quarta-feira, 29 de abril de 2015

Ao menos mais uma vez...

Duas semanas se passaram e, enfim, voltei.

Como tinha publicado no texto anterior, recentemente concluí meu mestrado e, por isso, estive ausente do blog - as correções do trabalho escrito vêm tomando meu tempo nos últimos dias, além de outras atividades... Mas, agora, vou parar um pouco para colocar algumas idéias que estão em minha cabeça há alguns meses - idéias que, finalmente, serão colocadas pra fora.


Sem mais demora, essa publicação tem como base a letra de uma canção da Legião Urbana chamada "Índios", a qual tem uma história interessante - originalmente, a música seria apenas instrumental, porém o Renato Russo (vocalista da banda), no dia da gravação do instrumental, resolveu colocar uma letra na música e, em pouco tempo, escreveu uma de suas composições mais brilhantes em termos de conteúdo, como veremos neste post. Eu poderia analisar toda a letra, mas me restringirei aos trechos que mais me chamam a atenção e que terão relação com o real objetivo deste texto - ao menos mais uma vez, espero que tudo valha a pena. 

Primeiramente, quero destacar este trecho:

"Quem me dera ao menos uma vez 
Explicar o que ninguém consegue entender
O que aconteceu ou ainda está por vir
E que o futuro não é mais como era antigamente..."

Explicar o incompreensível.

O poeta expressa nessa parte da música um desejo audacioso - explicar o que ninguém consegue entender -, ainda que pelo menos uma vez. Hoje, de fato, vivemos e experimentamos uma "babel" diária: não entendemos a nós mesmos, não entendemos uns aos outros e não entendemos o que acontece ao redor. Por isso, provavelmente seria um alívio ter a explicação daquilo que nos parece (ou realmente é) incompreensível, especialmente as razões segundo as quais as coisas são como são hoje - isto é, o que aconteceu no passado - e o que nos espera no futuro - ou seja, o que está por vir -, mesmo que "o futuro não seja mais como era antigamente", segundo a própria canção. Nesse sentido, vale dizer que "o futuro não é mais como era antigamente" particularmente quanto ao que as pessoas esperam dele - ora, todos fogem da dor, das perdas, do sofrimento, das frustrações pessoais e de qualquer circunstância ou situação contrária às suas vontades e caprichos. Mais do que isso, todos querem ser "senhores de seus próprios futuros" e, em tudo isso, têm desejos bastante opostos aos de muitos que viveram nos séculos anteriores, especialmente quando o assunto é Deus - antes, era comum levarmos Ele a sério, sermos "educados para irmos ao céu" ou enxergarmos a Ele como padrão de todas as estâncias da vida; hoje, Ele é aquele de Quem quase todos fogem a todo custo, de Quem blasfemam abertamente, de Quem zombam descaradamente e a Quem excluem radicalmente das suas vidas. O futuro não é mais como era antigamente porque o Senhor do passado, do presente e do futuro foi esquecido pelas Suas próprias criaturas, embora Ele tenha posto "...o anseio pela eternidade no coração do homem, embora ele não entenda a obra de Deus desde o início até o fim" [Eclesiastes 3, vs. 14]. 


Outro trecho interessante da música diz:

"Quem me dera ao menos uma vez
Provar que quem tem mais do que precisa ter
Quase sempre se convence de que não tem o bastante..."

Nunca ter o bastante.

Insatisfação é o estigma de nossa sociedade. Em suma, quanto mais as pessoas conquistam coisas, elas exigem mais; quanto mais "direitos" elas alcançam e mais "espaços" elas ocupam, mais elas arrogam para si o status de "oprimidas pelo sistema". Por um lado, eu tenho andado saturado (melhor, supersaturado, cansado, fatigado) de todo esse "coitadismo" travestido de "busca por igualdade", uma vez que se você apenas respirar, você pode estar "oprimindo" alguém que não "respirou o mesmo ar" que você... Ah, está na hora de crescer e parar de chilique. 

