Depois de um razoável período ausente, enfim pude retornar aqui.
De fato, desde o Natal (data da última publicação) tenho andado bastante atarefado e, além disso, não me surgiram idéias que fossem deveras dignas de um novo texto - mas somente até agora. E, como normalmente se dá, a "inspiração" é mais latente quando vem acompanhada de indignação - neste caso, bastante indignação. Talvez eu nunca estive tão repleto de razões para estar verdadeiramente irado, enfurecido e sem paciência alguma para frescuras ou idiotices e, por essa razão, é muito provável que alguém que acesse esse texto sem a intenção de lê-lo já esteja irritado com essas primeiras linhas. Tais sentimentos não me importam - nem quaisquer outros -, pois esse texto não é um editorial da 'Foice de São Paulo' nem prefácio de uma coleção de contos eróticos da Maria Flor [cuja histeria e beleza são de dar vergonha alheia em baratas voadoras entontecidas por algum inseticida].
Desse modo, aqueles que não encaram de frente a própria insensatez (ou nem mesmo consideram fazê-lo), que são presunçosos em sua burrice e cujo prazer é exibir as supostas virtudes para disfarçar uma falsa piedade devem sair daqui o quanto antes se quiserem continuar em paz com sua existência patética e medíocre. Contudo, se alguém desejar ir até o fim, possivelmente me odiará mais do que houvera pensado - e que bom que seja assim! Nada poderia ser mais vergonhoso para mim do que ter o apreço daqueles que não possuem nenhuma robustez ou nobreza de alma e que, como dizem os versos da canção "Espelhos Mágicos" do Oficina G3, "nada vêem além de si mesmos". No mais, vamos ao que interessa - até porque este espaço é muito curto para ser desperdiçado com menções a coisas e, acima de tudo, a pessoas inúteis.
O tema desse texto está baseado na combinação de duas referências: a canção chamada "Relicário" (conhecida no Brasil nas vozes de Cássia Eller e Nando Reis) e a famosa distopia de Aldous Huxley "Admirável Mundo Novo". Se não me falha a memória, eu escrevi há algum tempo outro texto no qual mencionei brevemente esta obra, porém sem fazer comentários mais precisos sobre ela pelo fato de, na época, não ter o conhecimento mínimo para tal. Dessa vez, estou melhor familiarizado com a temática geral do livro e, como resultado, pretendo expor as indignações supracitadas através das pistas dadas pelos versos da música bem como por algumas idéias contidas na narrativa distópica ou referentes a ela.
Entretanto, antes de irmos ao assunto propriamente dito, é importante destacar que "relicário" é um termo que se refere ao "lugar ou a algum objeto onde são guardadas relíquias de santos ou artefatos sagrados". Portanto, seu significado é essencialmente religioso, de maneira que tais bens ou tesouros são tidos em alta conta por aqueles que constituem os ambientes religiosos correspondentes. Sabe-se, por exemplo, que os católicos-romanos possuem um apreço particular por esse tipo de artefato sacro [conforme suas tradições] e, desse modo, tais relíquias são preservadas com todo o zelo em catedrais, monastérios e basílicas por todo o mundo - a título de curiosidade, eu mesmo já tive a oportunidade de visitar igrejas na Itália e na França nas quais supostamente se encontram restos mortais de escritores do Novo Testamento (p.ex., Basilica di San Marco, Venezia) ou mesmo a coroa de espinhos usada por Jesus Cristo no dia de sua crucificação (La Sainte-Chapelle, Paris).
