terça-feira, 29 de março de 2011

Cristianismo clichê - por Gerson Borges

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Deus tem uma obra na sua vida. O inimigo está furioso. A vitória é nossa. Há poder em suas palavras. Quem não vem pelo amor vem pela dor. Vamos entrar na presença de Deus. Deus é pai, não é padrasto. Clichês. Frases (preguiçosamente) feitas (repetidas).

Longe de mim as pretensões enciclopédicas, mas devo lembrar - ou informar - que o termo de origem francesa no seu berço semântico nomeava um interessante objeto, uma matriz tipográfica que se repetia  indefinidamente. Funcionalidade. Praticidade. Repetição útil. O objeto-técnica aos poucos tornou-se metáfora de repetição burra, inconseqüente e desnecessária, que  não acrescenta nada, verdadeira inutilidade idiomática, completo vício lingüístico.

Aliás, é exatamente isso: vício. Mecanismo que domina o usuário. Uma droga, o clichê. Autores de fato inteligentes trazem consigo profunda ojeriza dos tais lugares-comuns, como "Era uma vez..." como abertura e "... foram felizes para sempre" de fechadura. Ou mesmo aquele famoso " obrigado, geeeeeeente!" do fim dos shows, seguido de "Por que parou, parou por quê?" são claramente elementos de um ritual simbólico dessa mágica interlocução artista/público. Clichê carece de intencionalidade, de voluntarismo e é inconsciente; não é uma palavra ou frase que usamos, mas que nos usa.

Pior que os clichês da literatura, da música (muito boa a saída de Marisa Monte ao subverter a norma culta e dizer "Beija eu, beija eu" em vez dos  cansativos "Eu te amo", que não passam de muletas), da política ("É preciso debater o tema com a sociedade" , "Pesquisa não ganha eleição" ), da educação ("conhecer a realidade do aluno" ), do cinema americano ("vamos pedir comida chinesa, amor?", tiras que, às vésperas da aposentadoria, tecem uma missão impossível ou que passam horas vigiando o suspeito e empanturrando-se de café e donuts) são os da religião. Em especial do cristianismo evangélico tupiniquim.

Semanalmente essa praga lingüística irrompe nos púlpitos e se alastra pelos bancos. "Somos cabeça e não cauda", "Somos filhos do Rei", coisas dessa natureza distraída ou adoecida de sentido. Alerta: não confunda citação bíblica com clichê. Seria o mesmo que criticar um autor por evocar Shakespeare ou Camões e tachá-lo de preguiçoso. É o uso desrespeitoso e apressado  que se faz das Escrituras o problema. Quem ainda suporta aqueles micro-sermões entre os cânticos do "período de louvor" ? Quem acredita na necessidade, sentido e relevância de frases como "Deus quer tratar com sua vida hoje à noite. Você não sairá daqui do modo entrou (...)"? Isso para não mencionar as letras esdrúxulas, algo constrangedor que nos vemos obrigados a cantar nos cultos por aí. Quando não é o caso de um lugar-comum, trata-se de um lugar-absurdo, como esse caso: "Olhei pro céu/e vi que sempre foi azul/ Como é bom dizer/Jesus I love you". Preciso comentar?

A oração é um outro exemplo: observe o conteúdo das nossas orações. Será que conseguimos orar três minutos sem usar as muletas tais como "Amantíssimo Deus", "Mais uma vez entramos em sua presença", "entra com providência" , "vai tocando (SIC) cada coração" , "perdoa nossos pecados de omissão e comissão" e coisa do mesmo tipo e tristeza. Orações para fora - para os outros, e deveria ser para cima - para Deus.

Preguiça. Vã repetição. Reza gospel. Martin Luther King Jr me sacode de alento ao sugerir que "É melhor oração sem palavras do que palavras sem oração". Ana, orando-chorando, no templo. Ainda bem que Deus, o Senhor, o Pai nos aceita e entende em Jesus, O Verbo, o Filho e nos concede o auxílio do Espírito, que ora em nós de modo "inexprimível" (supra lingüístico).

A oração simples nos socorre: "ore como puder, não como quiser".  As orações-relâmpago de Neemias, a fórmula do cego: "Jesus, Filho de David, tem misericórdia de mim, pecador", a completude e a adequação do Pai-nosso. Há o que dizer, há o que calar diante do Senhor. Quem deseja uma outra gramática deveria mergulhar na amplitude-tessitura-abrangência emocional e existencial dos Salmos, nossa "escola de oração" (Peterson), "anatomia da alma" (Calvino).

Como seria aceitar a orientação de um às das palavras, como Fernando Sabino, que dizia "escrever é cortar"? Como seria levar a linguagem litúrgica, homilética e devocional (louvor, pregação e espiritualidade)  tão a sério que as repetições de palavras  e idéias fossem usadas com toda a parcimônia e lucidez do recurso formal da poesia, nunca "tipo assim, quer dizer, coisal e tal"?

