Eis que retorno aqui mais uma vez.
Como todos estão bem cientes, uma boa parte do mundo está de "quarentena" devido às questões relacionadas ao novo coronavírus chinês - não vou entrar em quaisquer méritos sobre o que é verdade ou desinformação a esse respeito e nem discutir demasiado a respeito das reais conseqüências desse fenômeno [seja na saúde, seja na estabilidade econômica] - e, portanto, estamos basicamente reclusos em nossas casas.
Por isso, tenho tido mais tempo para ler, estudar outros assuntos distintos de minhas atribuições acadêmicas e, conseqüentemente, de refletir sobre esse momento atual em que estamos inseridos. Espero, portanto [como sempre expresso aqui], ser bem-sucedido em mais uma postagem.
Inicialmente, o título desse texto expressa um trocadilho do acróstico inglês L.O.L (i.e, "Laughing out loud", o que em português seria algo como "rindo muito alto") e o seu título real, que é "Lent onto lockdown" ou "Quaresma para a quarentena", dado o fato da coincidência do início desse período de isolamento social com essa estação do Calendário Litúrgico cristão. No entanto, esse texto não será ou pretende ser divertido, visto que tratará de coisas que demandam uma solene seriedade.
A origem da "quarentena" remonta à Idade Média (mais precisamente, aos séculos XIV e XV) e se deu na Itália (região de Veneza), num contexto de uma sequência de pestes que ocorreram na Dalmácia - atual região da Península Balcânica (Croácia, Eslovênia, Sérvia etc.). Nesse caso, os viajantes que chegavam nos portos e que vinham dessas áreas atingidas eram colocados sob reclusão e afastados dos demais por um período de, por exemplo, quarenta dias - daí o nome "quarentena" ou "quarantena" (em italiano ou no dialeto vêneto). Essa técnica se tornou, dessa maneira, uma alternativa útil para o combate ou contenção de epidemias/pandemias desde essa época, a qual permanece sendo aplicada em nossos dias [como temos vivenciado].
Por outro lado, a Quaresma se refere ao período de quarenta dias - da Quarta-Feira de Cinzas até o início da Semana Santa, antecedendo a Páscoa - e tem sua origem na expressão latina <<Quadragesima Dies>> ou "Quadragésimo Dia". A Quaresma é uma estação litúrgica observada por católicos romanos e por grupos de outras tradições [a exemplo dos luteranos, cristãos ortodoxos e anglicanos], e se caracteriza pela ênfase na penitência e na preparação para seguir os passos de Jesus Cristo na Sua tentação, Seu sofrimento até chegar à cruz. Desse modo, procura-se considerar o pecado e a morte como realidades inescapáveis da existência humana, a fim de se avaliar as limitações e falhas inerentes ao ser humano, tanto diante da eternidade quanto do próprio Deus. Curiosamente, a Quaresma desse ano está sendo acompanhada de uma "quarentena inesperada e abrangente", na qual temos ainda mais motivos para reconhecer a realidade árdua que nos cerca - vírus desconhecido, muitas mortes, caos sócio-econômico, incertezas, pânico, insegurança etc. -, o que confirma as palavras do apóstolo Paulo de que "...a forma presente deste mundo está passando..." [1 Coríntios 7, vs. 31] e também dos Salmos, onde lemos que Deus "...reduz o homem ao pó e diz: voltem, filhos dos homens!..." [Salmo 90, vs. 3].
Feitas essas observações, a pergunta que procurarei responder - ou, ao menos, esclarecer dentro do possível - é: quais lições podemos aprender a partir da "aparente coincidência" entre o período quaresmal desse ano com a quarentena?
Em outras palavras, quais as razões para se refletir a respeito de "Lent onto lockdown"?