Dito isso, tenhamos em mente que a tese central que pretendo desenvolver aqui é que "existe um 'mundo novo não tão admirável' em construção (ou seria desconstrução?), no qual todos desejamos ter nossos 'relicários de estimação' para colocar neles nossas próprias 'relíquias' a fim de que sejamos admirados e recebamos glória" - assim como muitos têm feito ao longo dos séculos até hoje. Ora, todo assunto que põe em xeque a glória de Deus produz em mim o mesmo sentimento de Jesus enquanto expulsava os vendilhões do templo [visto que está escrito que "o zelo por Tua casa me consumiu" - João 2:17], de tal modo que necessitarei de mansidão como talvez nunca precisei antes - embora eu não queira nada disso. Como dissera Lutero, "a paz, se possível; a verdade, a qualquer preço".
Nesse sentido, eu gostaria de começar o desenvolvimento do argumento citando um pequeno verso da canção já citada que diz:
"...O que está acontecendo? O mundo está ao contrário e ninguém reparou..."
Sem considerar as reais intenções do autor ou o contexto imediato da letra, creio que as primeiras impressões ou imagens que esse trecho evoca em quem o lê são de inquietação, dúvidas e perplexidade diante de determinada situação que, aos olhos do escritor, parece óbvia - apesar de todos ao seu redor estarem completamente desatentos para tal realidade. Mais explicitamente, "algo está acontecendo" à vista de todos, de forma que pode-se notar claramente uma inversão absoluta do que poderíamos chamar de "ordem natural das coisas". Contudo, parece-me que o tom usado pelo compositor quer dar a entender que tudo "está ao contrário" de tal modo que ninguém é capaz de repará-lo - i.e., todos fomos subjugados a uma condição na qual não há mais qualquer vestígio de normalidade ou sanidade, havendo apenas uma "loucura triunfante generalizada" ou um "império mundial da histeria". Embora certamente o poeta não teve essa intenção, ouso dizer que, se minha análise acima está correta (como creio estar), tais versos são uma descrição exata e irrefutável do que o mundo está vivendo nos últimos 12 meses. Quem tem olhos para ver, veja.
Desde o fim do primeiro trimestre de 2020, a vida humana em todo o planeta foi mudada radicalmente por ocasião do surgimento (ou disseminação dolosa) do vírus chinês e sua subseqüente propagação e, como resultado, todas as esferas das relações interpessoais, familiares, de trabalho e demais aspectos da realidade foram forçadamente adaptados ao famigerado "novo normal". A higienização do próprio corpo (em particular das mãos) bem como de todos os pertences se tornou um 'ato litúrgico' e tão indispensável quanto as refeições diárias, o uso de máscara/focinheira facial (a despeito de todas as controvérsias no tocante à sua eficácia e aos riscos reais de danos à saúde respiratória e cerebral) foi consagrado a símbolo máximo de "virtude moral" e de "empatia para com o próximo" [ao ponto de secretários de saúde, sob o pretexto de "salvar vidas", incitarem o "banimento social" de quem não utilizá-la] e, como sobremesa desse "manjar turco", os mini-ditadores se multiplicam diariamente por toda parte como "greemlins" às primeiras borrifadas de água (ou de álcool em gel). Tais mudanças foram (e estão sendo) assimiladas por grande parte da população mundial (em particular, no Brasil) sem qualquer reflexão sobre o assunto [conforme as técnicas de subversão psicológica explicadas por Pascal Bernardin em 'Maquiavel Pedagogo'], o que reverbera a conhecida regra da relação entre "senhores" e "escravos" nos tempos antigos: "não me faça perguntas; simplesmente obedeça".
