segunda-feira, 14 de abril de 2025

Sobre preços altos, pecados e a Vida "vivida outra vez"...

Após alguns meses de ausência, estamos de volta por aqui.

Diferentemente do texto anterior, esse deverá ser mais extenso - pois creio ter mais a escrever agora! - e, por isso, peço aos poucos leitores que tenham comigo a paciência que (ainda) me falta

Logo, sem perda de tempo, vamos ao que interessa - mesmo que não seja a muita gente! 


Esse texto pretende ser um "mosaico" baseado nos seguintes temas: 1) uma breve abordagem do momento atual do Brasil, onde o "preço de quase tudo" está "alto demais" (o nosso café de cada dia que o diga!), incluindo 2) breves comentários de trechos de uma música chamada "O Preço" (da banda de rock Engenheiros do Hawaii), de tal modo a fazer conexões com certas situações (no mínimo!) lamentáveis envolvendo o meio cristão e, finalmente, com a época do ano em que estamos - a saber, a Quaresma e a Páscoa. Isto dito, que "tudo dê certo" no final, assim como aconteceu com o Corinthians nas palavras de seu camisa 8, o argentino Rodrigo Garro - a propósito, "gracias por ser diferente, hermano"!


Primeiramente, com relação à realidade presente do Brasil, dentre os incontáveis problemas existentes - p. ex., a tirania do poder judiciário contra cidadãos inocentes em conluio com comunistas e elites internacionais, a decadência intelectual, ética e espiritual do "brasileiro médio" (incluindo os que, curiosamente, ocupam a "classe falante" ou dos "formadores de opinião"), a "quasi-onipresença" do crime organizado como um "poder paralelo" (paralelo ou aliado?) ao governo etc. -, um se tornou mais evidente: a desordem fiscal e o aumento do custo de vida para o povo, em níveis piores até mesmo em relação ao período da famigerada "pandemia". Dos ovos ao arroz, do azeite de oliva ao café ou das frutas à carne vermelha (basta lembrarmos que "a picanha virou abóbora" em poucos meses), o que se vê é que "tudo está mais caro", a tal ponto que os brasileiros, com seu humor característico, têm buscado "zombar de seu próprio infortúnio" através de piadas e memes nos quais o café é um "símbolo de ostentação" e a abóbora "vai para o espeto" como o "prato principal" do churrasco com os amigos. 

Se pensarmos de modo honesto, é preciso admitir que "determinados preços" que podem ser "altos" para alguns podem ser "baixos" para outros - o que não anula a gravidade da situação econômica do país em questão, visto que o ideal é que uma nação seja próspera a fim de que a pobreza e a miséria sejam reduzidas. Entretanto, essa dinâmica é diretamente afetada pelas ações concretas daqueles que ocupam o poder e, por isso, a depender de quais objetivos estejam em jogo, o país será mais livre e rico ou, ao contrário, será mais carente (ou mesmo miserável) e sem liberdade. Infelizmente, no caso do Brasil, quem possui o mínimo de sensatez e (acima de tudo) de vergonha na cara sabe muito bem quais são os interesses dos "poderosos" (tanto nacionais como internacionais), de tal maneira que a seguinte (pará)frase atribuída a Nietzsche é como uma "mão na luva", a qual diz: "...só se vence aquilo que se substitui...". Assim, sem a "substituição" desses "maus poderosos" por homens íntegros e capazes, não se pode esperar por nenhuma mudança - a não ser para pior. 

Mudando um pouco de assunto, o que os "preços altos" da cesta básica do Brasil, agravados por políticas econômicas irresponsáveis/criminosas e por uma carga tributária abusiva e progressiva (ou seria progressista?), teriam a ver com os Engenheiros do Hawaii, com "tretas" do contexto dito "cristão" e com as estações litúrgicas da Quaresma e da Páscoa? Se você não ler até o fim, você jamais saberá! Portanto, "keep going and stand with us"! 


Portanto, com respeito aos "engenheiros", os versos iniciais da música "O Preço" dizem:

"...O preço que se paga, às vezes, é alto demais
É alta madrugada, já é tarde demais
Pra pedir perdão
Pra fingir que não foi mal..."

