sexta-feira, 24 de junho de 2016

'Cause I am a "hopeful" wanderer...

Chegou o momento de colocar novas idéias por aqui.

Após um texto bastante lúdico, pretendo hoje voltar ao formato convencional - exposição de um tema, aplicação e algumas considerações finais a respeito. Sem perda de tempo, vamos ao que de fato importa - ou, pelo menos, espero que faça jus a isso

O título dessa postagem se refere a uma canção da banda de folk britânica chamada "Mumford and Sons" chamada "Hopeless Wanderer", cuja tradução seria "Andarilho/Viajante sem esperança". Há algum tempo eu tenho pensado em discorrer sobre algumas reflexões que surgem quando escuto essa música, mas somente agora foi possível. Como em algumas ocasiões anteriores, escolherei alguns trechos da música e buscarei fazer comentários sobre eles.


Andarilho. Desesperança.

Antes de falar propriamente dos trechos, acho importante relembrar as definições das palavras "andarilho" e "desesperança". Andarilho é aquele que "anda, viaja ou passa muito tempo como peregrino ou forasteiro" ou mesmo que "não tem residência fixa" ou "faz da estrada o seu lar". Normalmente, os andarilhos ou viajantes são figuras relacionadas a aventura e a grandes experiências transculturais - de fato, tem um lado muito bom e emocionante em tudo isso. Por outro lado, a "desesperança" nada mais é do que a "falta da esperança" ou, em outros termos, "a desilusão/desconfiança com a perspectiva de um bom futuro". Nesse sentido, vale citar o seguinte trecho da música:

"Hold me first, hold me fast
'Cause I'm a hopeless wanderer..."

Ou

"Me segure logo, me abrace rápido
Pois eu sou um andarilho sem esperanças...".


Nesse trecho, o autor se dirige a alguém não identificado, a quem suplica para que "o segure e o abrace" (e isso rapidamente), pois ele é um "andarilho sem esperanças". Ora, andarilhos normalmente são solitários e, quando eles perdem suas esperanças ao longo de sua jornada, a solidão se torna terrível. Portanto, para expressar essa realidade, o escritor reconhece que precisa de alguém para segurá-lo - o que denota a idéia de queda iminente - e abraçá-lo - o que implica a carência de consolo. Não é possível saber exatamente a quem ele estaria se referindo, mas o fato é que a experiência da canção ocorre na vida real - muitos de nós podem se enxergar como "andarilhos sem esperança" e, seja qual for a alternativa que se busque para resolver essa questão, não há como fugir da realidade de que precisamos de sustento enquanto estamos no caminho bem como de alívio para o cansaço decorrente da peregrinação. Não podemos andar sozinhos. 


Outro trecho da música que acho bastante interessante afirma:

"You heard my voice 
I came out of the woods by choice
Shelter also gave their shade
But in the dark I have no name..."

Que traduzido é:

"Tu ouviste minha voz
Quando eu saí da floresta por escolha própria
O abrigo também deu sua sombra
Mas no escuro eu não tenho nome..."

A cena descrita neste trecho me recorda - ainda que com algumas diferenças - o episódio do Jardim do Éden, quando Deus cria o homem e o coloca no jardim (que Ele mesmo havia criado) para que o homem o guardasse e trabalhasse nele. Na sequência do relato presente na Bíblia, Deus ordenou ao homem que não comesse da árvore do conhecimento do bem e do mal sob risco e pena de morte, porém o homem deliberadamente desobedeceu a Deus - a partir de Eva e com a aprovação de Adão - e, logo em seguida, o homem e a mulher se esconderam Dele após "ouvirem a Sua voz ressoando no jardim" e sentirem medo, visto que agora se envergonhavam de estarem despidos. Em seguida, Deus emitiu suas sentenças contra a serpente (chamada no Novo Testamento de "diabo e satanás"), contra a mulher e contra o homem, de modo que Adão e Eva "saíram da floresta" como resultado da "própria escolha" de rebelarem-se contra o seu Criador - [ver Gênesis 2 e 3].

Ora, com isso não quero dizer que Deus foi "surpreendido" pela situação - Ele permitiu intencionalmente a "Queda" para que, posteriormente, manifestasse a "Redenção" por meio de Jesus Cristo -, mas apenas salientar a total responsabilidade do homem pelo seu pecado de rebelião e impiedade [Romanos 1:18]. Fazendo uma breve alusão ao trecho da música supracitado, posso considerar que Deus "ouviu a nossa voz quando saímos de Seu jardim por causa de nossa própria rebelião", voz que dizia a Ele "não precisamos de Ti", "Tu és um mentiroso", "nós podemos cuidar de nós mesmos sozinhos", "porventura Tu reinarás sobre nós?" ou "queremos fazer o que é certo aos nossos próprios olhos" - no entanto, após sairmos do jardim, não houve abrigo algum para nos dar sombra e, pior do que isso, entramos numa profunda escuridão e nossa verdadeira identidade se deteriorou; ou seja, "na escuridão, nós não temos mais nome", a não ser não o nome de "pecador", banido da glória de Deus e, dessa forma, condenado diante Dele [Romanos 3, vs. 23]


Ainda existe mais um trecho do qual queria falar, no qual se lê:

"So leave that click in my head
And I will remember the words that you said
Left a clouded mind and a heavy heart
But I was sure we could see a new start..."

