quinta-feira, 21 de dezembro de 2023

Das modernas "feiras de vaidade" e de "invasões verticais"...

O ano está perto do fim, mas ainda há tempo para voltar a escrever. 

A propósito, visto que este blog quase não tem leitores assíduos, tudo o que é escrito nele não diz respeito, primordialmente, a terceiros que poderão acessá-lo, mas antes a quem escreve e, sobretudo, Àquele diante de quem todos estamos, ainda que muitos não se dêem conta disso. 

Portanto, os principais objetivos de cada frase ou palavra são a) registrar as reflexões e convicções de seu autor, de modo que estas sejam devidamente 'entesouradas' por ele (na medida em que tenham valor, obviamente) e b) conduzir a todos os que lêem, em tudo e acima de tudo, a 'entesourarem' Aquele para Quem tudo foi criado e em Quem todas as coisas subsistem.

Assim, sigamos em frente - antes que o ano termine!


Primeiramente, o título dado a este texto está baseado em duas grandes obras da literatura ocidental. A primeira é o "The Pilgrim's Progress" (port. = "O progresso do Peregrino" ou, simplesmente, "O Peregrino"), um clássico da literatura cristã reformada do século XVII escrito pelo puritano batista John Bunyan, no qual cada capítulo apresenta um momento ou desafio da jornada do personagem "Cristão" desde sua saída da "Cidade da Destruição" até sua chegada à "Cidade Celestial". A outra obra é essencialmente filosófica e se chama "Invasão Vertical dos Bárbaros" (do grande pensador brasileiro Mário Ferreira dos Santos), na qual ele descreve a decadência da sociedade moderna nos termos de uma invasão de "novos bárbaros" que, de modo análogo ao contexto da queda do outrora glorioso Império Romano, se insurgem como que "de baixo para cima" (o que pode evocar sua vileza e mediocridade) e implodem a civilização em que vivem, causando sua destruição. 

Desse modo, o texto destacará o relato da "feira da vaidade" presente em O Peregrino (local que simboliza as ofertas de prazeres e distrações que seduzem seus visitantes para que desistam de seguir sua jornada) juntamente com a idéia de "invasão vertical", relacionando as imagens e conceitos correspondentes e aplicando-os à realidade vigente e ao contexto dos períodos do Advento e do Natal, as duas estações litúrgicas rememoradas por muitos cristãos ao redor do mundo a partir do fim de novembro até o início do próximo ano. 

Que a missão seja cumprida até o fim deste post, com a destreza e a dose de sarcasmo que me são devidas!  


A Vaidade e suas "feiras modernas".

"Inanzitutto" (ou "primeiramente"), vale a pena relembrar os diversos conceitos do termo "vaidade" para compreendermos mais claramente o argumento que será desenvolvido aqui. Dito isso, a palavra "vaidade" é usualmente relacionada ao que é "vão", "vazio", "fugaz" e "transitório" (como no pensamento hebraico, sendo expressa no vocábulo "hebel/hevel", cujo significado é "fumaça", "vapor", "sopro" etc.), ou ainda a algo "sem subsistência ou substância" bem como "fútil" ou apenas de "valor aparente e exterior". Conseqüentemente, a "Feira da Vaidade" mostrada na obra 'O Peregrino' é uma espécie de mercado em modo 24/7 (i.e., que sempre está aberto a quem quiser visitar) no qual todo tipo de mercadoria, bem material, riqueza ou futilidade pode ser adquirido(a) e onde os deleites, a ostentação e a "dolce vita" parecem ser permanentes, de tal modo que todos os que aproveitassem o que a "feira" tem para oferecer gozariam desses privilégios, ao passo que os que resistissem às suas ofertas sofreriam escárnio, desprezo ou mesmo a morte - como no exemplo do personagem Fiel, o qual é martirizado por não ceder às tentações circundantes a fim de permanecer inabalável em razão de suas convicções. 

