Caros leitores,
Nos últimos dois textos aqui publicados, eu comecei a abordar algumas realidades presentes no ambiente religioso "cristão" que têm me preocupado bastante, mediante o seguinte questionamento: "por que as mentiras tem teologias"? Primeiramente, eu fiz uma explanação mais geral, apresentando o conceito "teologia" e mencionando, ainda que superficialmente, determinados aspectos que mostram a decadência vigente na cristandade. No texto seguinte, eu abordei de modo mais detalhado o problema da concepção antibíblica de Deus por parte das pessoas - e, desse modo, por parte dos próprios cristãos - no tocante à soberania de Deus, pela qual esta é "diminuída" ou mesmo "subordinada" pela pretensiosa vontade humana. Por outro lado, este texto de hoje poderá ser ainda mais polêmico e confrontador, pois minha intenção é discutir o que eu chamo de "Soli Ecclesia Gloria" ou "À igreja somente seja a glória" - parafraseando o título deste blog, o qual se refere a um dos pilares da Reforma Protestante.
"Soli ecclesia gloria... como assim?" - você pode estar se perguntando agora.
Bem, estamos vivendo uma época de caos. Diante de tantos desvios da verdade e da simplicidade das Escrituras, nota-se um movimento ainda emergente dentro da comunidade cristã no mundo (e, nesse caso, quero destacar o Brasil) que tem procurado resgatar os valores do Evangelho como eles são, sem barganhas, adaptações ou qualquer maquiagem. Uma minoria, é verdade, mas já tem sido muito gratificante enxergar esse despertar na direção de Cristo e centrado-se Nele pois, como eu sempre menciono, as Escrituras dizem que "...nele vivemos, nos movemos e existimos..." (Atos 17:28a) bem como que "...para nós há um só Deus, o Pai, de quem são todas as coisas e para quem vivemos; e um só Senhor, Jesus Cristo, pelo qual são todas as coisas, e nós também por Ele..." (1 Coríntios 8:6). Mas, infelizmente, existe um risco tão sutilmente trágico, sobremodo iminente e cada vez mais próximo de cada um daqueles que têm diligentemente buscado conhecer a verdade e, assim, serem livres - o risco do orgulho pelo conhecimento da verdade.
Essa é a "mentira" mais sutil que as "teologias" (principalmente as teologias saudáveis, infelizmente) podem trazer: a mentira de que eu sou melhor do que o outro porque a minha teologia é mais correta, porque a liturgia de minha igreja é mais parecida com a liturgia dos meus antepassados cristãos - logo, sou mais fiel às heranças históricas - , porque os meus "métodos de evangelismo" são mais "bíblicos" do que os dos demais movimentos cristãos... Eu me revolto quando percebo o quanto que muitos daqueles que Deus têm, por sua graça, trazido de volta ao Evangelho de Cristo, estão sendo sorrateiramente seduzidos pela "vaidade da boa teologia" e do "evangelismo bíblico" e, nesse afã de parecerem melhores do que os demais cristãos que não têm uma "boa teologia" ou que não sabem "evangelizar biblicamente", discriminam, excluem, difamam e fazem críticas ferinas a todos os que não pensam ou agem como eles próprios. Na verdade, estou tão cansado das deturpações da sã doutrina feitas por muitos que se dizem "cristãos" como também do orgulho inútil e perverso de alguns outros - que também se dizem "eleitos de Deus" - por causa de uma "boa teologia". Ambos os comportamentos são igualmente nocivos e destrutivos.
Nesse contexto, talvez o aspecto mais digno de ser ressaltado é que, infelizmente, muitos têm se inflado em si mesmos (inclusive nós mesmos) porque em suas igrejas a liturgia é "mais bíblica" do que aquela existente nas demais congregações, bem como porque esses "cristãos detentores das patentes da verdade bíblica" se julgam os melhores pregadores do evangelho do pedaço... Ou seja, "Soli Ecclesia Gloria" - glórias à minha igreja, pois eu "boto pra quebrar!" Eles dizem (ou, às vezes, somos nós que dizemos): "...eles dizem o velho jargão "Deus ama você e tem um plano maravilhoso para sua vida" ou, ainda pior, estão inventando moda ao fazerem apresentações de música na faculdade com música secular incluindo seus testemunhos pessoais nos quais falam do evangelho de forma muito superficial..." Sim, eu concordo que devemos ser zelosos de nossa pregação - mesmo que usemos de estratégias diversas para nos conectarmos com as pessoas - e pregarmos somente Cristo (1 Coríntios 1:18-2:5) sem enfeites ou acréscimos... Mas, por outro lado, se pensamos que Deus só pode alcançar as pessoas que foram "evangelizadas corretamente", estamos pisando na soberania de Deus na salvação, como dizem as Escrituras:
"Todo o que o Pai me dá virá a mim; e o que vem a mim, de maneira nenhuma o lançarei fora. Porque eu desci do céu não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou. E a vontade daquele que me enviou é esta: que nenhum daqueles que Ele me deu se perca, mas que eu o ressuscite no último dia.
