quarta-feira, 27 de março de 2024

A antiga "teologia da cruz" contra os "novos fariseus"...

Após um período sem tempo para escrever (e, sobretudo, sem muita inspiração), estamos de volta por aqui.

Como de costume, cada texto novo neste blog é, quase sempre, a vívida expressão de determinados "memes" sobre o chamado "temperamento colérico"nos quais os "protagonistas" dizem que terminarão o que começaram "nem que seja na força do ódio" ou, para fazer um contrapeso mais poético, usualmente remete ao famoso refrão dos Engenheiros do Hawaii, que diz: "se depender de mim, eu vou até o fim". Desse modo, meu desafio é escrever tudo o que seja necessário, no tempo determinado e, caso seja possível, com cada vez menos ódio ao longo dos parágrafos que virão. Que Deus me ajude!


Este texto será estruturado pela interconexão dos conceitos, significados e usos das expressões a seguir: 1) fariseus, 2) teologia da cruz e 3) o "compêndio Quaresma-Páscoa". Tendo em vista que, de um lado, alguns dos vocábulos citados podem causar sentimentos impetuosos a priori (os quais, muitas vezes, são um produto de compreensões imprecisas ou equivocadas, porém já consolidadas no senso comum) e que, por outro lado, ainda há muito desconhecimento sobre outros dos termos mencionados, é bastante oportuno desmistificar certas idéias distorcidas a eles referentes bem como lançar luz sobre o que ainda for mais obscuro ou desconhecido. Portanto, feitas essas observações, o texto será mais facilmente assimilado e entendido. Sigamos, pois, em frente e sem demora!


Fariseus

Fariseus? O que são? Quem são? Onde vivem? Do que se alimentam?

Pondo à parte as perguntas irônicas acima, o termo "fariseu" se refere ao segmento religioso judaico conhecido por seu rigor na observância da Lei de Moisés e de demais tradições complementares, cujas origens remontam ao chamado "período interbíblico" (i.e., após o retorno dos judeus à Terra Prometida durante o domínio medo-persa e com a conclusão do ministério profético característico do Antigo Testamento). Os fariseus eram tidos em grande estima pelos que os cercavam devido à sua devoção e zelo e, nos dias do ministério de Jesus, estiveram presentes nos principais momentos - seja nos milagres, seja ouvindo os ensinos e sermões de Cristo e, sobretudo, por ocasião de Sua crucificação. Finalmente, os fariseus ainda exerceram grande influência entre os judeus durante as primeiras décadas da igreja cristã nascente, a qual durou até 70 d.C - o ano da destruição de Jerusalém e do início da diáspora judaica pelo Império Romano.


Teologia da Cruz.

A expressão "teologia da cruz" ('theologia crucis', em latim) foi central no pensamento do reformador Martinho Lutero, a qual era diametralmente oposta à chamada "teologia da glória" ('theologia gloriae'), associada à igreja romana medieval. Para Lutero, o centro de todo o cristianismo era o correto entendimento de "Cristo, e este crucificado" (citando as palavras de Paulo aos cristãos coríntios), de forma que "no Cristo crucificado estão a verdadeira teologia e o verdadeiro conhecimento de Deus", visto que é por meio da "mensagem da Cruz" que compreendemos, simultaneamente, a gravidade do nosso pecado, a severidade da justiça de Deus contra ele e, acima de tudo, a grandeza do Seu amor manifesto na morte de Jesus em favor dos pecadores. Nesse caso, a "teologia da cruz" era a resposta protestante à "teologia da glória" (marca da ostentação exterior, da falsa piedade e da corrupção presentes no catolicismo romano da época), tendo como alvo destruir toda noção de "salvação por obras e em cooperação com Deus" para, em contrapartida, afirmar que só Deus opera a salvação humana, assim como revelam as Sagradas Escrituras.


Quaresma e Páscoa.

