sexta-feira, 24 de maio de 2013

A medida desmedida...

Voltando enfim.
Voltando para fazer - ou arriscar a fazer - uma das coisas de que mais gosto: expor as minhas reflexões e emoções de modo que tudo traga glória somente a Quem merece recebê-la. 

Então, é hora de escrever!


Sempre que penso no que vou compartilhar aqui procuro ser autêntico (antes e acima de tudo) e cuidadoso com o que será dito. E, como os mais assíduos já perceberam, gosto de brincar com a arte (especialmente a música e a literatura, além de filosofia e teologia). Dessa vez, ouso a externar aqui um pouco do que tenho pensado ultimamente a respeito de uma frase célebre do filósofo e teólogo Agostinho de Hipona, que disse certa vez:

A medida do amor é amar sem medida. Simples assim. Nada mais, nada menos. 


Realmente, falar a respeito de uma frase proferida por um dos mais proeminentes nomes da filosofia e teologia cristãs da História é muita audácia para um leigo nesses assuntos como eu. Entretanto, esse blog é um blog de subversão - isto é, aqui riscos são assumidos, caras são "dadas pra bater" e declarações descompromissadas com a popularidade são escritas em negrito. Que eu tenha sucesso, enfim.

Antes de qualquer coisa, precisamos pensar sobre o que é o amor. Caramba, que pergunta difícil! Sinceramente, eu não sei definir amor. Eu acredito que o amor é, por si mesmo, tão mais elevado e precioso do que qualquer mente humana (por mais brilhante que fosse/seja) pode alcançar. Temos, de fato, vislumbres verdadeiros e de grande valor do que chamamos "amor" mas, como diz o poeta, "por ser exato o amor não cabe em si". 


Por outro lado, dentro do que tem sido discutido ao longo dos séculos nos ramos da teologia, filosofia e demais ciências humanas/sociais, existem 4 tipos de manifestações de amor: o amor por coisas (Afeição), o amor fraternal por pessoas (Amizade), o amor sexual ou erótico (Eros) e o amor sacrificial e benevolente (Caridade ou Ágape). Nesse sentido, acredito que não deve ser do amor por coisas que a frase de Agostinho fala - pois, ao amarmos as coisas sem medida, somos/seremos materialistas e cheios de ganância, o que nos conduz/conduzirá fatalmente a maltratarmos as pessoas e enxergarmos a Deus de modo utilitarista. Logo, não devemos ter um amor "sem medida" por coisas, embora um apreço com bom senso por aquilo que temos seja saudável.


A amizade é uma das modalidades de amor mais nobres e fundamentais para a vida - eu não consigo enxergar minha vida sem meus amigos (eu não sou o único subversivo do mundo e isso me consola! rs)... Não é possível viver (de fato) no isolamento. Somos seres relacionais e carecemos de relacionamentos saudáveis. Os amigos são tão importantes que Jesus Cristo - conforme se lê em Lucas 16:9 - diz que devemos "usar os bens do mundo para ganharmos amigos, para que quando esses bens acabarem, esses amigos nos recebam nas moradas eternas". Isso é extraordinário! Resumindo, o que Jesus quis dizer foi: ame as pessoas e use as coisas, e não o contrário. Porém, por mais que amigos sejam fundamentais, não devemos amá-los "sem medida" - pois eles são humanos e imperfeitos como todos nós somos e, se um dia nos decepcionarmos com alguns deles (ou decepcionarmos alguns deles), teremos desgastado a nossa alma (e vice-versa) e as feridas que podem vir daí talvez permaneçam por toda a vida.   


Por algumas razões, não pretendo fazer uma abordagem a respeito do amor Eros - por mais que seja algo belo, inspirador, prazeroso e divino (dentro dos princípios da moralidade bíblica, digo). Dessa maneira, gostaria de me focar no tipo de amor que alguns chamam "Caridade" ou Ágape - embora esse termo tenha perdido todo o seu sentido original, visto que é normalmente associado a "dar esmolas" ou a fazer a "boa ação do dia". Caridade é muito, muito mais que isso - caridade é aquilo que nos faz "ser" (sem amor/caridade, eu nada seria), é o que traz proveito e sentido a qualquer atitude nobre, dom ou virtude. Parafraseando o apóstolo Paulo, não posso falar de "caridade" - no real sentido da palavra - sem dizer que ela "é sofredora, benigna, paciente, desprovida de orgulho, ciúmes ou vaidade, não é invejosa, não é leviana, não busca seus interesses, não guarda rancor, não se alegra com a injustiça mas com a verdade compartilhada, além de tudo sofrer, tudo crer, tudo esperar e tudo suportar" (ver 1 Coríntios 13:4-7). Definitivamente, as nossas pretensiosas "boas ações" não podem ser chamadas de "caridade". Portanto, não é de nenhum amor humano que Agostinho fala, por mais que a frase seja dirigida a cada um de nós. Mas que "amor" é esse afinal?


