Após mais de dois meses de ausência, consegui voltar aqui.
Atividades acadêmicas, mudança de endereço e demais responsabilidades e contingências não me permitiram escrever no mês de maio (quando pretendia escrever esse texto) até agora, mas, finalmente, espero ter sucesso.
Sem delongas, vamos ao que interessa.
O tema desse texto - como expressa seu título - é um trocadilho que faz referência ao diálogo entre o evangelista Filipe e um eunuco etíope registrado nos Atos dos Apóstolos, o qual está parcialmente transcrito abaixo:
Um anjo do Senhor disse a Filipe: "vá para o Sul, para a estrada deserta que desce de Jerusalém a Gaza".
Ele se levantou e partiu. No caminho encontrou um eunuco etíope, um oficial importante, encarregado de todos os tesouros de Candace, rainha dos etíopes. Esse homem viera para adorar a Deus e, de volta para casa, sentado em sua carruagem, lia o livro do profeta Isaías.
E o Espírito disse a Filipe: "aproxime-se dessa carruagem e acompanhe-a".
Então Filipe correu para a carruagem, ouviu o homem lendo o profeta Isaías e lhe perguntou: "entendes tu o que lês"? [Atos dos Apóstolos, cap. 8, vs. 26-30]
De modo resumido, o contexto do capítulo citado é que os cristãos (chamados de "seguidores do Caminho" ou de "seita do Caminho") estavam começando a ser mais severamente perseguidos e, por isso, estavam se espalhando por aquelas regiões - saindo da Judéia e chegando nas regiões próximas - e, assim, pregavam a respeito de Jesus Cristo. No caso de Filipe, ele havia passado por Samaria e muitos haviam dado ouvidos à sua pregação ao ver os milagres que eram feitos por meio dele. Todavia, repentinamente, Deus enviou um anjo até Filipe para enviá-lo para a direção sul, na região de Gaza e, no meio do deserto, ele encontrou um homem que lia o livro de Isaías. Logo, ao se dar conta disso, Filipe lhe perguntou: "...entendes tu o que lês?...", ao que o eunuco lhe replicou:
"Como posso entender se alguém não me explicar?" Assim, convidou Filipe para subir e sentar-se a seu lado. [Atos dos Apóstolos, cap. 8, vs. 31]
Com base no relato bíblico, aquele eunuco era, de certa maneira, temente a Deus [uma vez que ele estava a retornar de Jerusalém, para onde havia ido "adorar a Deus" - vide vs. 27], porém, apesar de sua religiosidade e conduta, seu conhecimento de Deus ainda era superficial, dado o fato de que ele precisava de ajuda para entender as Escrituras - no exemplo registrado, para compreender o seguinte trecho do profeta Isaías:
"Ele foi levado como ovelha para o matadouro e, como cordeiro mudo diante do tosquiador, ele não abriu a sua boca.
Em sua humilhação foi privado de justiça. E quem pode falar de seus descendentes? Pois a sua vida foi tirada da terra".
[Atos dos Apóstolos, cap. 8, vs. 32-33 - ibid. Isaías 53, vs. 7-8]
Na sequência do texto registrado por Lucas, o eunuco pergunta a Filipe: "...diga-me, por favor: de quem o profeta esta falando? De si próprio ou de outro?" (vs. 34) e, então, "Filipe, começando com aquela passagem da Escritura, anunciou-lhe as boas-novas de Jesus" (vs. 35). Isto é, diante de alguém que estava querendo compreender melhor a respeito de Deus [embora provavelmente fosse um homem de práticas religiosas e que valorizasse certas tradições herdadas do passado - ora, os etíopes eram originalmente pagãos, sem vínculos com a comunidade da aliança/Israel e, por isso, idólatras; todavia, o conhecimento do Deus de Israel, o Deus único, havia chegado até aquele povo a ponto daquele homem se dirigir a Jerusalém para cultuar a Deus bem como de ter interesse em ler os escritos sagrados do povo de Israel], Filipe simplesmente passa a explicar as Escrituras para aquele eunuco, começando do trecho supracitado e certamente "passeando" por muitas outras passagens a fim de falar sobre Jesus Cristo.
