Diferentemente do que costumo fazer, este será um breve relato dos últimos dias - dias que jamais sairão de minha memória, dias em que fui, de fato, "um rapaz latinoamericano", como diz certa canção.
Espero que a leitura valha a pena.
Primeiramente, tudo começou há cerca de dois anos, quando em um congresso estudantil, na cidade do Rio de Janeiro, foi lançada a idéia de um encontro continental de estudantes chamado "Solo Uno" ou "Only One" [nessa época, ainda se usava os dois nomes], o qual seria realizado no ano de 2015 na Cidade do Panamá, entre os dias 29 de julho e 02 de agosto. O tempo passou e, após muitos desafios, aprendizados difíceis e algumas grandes surpresas, no último dia 28 de julho, no início da madrugada, eu e um grupo de amigos estávamos embarcando para essa grande aventura - a aventura de conhecer um novo país [muitos estavam saindo do Brasil pela primeira vez], de conhecer novas culturas, novas pessoas e, sobretudo, de estar num ambiente voltado para a proclamação de que há um só Deus, o qual deseja que Seus filhos vivam como uma comunidade e se empenhem em prol de uma missão. Na manhã daquela terça-feira, o Panamá era uma realidade.
No primeiro dia, tudo foi bastante agitado - efetivação de inscrição, alocação no quarto no hotel onde nos hospedaríamos e, em meio a todas essas coisas para se fazer, foi possível iniciar novas amizades, treinar um pouco de inglês, começar a aprender o espanhol [malo, en verdad jajaja] e conhecer alguns lugares mais próximos. No fim do dia, depois de resolver essas primeiras pendências, saí com uns amigos para comemorar o aniversário de uma amiga - a "balada panamenha"! rs - e foi um tempo muito divertido. Em verdade, é bom ver Deus nas pequenas coisas boas da vida, pois como diz uma bela canção, "tudo que existe só existe porque Tu és Senhor".
29 de julho de 2015 - o grande momento chegava.
Aquela quarta-feira começa com mais de 1600 pessoas de pouco mais de 40 países - 38 países da América Latina e Caribe, além de Estados Unidos, alguns lugares da Europa e outros países, juntas por uma causa, a única causa digna e capaz de unir tantos rostos, idiomas e identidades em torno de um ponto comum: Um Nome, o Nome que é sobre todo nome, diante do qual todo joelho no céu e na terra se dobrará e que toda língua confessará, pois Dele está escrito que "é o Deus verdadeiro e a vida eterna". Resumindo, o lema que erguíamos era a sublime palavra registrada pelo evangelista João, no meu capítulo favorito da Bíblia, que diz:
E esta é a vida eterna: que Te conheçam, a Ti só, como o Único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste. [João 17, vs. 3]
Y esta es la vida eterna: que conozcan a Ti, solo a Ti, como el Único Dios verdadero, y a Jesucristo, a quién has enviado. [Juan 17, vs. 3]
And this is life eternal: that might know Thee, the Only True God, and Jesus Christ, whom Thou hast sent. [John 17, vs. 3]
Um Deus. Uma comunidade. Uma missão. So1o.
Infelizmente, não é possível escrever todos os detalhes do evento nesse post, mas algumas coisas que experimentei não podem ser ignoradas.
De início, não sou apto para descrever a sensação de ver tantas culturas, pessoas e línguas proclamando a grandeza do mesmo Deus, "o Deus que fez de um só toda a geração dos homens para que estes O buscassem, se porventura pudessem encontrá-Lo, ainda que Ele não esteja longe de nós", no qual todos nós vivemos, nos movemos e existimos. Em inglês, em espanhol, em PORTUGUÊS!, em francês, em holandês e alguns dialetos do Caribe, toda língua estava declarando o senhorio de Cristo, Aquele que veio do céu para revelar Deus ao mundo, mostrando-nos o Seu amor ao morrer por nós quando ainda éramos pecadores e, ao nos justificar pelo Seu sangue, nos salvar da ira futura. Ouvir e ver brasileiros, panamenhos, colombianos, caribenhos e tantos outros louvando a Deus, cada um com sua identidade, me fez lembrar da visão gloriosa presente no Apocalipse, quando "haverá uma grande multidão, que ninguém poderá contar, de toda tribo, povo, língua e nação, com palmas nas mãos e cantando que 'a salvação pertence ao Senhor, que está assentado no trono, e ao Cordeiro'..." [Apocalipse 7, vs. 9-10]. Sim, Deus é o Deus de todos os povos, e está reunindo Seus filhos que andam dispersos, para reuni-los em um povo.
