sábado, 31 de maio de 2014

Ser ou não ser... eis a questão?

Maio já está no final. E eu estou de volta. 

Enquanto todo o mundo (de certa maneira) espera pelo início do maior evento esportivo do futebol - a Copa do Mundo, que começa daqui a duas semanas em São Paulo, com a estreia da Seleção Brasileira na Arena Corinthians - , eu continuo tendo um ou outro "insight" aqui e ali. E, como sempre, eu preciso colocar pra fora.


Ser ou não ser.

Essa era a "questão" célebre da obra "Hamlet", escrita pelo ilustre escritor William Shakespeare. Embora eu não recorde detalhes, acredito que o paradoxo "ser ou não ser" inquieta o ser humano desde tempos remotos da história. De fato, mesmo que os últimos tempos estejam sendo caracterizados pelo "ter ou não ter, eis a questão", no fim das contas a busca (ou anseio) primordial de cada ser humano está mais ligada à sua essência do que a qualquer outra coisa. 

Ser... Mas ser o quê? Quem?


Primeiramente, todos nós já somos alguma coisa - ora, já nascemos e estamos aqui. Cada um tem um nome, um tipo físico, uma família, gostos pessoais, habilidades, desejos, defeitos, frustrações, crenças e princípios. Mesmo que, neste sentido, todos nós já "sejamos" algo, a insegurança pessoal ou mesmo a crise de identidade continua sendo a "trademark" do século. Somos eternos insatisfeitos - mudamos a aparência, mudamos de emprego, mudamos de universidade ou de curso superior, mudamos de escola, terminamos e começamos novos relacionamentos, mudamos os nossos amigos, mudamos de igreja ou de religião e, ironicamente, nada muda debaixo do sol. Sempre estamos à procura de novidades que possam nos dar essa "convicção de identidade" mas, obviamente, não resolvemos o problema. Permanecemos descontentes com tudo e todos pois, não percebemos que em vez de irmos atrás de coisas que nos ajudem a "ser", devemos estar seguros de quem já somos para priorizarmos as coisas certas. 

Não ser... Não ser?


"Não" é uma palavra incômoda. Só usamos o "não" quando nos é conveniente. Por exemplo, não gostamos de ser incomodados quando estamos sozinhos em casa tranquilos, não queremos tirar notas ruins nas atividades da escola ou faculdade ou não queremos namorar alguém que nos confronte quanto a nossos defeitos - porém, nem todos os "nãos" são apreciáveis a nossos olhos. Cada "não" que ouvimos de nossos pais quando éramos crianças, o "não" daquela pessoa que despertou seu interesse, o "não" ser aprovado no vestibular desejado - isto é, os "nãos" podem ter causado muitas lágrimas a cada um de nós, mas todos eles são necessários. Em suma, a ilustre questão de Hamlet - "be or not to be" - me faz pensar que a nossa mais profunda necessidade é saber quem de fato somos (logo, quem também não somos) para saber o que precisamos ser (portanto, o que precisamos "não ser"). 

Quanto a isso, queria mencionar um trecho curto de uma passagem bíblica, onde se lê:

"Pela graça de Deus, sou o que sou..." [1 epístola aos Coríntios, cap. 15, vs. 10a]


O escritor bíblico afirma, de maneira indubitável, que o que ele é vem da graça de Deus. Ele fala de todo o seu trabalho e, mesmo assim, se considerava o menos importante dentre todos os que trabalhavam na mesma missão que ele, declarando que tudo o que ele fez foi resultado da graça de Deus nele. Ou seja, se consideramos as Escrituras como verdadeiras ou divinamente inspiradas, não há meio-termo ou segunda opção - não somos nada e, se somos alguma coisa (seja lá o que for), é pela graça de Deus. Não há qualquer margem para vanglória, autopromoção ou autoengrandecimento; o homem é nada e Deus é tudo. Eu não sou nada e, caso eu seja alguma coisa, isso é dom, dádiva, pura graça da parte de um Deus que faz tudo livremente sem compromisso com nada ou com ninguém, a não ser com Sua própria glória e conforme Sua vontade. 