Para reforçar isso, basta que nos lembremos de como foi o mês de fevereiro do ano passado - milhões de pessoas nas ruas e nos sambódromos durante o carnaval, eventos presenciais em diversos lugares, pessoas viajando para passar o tempo com familiares e amigos etc. - até que no dia 11 de março de 2020, com uma simples declaração do diretor-geral da Organização Mundial da Sacanagem (ou Organização Maoísta da Saúde)/OMS, iniciou-se a remodelagem total (e, provavelmente, irreversível) de todos os comportamentos humanos em todo o planeta. Após a praga chinesa ser declarada uma "pandemia" [o que é cada vez mais questionável ou mesmo fraudulento], nunca mais fizemos as coisas como as fazíamos dias antes de tal declaração, visto que deixamos de abraçar e de cumprimentar devidamente os amigos, nunca mais entramos em locais fechados (e mesmo andamos ao ar livre) sem um pedaço de pano na cara que serve apenas como um meio de falsa proteção, perdemos o direito de nos divertir, fomos impedidos de trabalhar para sustentar nossas famílias e, finalmente, estamos diariamente sendo assediados em nossa liberdade religiosa e de culto público, bem como de ir e vir e até mesmo de existir - embora tudo seja "para nossa segurança" e "com base na ciência". Ironicamente, essa foi a mesma tática usada pelos nazistas enquanto espalhavam seu terror nos anos do Terceiro Reich e que é aplicada "com maestria" até hoje em ditaduras comunistas (p.ex., na China), de modo que, se eles dizem que é "para nosso bem", não devemos "questionar" mas "obedecer". Ora, quem mais poderia saber o que é melhor para nós senão esse panteão de demiurgos iluminados?
Todavia, embora o verso da canção citada acima expresse uma constatação aparentemente solitária [como se apenas o poeta "reparasse que o mundo está ao contrário"], eu tenho sido testemunha de que, assim como nos dias do profeta Elias [sem ignorar as devidas e imediatas aplicações do texto bíblico correspondente], Deus tem conservado os seus "sete mil" que não têm se prostrado diante dos ídolos mais recentes de nosso tempo, a saber, a "empatia vaidosa" e a "ciência sem consciência". Tais idólatras, no auge de sua "insolência falsamente solidária", não somente exibem suas "virtudes higienistas" diante de quem quiser ver [e, assim, "já têm recebido a recompensa" que buscam], mas igualmente se constituem juízes dos vivos ["olha só, os dois estão sem máscara!"] e até dos mortos ["fulano esteve em manifestação contra o lockdown antes de ser internado e falecer por 'complicações devidas à Covid-19'"], ao ponto de usurparem o lugar que pertence apenas a Jesus Cristo - como dizem as Escrituras e o Credo Apostólico.
Nesse ínterim, o maior dos males deste momento em questão não se têm manifestado, sobretudo, através das "pessoas comuns" (so to speak) - auto-consagradas a patamares de autoridade comportamental e ética, a fim de policiar toda e qualquer atitude exterior que "viole os protocolos de segurança" -, mas a proliferação exponencial ["pandêmica?"] de ditadores de 'pequeno, médio e grande porte' por nossas cidades, sejam fardados ou engravatados em seus gabinetes [mas sempre de máscara, claro!]. De fato, não há mais como contar, e muito menos caracterizar devidamente, as inúmeras atrocidades que se sucedem diariamente somente no Brasil - pessoas são ameaçadas com armas de calibre 12 pelo "crime" de jogar vôlei, trabalhadores ambulantes sofrem confisco de seu ganha-pão com requintes de crueldade até vomitarem de desespero, atletas são presos nas orlas marítimas por cometerem a hediondez de "pedalar sem máscara" e, finalmente, cidades inteiras entram em colapso como resultado de medidas desumanas de confinamento absoluto (como no interior de São Paulo). Se, por algum motivo, há alguém que esteja lendo esse texto mas que não acordou para o que está acontecendo [ou pior, está percebendo e não sente indignação alguma perante tamanha perversidade], é muito provável que as últimas centelhas de afeição natural que lhe restavam já não mais existam - i.e., você se tornou o exemplo vivo da genial constatação do francês François Rabelais, que disse: "a ciência, sem consciência, não passa da ruína da alma". Em outras palavras, quando os seres humanos deificam um falso conceito de amor [que não é fundamentado na verdade e na bondade], tal "amor" é apenas a "simpatia hipócrita dos demônios".