Essas duas estações do "calendário litúrgico" são, possivelmente, as mais significativas para a cristandade (de modo mais amplo), pois tratam especialmente do aspecto mais sacrificial e abnegado da vida de Jesus (destacando a Sua morte de cruz, no período da "Semana Santa"), bem como seu aspecto triunfante (como se vê em Sua ressurreição, a qual marca o início da temporada de Páscoa). Assim, sabendo-se que a morte e a ressurreição de Cristo são episódios estritamente conectados entre si e que possuem suprema importância para a confessionalidade cristã, não haveria como discutir apropriadamente o que projetei para esse texto sem levar esses elementos em conta, pois, se o Evangelho não permear essas "mal traçadas linhas", tudo o que se verá nelas será raiva, indignação, sarcasmo e desdém - os quais até possuem seu valor, mas não a qualquer custo. Desse modo, guardemos o que já foi dito e "entremos no ringue" preparados - caso contrário, vocês poderão sair nocauteados desse blog em menos de 36 segundos!



Feitos esses esclarecimentos, uma pergunta surge: quem seriam os "novos fariseus" aos quais me referi? A resposta a essa pergunta requer, inicialmente, que entendamos como o termo "fariseu" é atualmente compreendido por grande parte das pessoas - em particular, por aqueles que se declaram cristãos. Desse modo, o "fariseu" é/seria aquele religioso mais legalista e rigoroso com a moral e a boa conduta mas que, ao mesmo tempo, pratica(ria) diversos pecados que o torna(ria)m um "hipócrita", o desqualificando como um exemplo a ser seguido e, com isso, levando a religião por ele professada ao descrédito. Nesse sentido, é cada vez mais comum ouvirmos a palavra "fariseu" sendo utilizada de modo impreciso e irresponsável (até mesmo como um tipo de "xingamento") por aqueles que são críticos do cristianismo ou contrários a ele (cujo objetivo é macular ou afrontar a Deus e à igreja cristã como um todo) ou por certos religiosos que desejam se desvencilhar da imagem negativa associada ao "farisaísmo" (i.e., o "modo de vida de um fariseu"). Ou seja, de acordo com essa perspectiva, "fariseu" é um termo que possui(ria) somente más conotações, a tal ponto de que todos que o utilizam de forma equivocada/maliciosa apenas destilam sua hostilidade à fé cristã ou alardeiam sua própria versão da "oração do fariseu" apresentada por Jesus em Lucas 18, a qual diz: "graças Te dou, ó Deus, porque eu não sou como estes fariseus"!

Conseqüentemente, os "novos fariseus" mencionados neste texto formariam o segmento religioso dentro do meio cristão que, embora tenha a pretensão de representar o "verdadeiro cristianismo" (segundo os critérios deles), simultaneamente é/seria marcado pela mesma hipocrisia e impiedade que atribuem àqueles que são alvos de sua oposição e suas críticas. Assim, esses "novos fariseus" são, normalmente, os primeiros a trazer para o ambiente eclesial diversas pautas (sobretudo de natureza política, para fins de "reparação" e "equidade") a fim de convencer a igreja de sua "responsabilidade social", cujo discurso de "amor à humanidade", "tolerância" e "cuidado com a Criação" mascara, muitas vezes, a falta da compaixão individual para com o próximo e o respeito aos pais, bem como a intolerância para com todos os que são considerados uma "ameaça à causa" pela qual lutam e, finalmente, a substituição da devoção a Deus e da sacralidade da vida humana por um "neopaganismo verde", onde "florestas" e ovos de tartaruga valem mais que bebês no ventre - ou mesmo fora dele. 

A esse respeito, vale a pena recordar duas citações: a primeira está no clássico "Os Irmãos Karamazov" do escritor russo Fiodor Dostoievski, que diz "quanto mais 'amo a humanidade' em geral, menos amo os seres humanos em particular"; a segunda, não menos importante, é atribuída a G. K. Chesterton, onde se lê que "Cristo não amava a 'humanidade', mas amava os homens... nem Ele nem nenhum outro pode amar a 'humanidade', pois seria como amar uma gigantesca centopéia". Portanto, fica evidente que o uso de narrativas de grande apelo emocional e afetivo, mas que não são ancoradas na realidade nem expressam um padrão de justiça legítimo, não passam de 1) embuste para enganar os ingênuos e de 2) instrumentos de autoglorificação de pessoas ímpias e que não temem a Deus, mas querem fazer de conta que o fazem. 