No tocante à quarentena, sabe-se que ela tem sido aplicada de formas diferentes, sendo localizada ou parcial em alguns lugares (dando prioridade aos grupos de risco e aos que já contraíram o vírus e necessitam de tratamento) e, em outros locais (na maioria dos casos), mais abrangente e irrestrita - ou seja, isolamento vertical e horizontal, respectivamente. De maneira geral, em virtude do modo pelo qual as notícias têm sido divulgadas nos principais veículos de comunicação [o que chamarei aqui de "mídia mainstream"], uma grande parte dos países do mundo tem adotado o modo de "quarentena total", o que tem acarretado a interdição de atividades acadêmicas, culturais, de lazer e até mesmo algumas mais indispensáveis, a exemplo do transporte de alimentos para os mercados, setores de transações econômicas (como casas lotéricas, onde se pagam as contas do mês e muitas pessoas mais carentes recebem o dinheiro para o sustento da família) e certas fábricas ou indústrias. Dessa forma, pode-se notar que [para o bem ou para o mal, seja como for] a propaganda feita pela mídia mainstream exerce um poder avassalador sobre o comportamento humano, seja daqueles que estão investidos de autoridade sobre nações e povos (os quais, obviamente, podem também ser aliados dos mesmos propagandistas ou os seus promotores) bem como da população em geral que, num processo quase que "coercitivamente natural", adota as orientações dadas por essas autoridades - independentemente se tais diretrizes são boas ou ruins, verdadeiras ou mentirosas.
Nesse sentido, vale ressaltar algo muito importante: situações complexas, em que se faz necessário elaborar/tomar decisões arriscadas [quaisquer que sejam], não devem ser avaliadas sem o mínimo de honestidade intelectual e de sobriedade. Particularmente no contexto brasileiro desses últimos dias, o que tenho visto é uma avalanche de opiniões estúpidas, estapafúrdias, histéricas, infantis e passionais [até de pessoas bem-intencionadas e de bom coração/caráter, e isso de todos os "lados" ou "âmbitos" das visões políticas] entre as quais se vêem raros lampejos de maior sensatez e de busca pela verdade. Como já dissera no início, não tenho por objetivo defender ou fazer apologia de alguma perspectiva em específico, mas apenas salientar a realidade de que, como dissera o sábio Salomão, "...o tolo não tem prazer no entendimento, mas sim em expor os seus pensamentos..." [Provérbios 18, vs. 2], o que poderia ser auspiciosamente parafraseado como "...o idiota não se importa em aprender as coisas como elas são, mas sim em postar textões no Facebook, status no WhatsApp, stories no Instagram e frases imbecis no Twitter..." pois, como lemos no Sermão do Monte, os que buscam "ser vistos e glorificados pelos homens já recebem destes a sua recompensa", contudo nada receberão do Pai "que vê em secreto". Na verdade, os que dizem ou se consideram mais esclarecidos [especialmente aqueles que não querem ser "rotulados" ou "estigmatizados", posto que são "superiores"] devem dar exemplo e mostrar que realmente são instruídos e, portanto, capazes de auxiliar os seus semelhantes, a fim de irem além de verborragias inúteis para produzirem bons frutos.
Por outro lado, existe um aspecto ainda mais essencial do que o discutido no parágrafo anterior [falo mais diretamente aos cristãos]: nós - digo "nós" porque também sou um cristão - precisamos parar, imediatamente, de vomitar nossa estultícia e burrice nas redes sociais em troca de likes e/ou retweets para, em contrapartida, começarmos a chorar. Ora, se nos julgamos cristãos, confessamos que temos a Bíblia como nossa autoridade última em matéria de fé e conduta - o "Sola Scriptura" não é apenas um "slogan legal" a ser usado a cada 31 de outubro, não é? Conseqüentemente, se lermos as Escrituras com o mínimo de zelo razoável, perceberemos que em todos os momentos em que houve calamidade e desolação [particularmente com o povo de Israel no Antigo Testamento], aqueles que fielmente temiam e serviam a Deus foram impelidos por Ele ao arrependimento de pecados, ao lamento, ao pranto, ao jejum e às orações e súplicas pela misericórdia divina. Apenas como exemplos, destaco o momento em que os israelitas clamaram a Deus para serem libertados da escravidão no Egito [Êxodo 2, vs. 23-25], as orações de Daniel (por causa do pecado de Israel) e de Neemias (em prol da reconstrução de Jerusalém e do retorno à Terra Prometida) - conforme Daniel 9, vs. 4-19 e Neemias 1, vs. 4-9 -, o jejum da rainha Ester em favor da preservação dos judeus na Pérsia [Ester 4, vs. 12-17], os inúmeros salmos de lamentação em que os sentimentos dos seus compositores são expostos visceralmente e, obviamente, o livro das Lamentações de Jeremias, que relata a dor do profeta pela destruição de seu povo e sua terra causada pelos caldeus/babilônicos. De fato, é mais do que pertinente mencionar um trecho do profeta Joel (capítulo 2), onde se lê:
"...Agora, porém, diz o Senhor, "convertam-se a mim de todo o coração, com jejum, lamento e pranto.