Porém, voltando à idéia da estrofe, deve-se ressaltar que "os que se convencem de que não têm o bastante" são aqueles que já "têm mais do que precisam ter", seja o que for - mais dinheiro, mais prestígio social, mais poder político, mais controle da formação intelectual e da informação ou mais "autoridade espiritual", por exemplo. Mas, como bem disse o rei Salomão, "...Todo o trabalho do homem é para a sua boca, contudo a sua cobiça nunca se satisfaz" [Eclesiastes 6:7], e ainda o sábio Agur "...Duas filhas têm a sanguessuga: 'me dá, me dá', gritam elas. Há três coisas que nunca estão satisfeitas, e quatro que nunca dizem: é o bastante" [Provérbios 30:15]. Não há outra conclusão: vivemos como se fôssemos o centro do mundo e a razão de ser das coisas ou, em outras palavras, "o nosso deus é o nosso ventre" - logo, é um "deus" que não é o Deus Único e, assim, somos nossos próprios ídolos. Contra isso, ressoa com voz forte o primeiro dos Dez Mandamentos: não terás outros deuses diante de Mim [Êxodo 20:3]. 


Indo adiante na letra, podemos ver mais uma estrofe:

"Quem me dera ao menos uma vez
Que o mais simples fosse visto como o mais importante
Mas nos deram espelhos e vimos um mundo doente..."

Espelhos que mostram um mundo doente.

Ao pensar nessa parte da canção, penso na realidade da humanidade poetizada de maneira genial pelo autor - nos deram espelhos e vimos um mundo doente. Ora, os espelhos servem para mostrar a nossa imagem; logo, se é por meio de espelhos que vemos um mundo doente, a "doença do mundo" sou eu e você. É melhor você ir se acostumando com isso - esse não é um blog de autoajuda, nem de cultivo de auto-estima. Não estou aqui para adular o seu ego (e nem também o meu) e, portanto, é preciso que você, que eu e que todos os leitores deste blog entendam, de uma vez por todas, que "se o mundo ainda é mau, o culpado está diante do espelho" - pare de culpar "o sistema capitalista opressor", "a religião fundamentalista", a "família tradicional", o "machismo cis-hetero-patriarcal" ou a falta de "democracia popular participativa"... Na verdade, A "CULPA" É MINHA, A "CULPA" É SUA, A "CULPA" É NOSSA. Somos especialistas em colocar em prática o "complexo do Éden": "não, Deus, a culpa foi da mulher que Tu me deste", disse Adão, ou "a serpente me enganou, e eu comi", replicou Eva. Todos se eximem da sua responsabilidade quanto à maldade do mundo em que vivem, colocando a culpa em qualquer outro "bode expiatório", por assim dizer - enquanto que, no fim das contas, a causa principal de toda a destruição e maldade que vemos é tão-somente o pecado, o nosso pecado, a nossa rebeldia contra o Criador. 

Os espelhos não mentem, pois quando olhamos para eles vemos o nosso real reflexo - do mesmo modo, temos um espelho que comprova que somos indesculpáveis quanto ao caos em que nos encontramos - ora, está escrito que "...todos estão debaixo do pecado...", que "não há nenhum justo, ninguém que faça o bem ou que busque a Deus...", que "...pelo pecado a morte entrou no mundo..." e que "todos pecaram, e separados estão da glória de Deus" [Romanos 3:9-11, 5:12 e 3:23, respectivamente]. Não há como escapar do veredicto divino, pois "seja sempre Deus verdadeiro, e todo homem mentiroso" [Romanos 3:4]. 


Para a nossa surpresa, a letra da canção ainda nos reserva coisas como essa:

"Quem me dera ao menos uma vez
Entender como um só Deus ao mesmo tempo é três
E esse mesmo Deus foi morto por vocês
É só maldade então deixar um Deus tão triste..."

Um só Deus que ao mesmo tempo é três.

Talvez não exista nada tão explicitamente "cristão" na música brasileira do que estes versos - o autor fala abertamente da doutrina da Trindade, fundamento tanto da fé católica quanto da fé reformada ou protestante e, além disso, fala de um "Deus que foi morto por vocês" e que se entristece. Não entrarei no mérito da idéia de "Trindade", visto que ser "três e um ao mesmo tempo" só faz sentido quando se trata de Deus, o qual está acima de nossa compreensão e, por isso, é chamado "Deus". Porém, o que me deixa curiosamente intrigado nesta parte da música é a afirmação de que "esse mesmo Deus, que é três em um, foi morto por vocês" - ou seja, essa referência é diretamente a Jesus Cristo, o Deus que foi morto em favor dos homens e, ao mesmo tempo, morto pelas mãos de homens

Em outras palavras, a tristeza que o Deus Pai experimentou ao ver o Seu Filho carregando sobre Seus ombros o peso dos pecados dos homens (bem como pela própria zombaria de alguns no momento da morte de Jesus) não O impediu de dar Jesus Cristo para morrer por eles, em favor deles. Na verdade, as Escrituras dizem que Jesus foi "...entregue conforme o propósito determinado e o pré-conhecimento de Deus; e vocês, com a ajuda de homens perversos, O mataram e O levaram à cruz" [Atos dos apóstolos, cap. 2, vs. 23] e que "...Ele é o cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo..." [Apocalipse 13:8]. Deus havia planejado tudo; nada saiu de Seu desígnio original. Enquanto homens maus matavam o homem Jesus Cristo, pensando que estavam se "livrando" de um problema político e religioso, eles estavam simplesmente cumprindo o plano Daquele que havia enviado Jesus Cristo do céu para o mundo, a fim de que Ele salvasse todos aqueles que Nele cressem.


