Após cerca de um mês, finalmente pude voltar a escrever.
Embora não acredite de mim mesmo que esteja [por assim dizer] "inspirado", decidi expor algumas idéias que julgo ser importantes e que, quem sabe, serão úteis a algum leitor que, porventura, visitar esse blog. Vamos em frente!
Inicialmente, é pertinente esclarecer que o título desse texto está baseado num livro [de mesmo nome, se não me falha a memória] escrito por um teólogo e pregador cristão galês do século XX chamado Martin Lloyd-Jones, no qual creio ser abordado algo semelhante ao que pretendo apresentar aqui... Mas, independentemente disso, serei leal às reflexões que tenho feito há algum tempo. Nesse sentido, parafraseando o bordão célebre de "Star Wars", que a "Força" esteja comigo!
Sinceridade.
Sinceridade, de modo bastante simples, é o substantivo relativo ao adjetivo "sincero", palavra de origem latina que significa algo similar a "sem cera", cujo contexto de surgimento mostra que a "cera" em questão era um tipo de material usado em utensílios de decoração luxuosos [vasos de porcelana, por exemplo] para se esconder ou maquiar algum defeito ou dano, de forma que o termo "sincero" carrega consigo o significado de "sem maquiagem", "sem camuflagem" ou "que não esconde a realidade". Dessa forma, para qualquer pessoa de bom senso, a sinceridade se configura como uma das virtudes humanas mais celebradas - ora, quem gosta de ter pessoas dissimuladas e falsas ao redor? No entanto, nem sempre a sinceridade é vista com "bons olhos", particularmente nos exemplos das pessoas "super sinceras" [aquelas que são consideradas/se comportam como "inconvenientes em sua transparência"] ou mesmo daquelas que são corajosas o suficiente para denunciar grandes mentiras e/ou pecados vergonhosos - que o digam os profetas do Antigo Testamento, João Batista, os mártires do cristianismo primitivo, Huss, Latimer, Lutero, Pacepa, Yuri Bezmenov, Olavo de Carvalho, Sérgio Moro e o próprio Jesus Cristo, que disse que "veio ao mundo para dar testemunho da verdade", sendo Ele próprio a Verdade.
Erro.
Em primeiro lugar, quando falamos de "erro", pressupõe-se que exista algum referencial do que seja o "acerto" ou o "correto" - de modo mais prático, ainda que vivamos na sociedade mais revoltada com os conceitos de "verdade", "padrão" e "absoluto", a realidade continua sendo a mesma: todos vivem baseados em algum absoluto ou referencial, seja ele auto-justificável ou puramente um reflexo sentimental sem legitimidade. Dessa maneira, o "erro" ou "estar errado" seria, em poucas palavras, não ser/estar conformado a um determinado padrão compreendido como válido e correto. Contudo, gostaria de salientar aqui que, se alguém chegou a este blog, e está supondo que este que vos escreve acredita na idiotice criminosa de que "padrões são puras construções sociais opressoras que precisam ser desconstruídas pela revolução", o orégano deve ser usado somente para temperar alimentos [como aquele "fettuccine bolognese" ou um Subway B.M.T]! Isto é, padrões verdadeiros existem, são indispensáveis para a existência de uma civilização estável e saudável bem como auxiliam na preservação de boas tradições, legados e conquistas de uma sociedade - ainda que nem todo padrão é, por ser padrão, fidedigno e válido em si mesmo.
Portanto, tendo sido expostos brevemente os conceitos de sinceridade e de erro, como racionalizar ser "sincero e errado" simultaneamente, visto que "sinceridade" é algo intrinsecamente relacionado à autenticidade/verdade e "erro" é exatamente o oposto?