Vejam os Clássicos: a lucidez dos argumentos de Paulo, a deslumbrante inventividade de Guimarães Rosa, a erudição nunca cansativa e ensimesmada em abstrações de C. S. Lewis, a exuberância dos argumentos brilhantes de Calvino, o cativante respeito e reverência de Eugene Peterson às palavras?

Aliás, Peterson me inspirou a escrever esse texto-provocação. Lendo seu maravilhoso livro autobiográfico The pastor, a memoir (no Kindle - acabou de sair nos EUA )  cativou-me o relato de sua juventude como estudante de teologia. Ao estagiar numa determinada igreja em Nova Iorque, sua vida foi para sempre influenciada pelo ministério de George Arthur Buttrick, "Um poeta no púlpito: durante um ano ouvindo-o pregar dominicalmente, eu nunca vi um só clichê passar por seus lábios". Ah, que maravilha o dia em que a ortodoxia dá as mãos à poesia!


Extraído de: http://www.cristianismocriativo.com.br/ (todos os direitos reservados).


Soli Deo Gloria!

quinta-feira, 24 de março de 2011

Linda letra e pegada rock 'n roll (a combinação perfeita!)



Essa postagem é dedicada a todos que curtem um rock que vai lá na alma (como todo músico sabe como é), com sua pegada envolvente e que tem o mais importante: uma boa letra (boa não, linda!) que fala da decadência espiritual evidente em boa parte do que é chamado de "comunidade cristã" ou "meio gospel"...

Sim, essa letra me faz lembrar das coisas que, de fato, não devem ser esquecidas, ignoradas... Leia e reflita!

Vou Me Lembrar – Resgate

Lembre-se de quem bebeu do fel amargo de uma taça 
Que ainda existe quem torça pra assistir a uma desgraça 
E dos fariseus, que engordam com aquilo que é nosso 
E dos mercenários que cobram pra nos dar o que é de graça... 
Lembre-se de quem gera das entranhas o Seu povo 
Que valemos mais do que o mundo inteiro com o seu ouro 
Que aquele sacrifício, é vivo e permanece sobre todos nós para sempre 
Pra sempre... 

Lembrem-se do pão que nunca nos faltou em meio à seca 
De quem multiplicou e faz com que nenhum dos Seus se perca 
Que nunca foi alguém de carne e osso que nos fez mais nobres 
Que não há mais ninguém melhor do que Alguém que se fez pobre... 
Lembre-se de quem nos deu o próprio sangue como um selo 
Que homens vão e vêm mais Ele permanece eternamente 
Que Aquele que desceu, é o mesmo que subiu e que nos levará para sempre 

Eu vou me lembrar, de não me esquecer 
De tudo o que eu fiz 
E sempre acreditar que o que me faltar 
Deus já me deu 
E pelo que eu vivi sempre glorificá-Lo 
Eu vou me lembrar que mesmo assim 
Eu nada sou...
E sempre acreditar que quando eu morrer 
Eu vou viver 
E, sem parar, pra sempre glorificar o meu Deus...


Para ouvir a música, basta acessar http://www.4shared.com/audio/VbrzD3RW/Resgate-_Vou_Me_Lembrar.htm e baixar!


 Soli Deo Gloria!

segunda-feira, 21 de março de 2011

Aos pregadores da prosperidade - por John Piper (Parte II)


O que há nos cristãos que faz deles o sal da terra e a luz do mundo? Não são as riquezas. O desejo por riquezas e a busca de riquezas têm sabor e aparência do mundo. Desejar ser rico nos torna como o mundo, não diferentes. Justo no ponto onde deveríamos ter um sabor diferente, temos a mesma cobiça maliciosa que o mundo tem. Neste caso, não oferecemos ao mundo nada diferente do que ele já crê.

A grande tragédia da pregação da prosperidade é que uma pessoa não tem que ser acordada espiritualmente para abraçá-la; ela precisa apenas ser gananciosa. Ficar rico em nome de Jesus não é o sal da terra ou a luz do mundo. Nisto, o mundo simplesmente vê um reflexo de si mesmo. E se eles são “convertidos” a isso, eles não foram realmente convertidos, mas apenas colocaram um novo nome numa vida velha.

O contexto na fala de Jesus nos mostra o que o sal e a luz são. São a alegre boa vontade de sofrer por Cristo. Eis o que Jesus disse: “Bem-aventurados sois quando, por minha causa, vos injuriarem, e vos perseguirem, e, mentindo, disserem todo mal contra vós. Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; pois assim perseguiram aos profetas que viveram antes de vós. Vós sois o sal da terra... Vós sois a luz do mundo.” (Mateus 5:11-14)

O que fará o mundo saborear o sal e ver a luz de Cristo em nós, não é que amemos as riquezas da mesma forma que eles amam. Pelo contrário, será a boa vontade e a habilidade dos cristãos de amar aos outros em durante o sofrimento, a todo tempo exultando porque seu galardão está nos céus com Jesus. “Regozijai-vos e exultai [nas dificuldades]... Vós sois o sal da terra.” Salgado é o sabor da alegria nas dificuldades. Esta é a vida inusitada que o mundo pode saborear como diferente.