No fim da história, o eunuco expressa a Filipe o desejo de ser batizado [indicando que ele já estava ciente do que Cristo havia ordenado a Seus apóstolos - vide Mateus 28, vs. 19-20] e, assim, Filipe lhe diz: "...é lícito, se tu crês de todo o coração..." (vs. 37a). Imediatamente, o eunuco confessa sua fé em Jesus Cristo como "o Filho de Deus" (vs. 37b) e, após a carruagem ser estacionada, Filipe o batizou (vs. 38). Finalmente, como que num lapso, Filipe desaparece da presença do eunuco - vs. 39a -, mas este continuou o seu caminho "cheio de alegria" (vs. 39b). Em suma, Filipe não precisou lançar mão de nada além da fiel exposição das Escrituras para que aquele etíope compreendesse o Evangelho de Jesus Cristo e, assim, cresse nEle de todo o coração como o Filho de Deus, O confessasse e fosse posteriormente batizado, de tal sorte que seguiu viagem com uma alegria que jamais experimentara antes. Na verdade, Filipe parece não levar em alta conta o fato do eunuco etíope ser provavelmente letrado (visto que ele estava lendo um trecho dos profetas), contudo demonstra estar convicto de que Deus, por meio do conhecimento de Sua revelação escrita e com a iluminação de Seu Espírito, pode ser devidamente conhecido por qualquer um a quem Ele decide se revelar, independentemente de etnia, língua, condição social, instrução intelectual ou qualquer outro aspecto humano, pois o fator determinante para que alguém conheça a Deus é o próprio Deus, "y nada más".
No entanto, esse ainda não é o assunto desse texto.
Portanto, o que seria essa história de "entendes tu o que vês?"?
Alguém pode até questionar: "qual a necessidade de incluir uma explicação do trecho bíblico em vez de 'ir direto ao ponto'?"
Continuemos mantendo o foco, porém no outro lado da moeda.
Como dissera anteriormente, o trecho de Atos foi a base da qual extraí o título dessa postagem - por isso, dei uma maior atenção ao mesmo. Isto posto, o que podemos refletir a respeito da pergunta "entendes tu o que vês"?
Inicialmente, experimentamos em nossos dias um momento de "exaltação da vulgaridade" nunca visto, no qual hordas de "ignorantes altivos" não lêem o que deveriam ler e/ou nem lêem como deveriam e, por causa da própria estultícia, acham que entendem "tudo a respeito de tudo" a ponto de sempre "opinarem sobre tudo" - as redes sociais são "testemunhas oculares" disso. Além disso, os mesmos que se enquadram na situação anterior também não vêem o que deveriam ver e/ou nem vêem adequadamente, de modo que os raciocínios decorrentes dessas percepções equivocadas ou contrárias à realidade se tornam parte da "nova realidade" da qual estes são os "paladinos". Basta-nos atentar para os recentes casos de desinformação e fraude ocorridos no Brasil feitos por hackers ativistas transfigurados de "jornalistas investigativos" e as subsequentes reações de incontáveis tolos e desinformados em seus "stories", "tweets" e demais compartilhamentos na internet - ou seja, enquanto, neste caso, vale sempre lembrar que "o Brasil não é para amadores", as "massas rebeldes de amadores", diferentemente do eunuco etíope, não reconhecem a própria ignorância e não buscam ajuda para poder entender tanto o que lêem quanto o que vêem.
Aproveitando o ensejo, quem somos nós nessa "Babel pós-moderna"?
Somos dos que percebem as próprias limitações e, assim, "buscam a verdade com calma" - pois, como se atribui a Goethe, "...é urgente ter paciência..." - ou, em contrapartida, temos seguido o curso da rebeldia dominante e, nas palavras do apóstolo Paulo, "dizendo-nos sábios, nos tornamos loucos"?