Para este fim, é necessário discorrer sobre outro aspecto negativo referente à sinceridade: nem sempre ser "sincero" implica estar em acordo com aquilo que é justo, louvável, de boa fama, puro, amável e verdadeiro. Por exemplo, muitas pessoas foram [e ainda hoje são] no último século apoiadoras de terríveis atrocidades contra a humanidade, embora estivessem/estejam convencidas de que a causa que defendiam/defendem era/é nobre - ou, de outra maneira, elas foram/são sinceras na luta por aquilo que julgavam/julgam ser certo, porém a sinceridade delas em suas intenções não tornava/torna os crimes menos hediondos do que foram/são [por exemplo, os proponentes e militantes do socialismo nacionalista alemão/Nazismo, do comunismo soviético e os muçulmanos abertamente adeptos da Sharia]. De forma complementar, aquela pessoa que "rouba dos ricos para dar aos pobres" - no estilo Robbin' Hood - não converte o roubo em algo menos pecaminoso e menos digno de punição pelo fato de dar uma "justificativa filantrópica" e acreditar, sinceramente, estar fazendo uma "boa ação". Em suma, a "sinceridade do coração" não pode ser [e nem é] um parâmetro confiável para se avaliar o que é, de fato, bom e justo, ainda que ser sincero seja fundamental na prática do verdadeiro bem.
Todavia, ainda resta algo ainda mais perturbador para ser dito.
Considerando o contexto religioso [nesse caso, o cristão, do qual faço parte], a máxima do final do parágrafo anterior também é verdadeira: a "sinceridade do coração" não é critério seguro para a compreensão e a prática da verdadeira religião, apesar de ser sobremodo exaltada nos púlpitos, livros, comentários e conversas informais, como segue:
"Você precisa aceitar a Jesus Cristo, mas tem que ser com coração sincero..."
"Faça hoje mesmo um compromisso de não pecar contra Deus... Mas seja sincero, porque Deus considera a sinceridade de seu coração..."
"Você crê que Deus pode perdoar seus pecados? Mas você precisa crer com sinceridade..."
De início, se faz necessário ratificar que reconheço que Deus é Deus da verdade e, portanto, Ele abomina todo e qualquer tipo de mentira - ora, está escrito que o Diabo "...é mentiroso e pai da mentira..." [João 8:44b], que ficará de fora da cidade celestial "...todo aquele que ama e comete a mentira..." [Apocalipse 22:15c] bem como que todo aquele que diz temer a Ele deve "...deixar a mentira e falar a verdade cada um com seu próximo..." [Efésios 4:25a], visto que aprendeu de Cristo, a Verdade encarnada, a se revestir "...do novo homem, criado segundo Deus em justiça e santidade que procedem da verdade..." [Efésios 4:24]. Entretanto, não é toda modalidade de sinceridade que a Bíblia legitima em suas páginas, pois está escrito que "...enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto..." [Jeremias 17:9a], que "...há caminhos que para o homem parecem direitos, mas o seu fim é a morte..." [Provérbios 14:12] e, finalmente, essas estarrecedoras palavras registradas em Jó:
Como o homem pode ser puro? Como pode ser justo aquele que nasce de mulher?
Pois, se nem em seus santos Deus confia, e se nem os céus são puros aos Seus olhos,
Quanto menos o homem, que é impuro e corrupto, e que bebe a iniquidade como água!
[Jó 15, vs. 14-16]
Trocando em miúdos, a afirmação de que "...Deus leva em conta a sinceridade do meu coração quando eu O busco ou na minha relação com Ele..." ignora totalmente a exaustiva revelação bíblica de que o homem caiu em deserção e corrupção após o pecado de Adão, de modo que a depravação é de tal natureza que ele não é capaz de avaliar confiadamente sua suposta "sinceridade" nas questões espirituais - ora, se o coração humano [o combinado entre nossas afeições, vontade e intelecto] é enganoso e perverso, como que é possível avaliar a "sinceridade diante de Deus" sem cair em equívoco? Isto é, não é pelo fato de "sentirmos que estamos sendo sinceros com Deus" que podemos confiar nessa "sinceridade"; nossos sentimentos não são confiáveis nem mesmo quando estamos interessados em alguém ou já namorando, quanto mais no tocante a Deus e à vida espiritual, de modo que mais uma vez Jó é certeiro:
De onde vem, então, a sabedoria? Onde habita o entendimento?
