, acima de tudo, o Natal tem seu significado subsistente em Jesus Cristo, se torna cada vez mais uma "verdade inconveniente" - em alguns casos, até uma questão de "vida ou morte".
Recentemente, na lindíssima cidade francesa de Strasbourg/Estrasburgo (localizada na região franco-germânica da Alsace-Lorraine), ocorreu mais um ataque terrorista que chocou o mundo, dado o fato de que o terrorista [europeu de origem marroquina e seguidor do islamismo] realizou seu ataque no meio do "Marché de Noël" [ou "Mercado de Natal"] da cidade - os quais são comuns por toda a Europa nessa época, especialmente nas regiões de população germânica, escandinava ou britânica -, assassinando 4 pessoas e ferindo mais de 10. Em particular, esse ocorrido me deixou muito preocupado no momento, pelo fato de que tenho uma amiga francesa que é dessa cidade, porém felizmente nada ocorreu com ela nem com membros de sua família [ainda que as mortes que ocorreram sejam lamentáveis]. Ou seja, chegamos ao tempo em que até os "mercados de Natal" são ofensivos aos "pobres terroristas" que são tratados como "imigrantes necessitados de abrigo", de sorte que esses "símbolos cristãos não-inclusivos" devem ser destruídos e, nas piores situações, os próprios "infiéis ocidentais" devem ser igualmente destruídos.
Ora, de modo concomitante à barbárie mencionada acima, já existem casos em que as tradicionais canções de Natal tem sido adaptadas nas escolas infantis para que o nome "Jesus" [Jésus, Gesù, Jesu etc.] não apareça - pois isso pode "ofender" as crianças "não-cristãs"! - assim como de que não se pode mais montar "presépios" em espaços públicos [ou os mesmos não incluem o "menino Jesus" na manjedoura] porque "o Estado é laico". Resumidamente, faço eco às sábias e ousadas palavras de George Orwell, o qual afirmou que "...em tempos de mentiras universais, dizer a verdade é um ato de coragem...", pois parece cada vez mais concreto que o poder de "mandar e desmandar em tudo e todos" está nas mãos daqueles que querem a eliminação/perversão não apenas do Natal, mas de tudo que possa ser relacionado a Deus ou ao Cristianismo.
Todavia, isso não é tudo que vale a pena ser dito.
Na verdade, o que há de mais importante é ir até onde tudo começa - muito antes do Anno Domini ou, em outras palavras, do "primeiro Natal".
De acordo com os escritos dos profetas de Israel - mais particularmente, dos profetas de Judá - que compõem o Tanakh dos judeus ou o Antigo Testamento cristão, existem profecias datadas a partir de cerca de 700 anos antes do Anno Domini que preanunciaram a vinda do "Messias" [ou Cristo], as quais destacam inclusive a "concepção virginal" por parte daquela que Lhe daria à luz bem como a região exata de Seu nascimento, como está escrito:
"Portanto o Senhor mesmo vos dará um sinal: eis que uma virgem conceberá, e dará à luz um filho, e o seu nome será Emanuel". [Isaías 7, vs. 14]
"Mas tu, Belém Efrata, posto que pequena para estar entre as milhares de Judá, de ti é que me sairá Aquele que há de reinar em Israel, e cujas origens são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade". [Miquéias 5, vs. 2]
Logo, desde que esses oráculos haviam sido revelados por Deus ao povo hebreu, eles foram tornados mais conscientes da realidade da promessa do Messias que deveria vir para reinar no meio deles e que seria o "Emanuel" ou "Deus presente", embora Ele viesse a nascer de uma virgem numa pequena vila do território de Judá [ou Judéia]. Contudo, outras profecias indicariam que esse "Messias prometido" não seria enviado apenas para reinar sobre os descendentes naturais de Israel, mas sim "até os confins da terra", pois também está escrito nos profetas que:
"O povo que estava em trevas viu uma grande luz; e sobre os que habitavam na região da sombra da morte resplandeceu a luz. [...]
Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu, e o governo está sobre os Seus ombros; e o Seu nome será Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz.
Do aumento do Seu governo e da paz não haverá fim, sobre o trono de Davi e no seu reino, para o estabelecer e o fortificar em retidão e em justiça, desde agora e para sempre; o zelo do Senhor dos Exércitos fará isso. [Isaías 9, vs. 2, 6-7]
E até mesmo nos Salmos se lê passagens como:
"Nos Seus dias floresça a justiça, e haja abundância de paz enquanto durar a lua.
Domine Ele de mar a mar, e desde o Rio até as extremidades da terra.
Inclinem-se diante Dele os Seus adversários, e os Seus inimigos lambam o pó. [...]
Todos os reis se prostrem perante Ele, e todas as nações O sirvam".