Além disso, Hamlet me fez lembrar de uma canção recente de uma de minhas bandas de rock favoritas, que diz:

Por que quero e tento ser o que não sou
Se Aquele que é abriu mão de "ser" e se fez o menor? [Não ser - Oficina G3]

O poeta questiona a si mesmo sobre a ávida e desenfreada busca do homem por "máscaras" de grandeza e de glamour [tentar ser o que não se é] em contraste com a atitude do próprio Jesus Cristo que, quando esteve neste mundo, "não se apegou ao fato de ser Deus mesmo sendo Deus, esvaziando-se e assumindo a forma de homem, humilhando-se à forma de escravo e sendo obediente até a morte, e morte de cruz". Não importa o ambiente - religioso ou não, moralista ou não, politicamente correto ou não -, todos nós somos seduzidos por "parecer" o que não somos na realidade, pois isso impressiona os outros e infla o nosso orgulho. Amamos nos exibir em nossa "espiritualidade artificial e fajuta", somos sempre prontos a negar a corrupção furiosa de nosso coração mas, do outro lado, está Cristo - sim, o Verbo que é Deus, por meio de Quem o universo foi feito, em Quem tudo se sustenta e para Quem tudo foi criado está ali, humilde e manso, chamando os pecadores (religiosos ou não) para renunciarem a si mesmos e à própria vaidade para aprenderem Dele. Logo, por querer e tentar muitas vezes ser o que não sou, devo me arrepender e, então, abrir mão de "ser alguma coisa" para "ser", dessa maneira, mais parecido com Aquele que é. 


Então... Qual é a questão?
   
A questão primordial não consiste no que "eu sou" ou "não sou" nem mesmo se eu devo "ser" ou "não ser". Antes de tudo, Deus é - independentemente do que eu pense sobre Ele ou mesmo se eu nem pensar Nele, Ele continua sendo. Certos poetas gregos da Antiguidade diziam que "somos descendência Dele" e que, por isso, vivemos e nos movemos Nele. Na verdade, a humanidade está em busca da coisa errada - todos querem se promover ou se engrandecer, querem montar altares para si mesmos (ou palcos, em alguns casos) para serem adorados [inclusive aqueles que dizem ser "servos" de Jesus Cristo] e vivem para a própria fama

No entanto, se nenhum de nós é Deus (ou melhor, se Ele é totalmente distinto de nós, separado, elevado e incomparável), o que devemos fazer é promover a "fama" Dele ou viver para o "renome" Dele, pois está escrito que "em Teu nome e em Tua memória está o desejo de nossa alma, pois esperamos em Ti ao andar pelo caminho dos Teus juízos". Eu não preciso ser quem eu não sou e nem preciso deixar de ser o que já sou por causa dos outros nem por causa de mim mesmo - eu preciso tão-somente que a graça de Deus, pela qual já sou o que sou, faça com que eu seja mais semelhante a Ele. Ao invés de viver na crise de "querer parecer" ou ainda de "tentar ser" o que os outros esperam que eu seja, eu vou "procurar a Paz que não se encontra em mim" , pois a plenitude de vida "não se pode achar em alguém como eu". 


Quem você é (ou não é)? Quem você tem buscado ser (ou não ser)? 
Você já entendeu que a questão é que Ele é tudo e você não é nada? 





Pela alegria de ser tudo o que preciso ser Nele,




Soli Deo Gloria!

sexta-feira, 23 de maio de 2014

Soli Ecclesia Gloria?

Demorei um pouco menos, mas voltei.

Mas não pense que a indignação se apaziguou - na verdade, eu não tenho mais esperança de que, finalmente, não terei mais motivos para me revoltar. Depois dos "50 tons de incoerência" da semana passada, vamos aos novos turbilhões que precisam sair pelas comportas abertas de minha mente. Enfim, que a serenidade coexista com o zelo pela verdade. 


O tema de hoje é uma adaptação de um dos 5 lemas que nortearam/caracterizam o pensamento cristão formado na época da Reforma Protestante, cuja versão original dá título a este blog - o que chamamos "Soli Deo Gloria", que traduzido é "somente a Deus seja a glória". 

Mas não é essa a realidade regente da vida humana. 

Em suma, tudo o que os homens mais ignoram é a glória de Deus e o que mais odeiam é lidar com o fato de que a glória pertence apenas a Ele. E, pra variar, mais uma vez o meu foco nesta postagem é denunciar que, onde se deveria buscar enaltecer a glória de Deus com todo o zelo, amor e alegria, muitas vezes, é onde esta glória é mais negada ou mesmo substituída por outras "falsas glórias". Bem, hoje eu quero denunciar o "Soli Ecclesia Gloria" - o que seria, resumidamente, "somente à igreja seja a glória". 