Assim, diferentemente do caso anterior, o "preço alto" mencionado na canção não se refere a itens de subsistência, mas a perdas sofridas numa determinada relação (possivelmente amorosa), uma vez que existe um tom de lamento expresso na frase "...já é tarde demais para pedir perdão..." - o que aponta para um mal que não pode ser "apagado" ou remediado. Contudo, tanto com respeito à "cesta básica" do brasileiro quanto com relação às desilusões com outras pessoas, algo se repete: o 'consumidor' e o 'compositor' assumem um custo acima de suas condições individuais e, como bem sabemos, quem acaba por pagar "mais do que pode" sofrerá, em algum momento, prejuízos com os quais não gostaria de lidar

Nesse sentido, não são apenas as relações amorosas, tão comuns nos versos dos poetas e nos romances, que são marcadas, muitas vezes, por danos irreparáveis e/ou males irremediáveis. Numa breve digressão, é preciso destacar que, embora inimizades e contendas existam "desde que o mundo é mundo", o advento das redes sociais e o acesso imediato à informação (quase que) ilimitada têm potencializado o poder devastador e pernicioso da tendência humana para o partidarismo, o "assassinato de reputação" e a desumanização dos outros "que não sejam como nós". Na verdade, todos somos suscetíveis a tais práticas e, por isso, não poderia haver advertência mais eficaz do que a denúncia contra a presença dessas coisas no ambiente onde elas jamais deveriam ser vistas (nem mesmo sob suspeita): a comunidade cristã e, em particular, o meio "protestante/reformado"


Para quem acompanha os diferentes "nichos" religiosos que se destacam na internet, embates entre 1) protestantes e católicos (e.g., romanistas) bem como 2) envolvendo "cristãos conservadores" e "cristãos progressistas" - a propósito, isso existe? - têm sido muito comuns nos últimos anos, tendo em vista o "fim da hegemonia" da esquerda sobre a cultura e a ação dos cristãos na esfera pública, as controvérsias referentes às "conversões ao catolicismo romano" e a subsequente reação apologética dos evangélicos

Entretanto, o que gostaria de salientar aqui nem se pode chamar de um "embate sério", uma vez que é tão-somente um "circo sectário de horrores", no qual "blasfeminions", "hereggianos" e demais "ortodoxos-iníquos" fingem defender a "doutrina certa" enquanto "...amaldiçoam seus semelhantes feitos à imagem de Deus..." (vide Tiago 3, vs. 9) e, mais do que isso, cometem o mesmo pecado do qual Jesus diz "...não haver perdão, nem neste mundo nem no futuro..." (vide Mateus 12, vs. 32). Ora, aquele que chama o "Espírito de Deus", o "Espírito Santo", o "Consolador", o "Espírito de Cristo", o "Espírito da Verdade" de "demônio" não é outra coisa senão um "blasfemador" e, por isso, não deve ser tratado com misericórdia, como está escrito:

"...Todo homem que amaldiçoar o seu Deus sofrerá por causa do seu pecado... Aquele que blasfemar contra o nome do Senhor certamente será morto; toda a comunidade o apedrejará..."
[Levítico 24, vs. 15-16a]

Desse modo, a "sorte" desses "pseudo-teólogos soberbinhos" da internet é que, na Igreja de Cristo, não existe uma "lei civil" como no antigo Israel - porém, se assim o fosse, eu queria ter o prazer de "atirar a primeira pedra" na boca e nos dentes de qualquer um que, em sua empáfia e arrogância, viesse a maldizer a Deus ao "confundi-Lo com o (verdadeiro) pai deles". Todavia, como Deus é mais justo e compassivo do que eu sou (e seria), a recompensa final dos blasfemadores e escarnecedores do Deus Altíssimo, o Senhor dos Exércitos, já está determinada e - graças a Deus! - não tarda. Por tudo isso, todos esses que causam vergonha e maculam a dignidade dos "cristãos reformados" com seu sectarismo malicioso e sua "aparência de piedade" ímpia receberão de Deus, o Inimigo deles e de todos os hipócritas e facciosos, o que bem merecem. De fato, esse é o tipo de gente pela qual "...não se deve orar, nem levantar clamor ou oração em seu favor..." (ver Jeremias 7, vs. 16) - a não ser que seja uma "oração imprecatória"


Por outro lado, qual seria a conexão entre todos esses tópicos e a época da Quaresma e da Páscoa? A resposta a essa pergunta começará com os seguintes versos da música "O Preço":

"...E agora eu pago os meus pecados
Por ter acreditado
Que só se vive uma vez
Pensei que era liberdade
Mas, na verdade, 
Eram as grades da prisão..."