Finalmente, a última parte da canção que queria destacar é:

"Eu quis o perigo e até sangrei sozinho...
Entenda: assim pude trazer você de volta pra mim..."

Querer o perigo e sangrar sozinho.

Certamente não deve ter sido a intenção do poeta, mas essa frase é pitorescamente relacionada com o Evangelho, pois ela fala de alguém que "quis o perigo e sangrou sozinho" a ponto de trazer alguém de volta para si. Se existe alguém que "quis o perigo e até sangrou sozinho" foi o santo Filho de Deus - Ele mesmo disse que "todos o abandonariam, para que se cumprisse a profecia que dizia: ferirei o Pastor, e as ovelhas se dispersarão..." e, na hora de maior desespero, Ele gritou "...Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?". Ele soube o que é ser abandonado pelos Seus amigos mais próximos e, pior ainda, sentiu [mesmo que por um breve instante] o abandono do Seu Pai, Aquele que sempre havia estado com Ele, desde a eternidade. No entanto, o Filho de Deus quis tudo isso - Ele mesmo disse que havia "vindo para essa hora", hora na qual Sua alma se entristeceu até a morte, a ponto Dele suar gotas de sangue.

Mas não parou aí - Ele não apenas suou sangue, Ele foi açoitado severamente, recebeu uma coroa de espinhos que furou Sua cabeça e foi pregado numa cruz, de forma que Seu sangue foi derramado até que morresse... E, mesmo depois de morto, alguém "enfiou uma espada em seu lado e dali saiu sangue e água" [João 19, vs. 34]. E qual a razão de tanto sofrimento? Trazer-nos de volta para Ele, pois está escrito que "Ele atrairia todos para Si mesmo quando fosse levantado da terra" [João 12, vs. 30], que "pela Sua morte, de uma vez por todas, os homens podem ser reconduzidos a Deus" [1 Pedro 3, vs. 18], que "Ele (que não conheceu pecado, que não cometeu pecado) foi feito pecado por nós a fim de que fôssemos feitos justiça de Deus" [2 Coríntios 5:21] e, sobretudo, que "muito mais agora, sendo justificados pelo Seu sangue, seremos por Ele salvos da ira de Deus" [Romanos 5, vs. 9].  Sim, Jesus é aquele que quis sangrar sozinho para que pudéssemos ser trazidos de volta para Ele, que nos fez para Sua glória e, desse modo, para que tivéssemos eterna alegria.


E você? 

Já entendeu que não é o "senhor do seu futuro" e que precisa se voltar para Aquele que de fato tem todo o poder?
Já reconheceu que precisa deixar de querer mais do que você precisa ter, visto que você não é o centro do mundo?
Já enxergou que, se existe maldade à sua volta, a culpa também é sua?
Já percebeu que "o Deus que é três em um" morreu por aqueles que não mereciam Sua bondade e misericórdia, a ponto de "sangrar sozinho" para que pudéssemos ser reconciliados com Ele?

Olhe para o Deus encarnado em Jesus Cristo, olhe até que você possa vê-Lo sangrando sozinho por amor a você. E, se você vê-Lo, vá depressa até Ele - ao menos mais uma vez, considere esse convite, pois é o convite que definirá toda a sua eternidade.






Pela alegria de ter sido trazido de volta para Ele,






Soli Deo Gloria!

quarta-feira, 15 de abril de 2015

A arte de viver da fé...

Eis-me de volta, após uma ausência necessária.

Nesse meio tempo, desde o 1º de abril e o último post, algumas coisas aconteceram - desde a conclusão de meu mestrado até encontros inusitados pelo campus, onde línguas e culturas se misturaram (africanos e latinoamericanos, em meio a diálogos em francês e espanhol, incluindo até inglês, italiano e alemão) - e, em meio a novidades boas e algumas indignações recorrentes, ideias fervilharam na mente. 

É hora de "vir e jogar tudo pra fora".