[...]
Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, o não trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia. Está escrito nos profetas: 'E todos serão ensinados por Deus'. Portanto, todo aquele que do Pai ouviu e aprendeu vem a mim".
[João 6:37-39 e 44-45].
"E, quando eu for levantado da terra, a todos atrairei a mim". [João 12:32].
Ou seja, não é a igreja quem atrai as pessoas a Cristo pela sua "pregação correta" do Evangelho, é Cristo quem atrai as pessoas que Ele quer a Ele mesmo. Sim, Ele faz isso por meio da pregação da Palavra (e, obviamente, a Palavra é pregada por alguém) mas, no fim das contas, Ele não tem a menor necessidade de você nem de mim para convencer o pecador de sua situação de condenação e, assim, atraí-lo a Cristo pelo arrependimento e pela fé no Evangelho, o qual é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê (Romanos 1:16). É preciso dar um "basta" nessa mentira de que eu "ajudo Deus" a salvar as pessoas e (pior ainda) na mentira de que, se eu não pregar a mensagem dentro dos "padrões", Deus não pode salvar ninguém. Que petulância idiota essa nossa! Deus pode salvar quem Ele quiser sem intermediários humanos, intelectuais ou argumentativos, pois Ele diz:
"Olhai para mim, e sereis salvos, vós, todos os termos da terra; porque eu sou Deus, e não há outro". [Isaías 45:22]
A questão aqui é olhar para Deus, e não olhar para a igreja A ou B. A Bíblia não diz "olhem para a igreja A, B ou C e vocês serão salvos", mas diz sim para olharmos para Ele a fim de sermos salvos. Além disso, o texto diz que a ordem de Deus é para que pessoas em todos os lugares (todos os termos da terra) olhem para Ele - somente isso: "olhem para Mim, eu sou Deus e não há outro"! A minha igreja local não é Deus. A sua igreja local não é Deus. Deus é que é Deus e nós temos que reconhecer o nosso lugar de criaturas, criaturas igualmente carentes da Graça Sublime, do Amor Eterno, da Misericórdia Sem Fim, da Bondade Inefável. Logo, a glória não é da minha igreja, não é da sua igreja. Ou seja, a glória não é sua e muito menos minha. A glória é toda Dele mas nós, com nossa arrogância doentia e atrevida, queremos a glória para nós - ora, nós somos "seguidores do evangelho bíblico", somos "pregadores da verdade das Escrituras", somos "leais à doutrina de Cristo" e os outros... os outros são todos errados! "Deus, a glória é um pouco nossa também!" Deus pode salvar quem Ele quiser, até mesmo aqueles que foram "erradamente evangelizados", pois Deus não está limitado aos métodos de evangelismo que usamos ou deixamos de usar... Ou melhor, Deus não está limitado a nada, não é? Ah, como se diz na Bahia: me deixe, viu!
Enfim... quero encerrar o texto mencionando as palavras do Apóstolo Paulo em 1 Coríntios 3:6-7, onde se diz:
"...Eu plantei, Apolo regou, mas Deus deu o crescimento.
Por isso, nem o que planta é alguma coisa, nem o que rega, mas Deus, que dá o crescimento..."
Eu não sou nada. Você não é nada. Ninguém vale nada. Só quem tem valor nisso tudo é Deus, pois Ele é quem faz as coisas acontecerem. Mais claro, impossível.
Enfim, eu grito com toda força: Não ao "Soli Ecclesia Gloria", pois o único lema que vale é o...
...Soli Deo Gloria!
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