Como se sabe, o período da Quaresma/Páscoa é de particular importância para uma grande parte da comunidade cristã no mundo e, particularmente, para católicos, ortodoxos e alguns segmentos protestantes (p. ex., luteranos e anglicanos). Assim, essa estação litúrgica está especialmente vinculada a dois dos elementos mais importantes da fé católico-romana, a saber: o "sacramento da penitência" associado à "cooperação na obra de justificação", os quais diferem radicalmente da compreensão protestante/evangélica de "vida de arrependimento" e de "responsabilidade na santificação" (distinção que não será explicada aqui). Dessa forma, o excerto mencionado mostra alguém dizendo que "...paga os seus pecados..." - o que remete à ideia de "compensação" presente nos conceitos de "penitência" e do próprio "purgatório" - por ter acreditado "...que só se vive uma vez...", de maneira que a "liberdade" para se aproveitar ao máximo a "única vida possível" era, na verdade, uma "prisão" para o poeta iludido em seu autoengano. 

Nesse contexto, não é apenas o personagem da música que está sujeito a "mentir para si mesmo" e, como resultado, ter de arcar com as consequências de mentiras que podem custar "alto demais" - seja o preço de um relacionamento quebrado, seja o de uma "vida desprezada e não vivida". Diante disso, o autoengano apresentado nestes versos é um tipo de ilusão "par excellence" comum a todos nós e, curiosamente, o "combo Quaresma + Páscoa" acaba por ser, no fim das contas, o seu (único) "antídoto", visto que os significados de ambas as estações/épocas se referem, respectivamente, à 1) identificação com Jesus Cristo, cuja vida de abnegação e sacrifício é a fonte da salvação dos que creem Nele e O seguem e 2) ao triunfo definitivo de Cristo sobre a morte com a subsequente esperança de uma (nova) vida sem fim. Portanto, em certo sentido, todos os que "acreditam que só se vive uma vez" estão "enganando a si mesmos" e, um dia, "pagarão um preço alto demais" - i.e., a eterna punição pelos pecados sob a ira de Deus - caso permaneçam em seu estado de rebelião e ignorância. Logo, a atitude de se viver "como se Deus não existisse" é, como diz a música, "uma liberdade que aprisiona", cujas "grades" só podem ser "arrancadas" por Aquele que, ao libertar alguém, "o faz verdadeiramente livre" (vide João 8, vs. 36). 


Por essa razão, é importante ressaltar que certas tradições religiosas - como a "guarda de dias, meses, tempos e anos" (ver Gálatas 4, vs. 10-11) - não são uma prescrição pertencente à prática cristã no Novo Testamento (muito embora tais elementos tenham sido ordenados por Deus ao Israel do Antigo Testamento e, portanto, não são reprováveis em si próprios), de tal maneira que, por exemplo, seguir ou não o "calendário cristão" não é uma conditio sine qua non para uma vida de piedade genuína. No entanto, caso alguém decida incluir esse "calendário" em suas disciplinas espirituais diárias ou na vida da igreja local, é imprescindível discernir com clareza quais aspectos podem/devem ser admitidos e quais devem ser rejeitados