Não se apresse, porém, em me ofertar aplausos em sua mente ou em mostrar esses parágrafos a alguém que você julga estar precisando desse tipo de "exorcismo" - eu estou falando de você.
Por outro lado, a fim de ratificar e ampliar o argumento central supracitado, vale destacar o seguinte trecho (o qual soa até mesmo 'profético') do livro "Admirável Mundo Novo", onde se lê:
"...Pessoas atordoadas por entretenimento bobo, privadas de linguagem, incapazes de refletir sobre o mundo, mas felizes com sua sina..."
Esse trecho do livro descreve com precisão espantosa e irrefutável a sociedade atual, embora Huxley estivesse inicialmente apresentando uma realidade distópica em sua obra. Logo, pode-se deduzir que, de certo modo, algum tipo de "espírito profético" o impeliu a escrever tais coisas, posto que ele já estava mostrando o que iria acontecer ao ser humano num futuro próximo. As pessoas a nosso redor (e muitos de nós, igualmente) estão, mais do que nunca, "atordoadas por distrações estúpidas e idiotizantes" - a exemplo dos programas de humor sem qualquer graça e repletos de feiura e imoralidade, telejornais que não passam de propaganda enganosa e de instrumentos de dissonância cognitiva e/ou "reality shows" que não tem relação alguma com a "realidade" e que para nada servem senão para nos afastar dela. Como resultado, já não sabemos mais dominar (ou sequer conhecemos minimamente) o instrumento mais importante para que apreendamos a realidade tal como ela nos é dada [sejam as coisas fora de nós, seja a consciência de nós mesmos] - estamos, lastimavelmente, "desprovidos de linguagem". Portanto, "não temos sido mais capazes de refletir sobre o mundo", de tal modo que nos resta tão-somente a histeria coletiva presunçosa, através da qual aqueles que são mais espertos do que nós (e que normalmente nem sabemos que existem ou que ignoramos) já nos têm controlado total e exaustivamente - mas apenas enquanto lhes formos úteis. Finalmente, pode-se notar que não é mais necessário usar de truculência a todo momento para que as massas sejam dominadas de forma eficaz e permanente mas, pelo contrário, o que se percebe a olhos vistos é que as pessoas, de modo crescente, têm desejado e até implorado por esse tipo de dominação em troca de "conforto e segurança".
Dessa maneira, como que num 'anacronismo às avessas', a maioria de nós parece assumir o pathos e o ethos do personagem de Dostoiévski em "Memórias/Notas do subsolo" que dissera "...contanto que eu tome o meu chá, o mundo pode se destruir por inteiro lá fora..." - ou, numa versão pós-fraudemia, "...contanto que eu tenha o iFood para pedir minha comida, a NetFlix para me divertir e o meu salário garantido, os outros podem morrer lá fora...". Neste último caso, "se a morte for 'por COVID' é até melhor", pois assim será possível mostrar aquela "empatia vaidosa" e pedir aos outros que #fiquememcasa, pois nenhuma celebridade ou milionário deve ser exposto a germes quando for à praia, ao shopping, ao cinema ou ao parque. Como dizem por aí, "o choro é livre!" - só você e eu que não.
Diante de tudo isso, será que estamos buscando encher nossos "relicários" com coisas semelhantes a estas?
Será que, igualmente, já fomos 'abduzidos' pelo "mindset" desse "admirável mundo novo pós-pandemia" a fim de corroborar as "profecias distópicas" citadas acima?
Em contrapartida, esses novos "padrões de comportamento" seriam realmente virtuosos ou não passariam de "pecados gloriosos com verniz de piedade"?
E, nesse caso, quais seriam as verdadeiras "relíquias" que deveríamos guardar com zelo para que jamais as perdêssemos?
