Quarta feira de cinzas. Embora não faça tanta diferença para mim, hoje o carnaval acabou.
Mas, por outro lado, foi possível ver pela televisão e pela internet milhares, centenas de milhares e até milhões de pessoas (brasileiros e turistas de diversas partes do mundo – África, Europa, América do Norte etc.) lotando as ruas e os sambódromos do Brasil por causa do que chamamos “carnaval”. De fato, muitos dão uma grande importância a esse período do ano, os quais descrevem o carnaval como um momento para “se esquecer dos problemas”, para “deixar o stress de lado” ou mesmo para “pegar geral” [com o perdão da expressão] ou “tomar todas” – todas mesmo. Salvador, Recife, Rio de Janeiro, São Paulo... Muito dinheiro gasto (ou seria desperdiçado?) para construir carros alegóricos, produzir fantasias especiais, contratar artistas para várias apresentações durante os dias de “folia”, interditar certos trechos da cidade para que se tornem “circuitos” (nos quais inúmeros trios elétricos passam arrastando os foliões com ou sem seus abadás) etc. Porém, a quarta feira de cinzas sempre chega. Pensar nisso me faz lembrar o poeta Carlos Drummond de Andrade, o qual certa vez escreveu: “E agora, José? A festa acabou”.
Embora em alguns locais do Brasil a festa ainda não tenha acabado de fato (como em Recife e Olinda, por exemplo), quero me deter ao aspecto fundamental das entrelinhas de todo esse “carpe diem” de fevereiro: todo carnaval tem seu fim. No Rio, em São Paulo e em Salvador a festa terminou e, em breve, isso vai acontecer em todo o país. Ora, a vida não é feita somente de “curtição”... O tempo está passando e precisamos aproveitar a vida da melhor forma possível; lembremo-nos de nossa efemeridade.
Uma das músicas mais conhecidas do brasileiro é aquela que diz: “Moro num país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza... Que beleza! Em fevereiro tem carnaval...”. Ainda que nem todo brasileiro seja Flamengo (graças a Deus eu sou Corinthians!), todos nós podemos concordar com parte dessa letra, certo? Verdadeiramente, o Brasil é um país tropical, bonito por natureza e, de múltiplas formas, abençoado por Deus... Mas não é sobre isso que eu quero falar. O que me interessa nesse post é falar das entrelinhas, ou melhor, do que poderia ser considerado o “lado B” do carnaval. Violência, roubos, promiscuidade, hedonismo... Sejam essas coisas aparentemente atraentes ou não, o fato é que tudo aquilo se esconde por trás da música, da estética e da empolgação. Como disse o Rei Salomão determinada vez: “[...] há caminho que para o homem parece direito, mas o seu fim são os caminhos da morte...” – Provérbios 16:25. Talvez muitos, sem perceber, estejam caminhando para a autodestruição.
Em contrapartida, outra música de um grupo chamado Los Hermanos - do qual gosto bastante - (não tão conhecida quanto a anterior) diz o seguinte: "...Todo carnaval tem seu fim [...] Deixa eu brincar de ser feliz, deixa eu pintar o meu nariz..." . Talvez seja exatamente isso que todos os foliões fazem todos os anos: brincar de ser felizes, brincar de desfrutarem de uma vida realmente plena, brincarem de palhaço com seus narizes pintados enquanto correm atrás do trio ou enquanto contam o samba-enredo de sua escola favorita... No entanto, o mais triste dessa história é que esses que "brincam de ser felizes e pintam seus narizes" mal sabem que aquilo que descrevem como felicidade provavelmente é ilusório... Ou, por mais que a "caminhada carnavalesca" (se é que há coerência nessa expressão) faça parte da vida real, ela inevitavelmente produz na mente de seus andarilhos um conceito ilusório sobre si mesmos, sobre a vida e o real sentido dela.