Dessa forma, a adoção de alguns costumes (p. ex., o de se abster de carne vermelha na Quaresma e, em particular, na Semana Santa) a fim de se alcançar alguma "graça especial" da parte de Deus são inúteis - que o digam Zwínglio e seus amigos, que durante um jejum de Quaresma em 1522 defenderam a liberdade de se comer salsichas publicamente em protesto! Em contrapartida, se o uso privado ou comunitário do "calendário litúrgico" promover uma melhor compreensão das obras de Deus para salvar o Seu povo e de como isso molda a nossa compreensão de todas as outras coisas, não há pecado em se adotar essa prática. Em suma, a legítima fé cristã possui catolicidade e, ao mesmo tempo, é fundamentalmente bíblica, de sorte que nem tudo o que é "coisa de católico" é totalmente ruim - bem como as "coisas de arminianos" e de "pentecostais" -, tendo em vista que não são as tradições religiosas (incluindo as reformadas!) que definem o que procede ou não de Deus, mas é Ele quem define quais tradições são válidas e quais são descartáveis. Ora, se o cristianismo tem cerca de dois mil anos (e, particularmente, o protestantismo tem pouco mais de 500 anos, ao menos como movimento histórico), não se pode JAMAIS confundi-lo com "seitas pseudo-ortodoxas" de internet (p. ex., o "badinismo" e o "hereggianismo"), sobretudo pelo fato de que está escrito:

"...Não há árvore boa que dê fruto mau, nem árvore má que dê fruto bom.
Toda árvore é conhecida pelo seu fruto. [...]
O homem bom tira o bem do bom tesouro do seu coração, e o homem mau tira o mal do seu mau tesouro; pois a boca fala do que o coração está cheio..."
- Lucas 6, vs. 43, 44a e 45

Esses versos são "mais claros do que o mar das praias da Sardegna ou do Caribe" - isto é, eles querem dizer o que dizem e dizem o que querem dizer, a saber: o que fazemos e o que falamos evidencia aquilo que somos, por mais que tentemos fingir e esconder nossa maldade para os outros. Assim, se as nossas ações são ímpias e se as nossas palavras são frívolas e maliciosas, o que nos aguarda é o juízo divino, no qual "...toda árvore que não produz bom fruto será cortada e lançada ao fogo..." (vide Mateus 7, vs. 19). 


Finalmente, não há como se falar de "preço alto a ser pago" e de "Quaresma" sem se considerar mais a fundo o que será chamado aqui de "custo do discipulado" (lançando mão do título de um dos livros do pastor Jonas Madureira) - ou seja, o que seguir a Cristo requer de todos os Seus discípulos e até que ponto estamos dispostos a ir em nossa devoção e obediência a Ele. Mas qual seria a relação entre essas coisas? E onde os Engenheiros do Hawaii e a Páscoa entrariam nisso? Continuem firmes na leitura, pois "...se depender de mim, vocês irão até o fim..."! 

Considerando o que já foi dito sobre o "ethos da Quaresma", as seguintes palavras são mais do que pertinentes:

 "...Se alguém vem a Mim e não Me ama mais do que ama o seu pai, a sua mãe, a sua mulher, os seus filhos, os seus irmãos, as suas irmãs e até a sua própria vida, não pode ser Meu discípulo
E quem não tomar a sua cruz e (não) vier após mim não pode ser Meu discípulo..."
(Evangelho segundo Lucas, cap. 14, vs. 26-27)

Estas palavras de Jesus são tão autoexplicativas que não é preciso acrescentar nada a elas. Ou seja, o que este texto ensina é que ninguém deve ser mais (e nem melhor) amado pelos seres humanos do que Cristo e, nesse sentido, esse amor implica preferir a Cristo a qualquer outra coisa ou pessoa - incluindo aquelas que nos são mais preciosas. No mais, nota-se que essa "vida" de devoção e amor significa "morte", pois todos os que O seguem devem "tomar a própria cruz", cuja imagem comunica/expressa abnegação e humilhação "até as últimas consequências". Portanto, talvez ninguém resumiu melhor essa ideia do que o teólogo/pastor luterano Dietrich Bonhoeffer, quando afirmou: "...quando Cristo chama um homem, Ele o convida a vir e morrer...". 