Nesse ínterim, deve-se acrescentar que a comunidade cristã/evangélica do Brasil testemunhou, particularmente no mês anterior, o surgimento de uma composição chamada "Evangelho de Fariseus", feita por uma jovem cantora e instrumentista paraense durante sua participação em um programa destinado a encontrar novos talentos da "música gospel". Embora não seja minha intenção primordial desmerecer a canção (e muito menos fazer qualquer comentário indevido sobre a compositora), a repercussão causada pela música ultrapassou as redes sociais e alcançou até a classe política do país, de modo que certos trechos da letra se tornaram objeto de polêmica e de discursos mais acalorados, tanto caluniosos quanto verdadeiros. Na canção, é dito que os cristãos estão vivendo ensimesmados (com "campanhas e eventos para si mesmos"), que "o dízimo é prioridade em lugar dos corações", que "cada fariseu escolhe a sua própria versão do Evangelho" enquanto crianças desaparecem traficadas na região do Marajó (ilha muito pobre no norte do Brasil) e, por fim, que a "Amazônia está em chamas devido ao descaso da 'falsa noiva' de Cristo, a qual está com seu ego superaquecido". Por tudo isso, alguns disseram que a música era um "alerta profético" para a "igreja brasileira" (a propósito, a própria cantora se definiu como uma "profetisa em tempos de caos"); por outro lado, outros foram bastante críticos às sugestões dadas pela letra, destacando um "viés político" sutilmente pernicioso nas entrelinhas da música. 

Logo... quem estaria certo
Os defensores da música ou seus "opositores"? Será que isso tudo realmente importa? 

Em outras palavras, haveria alguma relação entre todas essas coisas e a "Teologia da Cruz"? 
O que a Quaresma e a Páscoa teriam a dizer no tocante aos "evangelhos de fariseus" e aos seus seguidores?


Todas essas perguntas podem ser respondidas a partir da tese central desse texto, a saber: a suprema necessidade dos chamados "novos fariseus", assim como dos fariseus do passado e de todo ser humano é a "antiga teologia da Cruz", conforme revelada nos episódios da Quaresma e da Páscoa, nos quais Jesus Cristo, o Deus-Homem, cumpre a missão que lhe fora dada pelo Pai e, após sofrer a morte de cruz em lugar dos pecadores, ressuscita dos mortos para atestar a Sua divindade e garantir a redenção de todos por quem Ele dera Sua vida

Ditas essas coisas, o primeiro aspecto a ser considerado ao longo dessas respostas é que, ao mesmo tempo que a letra da música citada aponta problemas graves e reais do contexto cristão/evangélico brasileiro (como a "teologia da prosperidade", o egoísmo e a indiferença de muitos crentes para com os que sofrem e a pouca relevância da igreja na esfera pública), há algumas ressalvas a serem feitas. De fato, a genuína fé em Deus exige um conhecimento puro e correto acerca de quem Ele é, de Suas obras na história e do que Ele demanda de Suas criaturas e, por isso mesmo, quaisquer incongruências e equívocos doutrinários relacionados a Deus e à Bíblia devem ser corrigidos com zelo e celeridade, pois essas são questões de vida ou morte... de vida ou morte eternas! Portanto, eu não estou de brincadeira!

Dessa forma, os principais problemas relativos à mensagem dessa canção são 1) a atribuição de uma culpa generalizada à igreja como a "responsável" pelo caos social e pela "crise ambiental" (sic), 2) a superestimação de certos "papéis sociais" que a igreja deveria exercer como a marca indelével de sua identidade e 3) a linguagem irreverente para se dirigir à igreja, em tom condenatório e temerário, o que denota arrogância e ignorância sobre a natureza dela. 