Além disso, embora as "feiras da vaidade" não sejam uma 'coisa nova' (como o próprio livro afirma), os produtos e bens contidos e vendidos nelas têm assumido "novas molduras" ou "formas atualizadas", conquanto ainda preservem sua essência característica. Isto é, assim como na Antiguidade existia a "Ágora" - a "praça dos eruditos e sábios" da Grécia - e, na Idade Média, os teólogos e mestres publicavam suas teses e questionamentos nas portas das catedrais, paróquias e murais de universidades a fim de promover debates e discussões intelectuais, atualmente temos uma nova "Ágora" - em versão digital, virtual, na palma de nossa mão -, em cujos murais (ou "feeds", ou "timelines") todos publicam suas idéias, teses, opiniões e convicções sobre o que bem entendem (ou melhor, sobre o que não entendem e acreditam que entendem, na maioria dos casos). Dessa forma, o "multiverso das redes sociais" se tornou a nova "Cidade da Vaidade", na qual todas as modalidades de prazer, benesses e produtos são oferecidos a todos (e por muitos) que, inevitavelmente, transitam por suas "vias algorítmicas" e, semelhantemente à Feira visitada por Cristão e Fiel, também humilha, calunia ou mesmo "cancela" a qualquer que não se ajusta às "diretrizes da comunidade" e "ousa ser firme" diante de seus opressores "pseudo-oprimidos". 


Dentre os aspectos mencionados acima, este texto buscará destacar um fenômeno bastante recente e que pode ser considerado como o principal "cartão de visitas" das "ágoras" de nosso tempo: a multiplicação desordenada e desenfreada dos autoproclamados "influenciadores", cujas publicações, vídeos, carrosséis de "perguntas respondidas" e demais conteúdos constituem, sem sombra de dúvida, as novas "feiras da vaidade", nas quais são mercadejados diferentes simulacros de prazer e realização pessoal bem como incontáveis frivolidades. Embora deva-se ressaltar, de fato, a existência de muitos veículos e espaços digitais que promovem, por exemplo, a) um conhecimento de excelência para uma subsequente formação intelectual/espiritual, b) arte de qualidade (o que é mais raro que um torcedor do Santos feliz com seu time!) ou mesmo c) informações de utilidade pública para o cotidiano e a vida comum, é inegável que o acesso facilitado aos ambientes das mídias sociais associado à ausência de referenciais éticos e morais adequados têm se refletido nesse abrangente "comércio virtual", em que o que mais importa é "parecer inteligente", esculachar os outros para "mostrar erudição", exibir a "família feliz, numerosa e 'anti-moderna'", "propagandear modéstia" para disfarçar a soberba interior e, finalmente, convencer os clientes ao dizer: 

"...Se você quer resgatar a família brasileira/criar machos e mulheres de verdade/formar sua personalidade acima da 'camada 4D' ou qualquer outra coisa que pareça "virtuosa" aos olhos dos outros, clique em 'saiba mais' ou no 'link da Bio' e faça o meu curso X ou Y..."! 

Desse modo, não custa nada relembrar aos que lêem este blog que o seu autor é, fundamentalmente, "um homem cuja alma pertence a algum momento entre os séculos XI e XVII" e, por isso, é "anti-moderno" - i.e., opositor de todo mínimo traço de mentalidade revolucionária e "progressista" e apreciador de tudo o que o mundo (ocidental) atual despreza/odeia, a exemplo da beleza, a verdadeira ciência, uma vida sem ostentações, a magnanimidade e a nobreza de caráter, a verdade e a coragem etc. Conseqüentemente, não se deve concluir que há incoerência na argumentação apresentada, tendo em vista que até as atitudes e motivações mais admiráveis possuem suas máculas e, por isso, confirma-se o antigo ensino do "Livro sagrado de capa preta": não há quem seja justo e não peque, uma vez que a 'serpente do pecado' espalhou sua peçonha por todas as dimensões da realidade criada e, assim, tudo o que existe foi mortalmente contaminado

Em suma, o que está em causa é: os "donos das bancas" das modernas "feiras de vaidade" são, em grande parte, vendedores que desejam "lucrar" com a nossa ignorância e falta de discernimento, sendo ávidos pela "vanglória" (ou "glória vã") advinda dos "likes", "visualizações" e "comentários positivos" e, como resultado, "percorrem todos os aplicativos vizinhos" para fazerem seus "prosélitos" tornando-os, quase sempre, "duas vezes mais filhos do inferno" do que eles próprios o são. Com toda a franqueza, se há algo do qual eu quero (e lutarei para manter) a mais absoluta distância - e de que eu não tenho a menor necessidade! - é de supostos "gurus salvadores da Civilização Ocidental" (ou da "Igreja Ocidental"), nem de "pseudointelectuais puristas" que julgam ser aptos para censurar os "estrangeirismos na linguagem" ou a posição das conjunções em orações subordinadas e, por fim, de quaisquer cursos que prometam a "minha vida virtuosa aqui e agora" ou que expliquem "todos os mistérios da alma humana em 15 aulas". Ora, se nem Dostoievski, Shakespeare, Santo Agostinho ou o Rei Salomão foram capazes disso, não será qualquer "blogueirinha" ou "intelectual de Instagram ou Youtube" que poderia (por si mesmo/a) sê-lo, visto que maior razão tem quem disse que "o mundo seria um lugar bem melhor se não houvesse tanta gente prometendo melhorá-lo". 