Para reforçar a realidade do "custo do discipulado", Jesus acrescenta duas ilustrações: 1) um homem que deseja edificar uma torre e faz todos os cálculos necessários antes de iniciar a construção e 2) um rei que, ao vislumbrar um conflito contra um exército duas vezes maior, avalia se pode enfrentá-lo ou se é melhor adotar uma "solução diplomática". Dessa maneira, caso o construtor não soubesse o real custo de seu empreendimento, ele não concluiria a obra e teria de enfrentar a zombaria dos outros e, com respeito ao rei, pode-se afirmar que sua obstinação em ir a uma guerra sem recursos suficientes provavelmente o conduziria à ruína. Por tudo isso, ser um verdadeiro discípulo de Cristo é uma dádiva divina mas, ao mesmo tempo, custa tudo, de modo que todos os que querem trilhar esse caminho devem estar cientes do "preço alto a ser pago"


É necessário ressaltar, porém, que o "custo do discipulado" não se refere, em nenhum aspecto, a méritos para aquisição (ou manutenção) da salvação - a qual é obra exclusiva de Deus, por Sua graça somente e em Cristo somente -, mas à manifestação da "vida de Cristo" naqueles pelos quais Ele morreu e que igualmente morreram com Ele, o que é simbolizado no batismo (por imersão e somente de crentes professos, é claro! - vide Romanos 6, vs. 4 e 2 Coríntios 4, vs. 10-11). Isto é, apenas quem já nasceu de novo e, por isso, foi convertido/converteu-se genuinamente a Deus pode ser um discípulo de Jesus Cristo e, como resultado de sua nova vida, ele tem consciência do que é requerido de um seguidor de Cristo bem como tem o poder de fazer o que lhe seria naturalmente impossível

Logo, "andar como Cristo andou" é uma característica exclusiva daqueles que "estão Nele" - ou, conforme a primeira das 95 Teses de Martinho Lutero, "...dizendo o nosso Senhor e Mestre, Jesus Cristo, 'arrependei-vos', Ele quis que toda a vida dos fiéis fosse de [contínuo] arrependimento...". Desse modo, os que não manifestam esse "caráter arrependido" se darão conta, tarde demais, de que serão "banidos da presença de Cristo devido à prática da iniquidade" (e.g., Mateus 7, vs. 21-23) ou, semelhantemente ao personagem da música, perceberão que "haviam se enganado outra vez" e que, ao final de tudo, lhes restará "só solidão", com muito "...choro e ranger de dentes..." (vide Mateus 8, vs. 12; cap. 13, vs. 42 e 50; cap. 22, vs. 13; cap. 24, vs. 51; cap. 25, vs. 30 etc.).  

Além disso, vale a pena relembrar que, nos dias que antecederam a morte de Jesus - e, em especial, na chamada "Semana Santa" -, ocorreram alguns episódios que envolveram "preço" ou "custo", como 1) a armadilha da (i)licitude do pagamento do imposto a César (ver Marcos 12, vs. 13-17), 2) a "oferta sacrificial" da viúva pobre em contraste com as "ofertas das sobras" dos ricos (e.g., Marcos 12, vs. 41-44)  e, sobretudo, 3) a própria traição de Jesus por Judas Iscariotes em troca de 30 moedas de prata, cujo valor viria a custar "caro demais" para o próprio Judas que, com/por remorso, acabaria por tirar a própria vida (vide Mateus 27, vs. 3-5 e Atos dos Apóstolos 1, vs. 16-18). Assim, todos esses "preços" anteriormente citados podem servir para salientar o fato de que "outro preço", mais alto do que qualquer outro antes ou depois dele, estava para ser pago por Alguém que fora vendido "por um dos seus escolhidos" pelo valor usual de um escravo - como o fora José pelos seus irmãos, que o venderam por 20 moedas de prata -, o que reitera a extensão da humilhação de Cristo em prol da redenção de todos os que Lhe pertencem. 

Entretanto, uma pergunta permanece: em que momento a Páscoa entra nessa história? Permaneça aqui e você verá!