Primeiramente, quero esclarecer algo: eu acredito na igreja como instituição estabelecida por Jesus Cristo, o Filho de Deus, e também como um organismo vivo, pelo qual Deus e o Seu reino se manifestam no mundo.  

A Bíblia diz que a Igreja é Dele e que Ele mesmo a edificaria, que é por meio da Igreja (como comunidade dos seguidores de Jesus) que a multiforme sabedoria de Deus é tornada conhecida e que ela é a coluna e baluarte da verdade. Eu amo a Igreja de Jesus Cristo. Ela é descrita como a noiva imaculada do Filho de Deus, aquela que Ele mesmo comprou pelo Seu sangue e a purificou por meio da Sua Palavra. Logo, se eu não amo o que Ele mesmo estabeleceu, eu não posso me considerar um seguidor verdadeiro Dele. 

Por outro lado, devido às próprias contradições humanas (as quais também resultam, em certa medida, da nossa condição caída e corrupta devido ao pecado), existem várias "igrejas", "denominações", "religiões" e "seitas". Tem para todos os gostos: carismáticas, tradicionais, independentes, reformadas, pentecostais, neopentecostais, hexacostais (the zwera never ends), sociedades secretas, naturalistas, liberais etc. Talvez você possa até inventar a sua própria "igreja"! Mas, apesar das minhas ironias, o que tem me indignado é ver que, em nome de um "pretenso zelo" por doutrinas e correntes teológicas, temos pisado em verdades profundas que as próprias Escrituras (que julgamos, por certo, estar obedecendo) nos mostram claramente. Como diz certo poeta, "a morte se esconde atrás dos templos". 


A denúncia deste post se baseia nas afirmações feitas pelo Apóstolo Paulo, assim registradas nos escritos do Novo Testamento:

Mas Deus estruturou o corpo dando maior honra aos membros que dela tinham falta, a fim de que não haja divisão no corpo, mas, sim, que todos os membros tenham igual cuidado uns pelos outros. [...]
Ora, vocês são o corpo de Cristo, e cada um de vocês, individualmente, é membro desse corpo. [1 Coríntios 12:24-25, 27]

O conhecimento traz orgulho, mas o amor edifica.
Quem pensa conhecer alguma coisa, ainda não conhece como deveria. Mas, se alguém ama a Deus, este é conhecido por Ele. [1 Coríntios 8:1-3]

Por isso, pela graça que me foi dada digo a todos vocês: ninguém tenha de si mesmo um conceito mais elevado do que deve ter; mas, ao contrário, tenha um conceito equilibrado, de acordo com a medida da fé que Deus lhe concedeu. [Romanos 12:3]


Paulo, nos outros versículos presentes nos textos mencionados, mostra que, assim como num corpo há muitos membros, os quais são diferentes entre si, assim é com respeito a Cristo e ao Seu corpo, à Igreja. Essa babaquice de "uniformidade", onde todos devem ser "iguais a todo mundo", onde se "é proibido pensar", em que reina a "espiritualidade Gabriela" e todos são forçados a ser "Maria vai com as outras" não é o modelo bíblico de Igreja. Obviamente, o fundamento deve ser apenas um, e este já está estabelecido - Jesus Cristo. No entanto, é exatamente pelo fato do fundamento ser Cristo (o Deus de toda a graça, da graça multiforme) que devemos reconhecer que haverá diversidade entre os que seguem a EleSim, Cristo não está onde há desvio da verdade e negação das Escrituras, contudo a mensagem dada aqui é para que todos tenham IGUAL cuidado uns dos outros, que não haja divisão no corpo, que cada um não se considere superior ao seu próximo e que Deus conhece os que O amam, e não os que julgam saber demais sobre Ele. 

O maior mandamento sempre será o "amar a Deus" e não simplesmente o "saber coisas sobre Ele". Quando eu conheço sobre Deus e não passo a amá-Lo de todo o coração, alma, entendimento e forças, o meu conhecimento não me diferencia em nada de um demônio, pois "até os demônios creem que há um só Deus, e estremecem".


Glória seja dada à igreja... À minha, de preferência. 