Inicialmente, é importante salientar que todos nós, sem exceção, tendemos a condenar os outros ao mesmo tempo que cometemos os mesmos pecados que condenamos neles (vide Romanos 2:1-3), de forma que, diante de Deus, todos são indesculpáveis devido às suas transgressões. Nenhum de nós está, neste sentido particular, num patamar superior a qualquer outro ser humano, visto que Coram Deo não há como ter olhos altivos ou quaisquer prerrogativas de mérito, pois está escrito que "a Escritura encerrou tudo debaixo do pecado" [Gálatas 3, vs. 22] e que "todos estão debaixo do pecado" [Romanos 3, vs. 9]. Portanto, quando nos lembramos de que o único referencial digno em relação ao qual devemos nos avaliar mutuamente é Deus (assim como Ele se revela nas Escrituras), é impossível que nossa soberba e estultícia não sejam esmigalhadas em pedaços para que, assim, não ousemos ter um conceito elevado demais de nós mesmos e saibamos devidamente como pensar a nosso respeito e dos outros.
Desse modo, embora esse texto esteja denunciando - com uma dose severa de acidez da qual não me arrependo - a degeneração crescente da saúde mental, da inteligência e da bondade humanas em razão das mudanças sociais e psicológicas decorrentes da praga chinesa (i.e., do Partido Comunista Chinês e seus aliados mundo afora), estou ciente de que sou sujeito a ter meus "relicários", nos quais posso estar entesourando minhas "relíquias" a fim de, muitas vezes, sacralizá-las e, com isso, buscar honra e prestígio diante dos outros enquanto acredito estar "buscando a glória que vem só de Deus" [vide João 5, vs. 44]. De fato, a vida de todos os homens, desde o dia em que Adão e Eva pecaram no Éden até esse momento exato, consiste na mais tola e abominável 'usurpação de papéis', mediante a qual cada um de nós, mais aberta ou mais disfarçadamente, têm desejado "ser como Deus" e "conhecer o bem e o mal" da maneira que só Ele conhece ao passo que, como afirmara Pascal, "fazemos Deus conforme a nossa própria imagem". Isto é, temos sido ávidos em "vencer disputas" de ordem teológica ou religiosa [p. ex., "calvinismo x arminianismo" ou "catolicismo romano x protestantismo/fé reformada" etc.] ou, por outro lado, temos desenvolvido uma mentalidade (a qual já é a dominante) pela qual nada, nem um único mínimo detalhe da normalidade da existência, que represente qualquer conceito ou símbolo "ofensivo" aos edificadores do "não tão admirável mundo novo", deve ser tolerado - especialmente as "pessoas ofensivas" ou "não-essenciais" -, o que evidencia a mesma raiz do "pecado original", pois apenas os que desejam (e acreditam que possam) ser "como Deus" e que julgam "conhecer o bem e o mal" tanto para si mesmos quanto para o universo inteiro agem como se estivessem "acima do bem e do mal" assim como do próprio Deus. Ora, neste caso, tal "admirável mundo novo" pode ser adequadamente chamado de 'inferno', posto que sabemos exatamente quem foi que desejou "estabelecer seu trono acima de Deus e ser semelhante ao Altíssimo" [ver Isaías 14, vs. 13-14].