Assim, sobre o ponto 1), deve-se salientar que a missão da igreja NÃO É resolver as mazelas sociais, "salvar o planeta" e nem mesmo dar um fim ao tráfico sexual de crianças (por mais que a solidariedade com os pobres, o usufruto responsável dos recursos naturais e o combate à pedofilia sejam nobres e muito necessários), mas sim GLORIFICAR A DEUS por meio de um culto verdadeiro, da proclamação do Evangelho ao mundo, da comunhão entre seus membros, da obediência periódica e constante às ordenanças cristãs (Batismo e Ceia) e da disciplina eclesiástica, de sorte que outros benefícios que a igreja pode conceder à sociedade seriam frutos decorrentes de sua fidelidade à sua real vocação. Quanto ao ponto 2), a identidade da igreja está em Jesus Cristo e é definida pela sua união com Ele e, por isso, quaisquer substitutos de Cristo como o fundamento da igreja, sobre Quem ela está firmada, devem ser terminantemente eliminados e destruídos, não importando quão "relevantes" estes pareçam para a sociedade moderna e, principalmente, para que a Igreja não busque ser "amada pelo mundo", desprezando Aquele que a amou e Se entregou por ela. Finalmente, um dos maiores males da cristandade atual é o desconhecimento do que de fato é a Igreja de Cristo e, com isso, o subsequente menosprezo a ela - ora, se nenhum homem deixa de se indignar quando ouve a sua esposa ser aviltada e zombada, quais sentimentos/afetos se elevam no coração de Cristo quando a Sua noiva é maculada pelas palavras dos que dizem segui-Lo? Se devemos tomar cuidado com nossas palavras ao falarmos com nossos amigos, pais ou autoridades civis/judiciais (embora algumas destas nos despertem somente raiva em lugar de respeito!), quanto mais ao nos referirmos à "esposa do Cordeiro"! Bom seria que tais bocas se calassem

Os "novos fariseus", portanto, acham que precisam "salvar a Igreja" de ser "mal vista pelo mundo" - mas quem disse que ela deve ser "bem vista" por ele? -, instituindo a si mesmos, em última análise, como os "vanguardistas" desse "processo de redenção". Entretanto, a Bíblia diz, ao contrário do que todos gostariam que dissesse, que quem "salva a Igreja" (no caso, salvou, está salvando e salvará) É JESUS E NÃO VOCÊ (ou EU, ou quem quer que seja), de tal modo que a preocupação dos que são discípulos de Cristo deve ser tão-somente andar fielmente "Coram Deo" (diante de Deus), procurando viver à luz da fé que professa com os lábios, visto que é Deus quem cuida da Sua Igreja e, no tempo certo, a vindicará diante de seus detratores e inimigos. Ah, eu mal posso esperar por isso!


Em contrapartida, ousarei afirmar que os "novos fariseus" não estão presentes apenas entre os "religiosos ativistas" (por assim dizer) que normalmente estão engajados em "causas sócio-políticas", mas igualmente dentre os que são (ou se consideram) diametralmente opostos aos mais "militantes". Estes últimos, por sua vez, podem ser encontrados nas comunidades cristãs mais históricas e tradicionais, sendo ferrenhos defensores de sua herança e tradição teológica, ocupando as salas de aula (ou as cátedras) em instituições de ensino renomadas em diversas partes do mundo e, muitas vezes, sobem semanalmente aos púlpitos bem como dão diariamente as caras nas redes sociais, através das quais buscam maior alcance e influência sobre sua audiência (seja ao vivo e em cores, seja virtual). Vale ratificar, porém, que pretendo tratar dessa questão com seriedade e amabilidade, pois todos estamos cientes de que "sob o pretexto de dizer a verdade, doa em quem doer" podemos tão-somente destilar orgulho, ira e leviandade contra o próximo - i.e., a verdade deve ser dita (e será!) com toda a firmeza que lhe convém, mas sem ignorar o bom senso e a sobriedade. Que Deus, mais uma vez, me ajude! 

Simultaneamente à polêmica da canção "Evangelho de Fariseus" (abordada acima), outras "tretas" têm surgido pelos "rincões da internet" - o que seria dos "webcrentes" (sic) sem as tretas inúteis, não é mesmo? -, a exemplo de 1) a obrigatoriedade de casais cristãos saudáveis de terem MUITOS filhos, 2) a absoluta proibição de se representar, sob qualquer forma, a pessoa de Cristo em imagens, por ocasião da popularidade de uma série chamada "The Chosen" - e.g., "Os Escolhidos", focada na vida dos apóstolos de Jesus - e 3) a restrição da "ortodoxia cristã" apenas a determinados círculos teológicos mais "confessionais", o que automaticamente lançaria todos os que não compõem esses "grupos seletos" no "balaio dos hereges", "quintas-colunas", "papistas transfigurados" ou outra ofensa imbecil presente nos comentários do Instagram. 