A Páscoa, como sabemos, é uma das comemorações religiosas mais importantes da história, uma vez que une, em diversos aspectos, cristãos e judeus - embora também haja diferenças substanciais entre os modos como ambos a celebram. Suas raízes remontam ao período por volta dos séculos XV-XIV a.C. (durante o êxodo do povo hebreu do Egito após uma longa e cruel escravidão) e seu significado aponta para a intervenção divina em favor da futura nação de Israel, a qual foi poupada durante a "morte dos primogênitos" por ocasião da "passagem" do Anjo Destruidor "para além/por cima" das casas marcadas com o "sangue do cordeiro". Assim, a Páscoa (heb. "Pessach" - port. "passar por cima, passar para além de") recorda a libertação do povo escolhido por Deus para herdar a "Terra Prometida" e, devido à sua tamanha importância, deveria ser festejada por todo o povo de Israel "como um estatuto perpétuo"

Por outro lado, a Páscoa no Cristianismo adquire um significado mais abrangente, pois ela tanto reflete elementos presentes na celebração judaica (p. ex., a noção de libertação, a imagem de um "cordeiro sacrificado" etc.) quanto amplia o seu alcance, uma vez que não seria mais necessário "sacrificar cordeiros" após a ocorrência de um "sacrifício definitivo", pelo qual não apenas israelitas seriam libertados de uma escravidão social mas "homens de toda tribo, língua, povo e nação" seriam redimidos de uma escravidão espiritual (Apocalipse 5, vs. 9-10) e, no fim, toda a Criação viesse/venha a ser resgatada de sua própria decadência (vide Romanos 8, vs. 19-23). Dessa forma, a "páscoa cristã" está centrada em "promessas melhores", pelas quais a herança de "uma terra que mana leite e mel" se torna a herança dos "novos céus e nova terra", cujo fundamento está na pessoa de Jesus Cristo, o "Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo", e a Sua obra redentora

Nesse ínterim, quando o compositor de "O Preço" fala sobre "pagar os pecados por se ter acreditado que só se vive uma vez", pode-se ver uma "menção indireta" à Páscoa, tendo em vista que o seu clímax não é (nem mesmo) a morte de Cristo como o "cordeiro pascal", mas a sua ressurreição - a qual testifica, de modo inequívoco, que "viver outra vez" não é só possível, porém factível, concreto e real. A esse respeito, vale citar as contundentes palavras do apóstolo Paulo:

"...Se não há ressurreição de mortos, também Cristo não ressuscitou
E, se Cristo não ressuscitou, logo é vã a nossa pregação e também é vã a fé de vocês
[...] E, se Cristo não ressuscitou... vocês ainda permanecem em seus pecados,
E também os que morreram em Cristo estão perdidos.
Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens. 
Mas, de fato, Cristo ressuscitou dentre os mortos, e foi feito as primícias dos que morreram..."
(1a Epístola aos Coríntios 15, vs. 14-15, 17-20) 


Semelhantemente às palavras de Jesus sobre o "preço do discipulado", o trecho acima é "tão claro quanto a luz do meio-dia" e nos mostra, antes de tudo, que "a ressurreição de mortos" é uma realidade incontestável provada pela ressurreição do próprio Jesus, pois "...se os mortos não ressuscitassem, nem Cristo teria ressuscitado...". Consequentemente, se a ressurreição de Cristo não fosse um fato, todo o edifício do Cristianismo desmoronaria, posto que sem ela "a pregação cristã seria inútil bem como a fé professada nela" e, como resultado, os "crentes" vivos ainda "permaneceriam em seus pecados" - isto é, eles não teriam sido perdoados - e os que já morreram "já estão perdidos", de modo que "seríamos os mais miseráveis de todos os homens". 

Diante de declarações tão aterradoras, a única conclusão razoável é que a ressurreição de Jesus é o sustentáculo supremo da fé cristã, a qual só faz sentido porque Jesus também morreu e foi sepultado - o que, obviamente, não teria acontecido se não houvesse a Encarnação. Ou seja, a "história da redenção" é como uma "obra de tapeçaria", onde os traçados e fios estão devidamente entrelaçados, dentre os quais podemos destacar três momentos: o Natal (a história do "Verbo se fazendo carne/pessoa"), a Semana Santa (os dias que relatam a morte do Filho de Deus) e a Páscoa (a celebração do Messias vitorioso sobre a morte e todos os Seus demais inimigos). Desse modo, os Engenheiros do Hawaii poderiam ser considerados, ainda que de forma pitoresca e até despretensiosa, os "Evangelistas do Hawaii", pois a realidade é que, em última análise, "quem não acredita que não se vive mais de uma vez" vai, inevitavelmente, "pagar pelos próprios pecados" - mas com uma grande diferença: tal preço será "alto demais", tão alto ao ponto de que não haverá como quitá-lo, nem mesmo durante toda uma eternidade. 