Nesse sentido, pode-se dizer que, quanto às três primeiras perguntas, muitos de nós têm aproveitado a situação de comoção mundial em virtude da peste chinesa para acumular suas "relíquias de empatia e solidariedade" nos "museus e santuários virtuais das redes sociais", tendo em vista a própria "beatificação" sob os auspícios dos "sacerdotes da religião do novo normal". Sem dúvida, essa é possivelmente a 'religião' que mais cresce no planeta, uma vez que ela passou a ser seguida, como que num lapso, por ateus, muçulmanos, judeus, espíritas, sincréticos e, majoritariamente, por cristãos (e de todos os segmentos). Ora, qual é o grupo social mais vulnerável à manipulação emocional por influência de narrativas que explorem o "amor ao próximo", a "preocupação com quem se ama", o "respeito às autoridades" e o "medo de morrer e de provocar a morte de outrem", senão a comunidade cristã? Se refletirmos bem, nenhum de nós quer carregar o fardo de "desobedecer a Deus" bem como ousar colocar em risco a própria segurança, a dos parentes e amigos para ser uma "ameaça" à ordem e à saúde públicas, de maneira que nos tornamos mais suscetíveis que os demais a adotar quaisquer idéias, hábitos e condutas que nos sejam sugeridos [sejam esses benéficos ou não, baseados em fatos ou enganosos] como "indispensáveis" para os fins correspondentes. Logo, com a faca e o queijo nas mãos, os únicos beneficiários de todo este cenário [i.e., os mega-bilionários donos do dinheiro mundial, as 'tiranetes de gabinete' espalhadas pelo planeta e a ditadura chinesa] estão "deitando e rolando" sobre nossa "estupidez com verniz de benevolência" enquanto pisam nos cadáveres dos que têm morrido pelo mundo - não importando a causa. Como tenho dito, "não se trata de saúde, mas de controle" - um controle total, indestrutível e irreversível sobre os comportamentos, a normalidade da vida, as dinâmicas sociais em escala supranacional e, finalmente, sobre a natureza e a alma humanas.
Finalmente, a pergunta mais importante a ser respondida é: o que realmente deve ser entesourado por nós?
Quais boas obras são, de facto, "boas obras" e, por isso, dignas de serem tratadas com o devido apreço?
Em outros termos, a quem pertenceria o "relicário" com as verdadeiras "relíquias de grande valor" e que permanecerão eternamente no "verdadeiro admirável mundo novo"?
Tais respostas não poderiam ser dadas com a devida seriedade e exatidão sem levarmos em conta o atual período do ano - e.g., a Semana Santa -, no qual pessoas em todas as partes do mundo, seja por tradição cultural ou como fruto de uma real compreensão de seu significado, se recordam dos últimos dias de Jesus Cristo até sua paixão, morte e posterior ressurreição no Domingo de Páscoa. Foi numa semana semelhante a essa que Jesus nos revelou a resposta de todas essas perguntas, cujas palavras se encarnariam Nele naqueles mesmos dias, como mostrado a seguir:
"...É chegada a hora de ser glorificado o Filho do Homem.
Em verdade, em verdade lhes digo: se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, produz muito fruto.
Quem ama a sua vida a perderá; mas quem odeia a sua vida neste mundo irá guardá-la para a vida eterna. [...]
Agora a minha alma está angustiada, e o que direi? Pai, salva-me desta hora? Não, pois foi precisamente com este propósito que eu vim para esta hora. Pai, glorifica Teu nome!
Então veio uma voz do céu: já O tenho glorificado, e novamente O glorificarei..."
[João 12, vs. 23-25 e 27-28]
Nesse trecho dos Evangelhos, o ensino de Jesus é claro: a glorificação do Filho do Homem (i.e., a Sua glorificação) consistiria em Sua crucificação, a qual se daria na "Good Friday" (a sexta-feira santa). Ou seja, o "grão de trigo" que deveria "cair na terra e morrer para dar muito fruto" era uma metáfora de Jesus sobre Si mesmo, visto que, nas palavras dos profetas, Ele "derramaria a Sua vida na morte" [Isaías 52, vs. 12] e "veria o fruto do trabalho de Sua alma e ficaria satisfeito" [Isaías 53, vs, 11]. Desse modo, é à luz do que Ele mesmo faria ao consumar a obra que o Pai lhe confiara que nos é dito que "aquele que quiser salvar a sua vida a perderá, e aquele que odeia a sua vida nesse mundo a guardará para a vida eterna".