Inicialmente, reitero que as Escrituras ensinam que "os filhos são herança do Senhor", sendo descritos "como flechas na mão do guerreiro", de modo que "aqueles que enchem deles a aljava são felizes" (vide Salmo 127). Logo, gerar filhos é uma grande bênção divina (e.g., Gênesis 1:28-29), de sorte que os cristãos devem ver os filhos como "riqueza" e não como "despesa" e, sobretudo, precisam defender a vida desde a concepção ao combater a "cultura da morte" associada à "pauta abortista", rejeitando todo resquício de idéias derivadas do feminismo e movimentos semelhantes. Além disso, é evidente que a Bíblia reprova todo tipo de idolatria e descreve esse pecado como um dos mais estúpidos e perversos, salientando que Deus deve ser compreendido como um Ser singular e incomparável e, como resultado, nós devemos adorá-Lo consoante à Sua dignidade e excelência. Nesse sentido, os preceitos nos quais a idolatria é proibida (Êxodo 20:3-6; Deuteronômio 6:13; 1 João 5:21) englobam não apenas a condenação do pecado exterior (a saber, expresso na veneração de imagens, amuletos, estátuas, totens etc.), mas também condenam a "idolatria do coração", a qual é mais difícil de detectar e facilmente assume uma "forma de piedade", embora esconda uma atitude hipócrita e dissimulada. Por fim, eu sou um cristão fortemente convicto das doutrinas que professo e nas quais creio (tanto que eu evito entrar em debates, pois possivelmente ganharia a disputa!) e, por isso mesmo, sei do elevado valor de se cultivar a confessionalidade e de preservar as boas tradições. Entretanto, uma teologia biblicamente coerente e saudável precisa ser acompanhada do fruto do Espírito Santo, de humildade e da "sabedoria do alto" (ver Tiago 3:13-18) nas vidas daqueles que a defendem por toda parte, pois está escrito que "como o corpo sem o espírito está morto, assim a fé sem obras é morta" (Tiago 2:26). 
 

Por tudo isso, se faz necessário dizer que, quanto à exigência de se formar famílias numerosas, os dois maiores equívocos são que a) nem sempre o desejo de se ter muitos filhos será um desejo santo - p. ex., os casais podem desejar isso apenas para exibir a "vida perfeita" na internet, ou para procurar firmar a própria identidade em algo que não seja Cristo etc. - e, de forma particular, b) NÃO EXISTE qualquer preceito referente a QUANTOS filhos um casal deve ter e nem que a falta de filhos seja necessariamente pecaminosa (muito embora diversos pecados podem motivar o desinteresse pelos filhos, especialmente num mundo dominado pelo materialismo e pelo feminismo). Assim, aos tantos que se têm constituído "especialistas" ou "influencers espirituais" em nosso tempo, o alerta bíblico é um só: não deve haver muitos "mestres" no meio cristão, pois o juízo reservado para eles será mais rigoroso (vide Tiago 3:1). No entanto, aos tantos que acham que podem suportar o juízo de Deus e, mesmo assim, desejam continuar a "produção de seus conteúdos", eu envio outro aviso: as idéias têm conseqüências, e as palavras vãs também

No tocante ao problema da representação icônica de Jesus (em desenhos, quadros, vitrais etc.), sabe-se que o coração/a mente humano(a), devido aos efeitos do pecado, é tendencioso(a) às fantasias e ao autoengano, de forma que o devido zelo com respeito ao Ser de Deus é mais que necessário. Contudo, mesmo os mais zelosos e eruditos dos pensadores e intelectuais da história da Igreja estão sujeitos a erros e, por isso, seu legado teológico (livros, declarações de fé, catecismos etc.) também pode conter (e provavelmente contém!) lacunas e inadequações doutrinárias, fato que deve nos conduzir sempre à ÚNICA fonte de autoridade de fé infalível e inerrante: as Sagradas Escrituras. Desse modo, uma das maiores urgências do meio cristão mais tradicional (sobretudo o reformado, com o qual me identifico) é o ABANDONO RADICAL e CATEGÓRICO do que chamarei aqui de ROMANISMO REFORMADO, segundo o qual são adotados os "6 SOLAS" em lugar dos 5, sendo o último deles o "Sola Confessionis" - ou seria "Westminster's Alone"? Ou seja, enquanto se diz que "somente a Bíblia é a fonte de revelação e autoridade para o cristão, sendo a única regra que pode constranger a sua consciência", na prática se vê uma equivalência entre a Bíblia e os símbolos de fé, de forma que tais símbolos são definidos como A INTERPRETAÇÃO FIEL das Escrituras, o que faz com que tais protestantes sejam, nesse aspecto, exatamente iguais aos romanistas que tanto condenam. Ah, vale relembrar que o romanismo é uma "religião apóstata" e eu sou, com alegria, um "protex", pois eu quero uma "fé saudável e protegida"

