Em 1973, o psiquiatra Karl Menninger publicou um livro com o provocante título "O que aconteceu com o pecado?"... Seu argumento era que a sociologia e a psicologia estavam evitando termos como “mal”, “imoralidade” e “engano”. Menninger detalhou como a noção teológica do pecado se tornou a ideia jurídica de crime e se afastou mais ainda de seu verdadeiro significado quando foi relegado à categorização psicológica de patologia.
Está na hora de alguém escrever um livro para a igreja entitulado O que aconteceu com o evangelismo?
O argumento seria que nós temos evitado termos como “perdição”, “inferno” e “salvação”. Ele detalharia como a Grande Comissão se tornou a Grande Retórica e finalmente caiu na categorização da Grande Comunidade.
Não seria muito complicado explicar como tudo isso aconteceu. Basta uma simples equação:
Tolerância + Ênfase no Ministério Social = Evangelismo Decadente
Vamos analisar essa equação.
Primeiro, a tolerância.
Não há dúvidas que a tolerância é a suprema virtude de nossa cultura. Especificamente, a tolerância definida como “aceitação” das crenças e estilo de vida das outras pessoas; e definindo aceitação como “igualmente válido”.
Isso vem de uma confusão do que significa a tolerância.
Quando falamos de tolerância, normalmente estamos falando de tolerância social: “Eu te aceito como pessoa”. Ou, às vezes, tolerância legal: “Você tem o direito de crer no que quiser”. Contudo, nós não estamos falando de tolerância intelectual. Isso significaria que todas as ideias são igualmente válidas. Ninguém acredita que as ideias por trás de genocídios, pedofilia, racismo, sexismo ou a rejeição da realidade história do holocausto devam ser toleradas. Mas é precisamente a ideia de tolerância intelectual que temos, de forma descuidada, arrastado para debaixo do dominante mantra da “tolerância”.
O dilema de tal posição, como disse T. S. Eliot corretamente, é que “não é o entusiasmo, mas os dogmas, que diferenciam um cristão de uma sociedade pagã”.
Há também a nossa ênfase no ministério social.
Dentro do que é claramente uma reação à ênfase da geração anterior na moralidade social – causas como aborto e casamento homossexual – os cristãos mais novos (e agora alguns mais velhos também) tem dado ênfase em assuntos de justiça social, incluindo um novo interesse em políticas públicas que tratam de questões relacionadas à paz, saúde e pobreza.
A razão disso não é difícil de imaginar. Poucas épocas da história cristã americana são tão mal vistas quando a Maioridade Moral dos anos 80 e sua tentativa de impor valores cristãos à cultura por meio de manobras políticas. Se tivermos cristãos na Casa Branca, no congresso e a Suprema Corte, ou em outras elites de poder, então a moralidade seria exaltada e a fé novamente acharia o solo fértil necessário para estabelecer morada na vida dos indivíduos.
A maioria moral “venceu” por meio da eleição de Ronald Reagan como presidente, e suas indicações para a Suprema Corte ao longo dos anos 80 trouxeram uma muita expectativa por mudanças substanciais. Mas houve poucas mudanças reais para serem consideradas bons resultados. Mesmo o alvo primário – derrubar a decisão “Roe vs.Wade”, da Suprema Corte, que legalizava o aborto – continua sendo parte das leis atuais.
O que foi alcançado foi separação cultural, e os cristãos se sentindo mais excluídos do que nunca. A “guerra cultural” dos anos 80 e 90 agora é vista como um dos episódios de maior desastre dos últimos tempos, e muitos evangélicos mais jovens não querem nada com o que muitas vezes era o cáustico, abrasivo e grosseiro tratamento que era dispensado àqueles longe de Cristo.
Então qual é o resultado da tolerância acompanhada dessa nova ênfase na justiça social?
Nós vamos comprar os sapatos do Tom, mas não vamos testemunhar para o tom.
Vamos deixar uma coisa clara. O ministério social não deve ser nunca colocado em oposição ao evangelismo. Devemos oferecer o Pão da Vida tanto quanto o pão para o estômago.
Mas nunca devemos começar, e terminar, apenas pensando no estômago.
Eu suspeito que parte disso esteja ligada à nossa necessidade de sermos aceitos pela cultura secular. O escândalo da cruz – e a necessidade desesperada da humanidade por ele – não soa tão bem quando as ações do Bono na África. Nós começamos a fazer algo que é bem visto pela cultura e já nos tornamos como Sally Field ao ganhar o Oscar: “Vocês gostam de mim! Vocês realmente gostam de mim!”.
Olhe para os pobres e famintos, as vítimas do tráfico sexual e os destituídos. Cuide deles, profundamente, e dedique-se a eles em nome de Cristo.
Mas não se esqueça de falar de Cristo a eles.
Uma vez que essa vida acabar, a comida que dermos para seus estômagos não significará nada comparada à comida que poderíamos ter oferecido às suas almas. Quão trágico seria termos compaixão pelas necessidades imediatas dessa vida, mas não pelas necessidades espirituais da vida que há de vir.
Soli Deo Gloria!
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