Nunca se viu tantas "guerras frias religiosas" como nos dias atuais, particularmente entre os arraiais "cristãos". Católicos tradicionais x católicos carismáticos, fundamentalistas x liberais, reformados x neopentecostais - sim, hoje tem guerra e amanhã também! - configuram disputas acirradas por influência, por "autolegitimação" ou tão-somente para não perderem "debates". Sabe de uma, eu estou cansado dessas coisas! Sim, embora eu ame a teologia reformada e tenha críticas severas e implacáveis contra certos aspectos do liberalismo e do neopentecostalismo, o fato de eu julgar mais coerência em uma determinada corrente teológica não me dá o direito de buscar "ter a razão" quanto a todo e qualquer aspecto da vida, pois as "teologias" são também construções humanas e, por isso, são imperfeitas [por mais que algumas sejam esdrúxulas e outras sejam inspiradoras]. 

Minha esperança está no que o mesmo Paulo diz: quando vier o que é perfeito, então o que o é em parte será aniquilado. Chegará o dia em que nossas "percepções parciais" sobre Deus e tudo o que diz repeito a Ele serão extintas. Não haverá mais "denominações" ou "segmentos", "teologias históricas" ou "teologias modernas" - todas essas construções intelectuais serão desnecessárias e vãs, pois o Deus verdadeiro, a quem devemos tudo o que temos e somos, Aquele em quem vivemos, nos movemos e existimos, para Quem são todas as coisas e por Quem todas elas vieram a existir, se mostrará plenamente glorioso e belo para aqueles a quem Ele resgatou para Si mesmo. Ele será o bastante. 


Mas, por enquanto, o "narcisismo teológico" vigora. Infelizmente.

Ultimamente, estamos nos tornando cada vez mais idólatras disfarçados - seja pela veneração cega e estúpida para com os "falsos ungidos do Senhor" com suas "patriarcagens apostólicas", seja pelo apego inquestionável a teologias humanas (ainda que muito valiosas, mas ainda humanas e incompletas). Eu não quero ser um "narcisista teológico" com aparência de piedoso e zeloso (Deus me livre disso), pois Cristo não me dá nenhuma autorização para ser alguma coisa além de Seu discípulo, Seu escravo, Seu imitador. Logo, como discípulo, escravo e imitador Dele, devo dizer o que Ele disse e fazer o que Ele fez - isto é, anunciar a Boa Nova do Reino de Deus, (ou Reinado de Deus, que consiste em justiça, paz e alegria) por meio do convite ao arrependimento dos pecados e à fé Nele, assim como ser sal da terra e luz do mundo, de modo que os que vêem as boas obras que Ele me concede realizar glorifiquem a Ele. 

Finalmente, reafirmo o que disse Abraham Kuyper: "Não há nenhum centímetro quadrado no universo, em todos os domínios de nossa existência, sobre os quais Cristo, que é soberano sobre tudo, não clame: é Meu". Ora, se Ele é o Senhor de cada centímetro quadrado do Universo, todas as coisas criadas (a começar de mim) devem expressar (e expressam desde já) a Sua glória e majestade, exibindo para quem quiser ver que, mais valioso do que elas mesmas, é o Seu Criador. A vida cotidiana, a sociedade, o trabalho, a cultura, a religião, a ciência, a educação, os esportes, a arte, a família - tudo foi feito para Ele, Nele e por meio Dele. Não há como seguir a Cristo sem ser inteiro, integral ou completo, pois "Nele habita corporalmente toda a plenitude da Divindade e, por estarem Nele, que é o Cabeça de todo poder e autoridade, vocês receberam a plenitude". Se Cristo é "tudo em todos", eu só posso ter vida se tudo em mim for para Ele. Mais do que mero conhecimento sobre Ele, eu quero conhecer a Ele, pois conhecê-Lo é a própria vida - e vida eterna. 



E você? 
Quer se contentar com um conhecimento inchado de Deus (o que coloca você no mesmo patamar de um demônio) ou quer conhecer a Ele a fim de amá-Lo e segui-Lo?





Pela alegria de poder amá-Lo e ser conhecido Dele,




Soli Deo Gloria!

quarta-feira, 14 de maio de 2014

50 tons de incoerência...

Há tempos não passava aqui mas hoje será necessário.

Eu estou indignado. Revoltado. Furioso. Eu preciso protestar. 

Não posso perder tempo com introduções - eu preciso arremessar essa bomba atômica que está prestes a explodir dentro de mim. E, claro, eu não estou preocupado com o estrago que ela poderá causar. Simplesmente se afaste, se não puder aguentar o tranco.


Incoerência. Essa é a palavra do dia para este post.