Tal vida é inexplicável em termos humanos. É sobrenatural. Mas atrair pessoas com promessas de prosperidade é simplesmente natural. Não é a mensagem de Jesus. Não é aquilo que ele alcançou com sua morte.

O que falta na maioria das pregações da prosperidade é o fato de que o Novo Testamento enfatiza a necessidade de sofrimento muito mais do que o conceito de prosperidade material. Jesus disse: “Lembrai-vos da palavra que eu vos disse: não é o servo maior do que seu senhor. Se me perseguiram a mim, também perseguirão a vós outros; se guardaram a minha palavra, também guardarão a vossa” (João 15:20). E outra vez disse: “Se chamaram Belzebu ao dono da casa, quanto mais [difamam] aos seus domésticos?” (Mateus 10:25).

Paulo fez lembrar aos novos crentes em suas viagens missionárias que “através de muitas tribulações, nos importa entrar no reino de Deus” (Atos 14:22). E disse aos crentes em Roma que seu sofrimento daqueles era uma parte necessária do caminho para a herança eterna:
“O próprio Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus. Ora, se somos filhos, somos também herdeiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo; se com ele sofremos, também com ele seremos glorificados. Porque para mim tenho por certo que os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com a glória a ser revelada em nós” (Romanos 8:16-18).

Pedro também disse que o sofrimento é o caminho natural para a bênção eterna de Deus: “Amados, não estranheis o fogo ardente que surge no meio de vós, destinado a provar-vos, como se alguma coisa extraordinária vos estivesse acontecendo; pelo contrário, alegrai-vos na medida em que sois co-participantes dos sofrimentos de Cristo, para que também, na revelação de sua glória, vos alegreis exultando. Se, pelo nome de Cristo, sois injuriados, bem-aventurados sois, porque sobre vós repousa o Espírito da glória de Deus” (1 Pedro 4:12-14).

O sofrimento é o custo natural da piedade. “Ora, todos quantos querem viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos” (2 Timóteo 3:12). Estou ciente de que estas palavras sobre o sofrimento se revezam entre um sofrimento mais generalizado como parte da queda (Romanos 8:18-25) e um sofrimento específico devido às hostilidades humanas. Mas argumentarei mais tarde no capítulo 3 que quando isso se refere ao propósito de Deus, não há diferença substancial.

Os pregadores da prosperidade deveriam incluir em suas mensagens um ensino significativo sobre o que Jesus e os apóstolos disseram a respeito da necessidade do sofrimento. Importa que ele venha, Paulo disse (Atos 14:22), e prestamos um desserviço não contando isso cedo aos jovens discípulos, causamos-lhes um prejuízo. Jesus disse isso mesmo antes mesmo da conversão, para que os prováveis discípulos já contassem com o custo: “Assim, pois, todo aquele que dentre vós não renuncia a tudo quanto tem não pode ser meu discípulo” (Lucas 14:33).

O Novo Testamento não apenas deixa claro que o sofrimento é necessário para os seguidores de Cristo, ele também se empenha em explicar o porquê e quais são os propósitos de Deus nisso. É crucial que os crentes conheçam esses propósitos. Deus os revelou para nos ajudar a entender porque sofremos e para nos passar como ouro pelo fogo.

Aqui eu apenas os enumerarei e direi aos pregadores da prosperidade: Incluam os grandes ensinos bíblicos em suas mensagens. Recém-convertidos precisam saber por que Deus ordena que eles sofram.

1. Sofrimento aprofunda a fé e a santidade.
2. Sofrimento faz seu cálice crescer.
3. Sofrimento é o preço de encorajar os outros.
4. Sofrimento preenche o que falta nas aflições de Cristo.
5. Sofrimento fortifica o mandamento missionário do “ide”.
6. A supremacia de Cristo é manifesta no sofrimento.

Uma mudança fundamental aconteceu com a vinda de Cristo ao mundo. Até aquele tempo, Deus focou sua obra redentora em Israel com obras eventuais entre as nações. Paulo disse: “Nas gerações passadas, [Deus] permitiu que todos os povos andassem nos seus próprios caminhos” (Atos 14:16). Ele os chamou de “tempos da ignorância.” A Bíblia diz que “...Não levou Deus em conta os tempos da ignorância; agora, porém, notifica aos homens que todos, em toda parte, se arrependam” (Atos 17:30).

Agora o foco passou de Israel para as nações. Jesus disse: “O reino de Deus vos será tirado [Israel] e será entregue a um povo que lhe produza os respectivos frutos [seguidores do Messias]” (Mateus 21:43). Um endurecimento veio sobre Israel até que o número total das nações entrasse (Romanos 11:25).