Vou ser bem direto.

Não consigo ler "a medida do amor é amar sem medida" e não pensar em uma prova de amor que já foi manifestada há muito tempo, num lugar chamado Calvário. Deus, o Ser Amor, aquele que se define como "Amor", veio ao mundo na pessoa de Jesus Cristo "porque amou ao mundo de tal maneira..."... Eu simplesmente fico estarrecido diante disso. A causa que moveu o Eterno e Autossuficiente a vir ao mundo foi o amor - poderia ter sido qualquer outro de Seus atributos, mas foi "porque amou". Tão sublime! Nem mesmo as Escrituras conseguem descrever de modo preciso como é o amor de Deus - elas simplesmente dizem que Deus amou o mundo de TAL MANEIRA que deu o Seu Filho. E mais do que isso - Deus prova o Seu amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores. Ou seja - todo dia, a cada instante, posso me lembrar de que Deus me ama e não precisa me dar mais provas, porque Ele já deu tudo - Ele deu a Si mesmo. Isso sim é amar sem medida.


Finalmente, se eu me julgo filho de Deus (logo, pertenço a Ele e devo ser obediente a Ele), só me resta aprender, dentro das minhas "medidas humanas", a praticar o amor de maneira mais ou menos parecida. Ora, se eu digo "eu te amo" para alguém e tenho consciência do amor de Deus por mim, eu não posso perder meu tempo com picuinhas medíocres e exigências desnecessárias - eu devo estar focado em exercitar amor e não em despertar ódio e tenho que me concentrar em fazer bem ao outro e não em lançar palavras duras e inúteis. Mas, no fim das contas, por mais que muitas pessoas ao meu redor não se esforcem para isso (e nem eu mesmo para com elas), posso ser plenamente satisfeito - Deus me amou, se deu por mim e sempre me lembra de que sou amado - amado por Aquele que tem o amor que jamais terá fim, que é o próprio Amor Eterno. Se você não tem essa certeza, arrependa-se dos seus pecados e creia em Jesus Cristo - assim, esse amor que nunca falha estará sempre com você.




Pela alegre certeza de que Ele me ama sem medida,




Soli Deo Gloria!

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Somos quem podemos ser...

Depois de muito tempo, voltei aqui.

Entretanto, dessa vez, tive razões não muito boas para estar ausente - meu computador pessoal está há 3 semanas em manutenção e eu não tive como atualizar o blog... Mas hoje eu dei um jeito e estou dando as caras (risos).


Sem papas na língua, vou direto ao ponto - na verdade, volto a bater na mesma tecla que tenho batido nos posts anteriores. Eu não sei exatamente o porquê, mas não consigo sair do tema da liberdade para ser quem se é na medida em que Deus me conforma à Sua própria natureza. Sabe, é aquela coisa de "não estar preocupado em agradar a todos", de "saber a dor e a delícia de ser o que é", de tomar o jugo suave e o fardo leve Daquele que tem todos os motivos para cobrar de nós porém, em vez de nos oprimir, ele nos ajuda a carregar a cruz ao longo da longa jornada


Desse modo, como gosto de brincar com o que alguns teólogos denominam "graça comum", intitulei este post com o nome de uma das canções mais conhecidas de um grupo de rock gaúcho dos anos 80 chamado Engenheiros do Hawaii... Ah, saudade da boa música dos anos 80 [parêntese].

Somos quem podemos ser.

Primeiramente, somos o que somos. No entanto, por nossa própria identidade de "ser humano", não somos os mesmos o tempo todo. As diferentes fases da vida, os diversos ambientes que frequentamos, as pessoas com quem andamos, os livros que lemos e as músicas que ouvimos e, acima de tudo, os princípios e crenças (ou mesmo a ausência de princípios e de crenças) que adotamos como fundamentos para a vida nos moldam e fazem de nós o que somos. E, sobre tudo isso, está Deus - aquele em quem vivemos e existimos, para quem são todas as coisas e em quem tudo subsiste [Atos 17:28, 1 Coríntios 8:6 e Colossenses 1:17]. Logo, se somos o que somos - seja como for - , é primordialmente por causa Dele. 