Entendemos de fato o que vemos?
Entretanto, a principal reflexão que me levou a escrever esse texto surgiu após eu ter ouvido uma mensagem sobre o Sermão do Monte pregada por um pastor português chamado Tiago Cavaco, na qual ele defendeu a idéia de que "nossos olhos podem ser sutilmente ludibriados ou enganados quanto à apreensão e percepção da beleza e da verdade", de tal modo que a nossa visão não é o sentido mais confiável no processo de receber e assimilar o conhecimento de Deus, ainda que todo o nosso ser tenha que estar envolvido nesse processo. A conclusão do argumento é que, ao invés da visão, o sentido mais confiável para ser usado na assimilação das realidades divinas é a audição, uma vez que Deus escolheu revelar Seus oráculos aos homens através de um Livro - na verdade, um Livro formado por vários outros livros -, cuja mensagem deveria ser anunciada através de pessoas capacitadas para ensinar, instruir e proclamar quem é o Deus verdadeiro e quais são as Suas obras. Logo, creio ser nesse ponto que reside uma das diferenças mais substanciais entre as tradições católica e protestante, da qual pretendo tecer pequenas considerações, visto que estou ciente de quem sou e, como outrora dissera um notável escolástico (portanto, católico), "ousarei falar das Suas palavras".
Dentro da tradição católica, verifica-se uma valorização considerável do uso de imagens como ferramenta necessária ao ensino das realidades espirituais (sejam litúrgicas e/ou referentes ao Evangelho), especialmente às pessoas sem instrução ou analfabetas. De fato, a linguagem pictórica é bastante eficaz para comunicar conhecimento, visto que a memória tende a guardar melhor aquilo que se vê e, assim, o imaginário é mais eficientemente formado com aquilo que é comunicado. Na Idade Média, isso se tornou mais abrangente, principalmente nos campos da pintura e da arquitetura (vide os afrescos nos templos e palácios italianos e os vitrais das catedrais góticas por todo o continente europeu, particularmente na França), de modo que passagens inteiras das Escrituras ou mesmo eventos sequenciais de toda a Bíblia foram representados em imagens (como no conjunto dos vitrais da Chapelle-Haute da Sainte Chapelle em Paris). De minha parte, eu sou um admirador das denominadas "artes do belo" (como a pintura e a arquitetura) e, curiosamente, considero a arte gótica como a mais bonita dentre as linguagens pictóricas. Contudo, a beleza que pode ser vista nos vitrais, rosáceas, flechas, pinturas e esculturas é muitas vezes convertida por muitos de nós em objetos de culto (o qual somente a Deus é devido) em lugar de nos fazer elevar nossos olhos para além das imagens que vemos a fim de que contemplemos Aquele que é a Suma Beleza, de Quem vem todo dom e habilidade que os homens recebem para serem capazes de fazerem coisas belas, visto que "...o homem não pode receber coisa alguma se do céu não lhe for dada..." [João 3, vs. 27] e "...O que tu tens que não tenhas recebido? E por que te glorias, como se assim não fosse?" [1 Coríntios 4, vs. 7].
Portanto, o problema que pretendo apresentar aqui não reside necessariamente no uso das imagens para comunicar o conhecimento de Deus, mas sim no fato de que, como disse João Calvino (reformador francês), "...o coração humano é uma fábrica de ídolos...", o que ratifica que toda a beleza que podemos produzir diante dos nossos olhos (até mesmo aquela de teor religioso) não é capaz, por si mesma, de nos libertar da feiura que está dentro de nós, a qual nos afasta do Deus verdadeiro. Nesse ínterim, o teólogo norte-americano Timothy Keller também afirmou brilhantemente que "...a idolatria consiste em tomar uma coisa boa e torná-la suprema...", de modo que essa "coisa boa" (seja qual for) é tratada como se fosse o próprio Deus e, dessa maneira, usurpa a glória que somente a Ele pertence bem como a adoração que devemos conceder apenas a Ele.