Além disso, não posso me esquecer de um lugar singelo e especial, por onde sempre passava para tomar um bom café - costarriquenho, colombiano e até austríaco - e, acima de tudo, estar com meus irmãos e amigos para buscar a Deus, aquietando-me diante Dele em oração. Em meio aos dias de congresso, lá estavam muitos jovens, cedo de manhã ou no fim do dia, querendo ouvir a Deus e desfrutar Dele e, dentre tantos momentos, um deles foi muito especial para mim - quando pretendíamos apenas reunir os estudantes do movimento local de meu estado, vieram pessoas de outros estados do Brasil e também do México, Colômbia e Panamá orarem conosco! Embora eu estivesse aflito e inquieto no momento, aquele tempo ficou e ficará vivo em minha mente - foi uma oportunidade preciosa de se viver "uma comunidade".
Por outro lado, muitas coisas que foram ditas me marcaram muito, porém a frase que está traspassando meu coração como uma flecha inflamada não foi dita em nenhuma das plenárias nem mesmo nos momentos de oração ou em alguma canção - se bem que o concerto de oração do primeiro dia e o concerto de música do quarto dia foram momentos extraordinários [gastar tempo em oração e diante das Escrituras bem como celebrando a Deus com toda a alma através de belas poesias cantadas nos leva para mais perto de Deus] -, mas sim no final de um vídeo em um workshop sobre a Europa e sua realidade espiritual. No final do vídeo, três estudantes alemães aparecem falando em sua língua:
Devolva-nos a mensagem que nossos antepassados levaram até vocês.
A dor da flechada está durando até hoje dentro de mim. Era como se eles conseguissem traduzir tudo o que mais desejo na vida em uma pequena sentença. Eu sei que essa inclinação para a Europa está suscetível a julgamentos - ora, porque ninguém quer ir pra África ou pras lugares carentes aqui no Brasil mesmo? - , mas eu tenho entendido que missões não é filantropia ou, em outras palavras, a relevância ou o valor de minha "ação missionária" não é proporcional à dificuldade social do meu público-alvo. Na verdade, missões não é o propósito final de Deus para os Seus servos nem para a Sua criação, até porque "missões existe porque a adoração não existe" - a razão final de todas as coisas é a glorificação de Deus e, por isso mesmo, missões é o ato de fazer com que todas as pessoas desistam de viver para si mesmas e passem a viver para o Seu Criador e de anunciar a elas que elas precisam de redenção e não exatamente de roupas ou alimento [embora fazer o bem seja parte de uma vida com Deus]. Em suma, mesmo que eu esteja conhecendo novos lugares e tendo a oportunidade de falar sobre Cristo a pessoas desses lugares, eu sei que meu coração pertence a um lugar - como dito acima, eu quero devolver a Mensagem aos contemporâneos que descendem dos antepassados que trouxeram essa Mensagem para mim.
Finalmente, depois de um ajuntamento inesquecível/inolvidable/unforgetable como So1o Uno, ainda viriam mais uns dias de serviço pelo país - teve gente que foi até pra selva! - em parceria com igrejas locais, o que denominamos genericamente de "Missões Urbanas". Em poucas palavras, foi um privilégio ser acolhido por gente simples mas com grande coração, embora tendo que abrir mão de certos confortos [como algumas horas a mais de sono rs] e vivendo literalmente algumas palavras de Jesus registradas no evangelho de Lucas - comendo daquilo que nos davam, não levando nada conosco e até mesmo sacudindo a poeira dos pés diante daqueles que nem queriam nos receber quando íamos falar sobre o Evangelho. Conversas profundas sobre Cristo e Sua obra, diálogos interessantes com imagens, atividades com crianças e até futebol fizeram parte de todo esse tempo, além de momentos com a igreja que nos recebeu - momentos que nos fizeram saber que, verdadeiramente, quem deixa [ainda que por alguns poucos dias] pai, mãe, bens e o que seja por Cristo, recebe ainda nessa vida muito mais do que aparentemente "renunciou" ou "abriu mão".
Não sei em detalhes quantas pessoas dentre as que nos ouviram receberam a mensagem de Cristo de bom grado mas, como a nossa tarefa é sermos somente semeadores, minha esperança está em Deus, que tem o poder de resplandecer a Sua luz em meio às trevas de todo homem que está longe Dele, como diz o salmista: "restaura-nos, ó Senhor, Deus dos exércitos; faze resplandecer o Seu rosto sobre nós, para que sejamos salvos". Que Ele se agrade de se revelar em bondade sobre todo o Panamá, toda a Latinoamérica e Caribe e também em todo o mundo, para a Sua glória.
Agora, só me resta a saudade dos momentos vividos, a vontade de voltar e, especialmente, a saudade dos amigos de que me separei depois que voltei ao Brasil - mas a vida continua ou, como diz uma canção italiana que gosto, "la vita è adesso!"
Só uma missão, só há um Deus, uma comunidade... SOLO UNO!
Pela alegria de pertencer ao Único Deus verdadeiro,
Soli Deo Gloria!
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