Por isso, cada um tem a sua própria identidade e deve ser admirado e/ou respeitado como se é, ainda que as diferenças de comportamento e de ações diante de determinadas circunstâncias nos pareçam "chatas". Eu, por exemplo, não gosto de muitas coisas nas pessoas - indiferença, frieza, falta de sensibilidade com os sentimentos dos outros, humor cruel, zombaria com a ingenuidade do outro, mentira, orgulho, ser esnobe etc. -, mas não ando por aí fazendo campanhas para que elas mudem de comportamento só porque eu quero e pronto. Não perco meu tempo com esses caprichos. Eu estou mais preocupado em me examinar e em buscar ser melhor Naquele que pode mudar o que realmente precisa ser mudado em mim. E só pra lembrar: esse Alguém a quem me refiro não é você, "tá serto"? [perdoem o português intencionalmente errado]. 

Os Engenheiros do Hawaii estão certos - somos quem podemos ser. 


Cada um tem a sua própria história e, como disse Aslam em uma das histórias das Crônicas de Nárnia, "a cada um só é permitido saber a sua própria história". Não tenho que ficar focado nas vidas alheias, como se eu fosse o "salvador da pátria" daquele amigo introspectivo e estressado ou mesmo o "transformador de caráter" daquela menina metida e aparentemente esnobe. Eu não posso mudar ninguém e nem você pode. Se nos relacionamos com os outros baseados em "trocas de favorezinhos" ou de "pequenas barganhas", não estamos nos relacionando com elas e sim sendo sanguessugas delas. Como disse no post anterior, se a Bíblia diz que devemos aceitar uns aos outros assim como Cristo nos aceitou, essa aceitação é baseada em graça e compaixão, em benignidade e em um padrão de justiça diferente daquele do nosso mundo. 


Finalmente, quero mencionar um trecho das Escrituras que tem ficado firme em minha mente esses últimos dias, onde se lê:

"Seu divino poder nos concedeu todas as coisas de que necessitamos para a vida e para a piedade, por meio do pleno conhecimento Daquele que nos chamou para a Sua própria glória e virtude, pelas quais Ele nos deu as Suas grandiosas e preciosas promessas, para que por elas vocês se tornassem participantes da natureza divina e fugissem da corrupção que há no mundo..." 
[2ª Epístola do Apóstolo Pedro, cap. 1, vs. 3-4]. 

Mais claro impossível - Deus já nos deu TUDO o que precisamos para desfrutarmos do dom da vida e para fazermos isso de modo justo e íntegro. Na medida em que conhecemos a Ele em Sua plenitude, podemos descansar no fato de que fomos chamados para participarmos de Sua glória e de Sua santidade. A Bíblia nos promete que seremos semelhantes a Cristo quando Ele se manifestar e que fomos predestinados para sermos conformes à imagem Dele (1 João 3:2 e Romanos 8:29). Isso é tão maravilhoso! Os deslizes que damos, as falhas que cometemos, os pecados que praticamos e as coisas boas que deixamos de fazer - tudo isso não impedirá o propósito final de Deus, que sempre faz tudo o que Lhe agrada (Salmo 115:3).  


Os que são de Cristo são novas criaturas - ou seja, é uma natureza nova, uma mente nova, um coração novo. Depois que conhecemos a Verdade e ela nos liberta, eu não preciso passar por "novos processos de libertação" ou por "curas interiores" - eu sou livre! Foi para a liberdade que Cristo me libertou! Eu não vou me submeter a nenhum jugo de escravidão! Eu fico com as Escrituras que dizem que "se o Filho os libertar, vocês serão verdadeiramente livres". LIVRES! Chega de cobranças farisaicas de comportamento... Eu não aguento mais! Eu sou livre e só preciso me submeter a Cristo e à Sua Palavra. 

E você? Já se deu conta disso (caso você seja mesmo um servo Dele)? Não seja nada além do que você pode ser; seja simplesmente aquilo que a Graça Dele quiser que você seja.




Pela alegria de ser tudo o que posso ser Nele,




Soli Deo Gloria!