Incoerência, segundo o Dicionário Online de Português, significa "estado do que é incoerente, discrepância, falta de lógica ou inconsequência". Na prática, incoerência pode ser relacionada a expressões como "dois pesos e duas medidas" ou mesmo "pimenta nos olhos dos outros é refresco". Resumindo, o incoerente é aquele que só defende o que lhe agrada ou combate em favor do que lhe é conveniente - tudo o que o incoerente quer é permanecer na sua zona de conforto e, assim, poder criticar e zombar de tudo e de todos que estão fora do seu "padrão de verdade absoluta"

Eu poderia falar de muitas incoerências, mas o único tipo de incoerência que pode me deixar revoltado da maneira que estou é a religiosa. Então, segure-se na cadeira. 


Parafraseando um livro que é recorde de vendas nos últimos 5 anos (chamado 50 tons de cinza, de temática adulta explícita), arrisco dizer que a incoerência religiosa também tem seus "50 tons" - talvez mais do que isso - , pois cada religioso cria em sua própria mente um "deus domesticável" que deve satisfações aos seus "caprichos pseudoteológicos" com base num zelo por costumes e tradições que, muitas vezes, nada tem a ver com o Evangelho que tanto acreditam ser parte de suas vidas. Em suma, dizem ter zelo por Deus mas não têm entendimento, se julgam sábios na Lei de Deus e nem entendem o que afirmam, destroem aqueles por quem Cristo morreu por causa de coisas banais e acabam se condenando naquilo que aprovam - logo, são infortunados e infelizes, embora se achem até mais dignos do céu do que os outros. 

Não existe esse papo atrevido e medíocre de dignidade própria - se enxerguem! A Bíblia diz exatamente o contrário na carta aos Colossenses, que afirma que "Deus nos fez dignos de participar da herança dos santos na luz..." [Colossenses 1:12]. Ou seja, se Deus não decidisse conferir essa dignidade, ninguém teria herança nenhuma com Ele - todos teríamos o peso de sua fúria e indignação no inferno, visto que ninguém seria tirado do império das trevas para ser transportado para o Reino de Cristo se Deus não estivesse afim de (bem como decidido) fazer isso. Se olhe no espelho. 


Para aliviar um pouco as tensões, acredito que a melhor maneira de continuar esse texto é mencionando uma canção chamada "Não fale", dos irmãos Arrais, como mostrado nos trechos a seguir:

Não fale que O encontra nas suas ondas de fé e não na Palavra
Não na Palavra...
Que mais há hoje é graça sem juízo
Que traga amor e paz, sem compromisso
Seguindo tradições de homens, não de Cristo...
Pois se tenho a Cristo eu tenho a Verdade, sim
No "assim diz o Senhor" e não no "eu acho ou sinto que"... [Não fale - Os arrais] 


Não existiu na história da religião (particularmente, da religião dita cristã) nenhuma época na qual as "ondas de fé" tomaram o lugar da "Palavra" como a época atual. Todo culto tem uma revelação nova, um "tipo fresco de unção", uma transferência sobrenatural e "profética" ou um novo manto "apostólico" - e, infelizmente, muitos acreditam que estão mesmo do lado da Verdade, ao lado de Cristo. Particularmente, eu creio que Deus sempre revelou, revela e revelará coisas aos que caminham com Ele, porém todas elas se encontram ou se baseiam em Sua inerrante, suficiente, completa e perfeita Palavra, a qual chamamos Bíblia. Isso significa que, se você acha que está tendo encontros com Deus (tremendo não?) através das "ondas de fé" produzidas por homens e não pela Palavra, você está sendo enganado - pois a Bíblia afirma que a Palavra de Deus é a Verdade, que somos limpos pela Palavra, que é pela Palavra que podemos crer em Deus e que a Palavra ilumina nossos pés e o nosso caminho. Se a Palavra de Deus é substituída ou se algo é acrescentado a ela como se ela não fosse o bastante, cairemos no erro e na ilusão de um Deus fictício. 

Seguindo tradições de homens e não de Cristo.


Se, por um lado, muitos que se dizem "seguidores do Cristo" inventam uma "novidade ungida" a cada culto, congresso ou conferência, existem aqueles que vivem uma "religiosidade Gabriela" - "...eu nasci assim, a minha igreja sempre foi assim, eu aprendi os usos e costumes assim, as minhas práticas são assim e eu vou morrer assim... Gabriela". Não há renovação da mente, não há iluminação do Espírito Santo para amadurecimento em Cristo, não há o prosseguir para o alvo... Só existe o "jeito Gabriela" de servir a Jesus. Eu não vou me adaptar. Me julguem. 