Mas, então... Seria a tradição protestante inimiga da beleza?
Não é realmente necessário usar de artifícios visuais para levar o conhecimento de Deus aos analfabetos [já que eles não seriam capazes de ler as Escrituras ou não possuem instrução intelectual suficiente para compreender uma pregação]?
Nesse caso, admito que nas últimas décadas temos visto a proliferação da feiura nos nossos espaços religiosos (em particular, nos ambientes chamados "evangélicos", os quais não são necessariamente protestantes no sentido real do termo), de modo que esses ambientes não inspiram mais a devida reverência, nem temor, nem sensação de transcendência ou mesmo uma postura solene por parte dos religiosos que os frequentam. Sem levar em conta todos os fatores que podem ser as causas dessa situação, o fato é que, na história do protestantismo, a beleza também foi deveras valorizada, incluindo a arquitetura, a música e, em menor escala, a pintura - lembremos de personagens como Rembrandt, J. Sebastian Bach e de algumas belas catedrais e universidades protestantes presentes na Europa e na América do Norte, por exemplo. No entanto, o grande distintivo da espiritualidade protestante em relação à católica é a centralidade da Bíblia sobre os demais elementos e símbolos litúrgicos, implicando que a pregação das Escrituras é, por excelência, o meio pelo qual o conhecimento de Deus deve ser transmitido, visto que "...a fé vem pelo ouvir..." e não "pelo ver", e esse "ouvir" vem "por meio da Palavra de Deus" [ver Romanos 10, vs. 17] e não mediante o "magistério eclesiástico" ou por qualquer tradição intelectual, artística ou cultural desprovida do testemunho das Sagradas Escrituras.
Nesse sentido, embora se possa reconhecer o valor e o benefício advindos do uso de representações pictóricas para facilitar a compreensão das verdades de Deus contidas nas Escrituras por pessoas iletradas, nenhum de nós tem autorização da parte de Deus para cogitar que Ele necessitaria ser "ajudado" por nós a fim de que Ele pudesse alcançar a mente e o coração de qualquer pessoa - até mesmo as analfabetas. O Deus revelado nas páginas da Bíblia é absolutamente soberano, pois está escrito que "...não há ninguém que possa escapar de minhas mãos; agindo Eu, quem impedirá?" [Isaías 43, vs. 13], bem como que "...Ele age como lhe agrada com os exércitos dos céus e com os habitantes da terra... Ninguém é capaz de resistir à Sua mão ou dizer-lhe: o que fazes?" [Daniel 4, vs. 35b] e, finalmente, "...Ele não é servido por mãos humanas, como se de alguma coisa precisasse; pois Ele mesmo é quem a todos dá vida, a respiração e todas as coisas..." [Atos 17, vs. 25]. Logo, se nada nem ninguém pode impedir Deus de fazer qualquer coisa que Ele intenciona e decide fazer, Ele não depende de qualquer contingência ou causa secundária que envolva a ação humana para se fazer cognoscível ao ser humano. Obviamente, quanto à nossa responsabilidade, é evidente que aqueles que entendem ter o dever de compartilhar o conhecimento de Deus com seus semelhantes devem ser sábios e perspicazes na busca dos meios mais eficientes para tal, porém Deus não é limitado pelas ferramentas que podemos usar nessa tarefa ou missão, pois, em última instância, conforme as palavras do próprio Jesus registradas por Mateus:
Graças Te dou, ó Pai, Senhor do céus e da terra, porque ocultaste estas coisas dos sábios e instruídos, e as revelaste aos pequeninos.
Sim, ó Pai, porque assim foi do Teu agrado.
Todas as coisas me foram entregues por meu Pai; e ninguém conhece o Filho, senão o Pai, e ninguém conhece o Pai senão o Filho, e aquele a quem o Filho O quiser revelar.