Não posso ver o carnaval e me esquecer do que Salomão (ele tem me inspirado muito esses últimos dias com sua sabedoria) disse no capítulo 2 do livro de Eclesiastes:
"Disse eu no meu coração: Ora vem, eu te provarei com alegria; portanto goza o prazer; mas eis que também isso era vaidade.
Ao riso disse: Está doido; e da alegria: De que serve esta?
Busquei no meu coração como estimular com vinho a minha carne (regendo porém o meu coração com sabedoria), e entregar-me à loucura, até ver o que seria melhor que os filhos dos homens fizessem debaixo do céu durante o número dos dias de sua vida.
[...]
E tudo quanto desejaram os meus olhos não lhes neguei, nem privei o meu coração de alegria alguma; mas o meu coração se alegrou por todo o meu trabalho, e esta foi a minha porção de todo o meu trabalho.
E olhei eu para todas as obras que fizeram as minhas mãos, como também para o trabalho que eu, trabalhando, tinha feito, e eis que tudo era vaidade e aflição de espírito, e que proveito nenhum havia debaixo do sol.
Eclesiastes 2:1-3 e 11
Tudo é correr atrás do vento. Nossos momentos mais felizes, de maior prazer, as horas de maior curtição e festa... No fim das contas, tudo isso é inútil. Paga-se caro por um abadá de um bloco famoso do carnaval de Salvador, paga-se caro para assistir o desfile das escolas de samba do grupo especial do Rio de Janeiro, paga-se ainda mais caro para sair de um país distante a fim de curtir o carnaval brasileiro e tudo o que o carnaval tem pra oferecer [infelizmente, tudo mesmo] - acho que vocês me entenderam... Enfim, no dia seguinte restam somente as lembranças e, quase sempre, a ressaca, a dor de cabeça e, na pior das hipóteses, não sobra nada - pois a morte arrombou a porta e levou tudo embora. Se você está vivo depois de ter curtido o seu carnaval e, por algum motivo, caiu nesse blog, seja grato... Talvez seja essa a melhor oportunidade de você pensar em sua vida e no modus vivendi ideal pra ela.
A Bíblia diz que Deus "...fez o mundo e tudo o que nele existe, sendo Ele Senhor do céus e da terra... Ele é quem dá a todos a vida, a respiração e tudo o mais, fazendo de um só a raça humana para habitar sobra a face de toda a terra, fixando os tempos previamente estabelecidos e os lugares de sua habitação para que os homens buscassem a Deus se, porventura, tateando, o pudessem achar, ainda que Ele não esteja longe de cada um de nós... porque Nele vivemos, nos movemos e existimos, como também disseram alguns dos seus poetas; somos também sua geração..." (Atos 17:24-28). Em Deus nós vivemos. Em Deus nos movemos. Em Deus existimos. Se a sua vida, as suas ações e a sua existência não tem sido nEle, por Ele e para Ele, talvez tudo seja uma pseudo-vida, repleta de pseudo-movimentos consolidando uma pseudo-existência. Só existe vida Nele.
Todo carnaval tem seu fim e o desse ano também terminou.
E a sua vida? E a minha vida? O que estamos fazendo dela? Estamos reduzindo tudo o que Deus nos deu a meros seis dias de folia e noites sem dormir ou temos percebido que viver nEle, por Ele e para Ele trará a real felicidade que todos procuramos muitas vezes em coisas que não podem nos satisfazer?
"Tu nos fizeste para Ti, ó Deus, e os nossos corações jamais encontrarão descanso enquanto não nos voltarmos para Ti", já dizia Agostinho de Hipona. E também Salomão disse: "De tudo o que se tem ouvido, o fim é: teme a Deus e guarda os seus mandamentos, porque esse é o dever de todo homem". Temer a Deus e segui-Lo. Simples assim. Finalmente, deixo o Catecismo Maior de Westminster como conclusão de meu post:
"O fim supremo do homem é glorificar a Deus e desfrutá-Lo plena e eternamente".
Soli Deo Gloria!
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