Uma das principais diferenças entre essas duas épocas é que, no Antigo Testamento, Deus glorificou amplamente a si mesmo ao abençoar Israel, de modo que as nações pudessem ver e saber que o Senhor é Deus.

“Faça ele [o Senhor] justiça ao seu [...] povo de Israel, segundo cada dia o exigir, para que todos os povos da terra saibam que o SENHOR é Deus e que não há outro” (1Reis 8:59-60).

Israel não foi enviada como uma “Grande Comissão” para ajuntar as nações; pelo contrário, ela foi glorificada para que as nações vissem sua grandeza e viessem a ela. Então, quando Salomão construiu o templo do Senhor, foi espetacularmente abundante em revestimentos de ouro (1Reis 6:20-22) e, quando ele mobiliou o templo, o ouro mais uma vez se tornou igualmente abundante (1Reis 7:48-50). Salomão levou sete anos para construir a casa do Senhor. E então levou treze anos para construir sua própria casa (1Reis 6:38 e 7:1). Ela também era abundante em ouro e pedras de valor (1Reis 7:10).

Então, quando tudo estava construído, o nível de sua opulência é visto em 1Reis 10, quando a rainha de Sabá, representando as nações gentias, vai ver a glória da casa de Deus e de Salomão. Quando ela viu, “ficou como fora de si” (1Reis 10:5). Ela disse: “Bendito seja o SENHOR, teu Deus, que se agradou de ti para te colocar no trono de Israel; é porque o SENHOR ama a Israel para sempre, que te constituiu rei” (1Reis 10:9).

Em outras palavras, o padrão no Antigo Testamento é uma religião venha-ver. Há um centro geográfico do povo de Deus. Há um templo físico, um rei terreno, um regime político, uma identidade étnica, um exército para lutar as batalhas terrenas de Deus, e uma equipe de sacerdotes para fazer sacrifícios animais pelos pecados.

Com a vinda de Cristo tudo isso mudou. Não há centro geográfico para o Cristianismo (João 4:20-24); Jesus substituiu o templo, os sacerdotes e os sacrifícios (João 2:19; Hebreus 9:25-26); não há regime político Cristão porque o reino de Cristo não é deste mundo (João 18:36); e nós não lutamos batalhas terrenas com carruagens e cavalos ou bombas e balas, mas sim batalhas espirituais com a palavra e o Espírito (Efésios 6:12-18; 2Coríntios 10:3-5).

Tudo isso sustenta a grande mudança na missão. O Novo Testamento não apresenta uma religião venha-ver, mas uma religião vá-anunciar. “Jesus, aproximando-se, falou-lhes, dizendo: Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra. Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até a consumação do século” (Mateus 28:18-20).

As implicações disso são enormes para a forma que vivemos e a forma que pensamos a respeito de dinheiro e estilo de vida. Uma das implicações principais é que nós somos “peregrinos e forasteiros” (1Pedro 2:11) na terra. Nós não usamos este mundo como se ele fosse nosso lar de origem. “A nossa pátria está nos céus, de onde também aguardamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo” (Filipenses 3:20).

Isso leva a um estilo de vida em pé de guerra. Isso significa que nós não acumulamos riquezas para mostrar ao mundo o quão rico nosso Deus pode nos fazer. Nós trabalhamos duro e buscamos uma austeridade em pé de guerra pela causa de espalhar o evangelho até os confins da terra. Nós maximizamos o esforço de guerra, não os confortos de casa. Nós criamos nossos filhos com a visão de ajudá-los a abraçar o sofrimento que irá custar para finalizar a missão.

Então, se um pregador da prosperidade me questiona sobre as promessas de riqueza para pessoas fiéis no Antigo Testamento, minha resposta é: Leia seu Novo Testamento com cuidado e veja se você encontra a mesma ênfase. Você não irá encontrar. E a razão é que as coisas mudaram dramaticamente.

“Porque nada temos trazido para o mundo, nem coisa alguma podemos levar dele. Tendo sustento e com que nos vestir, estejamos contentes” (1Timóteo 6:7-8). Por quê? Porque o chamado a Cristo é um chamado para participar de seus sofrimentos “como um bom soldado de Cristo Jesus” (2 Timóteo 2:3). A ênfase do Novo Testamento não são as riquezas que nos atraem para o pecado, mas o sacrifício que nos resgata dele.

Uma confirmação providencial de que Deus planejou esta distinção entre uma orientação venha-ver no Antigo Testamento e uma orientação vá-anunciar no Novo Testamento, é a diferença entre o idioma do Antigo Testamento e o idioma do Novo. Hebraico, o idioma do Antigo Testamento, não era compartilhado por nenhum outro povo no mundo antigo. Era unicamente de Israel. Isto é um contraste surpreendente com o Grego, o idioma do Novo Testamento, que era o idioma de comércio do mundo romano. Então, os próprios idiomas do Antigo e do Novo Testamentos sinalizam a diferença de missões. O hebraico não era apropriado para missões no mundo antigo. O grego era perfeitamente apropriado para missões no mundo romano.