Rasguem o seu coração e não as suas vestes. Voltem-se para o Senhor, o seu Deus, pois Ele é misericordioso e compassivo, longânimo e rico em benignidade..."
[Joel 2, vs. 12-13]
O profeta Joel anunciou sua mensagem num ambiente de desolação e miséria social [qualquer semelhança seria mera coincidência?] - neste caso, o mal havia sido causado por pragas nas colheitas, pelas quais toda a prosperidade do povo havia sido consumida. Todavia, o que lemos nessa passagem não mostra que a vontade de Deus para seu povo era "reclamar da falta de humanidade dos governantes" nem mesmo "denunciar sua ignorância a respeito de calamidades naturais", mas sim chorar - e chorar muito. Na verdade, a ordem de Deus era não somente chorar, mas jejuar, rasgar o coração [i.e., sentir a miséria dentro de si, e não apenas do lado de fora, nas aparências] e voltar-se para Ele, o que indica claramente que aqueles que se enxergam como "povo de Deus" e que já estão com os olhos secos necessitam urgentemente de arrepender-se de seus pecados e retornarem ao caminho certo - ou seja, a Ele. Dessa maneira, vêm a calhar a citação atribuída a Leonard Ravenhill, que dissera que "...devemos nos arrepender por não vermos mais arrependimento entre nós, bem como chorar por não haver mais lágrimas em nossos olhos...", o que foi atestado em outros termos por José Ortega y Gasset na célebre frase "...quiero llorar, pero no tengo lágrimas..." e por Renato Russo na música "Índios", cuja letra termina com os versos
"...Nos deram espelhos e vimos um mundo doente
Tentei chorar e não consegui...",
os quais podem, ironicamente, constituir uma descrição precisa de nosso cristianismo de "militância virtual", mas desprovido de piedade e contrição. Estamos doentes por querer "mostrar que temos razão" e não somos mais capazes de chorar as mazelas que nos cercam e, menos ainda, as nossas próprias misérias.
Curiosamente, temos até usado (com certo sarcasmo) o trecho em que o apóstolo Tiago diz "...limpem as mãos, pecadores..." [Tiago 4, vs. 8] em referência a esses tempos de cuidado com a higiene e prevenção ao contágio do vírus, mas estamos desprezando completamente o resto do mesmo versículo, em que se lê "...e vocês, que são de mente dividida [ou duplo ânimo], purifiquem o coração...". Nesse nosso mundo de filtros de aplicativos de fotos e vídeos, vivemos mais do que nunca entorpecidos pelo desejo compulsivo de "parecer ser" ao invés de simplesmente "ser o que é necessário ser, mesmo que ninguém note" e, como resultado, estamos todos "ficando em casa", "usando o álcool em gel" nas mãos e seguindo as demais recomendações do Ministério da Saúde [que são muito válidas e devem ser acatadas, sem dúvida] para nos resguardar da doença ao mesmo tempo em que não estamos guardando aquilo que deve ser guardado "acima de todas as coisas", de sorte que as "fontes de nossa vida" podem estar sendo contaminadas pelo nosso pecado remanescente, cuja correnteza tem desaguado em cada post, story, status e tweet que temos compartilhado. É hora de abandonarmos nossas iniqüidades disfarçadas sob as fantasias de "preocupação com a humanidade" e de "neutralidade política" para "...sentir as nossas misérias, lamentar e chorar, convertendo o nosso riso em pranto e a nossa alegria em tristeza..." [Tiago 4, vs. 9] até que, humilhados diante do Senhor, Ele tenha compaixão de nós e nos exalte.
Tendo isso em mente, pode-se perceber que o cerne do chamado desses profetas à compunção e ao quebrantamento em face das calamidades - como temos experimentado nessa "quarentena" - é parte essencial do espírito da "Quaresma", uma vez que esta antecede o clímax do ministério de Jesus: a Sua paixão, morte e ressurreição. Por tudo isso, não há momento mais oportuno para se exercitar a humilhação e a penitência (falo no sentido de arrependimento e lamento pelos pecados, e não de auto-flagelação ou algo similar) do que este - a "Quaresma da Quarentena".