As Escrituras nos ensinam, portanto, através das palavras do próprio Cristo, que toda tentativa de nossa parte em buscar "salvar a nossa vida" - seja espiritualmente, seja fisicamente (o que passou a ser a maior obsessão humana desde 2020) - é absolutamente inútil, pois o mesmo Jesus disse que "nenhum de nós, por mais ansioso que esteja, pode acrescentar uma hora à duração de sua vida" [Mateus 6, vs. 27]. Eu temo que, embora continuemos a nos reconhecer como cristãos, não estejamos andando em conformidade com Cristo ou no "padrão da vida em que fomos batizados", caso nossas maiores prioridades sejam "colocar álcool em gel a toda hora e por todos os lugares" [como se fosse uma "água-benta" ou alguma "unção neopentecostal" a fim de afastar "maus agouros" ou "germes malignos"], nunca sair de casa sem "focinheira" e jamais "promover aglomerações" ao invés de "desprezar a própria vida neste mundo para preservá-la para a vida eterna". É evidente que cuidar da integridade física e da saúde são implicações indiretas da obediência ao sexto mandamento ("não matarás/assassinarás"), todavia quem se declara discípulo de Jesus precisa estar ciente de que deve "buscar as coisas que são do alto, onde Cristo está assentado à destra de Deus" [Colossenses 3, vs. 1] bem como "pensar nas coisas de cima, e não nas que são da terra" [Colossenses 3, vs. 2], pois todo cristão "já morreu" - e não foi por causa do vírus chinês, mas pela sua união com Cristo - e a sua vida "está escondida com Cristo em Deus" [Colossenses 3, vs. 3]. Mais precisamente, todas as "coisas da terra" que são boas e dignas de serem desfrutadas só podem ser usufruídas devidamente em Deus e para Ele e, como resultado, sempre que superestimamos alguma coisa [até a nossa saúde e a segurança de nossos semelhantes] acima ou em lugar de Deus nos comportamos como idólatras, ainda que tal idolatria seja envernizada com "doses periódicas" de "empatia piedosa". Em suma, nossos relicários podem estar repletos de "novas relíquias" que nos parecem sacras e até providas de "poderes milagrosos" - quem imaginou que um "pano no rosto" pudesse ser capaz de matar um organismo nanométrico e mortal? -, contudo tais "tesouros" estão sendo "ajuntados na terra" e, irremediavelmente, serão destruídos "pela traça e pela ferrugem".
Dessa forma, se tudo o que podemos acumular para nós mesmos, nos poucos dias que temos debaixo do sol, por mais valioso que pareça a nossos olhos e diante dos outros, será consumido e se mostrará desprovido de real dignidade e excelência, quais "tesouros" de fato permanecerão para sempre? A quem pertenceriam tais tesouros e em qual "relicário" eles estariam guardados?
Na continuidade do trecho bíblico destacado, Jesus expressa abertamente a sua angústia por ocasião do que lhe estava prestes a sobrevir e, de modo resoluto e por meio de um surpreendente artifício retórico, declara que havia vindo precisamente para "aquela hora" - a hora do sofrimento atroz, da condenação injusta, da rejeição máxima por parte dos Seus, da traição "daquele que comia do mesmo prato" e, pior do que tudo, do "abandono" de Seu Pai conforme Ele mesmo diria: "Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?" [Salmo 22, vs. 1 e Marcos 15, vs. 34]. É exatamente aí, na atitude de perfeita obediência de Jesus para com o Pai, que descobrimos a solução para as perguntas finais desse texto, pois a "hora em que o Filho do Homem seria glorificado" (vs. 23) é a mesma "hora" referida por Jesus ao dizer "Pai, glorifica o Teu nome!" (vs. 28a), cujo pedido foi imediatamente atendido segundo a voz que disse "já o tenho glorificado, e novamente o glorificarei" (vs. 28b).