O apóstolo Paulo nos dá um exemplo do quão cauteloso ele era para não dar a impressão de que estava no ministério por dinheiro. Ele disse que os ministros da palavra têm o direito de viver do ministério. Mas então, para mostrar-nos o perigo nisso, ele se recusa a usar plenamente esse direito.

“Na lei de Moisés está escrito: Não atarás a boca ao boi, quando pisa o trigo. [...] Certo que é por nós que está escrito; pois o que lavra cumpre fazê-lo com esperança; o que pisa o trigo faça-o na esperança de receber a parte que lhe é devida. Se nós vos semeamos as coisas espirituais, será muito recolhermos de vós bens materiais? Se outros participam desse direito sobre vós, não o temos nós em maior medida? Entretanto, não usamos desse direito; antes, suportamos tudo, para não criarmos qualquer obstáculo ao evangelho de Cristo.” (1Coríntios 9:9-12)

Em outras palavras, ele renunciou a um direito legítimo justamente para não dar a ninguém a impressão de que o dinheiro era a motivação de seu ministério. Ele não queria dinheiro de seus neófitos: “Nunca usamos de linguagem de bajulação, como sabeis, nem de intuitos gananciosos. Deus disto é testemunha” (1Tessalonicenses 2:5).

Ele preferia trabalhar com suas mãos ao invés de dar a impressão de que estava mercadejando o evangelho: “De ninguém cobicei prata, nem ouro, nem vestes; vós mesmos sabeis que estas mãos serviram para o que me era necessário a mim e aos que estavam comigo. Tenho-vos mostrado em tudo que, trabalhando assim, é mister socorrer os necessitados e recordar as palavras do próprio Senhor Jesus: Mais bem-aventurado é dar que receber” (Atos 20:33-35).

Ele sabia que havia mercadores da palavra de Deus que pensavam que “a piedade é fonte de lucro” (1Timóteo 6:5-6). Mas ele se recusava a fazer qualquer coisa que o pusesse naquela categoria: “Nós não estamos, como tantos outros, mercadejando a palavra de Deus; antes, em Cristo é que falamos na presença de Deus, com sinceridade e da parte do próprio Deus” (2Coríntios 2:17).

Muitíssimos pregadores da prosperidade não apenas dão a impressão de que estão “mercadejando a palavra de Deus” e fazem da “piedade uma fonte de lucro”, mas realmente desenvolvem uma teologia fictícia para justificar suas extravagantes exibições de riqueza. Paulo fez exatamente o oposto.

Minha maior preocupação a respeito dos efeitos do movimento da prosperidade é que ele deprecia a Cristo fazendo-O menos central e menos satisfatório que Seus presentes. Cristo não é mais exaltado por ser o provedor de riquezas. Ele é mais exaltado por satisfazer a alma daqueles que se sacrificam para amar os outros no ministério do evangelho.

Quando recomendamos Cristo como aquele que nos torna ricos, nós glorificamos as riquezas, e Cristo se torna um meio para o fim que realmente queremos — a saber, saúde, riqueza e prosperidade. Mas quando recomendamos Cristo como aquele que satisfaz nossa alma para sempre — mesmo quando não há saúde, riqueza e prosperidade — então Cristo é exaltado como mais precioso que todos aqueles presentes.

Vemos isso em Filipenses 1:20-21. Paulo diz: “É minha ardente expectativa e esperança de que [...] será Cristo engrandecido no meu corpo, quer pela vida, quer pela morte. Porquanto, para mim, o viver é Cristo, e o morrer é lucro.” A honra a Cristo acontece quando nós o valorizamos tanto que morrer é lucro. Porque morrer significa “partir e estar com Cristo” (Filipenses 1:23).

Esta é a observação que falta na pregação da prosperidade. O Novo Testamento aponta para a glória de Cristo, não para a glória de Seus presentes. Para deixar isso claro, ele coloca toda a vida cristã abaixo do estandarte da alegre abnegação. “Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me” (Marcos 8:34). “Estou crucificado com Cristo” (Gálatas 2:19).

Mas, apesar de a abnegação ser uma estrada difícil que leva à vida (Mateus 7:14), é a mais alegre de todas as estradas. “O reino dos céus é semelhante a um tesouro oculto no campo, o qual certo homem, tendo-o achado, escondeu. E, transbordante de alegria, vai, vende tudo o que tem e compra aquele campo” (Mateus 13:44). Jesus diz que encontrar Cristo como nosso tesouro torna todas as outras posses alegremente dispensáveis. “Transbordante de alegria, vai, vende tudo o que tem e compra aquele campo.”