Isto é:

"Então deixe esse 'click' em minha cabeça
E eu lembrarei das palavras que você disse
Deixada uma mente nublada e um coração pesado
Mas eu estava certo de que poderíamos ver um novo começo..."

Nessa parte da música, percebe-se que o autor pede ao mesmo "alguém" que o deixe "alerta" ou "atento" para que ele possa "se lembrar de todas as palavras que foram ditas" e, mesmo em meio a "pensamentos nebulosos" e a um "peso no coração", ele demonstra estar certo de que um "novo começo" virá. Embora isso seja (de fato) bastante lúdico, irei ser bem prático com o que esse trecho me traz à mente: tendo como base o que foi falado acima, precisamos pedir a Deus para que Ele sempre traga à nossa memória o que realmente somos (no caso, pecadores carentes de Sua glória), uma vez que, como disse o teólogo John Owen [um de meus favoritos], "a tendência do pecado é sempre diminuir a seriedade do pecado". Em outras palavras, quando somos relembrados de nossa condição pecaminosa, estamos mais aptos a nos lembrar das tantas outras "palavras que Deus disse" e, embora essa consciência possa produzir [na verdade, deva] em nossa mente o terror das "nuvens negras da ira de Deus pairando sobre nós com sua tempestade ameaçadora" seguido do peso no coração pelas ofensas a um Deus santíssimo, podemos estar certos de que é possível "ver um novo começo" - novo começo que é melhor denominado de "novo nascimento", pelo qual Deus nos dá vida com Ele, em união com Seu Filho, pela operação eficaz e poderosa do Seu Espírito [ver João 3]. Resumidamente, quando vemos a Deus na pessoa de Jesus, somos salvos, pois a ordem é que "olhemos para Ele, e seremos salvos" [Isaías 45, vs. 22]. 

 

Entretanto, uma pergunta talvez esteja sem resposta: se o título da música é "Hopeless Wanderer", por que o título do texto é "'Cause I am a hopeful wanderer?" Faz sentido ser "hopeful" ou "cheio de esperança"? 

Vamos lá.

Se eu afirmei que, de início, todos nós somos "pecadores carentes de Deus", todos nós devemos saber que somos como "andarilhos sem esperança", pois o "salário do pecado é a morte" [Romanos 6, vs. 23a]. Na verdade, as Escrituras são ainda mais precisas quanto a isso, pois nelas está escrito que "todos nós andamos/andávamos desgarrados como ovelhas, cada um seguindo o seu próprio caminho" [Isaías 53, vs. 6] e que "naquele tempo, nós estávamos sem Cristo, separados da comunidade de Israel, sendo estrangeiros quanto às alianças da promessa, SEM ESPERANÇA e sem Deus no mundo" [Efésios 2, vs. 12]. Isso também me inclui, inclui você que está lendo esse post e também os que nunca passarão por aqui - mas, já que eu estou pensando sobre isso e você chegou a ver esse texto, o primeiro passo a ser dado é reconhecer a desesperança característica dos caminhos que temos trilhado e, então, pedir a Deus que "nos segure e nos abrace rapidamente". Felizmente, apesar de termos feito tudo para merecer somente juízo e furor eternos da parte de Deus, Ele "não nos tratou segundo os nossos pecados, nem nos retribuiu conforme as nossas iniquidades" [Salmo 103, vs. 10] - logo, podemos ouvi-Lo dizer coisas como:

"So when your hope is on fire
[...]
I will call you by name
And I will share your road..."

Ou seja:

"E quando sua esperança está se desfazendo
[...]
Eu te chamarei pelo nome
E te acompanharei pelo seu caminho..."


Isto é, Ele é como um "pastor que chama as suas ovelhas pelo nome, as conduz pelos campos e cuja voz é conhecida por elas, de maneira que estas jamais seguirão uma voz estranha" [ver João 10] - como não ser, então, um "hopeful wanderer"? No mesmo texto se lê que essas ovelhas que ouvem a voz do Pastor recebem dele "a vida eterna, e nunca perecerão, e ninguém as tirará da Sua mão" [vs. 28]. Não há maior esperança que esta, pela qual eu estou seguro na mão Daquele que é fiel no que prometeu, conforme as belas palavras de Martinho Lutero, que disse: "não sei por que caminhos sou conduzido, mas conheço bem o meu Guia".  

Finalmente, essa esperança não se refere primordialmente à convicção de que, embora perdas e sofrimentos sejam parte da vida, Deus nos confortará em todos eles, mas sim quanto à vida futura - a eternidade, como já foi dito, tão desprezada pelos "imediatistas moderninhos" -, pois quando se começa a ser um "hopeful wanderer", o último trecho da música faz sentido, no qual se diz:

"I will learn, I will learn
To love the skies I'm under..."

O que significa:

"Eu aprenderei, eu aprenderei
A amar os céus sob os quais eu estou..."