Finalmente, no que se refere ao "sectarismo da ortodoxia cristã", o que foi dito acima também se aplica, pois a multiplicação de "teólogos de caixinhas de stories e de reels" testifica a decadência do labor teológico em nossa época, sendo um grave sintoma da maldita separação entre "conhecimento e devoção", de tal maneira que o que eu mais desejo é TOTAL DISTÂNCIA desses "mestres soberbos e engraçadinhos" (que pensam que a vida com Deus consiste em "se exaltar enquanto se zomba do próximo" ) até o nível "algorítmico", para que eu não tenha o desprazer de ver "recomendações" de vídeos e postagens idiotas feitas por gente ainda mais idiota. Além disso, é a partir da consciência da real supremacia das Escrituras sobre toda tradição religiosa (incluindo as boas tradições!) que podemos adotar uma conduta humilde para com irmãos de fé que pensam e agem diferente de nós em questões adiáforas (i.e., não-essenciais) e, com isso, reconhecer que o "reino de Cristo" é formado por "homens de toda tribo, povo, língua e nação" - o que inclui aqueles que não são iguais a nós, mas são igualmente amados por Ele.


Portanto, a verdadeira solução para todas as denúncias feitas até esse instante é a "Velha Grande História" - a qual chamei de "Antiga Teologia da Cruz", lançando mão da expressão de Lutero -, a qual é recordada por diversas comunidades cristãs em todo o mundo ocidental de modo mais intencional nessa Semana Santa (e na próxima, no caso dos cristãos ortodoxos/orientais), a saber: a "História do Evangelho", do Deus "que amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho Unigênito" (João 3:16), Daquele "que não veio para ser servido, mas para servir e dar a Sua vida em resgate de muitos" (Marcos 10:45), de Quem "veio ao mundo buscar e salvar o que se havia perdido" (Lucas 19:10)que "se esvaziou e assumiu a forma de servo, tornando-se semelhante aos homens e, sendo achado em figura humana (vale salientar!), foi obediente até a morte..." (Filipenses 2:7-8) etc., para que "todo aquele que Nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna", cujo fim não seria uma cruz romana nem um sepulcro aberto numa rocha, mas a mais bendita das manhãs - a manhã da ressurreição, o Domingo da Páscoa!

Mas... por que/como a recordação da vida e obra de Jesus Cristo nos ajudariam a combater os diversos "evangelhos de fariseus" (ou melhor, os "novos fariseus" que infestam o meio evangélico), sejam as variantes "militantes", sejam as "confessionais", ou ainda as "ortodoxo-sectárias"?  

Primeiramente, o Evangelho de Cristo (e.g., "do reino de Deus", "da salvação", "da glória do Deus bendito", "da paz" etc.) nivela todos os homens, sem exceção, ao mesmo patamar de miséria e condenação pois, se somente em Cristo há verdadeira redenção, nenhum ser humano tem qualquer segurança/descanso diante de Deus caso confie em si mesmo ou em outrem. Ou seja, embora não seja o Evangelho em si que fundamente a punição do homem pecador (esse é o papel da Lei divina, pela qual vem o "pleno conhecimento do pecado" - Romanos 3:20), o anúncio das "boas-novas" já pressupõe a realidade das "más-novas" e, por isso, o Evangelho é imprescindível tanto para os que não temem a Deus (ou não crêem Nele) quanto para os que já professam sua fé no Cristo proclamado nele, como também dissera Martinho Lutero: "nós precisamos ouvir o Evangelho todos os dias porque nos esquecemos dele todos os dias". Nesse sentido, outra citação vem bem a calhar, onde se diz: "antes da Reforma, o problema da Igreja NÃO ERA que ela não tinha a Bíblia, mas que ela não tinha mais O EVANGELHO", dita pelo pastor batista Jonas Madureira (cujo único pecado é ser palmeirense!). Isto é, apesar de o Evangelho (como texto) ser parte do Novo Testamento (que é parte da Bíblia), o período que antecedeu a Reforma não era desprovido de elementos e práticas relativas às Escrituras, mas estava esvaziado do Evangelho e, por isso, a cristandade estava adoecida, visto que a glória de Deus em Cristo fora ofuscada por invenções e tradições humanas. Talvez seja, pois, exatamente isso que está se repetindo agora mesmo, na nossa cara, dadas as "tretas" na internet, os radicalismos tolos e as especulações fúteis que apenas produzem contendas e que não são "conforme à piedade", mas "servem apenas para a perversão dos ouvintes" (ou dos seguidores). 