Para isso, lançarei mão dos registros de outro profeta [ainda mais desconhecido que Joel]: Habacuque. Não se sabe muito sobre as suas origens, porém é provável que ele tenha realizado o seu ministério entre os períodos de dominação assíria e babilônica sobre o povo de Israel [sobre as tribos do norte e do sul, respectivamente]. No entanto, o que mais nos interessa para esse texto é que nas primeiras palavras do livro aparece o seguinte excerto:
"Até quando, Senhor, clamarei por socorro sem que Tu ouças?" [Habacuque 1, vs. 2]
"Até quando, Senhor?" Essa é uma pergunta carregada de significado e sentimento, pois expressa a profunda angústia e inquietação decorrente de uma situação suficientemente calamitosa para ser resolvida pela força do próprio braço. Essa mesma indagação aparece muitas vezes nos Salmos [especialmente nos penitenciais e de lamentação], como escreveu Moisés no Salmo 90:
Volta-Te, Senhor! Até quando será assim? Tem compaixão dos Teus servos!
Alegra-nos pelos dias em que nos afligiste, pelos anos em que tanto sofremos.
[Salmo 90, vs. 13-14]
Creio que, em ambos os contextos, tanto Moisés quanto Habacuque estavam vivenciando ou (no mínimo) refletindo a respeito de circunstâncias marcadas por intensa aflição e sofrimento - p. ex., nos cativeiros assírio e babilônico supracitados - e, diante de tais desolações, a única alternativa aceitável e viável era recorrer a Deus e à Sua benevolência. Entretanto, não se vê aqui um tipo de súplica descabida, tola ou impertinente, pois o salmista afirma que o próprio Deus os havia afligido [evidenciando a percepção da vontade soberana de Deus até sobre o mal], ainda que também manifeste a dor e a triste sensação do "abandono" e do "silêncio" divinos. Ou seja, a postura de alguém que entende que deve buscar o auxílio de Deus frente às tribulações deve combinar uma submissão consciente à Sua providência, porém sem deixar de lado a sinceridade de coração e a transparência nas palavras.
No mesmo sentido, existem outras palavras do profeta Habacuque que são ainda mais oportunas para a minha tentativa de justificar o "Lent onto Lockdown", como mostrado a seguir:
"...Senhor, ouvi falar de Tua fama; tremo diante dos Teus atos, Senhor. Realiza de novo, em nossa época, as mesmas obras, faze-as conhecidas em nosso tempo; na Tua ira, lembra-Te da misericórdia..." [Habacuque 3, vs. 2]
Esse capítulo do livro do profeta é uma oração. Ele começa reconhecendo expressamente que, ao ouvir sobre Deus e Seus feitos, foi tomado de temor e, movido por esse temor, implora que Deus "realize novamente as mesmas obras de outrora" ou, em outras traduções, que Ele "avive a Sua obra". Avivamento - eis uma palavra tão controvertida em nossos dias e tão mal-compreendida, pois normalmente associa-se esse termo com "histeria", "barulho", "confusão litúrgica" [até resultantes de manipulações psicológicas e/ou hipnóticas] ou mesmo a "engajamento social", "relevância cultural" e coisas afins. Sem entrar nesses tópicos em particular, o que quero sublinhar é que "avivamento é algo que somente Deus pode produzir/trazer/operar" - se fosse diferente, não seria preciso orar por isso - e, destarte, não é possível desejar um avivamento genuíno sem que esse desejo seja fruto de um real conhecimento de Deus e de Suas obras pois, sem esse conhecimento, nossa tendência sempre será considerar verdadeiro o que na verdade é falso. Logo, se o "avivamento" é falso, ele não vem de Deus, mas sim daquele que é o pai da mentira - i.e., satanás, de quem lemos que "...se transfigura em anjo de luz..." [2 Coríntios 11, vs. 14].
Finalmente, a última porção com que gostaria de gastar as últimas linhas desse texto é o final do verso mostrado acima: "...na Tua ira, lembra-Te da misericórdia...". Deus é um Deus irado [segundo o Salmo 7, Ele "...sente indignação todos os dias..."], no entanto parece ser mais fácil se dar conta desse atributo divino em momentos de aflição ou quando entendemos que Deus repreende ou exerce juízo por causa de nossos pecados. Portanto, quando o profeta pede para que Deus "se lembre da misericórdia" mesmo em meio à Sua própria ira, ele traz um ensino único, presente apenas nas páginas da Bíblia/das Escrituras: a misericórdia de Deus e a ira de Deus são atributos que, embora se manifestem normalmente em direções opostas, podem existir [e de fato existem] paralelamente ou mesmo serem "dois lados de uma mesma moeda" - e isso tem tudo a ver com "Quaresma".