A invasão vertical dos "novos bárbaros"

Enquanto o protagonismo nas modernas "feiras de vaidade" pode ser consideravelmente associado aos que se declaram (ou são reconhecidos) "conservadores"/"tradicionalistas" - com os quais igualmente me identifico -, há outro tipo de protagonistas que deve ser destacado, uma vez que têm influenciado (ou desviado) o curso da sociedade moderna nos últimos séculos, não obstante serem o exato oposto daqueles: refiro-me aos "novos bárbaros" que vêm "invadindo a terra" em sentido ascendente, cuja ação organizada tem sido semelhante a um mecanismo de implosão, pelo qual grandes construções são derrubadas através de sua estrutura interna em poucos instantes. Tais invasores são, essencialmente, o que posso definir como "camaleônicos", visto que não lhes falta expertise e sagacidade em sua estratégia de "ocupação de espaços", a exemplo da mídia, das escolas e universidades, das cortes judiciais, das instituições religiosas e militares (de forma mais sorrateira e dissimulada) bem como de propriedades agrícolas, repartições públicas, residências e condomínios e até acampamentos no meio do deserto (nesse caso, o cinismo normalmente é explícito e a perfídia, escancarada). Em outras palavras, a depender da conveniência e dos meios de ação disponíveis, os "novos bárbaros" podem agir "dentro da lei", por "vias democráticas" e usando de camuflagem entre aqueles que desejam aniquilar e, simultaneamente, se insurgirem armados até os dentes, assassinando inocentes a sangue frio e com requintes de crueldade, expulsando famílias de seus lares e terras, destruindo plantações e ambientes de pesquisa e trazendo ruína em cada metro quadrado que pisam. 

Portanto, embora seja evidente, para quem tem poucos neurônios em funcionamento e conhece um pouco da realidade atual, a que grupo estou me referindo, creio que devo ser ainda mais claro: os "novos bárbaros" são popularmente conhecidos por ostentarem o "vermelho" em seus símbolos, apesar de que, no caso do Brasil, outras tonalidades - como o azul/amarelo - também têm estado presentes. Todavia, nas últimas décadas, não somente o "vermelho" tem sido visto nos locais onde os "novos bárbaros" têm se infiltrado, mas semelhantemente o "verde" (quem lê, entenda) e, concomitantemente, um verdadeiro "chiasso di colori" (como diriam os italianos!) expresso em bandeiras dos mais variados tipos (ou "gêneros", sic), cujos significados são impossíveis de decorar (se é que há algum sentido em tal insanidade!) e que servem exatamente para fazer de uma "histeria psicótica minoritária" a "normalidade" de toda a sociedade - i.e., o "novo normal" humano (e.g., anti-humano). 

Nesse ínterim, é importante ressaltar que estes "bárbaros" também estão nas "ágoras digitais" e, dessa maneira, a sua psicopatia totalitária tem caracterizado o comércio nas respectivas "feiras de vaidade", seja promovendo toda espécie de mercadoria estragada e prejudicial, seja buscando impedir que qualquer iniciativa benéfica tenha alcance e relevância. Dessa forma, multiplicam-se os defensores de terroristas (a saber, os verdadeiros "neonazistas" ou "islamonazistas") que incineram bebês em micro-ondas, estupram mulheres mortas e/ou cortadas em pedaços e enforcam homossexuais em praça pública, erguem-se altivos os que desejam censurar (e até matar, sempre que for necessário/der mais prazer) em nome da "normalidade democrática", amotinam-se os que concordam com "anistia" para criminosos e a sonegam a presos políticos inocentes e, finalmente, conspiram em conjunto tantos que alardeiam ser tolerantes aos que são "diferentes" - contanto que estes sejam iguais a eles. Ou seja, a mais recente "invasão vertical dos bárbaros" não é apenas uma das causas determinantes da deterioração do tecido social (e da própria natureza humana), mas igualmente um sintoma indelével dessa mesma decadência