Por outro lado, a mensagem que a Semana Santa pode nos trazer, no tocante a compreender com maior profundidade os últimos dias de Jesus até Sua morte e Sua ressurreição, igualmente nos ajuda a relembrar que Deus sempre cumpriu Seus planos da história, de acordo com Seu santo conselho e desígnio, usando diferentes meios e instrumentos pelos quais esses planos pudessem ser executados e, após a conclusão de todos os Seus atos de revelação, Ele continuou a agir na história a fim de preservar o Seu conhecimento para que as gerações futuras O conhecessem e O servissem. Dessa forma, apesar de que Deus possa, em Sua providência, atuar (ou tenha atuado) em algumas épocas de modo mais glorioso e abençoador do que em outras, os resultados dessas intervenções divinas particulares também incluem o contexto histórico de cada época e, com isso, não existe nenhum legado teológico que seja isento de influências sociais e culturais, o que torna todas as boas tradições e heranças religiosas sujeitas a equívocos e, portanto, não-infalíveis. 

Assim, se Deus sustentou a Sua verdade e a Sua igreja (a verdadeiramente "católica", não a romanista) por aproximadamente 16-17 séculos sem a necessidade de um movimento confessional específico - enquanto se pudesse pensar que a "verdadeira Noiva de Cristo" estaria sob ameaça mortal na ausência desses "purificadores da religião" -, por que ainda muitos se comportam como se Deus tivesse se tornado dependente desses "gladiadores da pureza" para salvar ou santificar os Seus eleitos? Que "eleição incondicional" (ou "perseverança dos santos") é essa que, supostamente, "dependeria" de pré-requisitos humanos, específicos de uma tradição, restrita a um território e circunscrita num século, para ser(em) validada(s)? Para quem me conhece bem, devo ratificar que sou um convicto defensor das "Doutrinas da Graça" (i.e., a doutrina da salvação reformada) - ao ponto de fazer o meu próprio "Programa Vejam Só", caso queiram discutir comigo a respeito delas! -, contudo é triste ver que muitos irmãos (pois assim os considero), no ímpeto de reafirmar seus distintivos e sua identidade, parecem "cair da graça" (quem lê, entenda) sob o véu do orgulho espiritual e do "zelo confessional". De fato, eu até desejo estar errado em alguns aspectos que permeiam essas críticas (caso esteja agindo sem amor para com eles) mas, se esse não for o caso, que Deus seja o Supremo Juiz entre nós, pois "Ele é sempre verdadeiro, e todo homem mentiroso" (Romanos 3:4).


Finalmente, a meditação no significado da Semana Santa (que, claramente, não é uma ordenança das Escrituras, mas pode ser uma ocasião muito oportuna para se aprender/recordar que a fé cristã não consiste primordialmente numa "argumentação logicamente bem elaborada", mas numa "verdade historicamente situada e devidamente comprovada") nos ajuda a entender quem verdadeiramente é Jesus Cristo e qual a natureza de Sua obra. Num mundo onde a quantidade de "versões de Jesus" ultrapassa em muito a torcida do Corinthians (a maior do Brasil, já que não é "terceirizada" como outras por aí), nada é mais indispensável do que o conhecimento do Jesus bíblico - ou seja, o único verdadeiro. A propósito... quem é o Jesus revelado na Bíblia? O que Ele fez e qual a importância de se saber essas coisas?