Daqui a poucos dias a "Quaresma" chegará ao fim para que comece a "Semana Santa" - a semana dos últimos dias de Jesus. Nessa "estação litúrgica" atual, encoraja-se a reflexão constante a respeito da miséria humana e da morte como implicações do pecado, o qual seria posteriormente carregado pelo próprio Jesus "...em Seu corpo sobre o madeiro...", conforme as palavras do apóstolo Pedro.
É exatamente aqui, quando dirigimos nossos pensamentos ao Cristo crucificado, que contemplamos a perfeita expressão da harmonia da ira e da misericórdia de Deus, a qual foi expressa belamente pelo salmista, quando disse "...a justiça e a paz se beijaram..." [Salmo 85, vs. 10]. Ora, Deus, o Pai, estava aplicando a justa punição [ou salário, de acordo com Romanos 6, vs. 23] pelo(s) nosso(s) pecado(s) sobre Seu próprio Filho, "...o Filho amado, em quem tinha Seu prazer..." [Mateus 3, vs. 17], em vez de aplicá-la sobre aqueles que realmente mereciam recebê-la [começando por mim], de sorte que, mediante um único ato, num único dia - dia de trevas e também de luz, dia de dor mas também de salvação -, uniu plenamente todo o Seu ódio irredutível ao pecado ao Seu imensurável amor por homens maus e perversos, pois "...Deus prova o Seu amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores..." [Romanos 5, vs. 8].
Isto é, Jesus Cristo, o Filho de Deus enviado ao mundo, carregou sobre Si mesmo todos os tipos de mazelas, dores e sofrimentos decorrentes do pecado. Na verdade, Ele não somente "...levou sobre Si as nossas enfermidades...", suportou as decepções e calúnias ou quaisquer outras aflições típicas de nossa vida terrena, mas sim o "esquecimento de Seu Pai" [como lemos no seu brado "...Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?..."] e, em última instância, o próprio inferno - o que poderia ser mais terrível, assustador, horripilante e desesperador para Aquele que desde a eternidade desfrutou apenas do amor e do deleite de Seu Pai do que a sensação de se ver como que "abandonado" por Ele?
Por fim, em certo sentido, aquelas orações e lamentos dos salmistas e profetas que clamavam "...Até quando, Senhor? Te esquecerás de mim para sempre?..." [Salmo 13, vs. 1] encontram seu sentido pleno na pessoa de Jesus Cristo - Aquele que sempre era ouvido pelo Pai [vide João 11, vs. 41-42] até o momento do Getsêmani, quando não foi possível "passar de si o cálice" até que tudo culminou em Seu sofrimento no Calvário -, o Qual certamente viveu uma espécie de experiência de "inferno eterno", pois somente um Salvador que substitui o pecador e sofre plena e eternamente a punição por ele merecida pode dar vida eterna àqueles pelos quais Ele entregou a Sua vida. Desse modo, podemos voltar nosso olhar para Cristo, o Servo Sofredor, o Amigo dos Pecadores, o Salvador Gentil, o Redentor Vitorioso, e Nele encontrarmos consolo e esperança em meio a falências, perdas, pandemias, pânico, insegurança e mesmo diante da própria morte, pois já sabemos como a Semana Santa termina - Ele ressuscita para não mais morrer, pois "...era impossível que a morte o retivesse..." [Atos 2, vs. 24] e, assim, Ele apenas aguarda o momento em que a própria morte será derrotada a fim de que "...todos os Seus inimigos sejam postos debaixo de Seus pés..." [1 Coríntios 15, vs. 25-26].
Como nós temos lidado com as incontáveis informações que ouvimos? Somos como que "Marias que vão com as outras" ou exercitamos sensatez e prudência?
E quanto a nossas "verborragias virtuais"?
Quando é que vamos parar de ostentar a nossa tolice em público para praticar a humildade e, acima de tudo, para começarmos a chorar e a lamentar as misérias de fora e de dentro de nós?
Finalmente, diante dessa tentativa de relacionar a tradição da "Quaresma" com a "Quarentena" concomitante, qual será a nossa resposta ao que Deus fez por nós em Jesus Cristo?
Passaremos mais uma Semana Santa apenas não comendo carne vermelha sem nos alimentarmos do "pão da vida"? Além disso, desfrutaremos a Páscoa pensando nos coelhinhos e comprando ovos de chocolate "via delivery" sem nos importarmos com o Cordeiro que foi morto por causa de nossos pecados?
Pela certeza da ressurreição passada e pela esperança da futura,
Soli Deo Gloria!
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