Por tudo isso, há dois males em evidência aqui: de um lado, destacam-se as pitadas de soberba e oportunismo de muitos que têm méritos reais (por causa de seu trabalho e legado), mas que maculam a si mesmos em razão de seu esnobismo e vaidade - o que pode ser descrito como a "maldade de gente boa", segundo os versos da canção "Deus me proteja" - e, por outro, a malícia e a impiedade inescrupulosa de tantos outros, cujos méritos se restringem à capacidade de ludibriar e mentir bem como de tornar todo tipo de atrocidade que lhes seja útil um "bem necessário" e "louvável" - i.e., a "bondade da pessoa ruim", nas palavras da mesma canção citada. Entretanto, a existência de ambos os males é, acima de tudo, um testemunho inequívoco da realidade da natureza humana (a qual todos partilhamos) e, conseqüentemente, cada um de nós pode ser (e muitas vezes é) a "pessoa boa" que age com maldade ou a "pessoa má" que dissimula uma bondade fictícia. Dessa maneira, tanto os "inteligentinhos e virtuosos da internet" (que querem nos persuadir de que somente eles "sabem das coisas" e usam até o nome de Deus para maquiar a própria empáfia) quanto os "novos bárbaros" (os quais possuem o "toque de Midas" às avessas, uma vez que deterioram tudo o que tocam) - e, finalmente, nós mesmos - precisam(os) reconhecer qual a sua/nossa verdadeira condição e, à luz desse diagnóstico (um diagnóstico calamitoso e terminal, por assim dizer), buscar a solução apropriada, a qual não está (e nem poderia estar!) em nós e nem nos outros. 

A primeira "Grande Invasão Vertical" da história

Os estudiosos e amantes da história humana (seja da disciplina escolar/acadêmica, seja da coisa em si/na prática) certamente se deparam, em seus estudos, com inúmeros relatos de incursões e invasões de vários povos a muitos outros, sobretudo com objetivos militares (para o fortalecimento do exército e das fronteiras, a segurança do próprio povo etc.), econômicos (para aquisição de espólios de guerra, o direito a explorar riquezas do território conquistado etc.) e políticos (visando alianças de paz por meio de casamentos, ações de inteligência e espionagem etc.). Além disso, os que possuem o hábito de ler obras épicas ou de literatura fantástica também vêem, não raras vezes, relatos de batalhas heróicas e/ou de vitórias a priori inalcançáveis, as quais são, em muitos casos, cumprimentos de profecias pertencentes àquele mundo em que as estórias acontecem, assim como refletem, em última análise, o anseio humano pelo "triunfo do bem contra o mal", pelo "final feliz após uma jornada de angústia e aflição" ou "por um descanso permanente, num lugar onde a justiça e a paz se encontrem". 

Ou seja, os acontecimentos históricos, assim como os clássicos da literatura (desde a Antiguidade até dias mais recentes), ambos apontam para uma realidade que chamarei aqui de "a Primeira Grande Invasão Vertical", mediante a qual um único "Supremo Invasor" (inclusas as devidas adequações quanto ao uso desta expressão) adentrou, em movimento descendente, a dimensão material da vida - embora já existisse "desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade". Há cerca de 2 mil anos, numa pequena aldeia no atual estado israelense (outrora chamada "Judéia", termo relativo à tribo de Judá) chamada "Belém", ocorreria a "invasão vertical da Encarnação", na qual o "Eterno entraria no tempo" a "Divindade assumiria a natureza da humanidade", conforme centenas de profecias e figuras já haviam dito a Seu respeito, cujo cumprimento selou a velha esperança de que o mal que, no princípio, invadira o cosmos como resultado da sagacidade da Antiga Serpente e da desobediência humana, seria derrotado, assim como lemos em "O Senhor dos Anéis" pelos lábios de Samwise Gamgee, o Sam: "...até a escuridão deve passar, e um novo dia chegará; e, quando o Sol brilhar, ele brilhará mais claro...". Eis a "raison d'être" do Natal!