[Salmo 72, vs. 7-9 e 11]
Os versículos citados comunicam claramente que o "Primeiro Natal" [i.e., o nascimento do Messias] seria como uma "grande luz" para um povo que "habitava nas trevas" e na "região da sombra da morte", a qual resplandeceria através de "um menino que nasceria" e de "um filho que seria dado", o Qual teria o domínio sobre os ombros, um domínio que se estenderia e que jamais teria fim, pois o Seu reino seria "estabelecido desde agora e para sempre" de acordo com o "zelo do Senhor dos Exércitos". Além disso, Aquele que haveria de nascer de uma jovem virgem é prefigurado como o Rei em cujos dias "floresceria a justiça e haveria abundância de paz", como Aquele que "dominaria de mar a mar e até as extremidades da terra", de modo que os Seus inimigos "se inclinariam diante Dele para lamber o pó" e, finalmente, "todos os reis se prostrariam em Sua presença e todas as nações O serviriam". Ou seja, o Natal é a proclamação da chegada do Rei de todo o universo ao mundo, do Senhor dos céus e da terra à "Cidade dos Homens", do Eterno à dimensão limitada do tempo, do Criador que se encarnaria para assumir a humilhada condição humana para ser "o mais humilhado entre os homens", do Deus Santo que seria chamado de "amigo dos pecadores" e que daria a própria vida por eles.
Entretanto, ainda que o futuro do pretérito esteja sendo usado com freqüência no texto, eu não estou tratando de coisas que ainda devem acontecer ou que estão por vir pois, embora na linguagem profética se lê que "...o zelo do Senhor dos Exércitos fará isso..", agora o que deve ser dito é que "...o zelo do Senhor dos Exércitos já começou a fazer isso...", pois o "menino já nasceu" e o "Filho já nos foi dado". Jesus Cristo, de Belém da Judéia, embora seja chamado "Nazareno" por ter sido criado em Nazaré da Galiléia, já foi enviado ao mundo - o Rei do universo já veio até nós, o Senhor dos céus e da terra já habitou a Cidade dos Homens, o Eterno já experimentou o que é estar no tempo, o Criador se fez como uma de Suas criaturas para ser o mais rejeitado por elas, o Deus Santo já se misturou com os pecadores a fim de chamá-los ao arrependimento e perdoá-los dos seus pecados assumindo em Si mesmo a punição que eles deveriam receber. Porém, esse que outrora foi um "menino" numa manjedoura é hoje glorificado no céu, uma vez que ressuscitou dos mortos para justificar a todos os que Nele crêem e para garantir a última e definitiva esperança deles: a vitória sobre a morte e a restauração da Sua imagem neles.
Finalmente, eu poderia dizer que o real sentido do Natal é o advento do Filho de Deus ou a presença do "Extraordinário entre nós", com o Qual tenho aprendido que "o que há de revelar quem sou lá no fundo" não é necessariamente "o que ficou pra trás" [incluindo os meus pecados pregressos, já que estes foram por Ele expiados] nem mesmo a minha "conta bancária", assim como que "se a vida aqui for por inteiro" - i.e., se a fruição de uma vida de real satisfação e alegria, a qual consiste em conhecer a Deus e a Seu Filho Jesus Cristo, se inicia desde já -, esse é o "começo do extraordinário em nós para sempre", pois todo aquele que tem prazer em Deus durante sua vida terrena será conduzido à presença Dele no tempo designado para desfrutá-Lo para sempre - o que poderia haver de mais extraordinário que isso?
Por tudo isso, minha oração é que Ele - que veio ao mundo para nascer como um de nós, viver entre nós, morrer por nós e ressuscitar para nós -, sempre me lembre que, assim como Ele foi enquanto esteve em nosso meio, eu também sou [guardadas as devidas proporções] um "personagem de outro Reino" e "peregrino por inteiro aqui", visto que quando fui salvo por Ele da "Cidade da Destruição" para ser guiado pelo caminho rumo à "Cidade Celestial", a minha pátria verdadeira se mostrou ser outra em lugar da minha de origem [ainda que eu ame o Brasil bem como as minhas origens luso-italianas], pois está escrito que:
"...A nossa cidadania/nossa pátria está nos céus, de onde também aguardamos um Salvador, o Senhor Jesus Cristo...". [Filipenses 3, vs. 20]
Agora, o que todos devem aguardar não é o Seu advento como um bebê judeu [cuja vinda tentou ser impedida por um decreto governamental que ordenava o assassinato de todos os bebês judeus de menos de 2 anos de idade - qualquer semelhança com a "cultura da morte" promovida pelos movimentos abortistas atuais não é mera coincidência!] que nascerá para morrer pelos homens pecadores, mas sim a Sua manifestação gloriosa para resgatar o Seu povo redimido para Si mesmo e julgar a todos os que não deram ouvidos ao Seu Evangelho. Destarte, "o que há de revelar quem realmente sou" [tanto para mim mesmo, quanto para os demais] será a contemplação real do "Extraordinário entre nós" mais uma vez - ou seja, a visão beatífica de Jesus Cristo, que nos transformará para nos fazer semelhantes a Ele, de modo que "saberemos o que haveremos de ser", pois "quando Ele se manifestar, seremos semelhantes a Ele, pois O veremos como Ele é".
E quanto a você?
Qual tem sido (ou é) o real sentido do Natal?
O que mais importa são as nossas "boas obras" ou as "boas obras" de Jesus Cristo?
Você dá valor aos símbolos que dão identidade à sua civilização ou os tem desprezado em virtude de discursos falaciosos e idéias perniciosas?
Finalmente, o que você fará quando o "Extraordinário" estiver novamente entre nós? Se alegrará com a Sua vinda ou estará aterrorizado ao tentar inutilmente escapar de Sua ira?
Pela esperança de que o Extraordinário voltará para nós,
Soli Deo Gloria!
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