Eu não quero que os pregadores da prosperidade parem de chamar as pessoas à alegria máxima. Pelo contrário, eu suplico a eles que parem de encorajar as pessoas a buscarem sua alegria nas coisas materiais. A alegria que Cristo oferece é tão grande e tão durável que nos habilita a perder a prosperidade e ainda assim regozijar. “Vós aceitastes com alegria o espólio dos vossos bens, tendo ciência de possuirdes vós mesmos patrimônio superior e durável” (Hebreus 10:34). A graça de ser alegre na perda de prosperidade — este é o milagre que os pregadores da prosperidade deveriam buscar. Este seria o sal da terra e a luz do mundo. Isto exaltaria a Cristo como extremamente valioso.


Soli Deo Gloria!

quinta-feira, 17 de março de 2011

Deus deleita-se com a arte não cristã? --- por Tony Reinke

Essa é uma grande questão, mas vamos começar com alguns pontos básicos.
(1) A origem do impulso artístico humano não pode ser explicado humanamente. Comparando teorias sobre a origem da arte, Herman Bavinck, teólogo holandês do século XIX, escreveu: “hoje, existem muitas ideias divergentes, assim como existiam antigamente: alguém explica a arte a partir do teatro, outro a partir do desejo sexual, um terceiro a partir do ritmo, um quarto a partir de sentimentos e ações que também acontecem com animais, e por aí vai. Porém, mais e mais, a convicção que ganha terreno a respeito da arte, assim como da religião, é que devemos aceitá-la como um impulso humano original, e como um desejo que não podemos explicar a partir de outras inclinações ou atividades” (Essays, p. 252-253). Exatamente. Existem muitos fatores que influenciam os artistas, mas nada pode explicar a origem do impulso artístico. Nascemos com ele.
(2) O impulso artístico é espiritual. Novamente, Bavinck escreve: “com o senso de beleza, lidamos com um fenômeno que é parte da natureza humana: uma predisposição e suscetibilidade da alma para encontrar prazer e deleitar-se em coisas que preenchem certas condições” (Essays, p.251). Exatamente. O impulso artístico é uma realidade espiritual. E, por “espiritual”, Bavinck não quer dizer que a arte pode salvar pecadores de seus pecados. A arte não tem influência salvífica a parte de um entendimento de Cristo e do Evangelho. É somente à luz do Evangelho que a arte tem algum poder salvífico como, por exemplo, no testemunho dramático de Peter Hitchens.
(3) A expressão artística do homem é uma reflexão da expressão artística de Deus neste mundo. Abraham Kuyper celebremente escreveu: “O mundo dos sons, o mundo das formas, o mundo das cores e o mundo das ideias poéticas não pode ter outra fonte senão Deus; e é nosso privilégio, como portadores de sua imagem, ter uma percepção deste mundo belo, para reproduzir artisticamente, para gozá-lo humanamente” (Calvinismo, p. 128). O mundo é povoado por artistas porque Deus é O Artista.

Permita-me acrescentar uma importante qualificação antes que tratemos da questão. Neste curto post, não posso definir o que constitui “verdadeira” arte, e o que não. Obviamente, por “arte”, eu não quero falar de arte que glorifica o mal (por exemplo, pornografia). Sem entrar na estrutura inteira da beleza, o que daria outro post, estou me referindo à “beleza de bom gosto”, o tipo de beleza manifesta no riff de uma habilidosa banda de jazz, ou nas pinceladas de um pintor francês do século XVII, ou na prosa reveladora de um escritor russo do século XIX. Em certo grau, penso que todas elas qualificam-se como arte. Por questão de espaço, estou assumindo que estamos falando de “bela arte”.