Escondida está dos olhos de todos os viventes, até mesmo das aves dos céus.
A destruição e a morte dizem: aos nossos ouvidos chegou apenas um breve rumor dela.
Deus é quem conhece o caminho; só Ele sabe onde ela habita. [Jó 28, vs. 20-23]
Finalmente, acredito ser oportuno explicar que não adianta sermos sinceros em "assuntos espirituais" quando essa sinceridade está fundamentada em mentiras - ou seja, acreditar sinceramente em uma mentira não é uma virtude, é um pecado! Nesse caso, as próprias frases que citei demonstram bem esse argumento, visto que:
Quando se diz que "...se deve aceitar a Jesus com coração sincero...", normalmente se evoca uma passagem que diz que "...se confessarmos com a boca que Jesus é o Senhor e crermos no coração que Ele ressuscitou dos mortos, seremos salvos..." [ver Romanos 10:9]. De fato, a confissão de Cristo como o Senhor e a fé na Sua ressurreição são elementos essenciais da verdadeira conversão, porém o texto bíblico não diz que essas coisas são obtidas pelo meu "sincero esforço" ou a minha "decisão sincera", pois também está escrito que "...ninguém pode dizer 'Jesus Cristo é o Senhor', senão pelo Espírito Santo..." [1 Coríntios 12:3b] e que "...a fé vem pelo ouvir, e o ouvir por meio da palavra de Cristo..." [Romanos 10:17], de modo que todo ser humano só pode reconhecer Jesus como Senhor após a ação sobrenatural do Espírito Santo bem como só pode ter fé Nele pela ação da Palavra, da qual se diz que "...é poderosa para salvar a alma..." [Tiago 1:21b].
Por outro lado, a assertiva de que "...a depender de nossa sinceridade diante de Deus, podemos nos comprometer com Ele a ponto de vivermos sem pecado..." pode ser baseada em passagens que nos orientam a "purificação da carne e do espírito" e a "mortificação do pecado" - existem várias, mas uma delas pode ser "...sabemos que todo aquele que é nascido de Deus não vive no pecado; pois aquele que nasceu de Deus a si mesmo se protege..." [1 João 5:18]. Nesse sentido, é notório em toda a Bíblia a mensagem sobre o valor supremo da santidade [uma vez que esse é o atributo de Deus do qual todos os outros emanam] e a decorrente demanda de Deus para que sejamos "santos como Ele é santo". Porém, de modo análogo ao caso anterior, as Escrituras não ensinam que alguém seja capaz de viver sem pecado enquanto estiver nesse corpo, nem mesmo o cristão mais piedoso - ora, se fosse possível mortificar todos os apetites e inclinações pecaminosas presentes na natureza humana corrompida, a intercessão de Cristo diante de Deus, o Pai, não seria mais necessária, pois já teríamos justiça própria para apresentar a Deus e, assim, não haveria mais justificação pela fé em Cristo e, finalmente, todo o Evangelho estaria lançado ao lixo. Haveria maior blasfêmia ao Espírito Santo do que esta - a atribuição da redenção, obra total e exclusiva de Deus em Cristo, a outro que não é Ele?
Entendamos de uma vez: sempre precisaremos de um "...sumo-sacerdote que se compadeça de nossas fraquezas..." [Hebreus 4:15], dAquele que é "...advogado junto ao Pai..." [1 João 2:2] para nos defender quando pecarmos ou, como diz no Salmo 30, "...se Tu, Senhor, atentasses para os pecados, quem subsistiria? Mas contigo está o perdão, para que sejas temido..." [vs. 3 e 4]. Lançando mão da alegoria de O Peregrino e de um pensamento de Liev Tolstoi, sempre estamos sujeitos a "escolher atalhos" no caminho rumo à Cidade Celestial [ou mesmo a voltar atrás, como fez o Vacilante] mas, ainda que tropecemos ou nos desviemos do caminho certo, se sabemos a qual lugar pertencemos, podemos até cair no caminho como um ébrio, mas chegaremos em casa - no caso de Tolstoi, eu acredito, o ébrio anda sozinho para casa até encontrá-la, mas no caso do cristão, é como dizia Lutero: "...não sei por quais caminhos sou conduzido, mas conheço bem o meu Guia...".