Logo, se não desejamos arcar com esse "custo" incalculável, a única alternativa é confessar todos os nossos "crimes inafiançáveis" e "pecados hediondos" - p. ex., soberba espiritual e "vaidade virtual", espírito contencioso e maledicência, blasfêmias e impropérios, mentira e incredulidade etc. - enquanto direcionamos nosso olhar para Aquele "que deixou a segurança de Seu mundo por amor" (como diz outra canção de rock) para assumir a nossa natureza e, assim, humilhar-Se até a morte e morte de cruz (ver Filipenses 2, vs. 6-8), mediante a qual "...o escrito de dívida que nos era contrário foi cancelado..." (vide Colossenses 2, vs. 14) e "...principados e potestades foram despojados e feitos um espetáculo público..." (e.g., vs. 15). Em suma, Cristo já "pagou o alto preço" que nenhum de nós poderia, restando-nos apenas depositar nossa confiança inteira e exclusivamente Nele para que sejamos redimidos de nossos pecados, dos outros males decorrentes dele - seja a culpa e a condenação, a sua influência e poder e, finalmente, a sua presença - e, por fim, derrotar todos os nossos adversários. Por tudo isso, a síntese de todo esse argumento é esta: Cristo é a nossa Páscoa (ver 1 Coríntios 5, vs. 7). 


Portanto, ainda que não seja tão famoso quanto os Engenheiros do Hawaii, eu me atrevo a endossar o que eles, provavelmente sem intenção, acabaram por expressar, visto que, se todos nós pudéssemos "viver só uma única vez", aqueles que reconhecem/proclamam a Páscoa como a celebração da ressurreição de Jesus Cristo seriam mentirosas e, consequentemente, o próprio Deus igualmente o seria, pois estaríamos "...testemunhando contra Ele que Cristo ressuscitou dentre os mortos, embora os mortos não ressuscitem..." (1 Coríntios 15, vs. 16). Entretanto, considerando que já existem muitos "lobos em pele de cordeiro" ultrajando a glória de Deus com suas blasfêmias, picuinhas, maledicências e palavras arrogantes (sobretudo no "tribunal da internet", onde todos somente "julgam e cancelam", nos quais tanto os "dons" quanto o "fruto do Espírito" parecem ter "cessado" - se é que um dia existiram!), eu apenas desejo ser o que diz o título de certo livro do escritor/teólogo Micheal Horton: simplesmente um crente, cuja vida seja um testemunho de que "cada um de nós não é nada" mas somente "Cristo é tudo em todos".  

Diante de tudo isso, fica a pergunta: como você "passará" por essa Páscoa?

Caso você se veja como um "seguidor de Jesus Cristo", você entendeu que "foi chamado para ir e morrer" ou, como os construtores da torre de Babel, vive para "fazer um nome para si" - seja virtualmente, seja "presencialmente"? 

Nesse sentido, você já calculou o preço de "trilhar o caminho da cruz" ou, ao contrário, acredita que ignorar o "custo do discipulado" não te custará muito mais no fim da jornada da vida?

Por outro lado, se você é daqueles que "vive como se Deus não existisse" ou mesmo é um "religioso social", quando se dará conta do fato de que as boas tradições cristãs não são "costumes vazios" mas holofotes para a "Grande História" - i.e., a história de Deus e de Seu Filho?

Finalmente, o que você fará com o "preço alto demais" pago pelo "Deus que se fez homem" numa semana como esta? Agirá com desprezo e ignorará o terrível fim que aguarda a todos que assim procedem ou, arrependido, receberá a dádiva gratuita da "vida sem fim" conquistada por Ele?


Pela alegria de ter sido "comprado por um alto preço",




Soli Deo Gloria!

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