Assim, chegamos ao centro da questão: Deus deleita-se com a arte, mesmo se for realizada, escrita, ou pintada por um não-cristão? Ou, colocando a pergunta de outra forma: o fato de um pecador ser não-redimido e estar debaixo da ira de Deus torna a sua arte repulsiva para Deus?
Foi durante a leitura de He Shines in All That’s Fair: Culture and Common Grace, de Richard Mouw, que cheguei à primeira vez nessa discussão. Mouw diz que Deus pode deleitar-se – e deleita-se – com a arte não-cristã. Ele escreve:
Penso que Deus deleita-se no humor de Benjamim Frankilin, nas tacadas de Tiger Woods, e nos parágrafos bem construídos de Salman Rushdie, mesmo que essas realizações sejam, na verdade, alcançadas por não-cristãos. Estou convencido de que o deleite de Deus nesses fenômenos não surge porque levam os eleitos à glória e os não-eleitos à separação eterna da presença divina. Acredito que Deus se agrada dessas coisas pelo próprio valor delas.
Os exemplos citados do deleite de Deus não envolvem necessariamente a aprovação moral das vidas “internas” dos não-eleitos. Quando um poeta incrédulo faz uso de uma bela metáfora, ou quando um jogador desbocado faz uma jogada sensacional, podemos pensar em Deus agradando-se desses eventos sem necessariamente aprovar qualquer coisa a respeito dos agentes envolvidos – assim como elogiamos a retórica de um político cuja visão política desprezamos.
Mas, como isso pode ser verdade? Que provas encontramos na Escritura e na teologia?
A ideia central aqui, creio, envolve a imago dei. Deus é o amante mais perfeito de sua imagem. A imagem reside dentro da humanidade na alma humana substancial. Assim, ela brilha na cultura de maneiras infinitamente diferentes. É impossível que Deus veja tais reflexões de sua glória e não se absorva em deleites cognitivos. É ele quem vê sua própria imagem da maneira mais elevada. É ele quem se deleita nela de maneira mais profunda. Assim, em certo sentido, a arte é o reflexo da imagem de Deus no homem. E onde a imagem de Deus resplandece na sociedade, podemos presumir logicamente que isso traz deleite Àquele que valoriza Sua própria imagem. É como um reflexo de Si mesmo.
Para entender isso, precisamos compreender a dignidade do homem ao lado de sua miserabilidade. De alguma forma – misteriosamente, me parece – o homem pode refletir a imagem de Deus, ainda que essa imagem esteja agora “terrivelmente deformada” (Calvino) devido ao pecado. A morte espiritual não pode apagar completamente a imago dei. De fato, é difícil não perceber a ironia no fato de que cada um de nós possui uma língua maliciosa e depravada, que usamos para amaldiçoar nossos semelhantes, portadores da imagem de Deus (Tg 3.9). O homem é maligno e esplêndido. A maldade nunca é mais evidente que quando expelimos ódio em direção a um portador da imagem. É o esplendor dos dons do homem que tornam seu pecado tão escandaloso. Assim, de alguma forma, homens não-redimidos podem ser terrivelmente deformados e, ainda assim, serem um reflexo do Criador. Isso é um mistério, mas eu o enxergo na Escritura.

Em seu livro The Road from Eden: Studies in Christianity and Culture, John Barber faz alguns ajustes na posição de Kuyper/Mouw e muitos deles são úteis (p. 445-460). Por exemplo, Barber discorda de Mouw sobre Deus manter “propósitos divinos múltiplos”, um propósito para a Igreja antes da queda, e outro propósito estabelecido pela Criação após a Queda.
Ainda assim, a despeito da discordância, quando se trata de Deus deleitar-se na arte não-cristã, Barber concorda com Mouw:
…uma vez que a obra cultural dos não-regenerados é vitalmente importante para o progresso do mundo, e para o plano redentivo de Deus, e uma vez que esta obra origina-se nos dons que Deus concedeu, o produto da cultura não-regenerada é agradável a Deus. Entretanto, essas observações não diminuem a “antítese” de que Kuyper falou – o fato de que existe, e sempre existirá, uma diferença fundamental entre o agente cultural cristão e o não-cristão, pelo poder da Cruz. (453)

Assim, Deus realmente deleita-se com certas obras não-cristãs, argumenta Barber. Ainda assim, se você estiver lendo cuidadosamente, pode ouvir nessas palavras uma advertência. Isso acontece porque a habilidade artística dos artistas não-cristãos está limitada pelo pecado. A respeito de Pablo Picasso, por exemplo, Barber escreve: “Enquanto da perspectiva humana, seu conjunto da obra pode ser considerado ‘grandioso’, o pecado o reduziu a mero vestígio da imagem de Deus, o que significa que sua obra nunca alcançou todo seu potencial” (452). Esse potencial total requer um artista vivendo sob o senhorio de Cristo e desenvolvendo obras que procuram glorificar a Deus.
Porém, a despeito dessa falta de potencial total, o dom artístico de Picasso encontra sua origem em Deus. Artistas não-cristãos nos mostram, nas palavras de Calvino, “quão longe os raios da divina luz têm brilhado” e nos revelam “os excelentes dons do Espírito que estão espalhados por toda a raça humana” (Comentário em Gn 4.20).
As implicações de tudo isso são explicadas nas palavras de Anthony Hoekema em Criados à Imagem de Deus:
Nós, como cristãos crentes, portanto, podemos aprender muito de grandes obras da literatura escritas por incrédulos, mesmo que não compartilhemos o compromisso último deles. Podemos apreciar o que foi produzido por não-cristãos em diferentes áreas de esforço artístico, como arquitetura, escultura, pintura, e música, uma vez que seus dons vêm de Deus. Podemos, assim, desfrutar dos produtos culturais de não-cristãos de uma maneira que glorifiquemos a Deus através deles – mesmo que tal louvor a Deus não fosse parte da intenção consciente desses artistas.
O que torna possível aos cristãos deleitarem-se nesses dons artísticos de não-cristãos é um entendimento da origem desses dons. Eles vêm de Deus. Eles refletem o caráter de Deus. E, quem melhor para reconhecer a origem de dons artísticos em não-crentes que o próprio Deus?
Artistas cristãos devem buscar o serviço à igreja pelo uso de seus dons artísticos. Mas, isso não significa que a arte desconectada da vida da igreja não reflete a Deus. Pode refletir. E é por isso que podemos deleitar-nos nas belas expressões artísticas de artistas não-cristãos, pois, como tentei mostrar a partir de teólogos confiáveis, é um fato que o próprio Deus assim o faz. Como Deus, podemos separar o dom refletido da depravação do espelho, podemos enxergar além da língua e do coração ímpio e, ainda assim, reconhecer o caráter de Deus no reflexo da beleza.