[Mateus 11, vs. 25-27]
Antes de comentar brevemente sobre o texto acima, é importante relembrar que, a partir de todo o ensino das Escrituras, o pecado afetou o ser humano em todas as suas faculdades, de tal modo que ele não pode ver a verdade, nem dar ouvidos a ela, nem entendê-la e até mesmo desejar conhecê-la, a não ser que Deus intervenha e conceda visão a quem é naturalmente cego e rompa a surdez de quem tem os ouvidos tapados e, dessa maneira, esse homem seja capaz de "enxergar" as realidades divinas e de "ouvir a voz do Bom Pastor", Jesus Cristo. Por tudo isso, os nossos ouvidos são tão espiritualmente incapazes de ouvir a voz de Deus como nossos olhos são de ter uma correta percepção da real imagem Dele, de sorte que, quando Deus deseja se fazer ouvido por nós, é como se Ele falasse com ossos secos para que voltem à vida [vide relato do profeta Ezequiel, cap. 37] e, quando Ele deseja que O contemplemos, a Sua luz ilumina as trevas [vide Salmo 18, vs. 28] de nossas mentes para que possamos vê-Lo e, assim, como escreveu João, "...todo aquele que vê o Filho e crê nEle tenha a vida eterna..." [João 6, vs. 40].
Consequentemente, as palavras de Cristo registradas por Mateus são ainda mais contundentes pois, tanto os sábios e instruídos quanto os pequeninos, à parte da graça de Deus, estão no mesmo patamar de morte e ignorância espiritual e, portanto, ambos são igualmente carentes da intervenção divina para que possam conhecer esse "Deus que intervém". Indo diretamente ao texto, Jesus afirma expressamente que foi Deus mesmo, pelo Seu beneplácito ou "bel-prazer", que escondeu estas coisas [i.e., os mistérios do reino dos céus] dos inteligentes e entendidos e as revelou aos pequeninos, de modo que apenas aqueles aos quais Deus deseja se tornar conhecido de fato O conhecem/conhecerão. Além disso, vale ressaltar que, desde os primeiros livros da Bíblia e, especialmente, a partir da Lei dada a Israel por Moisés, Deus ordenou categoricamente que o Seu povo não deveria, sob qualquer hipótese, fazer para si "imagens de escultura, nem semelhança alguma do que há em cima nos céus, nem na terra, nem nas águas embaixo da terra" [Êxodo 20, vs. 4] a fim de lhes prestar culto, de tal maneira que, quando Moisés desceu do monte com as tábuas da Lei "escritas pelo dedo de Deus" e viu o povo festejando e adorando o bezerro de ouro ao dizer que "...este era o deus que havia tirado o povo do Egito..." [Êxodo 32, vs. 4], ele quebrou as tábuas diante de todos, destruiu o bezerro no fogo, espalhou o pó de ouro na água a ponto de fazer o povo beber e, então, disse a Arão [que futuramente seria sumo-sacerdote e responsável pelo culto em Israel]:
Que fez a ti este povo, para que te levasse a cometer tão grande pecado? [Êxodo 32, vs. 19]
Com base nesse relato, pode-se ver que Deus é tão zeloso da maneira pela qual Ele deve ser conhecido e adorado que, ainda que o povo tenha supostamente atribuído a Ele a libertação da escravidão do Egito, a maneira pela qual eles o fizeram era definitivamente abominável, pois está escrito que:
No dia em que o Senhor falou a vocês do meio do fogo em Horebe, vocês não viram forma alguma.
Portanto, tenham muito cuidado, para que não se corrompam fazendo para si um ídolo, uma imagem de alguma forma semelhante a homem ou mulher, ou a qualquer animal da terra, a qualquer ave que voa no céu, a qualquer criatura que se move sobre a terra ou a qualquer peixe que vive nas águas debaixo da terra.