E você? Já parou para pensar que, muitas vezes, você pode ter sido "sincero", mas esteve/estava errado?
Além disso, se você é religioso e confia muito em sua "sinceridade" como parâmetro de espiritualidade verdadeira diante de Deus, até quando vai permanecer "errado" ao se fiar em si mesmo em vez de dar ouvidos e atenção ao que Ele mesmo disse em Sua Palavra?
Finalmente, se você é alguém que tem seus sentimentos como parâmetro do que é justo e certo, até quando vai permanecer "iludido em sua sinceridade vã" e desprezando o convite Daquele que é a Verdade em carne, e que disse que "...se o Filho os libertar, verdadeiramente vocês serão livres?" [João 8:36]
Pela alegria de, embora ainda "errado", ser "sinceramente" livre,
Erro.
Em primeiro lugar, quando falamos de "erro", pressupõe-se que exista algum referencial do que seja o "acerto" ou o "correto" - de modo mais prático, ainda que vivamos na sociedade mais revoltada com os conceitos de "verdade", "padrão" e "absoluto", a realidade continua sendo a mesma: todos vivem baseados em algum absoluto ou referencial, seja ele auto-justificável ou puramente um reflexo sentimental sem legitimidade. Dessa maneira, o "erro" ou "estar errado" seria, em poucas palavras, não ser/estar conformado a um determinado padrão compreendido como válido e correto. Contudo, gostaria de salientar aqui que, se alguém chegou a este blog, e está supondo que este que vos escreve acredita na idiotice criminosa de que "padrões são puras construções sociais opressoras que precisam ser desconstruídas pela revolução", o orégano deve ser usado somente para temperar alimentos [como aquele "fettuccine bolognese" ou um Subway B.M.T]! Isto é, padrões verdadeiros existem, são indispensáveis para a existência de uma civilização estável e saudável bem como auxiliam na preservação de boas tradições, legados e conquistas de uma sociedade - ainda que nem todo padrão é, por ser padrão, fidedigno e válido em si mesmo.
Portanto, tendo sido expostos brevemente os conceitos de sinceridade e de erro, como racionalizar ser "sincero e errado" simultaneamente, visto que "sinceridade" é algo intrinsecamente relacionado à autenticidade/verdade e "erro" é exatamente o oposto?
Para este fim, é necessário discorrer sobre outro aspecto negativo referente à sinceridade: nem sempre ser "sincero" implica estar em acordo com aquilo que é justo, louvável, de boa fama, puro, amável e verdadeiro. Por exemplo, muitas pessoas foram [e ainda hoje são] no último século apoiadoras de terríveis atrocidades contra a humanidade, embora estivessem/estejam convencidas de que a causa que defendiam/defendem era/é nobre - ou, de outra maneira, elas foram/são sinceras na luta por aquilo que julgavam/julgam ser certo, porém a sinceridade delas em suas intenções não tornava/torna os crimes menos hediondos do que foram/são [por exemplo, os proponentes e militantes do socialismo nacionalista alemão/Nazismo, do comunismo soviético e os muçulmanos abertamente adeptos da Sharia]. De forma complementar, aquela pessoa que "rouba dos ricos para dar aos pobres" - no estilo Robbin' Hood - não converte o roubo em algo menos pecaminoso e menos digno de punição pelo fato de dar uma "justificativa filantrópica" e acreditar, sinceramente, estar fazendo uma "boa ação". Em suma, a "sinceridade do coração" não pode ser [e nem é] um parâmetro confiável para se avaliar o que é, de fato, bom e justo, ainda que ser sincero seja fundamental na prática do verdadeiro bem.
Todavia, ainda resta algo ainda mais perturbador para ser dito.