De fato, falar exaustivamente sobre o Cristo verdadeiro, o das Sagradas Escrituras, é totalmente impossível e, por isso, eu vou destacar apenas um aspecto: o Jesus da Bíblia é o "Verbo que se fez carne" e não o "Verbo que se fez enunciado/silogismo/documento de fé", de tal maneira que, ainda que não possamos vê-Lo fisicamente hoje (visto que Ele está numa condição de exaltação e, assim, Sua glória nos destruiria se O contemplássemos como estamos e, por isso, vivemos pela fé), Ele assumiu nossa natureza de modo DEFINITIVO. Isto é, o Jesus das Escrituras, desde o momento em que o Espírito Santo O gerou no ventre de Maria, jamais deixará de ser, em certo sentido, "como um de nós" e, portanto, podemos entender que a redenção da Criação envolve, obrigatoriamente, a redenção da realidade material. Ora, a demonização da matéria e a superestimação do "espiritual" são coisas de GNÓSTICOS e NÃO DE CRENTES, cuja postura foi chamada pelo apóstolo Paulo de "filosofia vã" e pelo apóstolo João de "espírito do Anticristo". Nada mais irônico, pois, que observar "antipapistas" sendo possivelmente guiados pelo mesmo espírito que orienta o papado!

Para finalizar, é pertinente reiterar que é por meio da própria revelação escrita (a Bíblia) que compreendemos que o Deus verdadeiro, subsistente em três pessoas igualmente divinas (embora distintas entre si), decidiu se revelar de forma cabal através da ENCARNAÇÃO, tornando-se visível para todos os que viram Jesus de Nazaré, o Filho do Deus vivo, chamado de "a imagem/o ícone do Deus invisível" (Colossenses 1:16) - ou seja, Aquele que faz o Pai, que habita em luz inacessível (1 Timóteo 6:16), "ser visto" -, pois está escrito que "quem vê a Cristo, vê o Pai" (João 14:9). Logo, se realmente levássemos o "Sola Scriptura" a sério, jamais o substituiríamos pelo "Sola Confessionis" (como se ambos fossem a mesma coisa), mas colocaríamos as coisas nos seus devidos lugares e cumpriríamos, na prática, o que afirmamos na teoria: a Bíblia é a "norma normans" (a regra que regula, a norma que normatiza) e tudo o mais - confissões, catecismos, credos etc., por mais notáveis e bíblicos que sejam - é "norma normata" (a norma que é normatizada, a regra que é regulada). Esta é a hora de fazer valer, mais do que nunca, o slogan "ECCLESIA REFORMATA ET SEMPER REFORMANDA SECUNDUM VERBUM DEI" (e.g., "a igreja reformada, que sempre se reforma, segundo a Palavra de Deus"), pois são as ações que mostram o que de fato cremos e não meramente os nossos discursos e a nossa retórica. 


Após tudo o que foi escrito, a conclusão é: aproveitemos a Quaresma/Semana Santa para sermos especialmente relembrados do Filho de Deus, que "nasceu de mulher na plenitude dos tempos" (Gálatas 4:4), viveu a vida sem pecado que não seríamos capazes de viver, "carregou em Seu corpo os nossos pecados" na cruz (1 Pedro 2:24), foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia (o Domingo da Páscoa) “por nós e para nossa salvação”. Abandonemos, também, as contendas infrutíferas e vazias, as quais não passam de "vitrines" para uma soberba velada (que, muitas vezes, se disfarça de "rigor doutrinário"), lembrando-nos que "com Deus não se brinca" (como se Ele fosse igual a nós!) e, com base nessa consciência, tratemos as coisas santas com reverência e temor, como uma expressão viva de nossa devoção a Deus, sem corrompermos o conhecimento de Deus em prol de "causas políticas" ou "pautas sociais", mas servindo a Ele do jeito Dele, visto que esse é o único jeito possível.

Que a "Antiga Teologia da Cruz" prevaleça, e os "novos fariseus" se rendam diante dela - ou sejam por ela abatidos!
Que Cristo, e somente Ele, seja o objeto de nossa fé para a salvação, pois "Ele é uma rocha firme, e tudo o mais é areia movediça"!
Que nossos corações se enterneçam, mais uma vez, pelo Servo Sofredor, o Redentor Crucificado, a fim de sermos aperfeiçoados em amor e humildade, conformando-nos a Ele em Sua morte para podermos participar da Sua ressurreição!

Hoje ainda é sexta-feira; amanhã será sábado; mas calma... o Domingo está chegando!




Pela certeza de que a "Teologia da Cruz" triunfará no final,



Soli Deo Gloria!

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