E para que, ao erguerem os olhos ao céu e virem o sol, a lua, as estrelas e todos os corpos celestes, vocês não se desviem e se prostrem diante deles..." [Deuteronômio 4, vs. 15-19]
Biblicamente, Deus já tem a Sua verdadeira imagem, que é Jesus Cristo - conforme Colossenses 1, vs. 15 - e, por isso, toda e qualquer imagem de Deus que seja diferente do Cristo revelado em toda a Escritura ou qualquer coisa que não seja Cristo que é venerada ou adorada [embora os católicos diferenciem "venerar/doulia" de "adorar/latria", os dois atos são essencialmente correspondentes] em Seu lugar é condenável diante Dele. Não são os séculos de tradição, nem a harmonia estética, nem a simetria das figuras e formas geométricas nem mesmo o fascínio das cores que validam a maneira pela qual Deus deseja ser cultuado, mas unicamente o que Ele mesmo revelou em Sua Palavra, de forma que, como foi dito anteriormente, nossa visão é traiçoeira para nos levar a uma adoração verdadeira. Antes de tudo, temos que ouvir o que Deus tem a nos dizer a respeito de como Ele quer ser adorado por nós e, apenas após aprendermos Dele, estaremos aptos a servi-Lo e cultuá-Lo adequadamente. Deus é espírito e deseja ser adorado em espírito e em verdade e, portanto, os elementos litúrgicos básicos que Deus estabeleceu para a Sua adoração [oração, leitura e exposição das Escrituras, salmos, hinos, cânticos espirituais e administração das ordenanças] devem ser usados por nós de modo que, tanto nós como os outros que estão a nossa volta, possam elevar seus pensamentos e alma acima dos símbolos visíveis e, assim, prestar culto somente a Ele, pois está escrito que "...ao Senhor teu Deus adorarás, e só a Ele servirás..." [Deuteronômio 6, vs. 13].
Finalmente, assim como na história de Filipe e o eunuco, nós muitas vezes não "entendemos o que lemos" e também "não entendemos o que vemos", o que nos torna necessitados de auxílio divino para que possamos "ler bem" e "enxergar bem", o que Ele faz tanto por Si mesmo como através de outros que também têm aprendido com Ele. Pela Sua benevolência para conosco, Deus nos revela a nossa ignorância para que, aprendendo Dele, possamos nos tornar verdadeiramente sábios e, ao mesmo tempo, embora a convicção de pecado nos envergonhe [e deve realmente fazê-lo], Deus vem até nós e nos traz até Cristo, o Deus Redentor, que "assumiu a nossa humilhada forma humana, esvaziando-Se a Si mesmo, reduzindo-Se à nossa baixeza e sendo obediente até à morte, e morte de cruz" [vide Filipenses 2, vs. 6-8] e, assim, todo o nosso pecado é perdoado e o peso da culpa é tirado de nossos ombros.
Meu desejo é que, tanto dentre os católicos [que confiam em suas tradições e liturgias antigas em detrimento da revelação das Escrituras] quanto dentre os evangélicos de tradições mais modernas [que também têm confiado em superstições humanas travestidas de aparência bíblica], haja pessoas que possam "duvidar de si mesmas" e do que acreditam ser verdade sobre o conhecimento de Deus para conhecê-Lo como Ele de fato é, o que só é possível quando se conhece a Jesus Cristo, pois "...quem vê o Filho vê o Pai..." [João 14, vs. 9], Filho este que é "...o Verbo que se fez carne e habitou entre nós..." [João 1, vs. 14], o Qual foi "enviado ao mundo para salvar os pecadores" [1 Timóteo 1, vs. 15] e em Quem "todas as coisas serão, um dia, reconciliadas" [Efésios 1, vs. 10].
Você realmente entende o que vê?
Qual é a imagem que você tem de Deus? Ela é correspondente ao Jesus revelado nos Evangelhos [e, por extensão, em toda a Bíblia] ou é diferente?
Você tem atribuído a alguma coisa a adoração que só a Deus é devida? Ou tem adotado um modo de servir a Deus que Ele não ordenou para que nós o praticássemos?
Pela alegria de que Ele me faz vê-Lo como Ele é,
Soli Deo Gloria!
Nenhum comentário:
Postar um comentário