Considerando o contexto religioso [nesse caso, o cristão, do qual faço parte], a máxima do final do parágrafo anterior também é verdadeira: a "sinceridade do coração" não é critério seguro para a compreensão e a prática da verdadeira religião, apesar de ser sobremodo exaltada nos púlpitos, livros, comentários e conversas informais, como segue:
"Você precisa aceitar a Jesus Cristo, mas tem que ser com coração sincero..."
"Faça hoje mesmo um compromisso de não pecar contra Deus... Mas seja sincero, porque Deus considera a sinceridade de seu coração..."
"Você crê que Deus pode perdoar seus pecados? Mas você precisa crer com sinceridade..."
De início, se faz necessário ratificar que reconheço que Deus é Deus da verdade e, portanto, Ele abomina todo e qualquer tipo de mentira - ora, está escrito que o Diabo "...é mentiroso e pai da mentira..." [João 8:44b], que ficará de fora da cidade celestial "...todo aquele que ama e comete a mentira..." [Apocalipse 22:15c] bem como que todo aquele que diz temer a Ele deve "...deixar a mentira e falar a verdade cada um com seu próximo..." [Efésios 4:25a], visto que aprendeu de Cristo, a Verdade encarnada, a se revestir "...do novo homem, criado segundo Deus em justiça e santidade que procedem da verdade..." [Efésios 4:24]. Entretanto, não é toda modalidade de sinceridade que a Bíblia legitima em suas páginas, pois está escrito que "...enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto..." [Jeremias 17:9a], que "...há caminhos que para o homem parecem direitos, mas o seu fim é a morte..." [Provérbios 14:12] e, finalmente, essas estarrecedoras palavras registradas em Jó:
Como o homem pode ser puro? Como pode ser justo aquele que nasce de mulher?
Pois, se nem em seus santos Deus confia, e se nem os céus são puros aos Seus olhos,
Quanto menos o homem, que é impuro e corrupto, e que bebe a iniquidade como água!
[Jó 15, vs. 14-16]
Trocando em miúdos, a afirmação de que "...Deus leva em conta a sinceridade do meu coração quando eu O busco ou na minha relação com Ele..." ignora totalmente a exaustiva revelação bíblica de que o homem caiu em deserção e corrupção após o pecado de Adão, de modo que a depravação é de tal natureza que ele não é capaz de avaliar confiadamente sua suposta "sinceridade" nas questões espirituais - ora, se o coração humano [o combinado entre nossas afeições, vontade e intelecto] é enganoso e perverso, como que é possível avaliar a "sinceridade diante de Deus" sem cair em equívoco? Isto é, não é pelo fato de "sentirmos que estamos sendo sinceros com Deus" que podemos confiar nessa "sinceridade"; nossos sentimentos não são confiáveis nem mesmo quando estamos interessados em alguém ou já namorando, quanto mais no tocante a Deus e à vida espiritual, de modo que mais uma vez Jó é certeiro:
De onde vem, então, a sabedoria? Onde habita o entendimento?
Escondida está dos olhos de todos os viventes, até mesmo das aves dos céus.
A destruição e a morte dizem: aos nossos ouvidos chegou apenas um breve rumor dela.
Deus é quem conhece o caminho; só Ele sabe onde ela habita. [Jó 28, vs. 20-23]
Finalmente, acredito ser oportuno explicar que não adianta sermos sinceros em "assuntos espirituais" quando essa sinceridade está fundamentada em mentiras - ou seja, acreditar sinceramente em uma mentira não é uma virtude, é um pecado! Nesse caso, as próprias frases que citei demonstram bem esse argumento, visto que:
Quando se diz que "...se deve aceitar a Jesus com coração sincero...", normalmente se evoca uma passagem que diz que "...se confessarmos com a boca que Jesus é o Senhor e crermos no coração que Ele ressuscitou dos mortos, seremos salvos..." [ver Romanos 10:9]. De fato, a confissão de Cristo como o Senhor e a fé na Sua ressurreição são elementos essenciais da verdadeira conversão, porém o texto bíblico não diz que essas coisas são obtidas pelo meu "sincero esforço" ou a minha "decisão sincera", pois também está escrito que "...ninguém pode dizer 'Jesus Cristo é o Senhor', senão pelo Espírito Santo..." [1 Coríntios 12:3b] e que "...a fé vem pelo ouvir, e o ouvir por meio da palavra de Cristo..." [Romanos 10:17], de modo que todo ser humano só pode reconhecer Jesus como Senhor após a ação sobrenatural do Espírito Santo bem como só pode ter fé Nele pela ação da Palavra, da qual se diz que "...é poderosa para salvar a alma..." [Tiago 1:21b].