O título deste texto foi inspirado num pequeno trecho da canção "Alagados", do grupo Os Paralamas do Sucesso - a qual fala sobre o cotidiano tendo como pano de fundo a Cidade do Rio de Janeiro, visto que na letra se fala da cidade "que tem braços abertos num cartão postal" e da "favela da Maré" - , onde se lê:

"Mas a arte é de viver da fé 
Só não se sabe fé em quê..." [Alagados - Os Paralamas do Sucesso]

Arte de viver.

Quando vejo essa frase, a primeira coisa que vem à minha mente é a velha dúvida: "a arte imita a vida ou a vida imita a arte"? Ao longo de muitos séculos, aqueles que se dedicam a esse tipo de indagação ou busca intelectual provavelmente não conseguiram ter uma resposta clara sobre esse impasse, embora eu, na minha limitação e subjetividade, defenda que "a arte imita a vida" ou "reflete a vida que se vive" - ora, basta estudarmos um pouco de história da arte que perceberemos que a arte antiga ou clássica era repleta de impressões da vida religiosa e cultural da época (como no Egito e na Grécia), assim como na Idade Média (mediante a admirável arte bizantina, a imponente [e preferida] arte gótica, dentre outras manifestações) e na Idade Moderna (com a beleza dos movimentos renascentista e barroco) e, mais recentemente, expressando uma certa "antirreligiosidade" ou o abandono da beleza e a busca pela "transgressão", o que é um reflexo fiel da desilusão e do caos da sociedade pós-moderna. Mas, por outro lado, a declaração "arte de viver" é bem mais abrangente e "filosófica", pois leva em conta que viver normalmente envolve talento e habilidade, a busca pela beleza (ou não), a necessidade de satisfação e realização e, de uma forma ou de outra, requer espiritualidade - seja de que maneira for. Em suma, basta olhar um pouco ao redor para se reconhecer que é necessário ter o "know how" da vida ou, como disse o poeta na canção, ter a "arte de viver"; caso contrário, a vida será, no máximo, uma sobrevida, um fardo, algo vão e insípido.


Viver da fé.

Fé - eis uma palavra controversa em nossos dias. Todos os seres humanos, de uma maneira ou de outra, têm "fé" - ao menos no sentido de "boa expectativa" ou "pensamento positivo" para o futuro. Dentre esses, existem aqueles que tem uma "fé" mais transcendente", por assim dizer [por exemplo, em algo superior, um princípio maior, uma energia que permeia as coisas ao redor etc.] e, assim, procuram desenvolver a si mesmos e alimentar essa fé pela relação com essas coisas. Além disso, outros apresentam uma fé mais dogmática ou legalista [onde normas, ditames, "revelações sobrenaturais" ou determinados "escritos sagrados" são recebidos como "verdades inquestionáveis" por aqueles que nelas acreditam]. Certamente não é possível escrever sobre isso num breve texto como esse mas, no fim das contas, algo precisa ser esclarecido, doa em quem doer: a questão não é ter fé (como é unanimidade por aí afora), mas sim em quê/em quem essa fé é depositada. Ou seja, falar em "viver da fé" é algo muito sério, de modo que essa suposta fé não deve ser direcionada a algo frágil e inconstante e, pior do que isso, a algo enganoso e/ou ilusório

Na verdade, numa sociedade em que se fala muito sobre "ter fé no futuro", "fé para superar as dificuldades", "fé para atingir objetivos", "fé para lutar por uma causa" [seja ela justa ou não], o que se vê é que, como a música citada acima prescreve, a maioria de nós entra no esquema da "arte de viver da fé, só não se sabe fé em quê" - ora, se as pessoas nem sabem mais dizer quem elas são [uma vez que tudo é ensinado como sendo uma "construção social" e, por isso, é algo retrógrado e opressor], como elas poderiam ter capacidade de saber por si mesmas onde colocar a fé que elas (supostamente) têm? Na melhor das hipóteses, pode-se considerar que as pessoas possuem certa "sinceridade" quando o assunto é fé, mas isso não basta - é necessário mais do que saber em que/em quem se deve crer, mas também crer com uma fé que seja digna do objeto/alvo dessa fé. E, sinto lhe informar, isso é impossível para qualquer um de nós.


Mas talvez você pense: que atrevimento é esse?
Como você pode dizer que é impossível para mim "crer na coisa certa" e de maneira digna dessa "coisa"?

Sim, é impossível pra você, é impossível para mim, é impossível para qualquer um. 