Nesse sentido, ao trazermos à tona esse significado, devemos nos recordar de que, algum tempo após o nascimento de Jesus Cristo, magos/sábios do Oriente (possivelmente da Mesopotâmia ou da Pérsia, estudiosos de uma "astronomia/astrologia antiga" e, talvez, ligados ao Zoroastrismo, embora também tivessem conhecimento de profecias referentes aos judeus e ao Messias) vão a Jerusalém, até o rei Herodes (o Grande), para saber "onde estava Aquele que era nascido Rei dos Judeus". Logo em seguida, Herodes fica alarmado/indignado com a informação (certamente por achar que seu poder estaria sob ameaça) e, de forma ardilosa e dissimulada, procura saber a respeito do assunto com os sacerdotes e mestres da Lei, os quais confirmaram que o Messias deveria nascer em Belém, conforme os profetas haviam anunciado (vide Mateus 2:1-6 e Miquéias 5:2). Assim, Herodes pede aos magos que se informem com precisão sobre o tempo de aparição da estrela que os acompanhara até ali e diz que queria "visitar o menino para adorá-Lo" - mas aqueles viajantes estrangeiros não fizeram nada disso! Em contrapartida, após a estrela lhes aparecer novamente, eles se alegraram com intenso júbilo, se dirigiram ao lugar onde Jesus estava com Maria e José (nesse caso, Jesus já devia ser um bebê maior, com idade entre 1-2 anos) e O reverenciaram, entregando a Ele seus bens mais valiosos (ouro, incenso e mirra), o que também aponta para profecias antigas a respeito do Rei que viria da linhagem de Davi (a saber, o Cristo - ver Salmo 72 e Mateus 2:7-12). Finalmente, os magos foram alertados em sonho para não voltarem a Herodes e, por isso, retornaram à sua terra secretamente - porém, o rei soube disso e sua ira o levou a realizar uma verdadeira "barbaridade", no sentido pleno da palavra. 

A esse respeito, semelhantemente aos dias em que nasceu Moisés (nos quais o Faraó havia determinado a morte de todos os meninos hebreus para impedir que o povo crescesse em número e, assim, pudesse se revoltar contra os egípcios e buscar a liberdade), Herodes mandou matar todos os bebês de dois anos para baixo em Belém e arredores, a fim de eliminar esse "suposto rei recém-nascido" e consolidar o seu poder de forma incontestável. Tal episódio foi uma carnificina de impiedade, visto que criaturas completamente indefesas foram massacradas por soldados romanos armados, sem chance de escape ou julgamento, a tal ponto que o evangelista Mateus aplica a seguinte profecia de Jeremias ao que é chamado na tradição cristã de "O Massacre dos Santos Inocentes":

"...Ouviu-se uma voz em Ramá, choro e grande lamentação; é Raquel que chora por seus filhos e que recusa ser consolada, porque já não existem..."
- Mateus 2, vs. 18 (vide Jeremias 31.15)


Fica evidente, portanto, a partir dessas passagens das Escrituras, que sempre houve "bárbaros" ao longo da história, e que nem mesmo Jesus, o Deus encarnado, o Filho Unigênito do Pai, passou incólume à sanha assassina e iníqua deles, pois, muito embora Ele tenha escapado do massacre citado ao fugir para o Egito (o que chega a ser curiosamente irônico!) quando criança, viria o tempo em que Ele mesmo, de livre e espontânea vontade, entregaria a Si mesmo, daria a Sua vida, se deixaria ser escarnecido, ultrajado, aviltado, humilhado, agredido e morto da forma mais vergonhosa e fisicamente insuportável que poderia existir: a morte por crucificação. Curiosamente, assim como não se pode conceber a Jesus como Aquele que "morreu por nós, sendo nós ainda pecadores" e que "ressuscitou para nossa justificação" sem a "invasão vertical da Encarnação", a razão última e principal do Natal é a "Semana Santa", sobretudo o período entre a quinta-feira e o domingo, no qual Jesus completaria a missão que lhe fora dada pelo Pai. Destarte, o "barbarismo" dos que conspiraram contra Jesus, O traíram e, finalmente, O mataram pelas mãos dos "bárbaros romanos" (por assim dizer), por mais horrendo que tenha sido, também não seria capaz de impedir que Deus cumprisse Seus planos; na verdade, Ele os cumpriu através da maldade de Seus próprios inimigos. Ó profundidade da riqueza! 

Finalmente, resta um último aspecto a ser destacado (ou uma inquirição a ser feita): você sabia que ainda haverá uma "Segunda Grande Invasão Vertical"? Se sua resposta foi negativa, continue aqui até o fim e, assim, você saberá.