Por outro lado, a assertiva de que "...a depender de nossa sinceridade diante de Deus, podemos nos comprometer com Ele a ponto de vivermos sem pecado..." pode ser baseada em passagens que nos orientam a "purificação da carne e do espírito" e a "mortificação do pecado" - existem várias, mas uma delas pode ser "...sabemos que todo aquele que é nascido de Deus não vive no pecado; pois aquele que nasceu de Deus a si mesmo se protege..." [1 João 5:18]. Nesse sentido, é notório em toda a Bíblia a mensagem sobre o valor supremo da santidade [uma vez que esse é o atributo de Deus do qual todos os outros emanam] e a decorrente demanda de Deus para que sejamos "santos como Ele é santo". Porém, de modo análogo ao caso anterior, as Escrituras não ensinam que alguém seja capaz de viver sem pecado enquanto estiver nesse corpo, nem mesmo o cristão mais piedoso - ora, se fosse possível mortificar todos os apetites e inclinações pecaminosas presentes na natureza humana corrompida, a intercessão de Cristo diante de Deus, o Pai, não seria mais necessária, pois já teríamos justiça própria para apresentar a Deus e, assim, não haveria mais justificação pela fé em Cristo e, finalmente, todo o Evangelho estaria lançado ao lixo. Haveria maior blasfêmia ao Espírito Santo do que esta - a atribuição da redenção, obra total e exclusiva de Deus em Cristo, a outro que não é Ele?
Entendamos de uma vez: sempre precisaremos de um "...sumo-sacerdote que se compadeça de nossas fraquezas..." [Hebreus 4:15], dAquele que é "...advogado junto ao Pai..." [1 João 2:2] para nos defender quando pecarmos ou, como diz no Salmo 30, "...se Tu, Senhor, atentasses para os pecados, quem subsistiria? Mas contigo está o perdão, para que sejas temido..." [vs. 3 e 4]. Lançando mão da alegoria de O Peregrino e de um pensamento de Liev Tolstoi, sempre estamos sujeitos a "escolher atalhos" no caminho rumo à Cidade Celestial [ou mesmo a voltar atrás, como fez o Vacilante] mas, ainda que tropecemos ou nos desviemos do caminho certo, se sabemos a qual lugar pertencemos, podemos até cair no caminho como um ébrio, mas chegaremos em casa - no caso de Tolstoi, eu acredito, o ébrio anda sozinho para casa até encontrá-la, mas no caso do cristão, é como dizia Lutero: "...não sei por quais caminhos sou conduzido, mas conheço bem o meu Guia...".
E você? Já parou para pensar que, muitas vezes, você pode ter sido "sincero", mas esteve/estava errado?
Além disso, se você é religioso e confia muito em sua "sinceridade" como parâmetro de espiritualidade verdadeira diante de Deus, até quando vai permanecer "errado" ao se fiar em si mesmo em vez de dar ouvidos e atenção ao que Ele mesmo disse em Sua Palavra?
Finalmente, se você é alguém que tem seus sentimentos como parâmetro do que é justo e certo, até quando vai permanecer "iludido em sua sinceridade vã" e desprezando o convite Daquele que é a Verdade em carne, e que disse que "...se o Filho os libertar, verdadeiramente vocês serão livres?" [João 8:36]
Pela alegria de, embora ainda "errado", ser "sinceramente" livre,
Soli Deo Gloria!
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