Eu não sou um homem provido de inspiração.
À parte isso - e ausentes a expertise e a erudição -,
Escrevo a Deus "essas mal-traçadas linhas",
E elevo a Ele esse poema-oração.
Alegrar-me-ia caso fosse como o salmista,
Cujo coração outrora "transbordou de boas palavras"
E "cuja língua fora como a de hábil escritor",
Pois, assim, saberia como expressar-me melhor.
Todavia, fazendo o que está a meu alcance,
Dirijo-me ao "Eterno, mas não distante"
Para que, por Ele, minhas trevas sejam iluminadas.
Da filosofia dos antigos é possível ouvir
Que a sabedoria pode ser "sapiente" -
No tocante a conhecer as coisas tais como são -
E, ao mesmo tempo, ser "prudente" -
Pela qual se vive à luz do que se conhece
A fim de se buscar a virtude ou a salvação.
Ainda que tal ciência seja valiosa,
Muito mais excelente é a Tua sabedoria,
Visto que és o Conhecedor de todas as coisas,
Diante de Quem tudo está descoberto e patente
De modo que todos hão de Te prestar contas.
Temer-Te é "o princípio do verdadeiro saber",
E seguir-Te é o caminho para se bem viver -
Firma, então, os meus passos para que não vacile
E, sempre que me afastar, busca-me até me encontres.
Desde o princípio de todas as coisas -
Quando os primeiros de nós que criaste
Foram rebeldes, e, assim, desobedeceram a Ti -
Tentamos nos esconder e fugir....
Mas, para onde poderíamos ir,
De modo que não estivesses ali?
Se, para Ti, até as trevas e a luz são a mesma coisa,
Todos, sem exceção, estamos "Coram Deo" -
'Diante da face' ou 'de coração' perante Deus -,
Sejamos nós religiosos ou ateus.
Logo, tal fuga nada é senão ilusão,
Pela qual desejamos emancipação e autonomia,
Embora o destino seja uma "auto-submissão"
Que, astutamente, se disfarçará de soberania.
Quem, então, notaria a armadilha e escaparia?
Perdoa-nos, ó Deus, por sempre darmos 'nomes bonitos'
Àquilo que nos dizes que é pecado.
Chamamos a maledicência de "fazer comentários",
À calúnia, denominamos "um aviso de amigo",
Ao orgulho espiritual, rotulamos de "piedade"
E, finalmente, a covardia se tornou "cuidado prudente".
Até quando serás longânimo para conosco
Enquanto continuamos a desonrar-Te
Mas, ao mesmo tempo, julgamos 'obedecer-Te'
Ainda que seja mediante uma "prudência covarde"?
(Sobre)vivendo como que em "prisões domiciliares" -
Ou seria em "cárceres privados"? -
Aceitamos o espólio abusivo de nossas liberdades,
Visto que vale tudo em nome da "ciência"
Que, qual falsa deidade, saqueia mentes e almas,
Fazendo de sua 'psicopatia global' o 'novo normal',
A fim de nos perverter a vida e a sanidade.
Eu não tenho visto solução, porém clamo,
Pois sei que me podes abrir os olhos,
A fim de que saiba que, Contigo, sempre serei maioria,
Mesmo sem o dinheiro do "George Soros".
Temos sido, como nunca, privados do lazer,
Nas praias, nos parques ou nos cafés,
E, afastados daqueles que nos são mais amados,
Ouvimos que tudo isso é "para o nosso bem".
Até quando, Senhor?
Será que vamos nos sujeitar para sempre
Ao "conforto das inter-relações digitais",
Enquanto nos chamaste para ser um "ajuntamento",
No qual se deve viver e partilhar a "koinonía"
Em vez de um "comodismo" que beira à covardia?
Se, ao longo do tempo, os impérios mais cruéis,
Ou ainda as ditaduras mais sanguinárias,
Não foram capazes de nos separar de Ti
- E nem mesmo "uns dos outros" -
Por que seria diferente com uma "engenharia social sanitária"?
Faz-nos corajosos em Ti, ó Deus todo-poderoso,
Posto que não nos deste um espírito medroso
Mas, sim, de fortaleza, de amor e autocontrole,
Os quais são 'fruto' de Teu próprio Espírito
Pelo qual não somos mais escravos, mas Teus filhos.
É preciso "ser valente"
- Caso ouçamos Tua Voz 'do alto a nos dizer' -
Para abandonarmos nossa 'ignorância subserviente'.
Ajuda-nos, pois, a suspeitar de nós mesmos
Em lugar de duvidarmos da verdade,
Para que não sejamos mais enganados
E confundamos 'falta de convicção' com 'humildade'.
Acima de tudo, dá-nos aquela Tua ousadia
Para jamais vacilarmos quanto à Tua Verdade,
A qual nos revelaste pelo Teu Santo Livro
E que também manifestaste na pessoa de Teu Filho.
Infunde-nos amor pelo "escândalo da cruz"
Ante o qual todos são igualmente ofendidos,
Uma vez que todos somos vis pecadores
E, por isso, de Tua glória estamos destituídos.
Diante de Ti toda justiça própria é feita em pedaços,
E toda falsa ciência é desmascarada,
Não há apego ao poder que não seja desvelado
Nem sabedoria humana que não se mostre insensata -
Todos são, desse modo, inevitavelmente abatidos,
Pois somente os quebrantados podem ser por Ti redimidos.
Da minha própria condição de "covarde prudente",
Espero encerrar nesses versos essa petição,
Rogando a Ti para não seres ausente
Pois, se o fores, de onde viria minha libertação?
De Ti eu aguardo o meu socorro,
O Criador dos céus e da terra,
O Deus e Pai de Jesus Cristo, o Salvador,
E de todos a quem bondosamente escolhera.
Talvez o mundo se torne cada vez mais louco
E essa loucura passe a ser a "nova normalidade",
Contudo, Tu sempre serás o mesmo,
Visto que és Deus "de eternidade a eternidade".
Esteja sempre sobre nós o Teu amor,
Assim como em Ti está a nossa esperança,
Até que, enfim, chegue o "Dia da Consumação"
E, entre nós, já não haja mais distância -
Posto que, então, toda covardia será subjugada e punida,
E os Teus amados tomarão da "fonte da água da vida",
Reservada a todos aos quais trouxeste redenção.
Soli Deo Gloria!
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