A derradeira "Grande Invasão Vertical" da história

Como consta no início do texto, o argumento a ser desenvolvido aqui culminaria em conexões com os períodos do Advento e do Natal, os quais estão intimamente relacionados, embora sejam distintos entre si. Dessa forma, se a "Estação do Natal" serve para rememorar o cumprimento da promessa messiânica por meio da Encarnação da Segunda Pessoa da Trindade, o Deus Filho, no homem Jesus de Nazaré (o que, segundo a tradição cristã, é conhecido como "Primeira Vinda" ou "Primeiro Advento"), a "Estação do Advento" (que antecede o Natal) tem como objetivo recordar aos que crêem em Jesus, o Verbo encarnado, que o mesmo Deus que cumpriu fielmente as promessas referentes ao Primeiro Advento também cumprirá as promessas referentes ao Segundo Advento, a saber, "a última grande invasão vertical" da história. Isto é, do mesmo modo que aqueles que possuíam a expectativa da chegada do "Descendente da Mulher", da linhagem de Abraão, Isaque, Jacó, Judá e Davi (em particular, os  israelitas/judeus do passado) tiveram de aguardar muitos anos, em meio a desolações, sofrimentos e aflições, que essa promessa se cumprisse, todos os que têm crido no Deus de Israel (e em Seu Messias) dentre todos os povos também têm aguardado com paciência, através de perseguições atrozes, calamidades e diversas oposições, pelas promessas futuras nos últimos dois mil anos até este exato instante. Todavia, virá o dia em que essa espera não mais será necessária, pois "ainda um pouquinho de tempo, e o que há de vir virá, e não tardará". 


Entretanto, "nel frattempo" (ou "enquanto isso"), dentre os variados males e angústias que têm sido prevalentes nesse mundo caído, o crescimento do escárnio e da zombaria para com Deus e em relação à Sua Palavra merece destaque, conforme as palavras do apóstolo Pedro, que escreveu:

"....Saibam que, nos últimos dias, surgirão escarnecedores que seguirão suas próprias paixões, os quais dirão: 'o que houve com a promessa da Sua vinda? Pois, desde que os antepassados morreram, tudo continua como desde o princípio da Criação'. [...]
Porém, não se esqueçam disso, amados: para o Senhor um dia é como mil anos, e mil anos como um dia. O Senhor não retarda a Sua promessa, ainda que alguns a julguem demorada... Contudo, o Dia do Senhor virá como ladrão..." [2 Pedro 3, vs. 3-4, 8-9a e 10a] 

Resumidamente, o trecho bíblico acima mostra que uma das marcas dos últimos dias (período que já está em curso, segundo as Escrituras) seria a proliferação de homens maus, soberbos e cínicos, escravos de suas próprias inclinações, os quais ergueriam seus punhos aos céus (talvez não haja figura mais oportuna - quem vê, entenda) e blasfemariam contra Deus e Sua Palavra, dando a entender que Ele não cumprirá o que disse ter prometido e, por isso, aqueles que crêem nas Suas promessas seriam tolos e iludidos. No entanto, o apóstolo quer reacender a esperança dos irmãos destinatários da carta ao afirmar que o "calendário divino" não é como o nosso, que Deus "nunca está atrasado, mas sempre chega no tempo certo" (assim como o mago Gandalf dissera acerca de si mesmo ao hobbit Bilbo) e, finalmente, que o "Dia do Senhor" (expressão bíblica que, nesse texto, se refere ao Segundo Advento) virá como ladrão - i.e., de forma inesperada, surpreendente, sem aviso prévio, de tal maneira que todos os que outrora zombavam e escarneciam serão tomados de pavor, uma vez que terão de encarar Aquele que desprezaram se manifestando visivelmente, vindo com "poder e grande glória". 