Sempre que reflito sobre isso, recordo de uma passagem um tanto aterrorizante do Novo Testamento, registrada pelo apóstolo Tiago, que diz:

Tu crês que há um só Deus? Fazes bem! Até os demônios crêem e estremecem. 
[Tiago 2:19]

A única maneira de entender o texto é essa: somente "ter fé" não vale nada, "ter fé" num "deus" produzido por minha própria mente é ainda pior e, a depender da situação, crer no Deus verdadeiro não basta, pois os demônios também crêem e [diferentemente dos seres humanos, que acham que podem zombar de Deus, que desacreditam Dele de maneira descarada e insolente, que blasfemam Dele e de Sua palavra, que escarnecem de Seu Filho Jesus Cristo e que, finalmente, vivem no pecado como se Deus não se importasse com suas iniquidades - ora, Deus é um delírio, não é?] estremecem. Em outras palavras, os demônios, sob certo ponto de vista, estão em "melhor condição" que a maioria dos seres humanos [embora não tenham mais esperança de redenção], pois aqueles fazem o que todos nós deveríamos fazer - crer em Deus e tremer na Sua santa presença. Na prática, se qualquer um de nós apenas têm uma fé "intelectual" e que não seja refletida em amor, devoção e obediência [ainda que seja no Deus Único e Verdadeiro, como disse Tiago], isso não é suficiente, pois essa fé deve ser aceitável diante daquele em Quem se crê e, nesse caso, Ele só aceita ser alvo da fé que provém de Si mesmo


Dessa maneira, todos nós só poderemos sair de um patamar análogo ao dos demônios [que crêem em Deus, estremecem diante Dele mas, mesmo assim, O odeiam e, por isso, já estão condenados por Deus] se Ele nos conceder uma fé que Lhe é agradável - e isso é graça divina. Lemos nas Escrituras que a "fé é um dom de Deus", que ela "vem pelo ouvir, e o ouvir pela Palavra de Deus" e que "ninguém pode receber coisa alguma, se lhe não for dada do céu" - isto é, se Deus não concede essa fé, nenhum de nós pode produzi-la sozinho, por si mesmo. Eu sei que o nosso orgulho é quebrado em pedaços quando consideramos essas coisas, mas é como li certa vez numa frase: "a verdade irá te libertar, mas antes disso ela irá te enfurecer". Resumidamente, toda vez que nos deparamos com coisas que incomodam nossa mente e nossa alma, particularmente quando o assunto é Deus, duas coisas sempre andam juntas - a nossa incapacidade de fazer qualquer coisa a nosso próprio favor e a responsabilidade que temos de recorrer Àquele que pode fazer por nós o que ninguém mais é capaz de fazer


Finalmente, "a arte de viver da fé" só será "arte de viver" [viver de fato, viver sem iludir a si mesmo] caso a fé que tivermos esteja no lugar certo - isto é, Deus - e, além disso, ser uma fé digna de quem Ele é [ora, não estamos falando de uma namorada, nem do professor intelectual da faculdade (cada vez mais militante e menos acadêmico!) nem mesmo de um político honesto (ô coisa rara!), mas de Deus]. Ora, em outro trecho das Escrituras pode-se ler a declaração audaciosa do "...vivemos pela fé, e não pelo que vemos..." - o que denota que é a fé que traz sentido à vida, fé em Deus, que veio Dele e que deve ser devolvida a Ele em amor e obediência. Todo aquele que pratica "a arte de viver da fé" (mas sabendo em quem se crê) sabe que não deve colocar sua mente e seu coração naquilo que se vê (e que é passageiro), mas sim no que é eterno (mas que ainda não é possível enxergar). Enfim, quem vive pela fé está ciente de que a aparência do mundo passa e, portanto, é apenas um "peregrino em terra estranha", alguém que sabe a Quem pertence e que aguarda o seu Lar.

E você? 
Sua "fé" é em si mesmo, num "deus" idealizado por sua cabeça ou não ultrapassa a "crença" de um demônio - que crê e treme -, visto que você zomba e blasfema de Deus em vez de temer a Ele?


Mas, se você reconheceu que precisa da fé que só Deus pode dar, vá a Ele agora mesmo, suplicando Sua ajuda, pedindo a Ele para te dar essa fé aceitável e genuína (a fé no Filho de Deus, morto pelos nossos pecados e que está vivo), pois "Ele não está longe de cada um de nós" ou, como disse um poeta, "a fé 'ta na vida" - ou, em outras palavras, a fé me reconduz à Vida.






Pela alegria de viver pela fé Nele,





Soli Deo Gloria!