Desse modo, os "tesouros" que não perecem debaixo do sol (ao contrário, permanecem para sempre) são aqueles que manifestam a glória de Deus e, em particular, residem na pessoa de Cristo, pois está escrito que "Nele estão ocultos todos os tesouros da sabedoria e da ciência" [Colossenses 2, vs. 3] e que o "mistério do Evangelho", que outrora estava oculto mas agora estava sendo revelado, é descrito como as "insondáveis riquezas de Cristo" [Efésios 3, vs. 8]. Diante de tal sublimidade, todos os tesouros e relicários humanos, por mais que possuam valor e artefatos preciosos [apesar de, em muitos casos, não possuírem valor algum, exceto uma aparência de religiosidade vazia], não passam de "esterco", "lixo", "escória" e "refugo" [ver Filipenses 3, vs. 8]. Portanto, se existe algum "relicário" cujas "relíquias" realmente são e continuarão a ser perenemente valiosas, este não é outro senão o próprio Evangelho, o qual provém do Deus Eterno e diz respeito a quem Ele é e ao que Ele realizou através de Seu Filho - o "Servo Sofredor" [Isaías 53] e também "o mais notável entre os homens" [Salmo 45, vs. 2], chamado de "blasfemador" [Marcos 14, vs. 64] embora seja Aquele que nos revelou o Pai [João 1, vs. 18], enviado ao mundo para salvar os pecadores [1 Timóteo 1, vs. 15] mas que breve voltará "para julgar os vivos e os mortos em Sua vinda e Seu reino" [2 Timóteo 4, vs. 1].
Não há, sem dúvida, um período mais oportuno para meditarmos sobre quais coisas realmente possuem valor eterno do que uma semana como essa, posto que há quase 2000 anos se consumou a obra redentora Daquele que é chamado de "Sumo Bono" ou "Bem Supremo" da alma e para quem todos fomos criados, o nosso único "lugar de descanso", "em Quem vivemos, nos movemos e existimos" [Atos 17, vs. 28] e de onde vem " toda boa dádiva e todo dom perfeito" [Tiago 1, vs. 17]. Abandonemos, pois, o quanto antes, toda e qualquer pretensão de "fazer um nome para nós mesmos" à semelhança dos homens de Babel [Gênesis 11, vs. 4] - principalmente mediante uma "falsa ciência" instrumentalizada por tiranos insaciáveis por nosso sangue -, uma vez que o fim reservado para os que assim procederem é a "confusão de línguas" [e a loucura total daí decorrente] e, finalmente, o "abandono da fé em troca de tolices", como nos adverte o apóstolo Paulo [1 Timóteo 6, vs. 20-21]. Sejamos satisfeitos apenas com Cristo e Sua glória, pois Ele é quem "destrói a sabedoria dos sábios e aniquila a inteligência dos inteligentes" [1 Coríntios 1, vs. 19], "envergonha as coisas fortes" [vs. 27], "reduz a nada as coisas que são" [vs. 28] e que "foi feito da parte de Deus para nós sabedoria, justiça, santificação e redenção, a fim que 'quem se gloriar, glorie-se no Senhor'..." [1 Coríntios 1, vs. 30-31].
E quanto a você?
Onde você tem juntado os seus tesouros? Ou melhor, o que você tem considerado como de fato precioso?
Você tem sido enredado por futilidades de modo a se perder da realidade e de si mesmo e, mesmo assim, continua "feliz com a sua sina"?
Você tem construído seus próprios "relicários" a fim de ostentar suas "virtudes" aos olhos dos outros sem se dar conta de que "tudo aquilo que não é eterno é eternamente inútil"?
Finalmente, sabendo da importância dessa semana para a humanidade [e igualmente para a todo o universo], até quando você continuará sem dar ouvidos à voz do Salvador, o Qual te chama para "segui-Lo e morrer com Ele" para que, posteriormente, você viva para sempre com Ele no "Admirável Mundo" que Ele preparou a todos os que Nele crêem?
Pela certeza de que meu tesouro está guardado Nele,
Soli Deo Gloria!
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