Quanto a esse dia singular, o mesmo Pedro diz que "os céus desaparecerão com grande estrondo e serão desfeitos pelo fogo", que "os elementos, ardendo, se dissolverão" e que "a terra e as obras que nela há serão desnudadas" (ver vs. 10 e 12), cujas imagens superam qualquer bom enredo de ficção científica e compõem uma coleção de fatos espantosos para todos os químicos e astrofísicos que se interessam pelos fenômenos espaciais. Assim, diante de acontecimentos tão grandiosamente aterradores, o que restará aos "virtuosos" que desfilam nas "feiras de vaidade virtuais"? Um novo curso sobre a "a vida intelectual num universo pós-planeta Terra"? Ou algum "instagrammer" ousará explicar os episódios mencionados numa story de 1 min ao responder as perguntas da caixinha - sem usar anglicismos, é claro?! Pondo à parte tais especulações irônicas, a única certeza razoável que permanece é: no Segundo Advento, a "Grande Invasão Vertical" que ainda está por vir (pois, dessa vez, o Deus que desceu a nós para se fazer homem voltará, rasgando os céus do Oriente ao Ocidente), todos os "mercadores das feiras de vaidade", quaisquer que sejam, serão desfeitos como um vapor (refletindo a própria vida inútil e frívola que viveram) e, igualmente, todos os bárbaros, outrora altivos em sua impiedade e pecado, serão humilhados e envergonhados, pois na presença do Cristo, o Rei dos Reis e Senhor dos Senhores, todos inevitavelmente se renderão, tendo em vista que "o Senhor se ri dos ímpios, pois sabe que o dia deles está chegando" (ver Salmo 37:13).  


Em contrapartida, o Segundo Advento, a "Divina Invasão Vertical Final", o mesmo "Dia do Senhor" - que será de 'trevas e não de luz', de 'terror e não de descanso', de 'destruição e não de redenção' para todos os que não amam nem obedecem Àquele que haverá de vir neste Dia - será o momento mais glorioso para todos os que, por ora, sofrem com a "espera aparentemente longa" e o subseqüente escárnio do mundo, com a hostilidade e os ataques ardilosos de satanás e seus demônios e, mais intimamente, com as angústias decorrentes do pecado remanescente - o qual, embora não exerça mais domínio sobre os que pertencem a Deus, ainda é suficientemente poderoso para causar muitos males e danos a eles. A partir de então, com a vinda do "Desejado das Nações", Daquele a quem "todos os reinos do mundo um dia pertencerão" completa e concretamente, a peregrinação dos fiéis vivos estará concluída e o "estado de glória parcial" dos que aguardam a ressurreição do corpo para a "vida imortal" também chegará a seu fim, pois o reino "preparado desde a fundação do mundo" será entregue a seus herdeiros, a terra será "cheia do conhecimento da glória do Senhor, como as águas cobrem o mar", os "homens não mais aprenderão a guerrear, pois suas armas serão convertidas em instrumentos de trabalho", os povos "afluirão ao monte do Senhor para aprender Suas leis e ouvir Sua Palavra" e, com a derrota final de satanás e o Juízo Final, virão novos céus e nova terra, nos quais haverá "alegria eterna, sem mais lágrimas" e onde "nem choro se ouvirá"

Porém, melhor do que todas essas realidades é a "visão beatífica", estar para sempre Coram Deo (e.g., diante da face de Deus), posto que "quando Ele se manifestar, seremos como Ele é", de tal sorte que todas as alegrias mencionadas são apenas holofotes que direcionam nossa atenção para a "Alegria Soberana e Verdadeira", aquela que jamais pode nos ser tirada (visto que não é fugaz e/ou transitória) e que será nosso "Sumo Bono" para sempre, visto que extirpará todo vestígio de "barbarismo" e impiedade.

E quanto a você? 

É facilmente seduzido pelas ofertas das "feiras de vaidade", tanto convencionais quanto virtuais? 
Por outro lado, você tem sido um "comerciante de coisas inúteis", mercadejando o que é sem valor mas usando de disfarces para enganar os outros e se aproveitar deles?

No mais, você enxerga em você o mesmo sentimento e atitude dos "novos bárbaros"? Você tem desejado perverter sorrateiramente o que acredita ser um "empecilho ao progresso humano" e, ao mesmo tempo, se julga no direito de destruir cruelmente tudo o que odeia? 

Em último lugar, você já se deu conta das duas "grandes invasões verticais" apresentadas aqui, a saber: a primeira, na qual Deus veio até nós em forma de homem para ser o nosso Redentor e, por fim, a segunda, na qual Ele virá como "juiz dos vivos e dos mortos", de tal modo que ninguém poderá escapar Dele? 

O que você fará diante disso? Invocará o Seu nome para que Ele "invada o seu interior" e te resgate ou, ao contrário, O desprezará até que não haja mais salvação?




Pela viva esperança de que Ele invadirá novamente a história,




Soli Deo Gloria!

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