Tudo isso são tradições de homens! São ensinos de homens! Se Deus odeia isso, eu devo odiar também, pois está escrito:

Esse povo se aproxima de mim com a boca e me honra com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. Em vão me adoram; seus ensinamentos não passam de regras ensinadas por homens.
Por isso uma vez mais deixarei atônito este povo com maravilha e mais maravilha; a sabedoria dos sábios perecerá e a inteligência dos inteligentes se desvanecerá. 
[Isaías 29:13-14]


Eu não tenho obrigação de seguir suas tradições. Eu não vou me submeter a nada que tenha apenas "aparência de piedade". Os "50 tons de incoerência" são tão fortes que, ao mesmo tempo em que se condena quem aprecia vinho alcoólico por questões medicinais ou mesmo por gosto pessoal, nada se diz sobre a gula. Além disso, ao mesmo tempo em que se dá a entender que a mensagem de Cristo é suficientemente poderosa para salvar o homem pecador, há uma demonização daquilo que Deus mesmo deu aos homens para a Sua própria glória (e que é útil e lícito), especialmente a arte (seja pintura, teatro e, especialmente, a música). Eu amo a arte e sei que ela reflete a imagem de Deus nos homens; logo, ela não precisa de justificativas [ela é válida simplesmente por mostrar a beleza da criatividade humana como evidência externa da Beleza do próprio Deus]. Assim, eu vou continuar falando sobre o Cristo que "me buscou onde a estrada era só escuridão" com minhas gírias, sem precisar adotar uma "moda monástica", por meio das músicas que escuto e, obviamente, exaltando a simplicidade de Seu glorioso Evangelho. Pode me julgar!

Ora, se você não gosta de rock, hip-hop, samba, baião, folk, blues dentre outros ritmos musicais [ou sataniza toda arte que não se encaixa na sua mente religiosa ou em seu "deus fantoche"], não destrua aquele por quem Cristo morreu por causa disso - cale-se por um momento e procure examinar a sua própria fé, a fim de perceber se você está mais confiado na sua justiça de trapos imundos em vez de estar rendido à suprema graça redentora do Filho de Deus. A Bíblia diz que todos nós devemos estar de boca fechada, pois todos somos condenáveis diante do Eterno - Ele é quem julga, Ele é quem dá o veredicto (ou melhor, já deu), Ele é quem dá as cartas do jogo. Deus continuará a fazer maravilhas que estão "fora de nosso sistema religioso" e vai continuar a confundir os "falsamente piedosos" e os "sábios" com a loucura da pregação da graça multiforme - Ele é Deus e, assim como Aslam de "As crônicas de Nárnia", Ele não é domesticado. 


Finalmente, o nosso problema se resume no que disse o físico Blaise Pascal: "Deus fez o homem à Sua imagem e semelhança, e os homens fizeram Deus à sua própria imagem". Cada um faz na própria mente o "deus" que lhe convém - seja aquele espetaculoso com o "paletó ungido" ou aquele que, de tão "sacrossanto", só acredita num Deus que andou com pecadores e prostitutas porque a sua Bíblia diz, de forma que desacreditar disso lhe seria vergonhoso. Jesus afirma que existiram e existirão prostitutas e outros marginalizados que entraram e entrarão no Reino de Deus antes de muitos religiosos e aparentemente "cheios de boa moral" - por que ainda permanecer numa arrogância idiota? A minha resposta é a mesma de Paulo: "...onde está, pois, o motivo de vanglória? Foi excluído. Por qual lei? A das obras? Não, mas pela lei da fé" [Romanos 3:27]. Fé em Cristo é tudo o que Ele aceita como agradável para que sejamos agradáveis a Ele.

Eu não quero entrar no ritmo dos "50 tons da incoerência", pois o Deus Criador, Sustentador e Senhor de todas as coisas só tem uma Voz, um Tom, uma Palavra e uma Verdade - Ele não é Deus de confusão nem de antagonismos, mas é totalmente puro. Todas as coisas boas que existem são Dele, existem Nele e são para a glória Dele. Portanto, "não me submeterei nem por um momento, para que a verdade do Evangelho permaneça", ainda que fique só - sem a honra dos homens, mas ao lado de Cristo.


Quais são os tons que tem embalado sua vida? 
Os "50 tons de incoerência" ou o tom que vem da graça do Grande Maestro?




Pela alegria de ser embalado pelo Tom Supremo,



Soli Deo Gloria!