Amar os céus sob os quais estou ou "que estão sobre mim" [nesse contexto, amar as coisas eternas] - esse amor só pode vir Daquele que habita nos céus, visto que até os demônios crêem que há um único Deus e estremecem por isso, mas eles não se deleitam Nele nem O amam [Tiago 2, vs. 19]. Portanto, quero continuar a minha peregrinação, passo a passo, olhando para o Autor e Consumador de minha fé, sabendo que Ele mesmo é quem me conduz para Si mesmo [1 Pedro 3, vs. 18a].

Mas e você? Já se deu conta de que pode ser um "andarilho sem esperança"?
E, sabendo do risco eminente que você corre diante do julgamento de Deus, ainda pretende ignorar a Cristo e o que Ele fez para que você O contemple e seja salvo?




Pela alegria de ser um "andarilho com esperança",




Soli Deo Gloria!

segunda-feira, 13 de junho de 2016

De memórias sobre graça, paixão e missão...

Não pretendo escrever muito dessa vez
Até porque, em certos momentos,
Falta criatividade ou, por outro lado,
É melhor ser sucinto, bem sucinto -
Ora, já existe muita gente por aí
Que vive de "textão" e de futilidades. 
Quero apenas registrar algumas memórias,
Memórias que devem ser seguramente guardadas.

Inicialmente, o final do semestre - 
Provas enormes, seminários e pesquisa
Além do aprendizado de uma nova língua
Estavam por hora concluídos... Ufa, "c'est fini"!
Eis que, finalmente, era chegada a hora
De começar a andar de "avião em avião".
Primeira parada: a terra dos altos coqueiros
Ou "Manguetown" - a minha "segunda capital",
Como já faz parte da tradição.
E valeu a pena - rever amigos, bem como fazer outros
[Sejam "suaves como a brisa" 
Ou do tipo "99% sarcasmo e aquele 1% empatia" - ah, Olinda!],
Mas, sobretudo e acima de tudo,
Experimentar "mais graça" - para ontem, hoje e sempre.

Horas de espera para se chegar ao destino 
E, quando enfim já se estava a caminho
Uma certa voz fez todo sentido -
"Parece que não vai chegar não, mas vai"... Chegou!
O que estava por vir? Diversão e crescimento,
Desafios e alguns instantes de descanso,
Tensões que nos ensinam a viver,
Incluindo até prática de inglês com "acento holandês"
- Ja, Goedenavond, God is liefde!
Em todas as coisas, graça - favor divino,
Favor que suplanta qualquer demérito,
Pelo qual a Sua justiça foi satisfeita 
E o Seu furor apaziguado,
Tudo para glória do próprio Deus,
Na pessoa de Seu Filho Amado.


Entretanto, a jornada não havia acabado
Pois restava ir um pouco mais longe -
Longe conforme os mapas ou fuso-horários
Porém, perto e bem perto
Para quem "faz da estrada o seu lar".
Deus. Paixão. Missão.
São essas as palavras que definem a aventura
Através das escalas e "pontes aéreas",
Ao longo das paradas de ônibus ou estações de trem,
Com mala na mão, mochila nas costas,
Mas sem ver "de longe o trem partir 
Com o bilhete nas mãos" - foi bom ser pontual!
Em cada instante, era bom ouvir aquele "accento":
- "Siamo in arrivo a Verona Porta Nuova"
Ou "Allontanarsi dalla linea gialla"
De fato, "são as pequenas coisas que valem mais".


Contudo, dentre todas as memórias -
Desde a genialidade do gótico medieval
Até a beleza de campinas e vilarejos,  
Bem como o encanto "delle spiaggie e delle Dolomiti"
As mais valiosas são as mais desprezadas
Visto que para que sejam reconhecidas como "belas"
Se faz preciso "nascer de novo",
Pois todos nascemos "espiritualmente mortos"
E, assim, não vivemos para o fim 
Para o qual fomos criados.
Trocamos o Criador pela criatura
Ou buscamos o Criador em troca de felicidade,
Em vez de nos devotarmos somente a Ele
Reconhecendo-O como a "fonte de águas vivas"
A fim de não mais cavar cisternas rachadas.
Sim, "precisamos ser mais relembrados que ensinados"
- Ajuda-me, ó Deus, a não Te substituir
Por colocar meus olhos em coisas inúteis,
Mas "farmi vivere nelle vie che Tu hai stabilito"


De resto, permanece a convicção
De que, de uma certa maneira,
Existem pessoas que não tem um lar definido.
Elas podem ter nascido aqui ou acolá,
Todavia muitas vezes se percebem sendo parte
De uma terra que não é a sua própria.
É uma espécie de "saudade invertida" -
Coisa de quem "mora em qualquer lugar"
Ou irá "morar em tantas casas que não se lembrará mais".
Na verdade, não é isso o que importa -
Para esse tipo de pessoa,
O que vale é "ter a Presença consigo",
Sem a qual não se pode dar um passo sequer,
Presença que traz descanso ao longo da caminhada,
Posto ser mais preciosa do que qualquer bem
Sendo destino último de todo bom peregrino - amém





Soli Deo Gloria!