Me parece que, a não ser que estejamos abertos à ideia de que Deus deleita-se na manifestação de belas artes pelos não-cristão, encontraremos dificuldade em glorificar a Deus através da arte que vemos. Isso é especialmente verdade em artífices que não são cristãos, que portam as marcas de seu Criador, enquanto permanecem sob a culpa de seu pecado, e estão em desesperada necessidade de um Salvador.
Aqui está um breve resumo do que aprendi em meses de leitura sobre o assunto:
  1. O dom artístico no homem é intrínseco.
  2. A criatividade artística de Deus manifesta-se em sua criação.
  3. O impulso artístico humano é, pelo menos em parte, um reflexo da imagem de Deus.
  4. Deus deleita-se em Si mesmo e, portanto, deleita-se no reflexo de seu próprio caráter, sendo a beleza artística uma reflexão dEle em nossa cultura.
  5. Artistas não-cristãos, enquanto permanecem em um estado de inimizade contra Deus, nunca alcançarão o mais alto de seu potencial artístico.
Essa perspectiva oferece ao cristão um grande fundamento para a apreciação da arte não-cristã das seguintes formas:
  1. Abre nossos olhos para a graça comum de Deus na arte ao nosso redor.
  2. Lembra que, em cada artista presenteado com dons, vemos um reflexo do Artista, a fonte de toda bondade, verdade e beleza.
  3. Ajuda a apreciar os dons de artistas não-cristãos e a beleza da arte não-cristã.
  4. Protege-nos de glorificar os espelhos brilhantes ao invés do Sol.
  5. Lembra que o potencial artístico dos não-cristãos, por maior que seja, é tragicamente limitado.
  6. Lembra que, enquanto há beleza para ser apreciada na arte não-cristã, a arte não é um “território neutro” que pode ser acompanhado sem uma preocupação a respeito de Deus e da verdade.
  7. Finalmente, lembra que o propósito maior de Deus para a arte é uma bela obra, que nasce de um artista que vive e labora sob o temor de Deus e sob o senhorio de Jesus Cristo, e que expressa este talento artístico com o objetivo de trazer glória ao Artista.


       Soli Deo Gloria!

segunda-feira, 14 de março de 2011

Descobrindo o evangelho numa canção dos Beatles

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Li uma resenha  na Veja dessa semana sobre o livro do Padre Marcelo, Ágape. Meteram o pau no texto do sacerdote-cantor, meu par. Longe da minha intenção, ocupar o tempo precioso dos meus treze leitores com uma discussão sobre as virtudes literárias ou teológicas do tal livro. Meu interesse é refletir sobre o comentário final da matéria: "fica a impressão de que o Evangelho inteiro cabe numa canção dos Beatles ".

Fiquei com raiva do cara. Achei leviana a observação. Depois, aquiesci: cabe mesmo. Não que o mérito seja de Lennon e McCartney. A canção é até boazinha, não a melhor da sua lavra. Na verdade " All you need is love ", com aquela introdução cafona de banda marcial ( até justificada pelo clima pacifista e anti-vietnã: consta que o single for a o resultado de uma encomenda da BBC para a primeira transmissão ao vivo , via satélite, que se tem notícia. Data de 1967 ) nunca me conquistou. O mérito da frase "o Evangelho inteiro cabe numa canção dos Beatles " é do Evangelho, é de Jesus de Nazaré. John e Paul cavaram no inconsciente coletivo da sua herança cristã desprezada e esquecida (ou seria Graça Comum, pura e simples?) a verdade mais bela do Cristianismo: a resposta é simples – amor.

A mensagem de Jesus, o resumo da sua proposta, o coração da sua utopia comunitária-social-política, a revoleção de Jesus, como diria Brian MacLaren, é o amor. O amor é o tronco do qual todos os ramos da Vida Boa e Abundante do Reino brota, floresce, frutifica. Todo mundo sabe – ou deveria – que o farisaísmo inflacionou a Torá, a Lei descrita no Pentateuco. Os mandamentos de Deus viraram centenas e centenas. Haja jurisprudência e moralismo religioso! Jesus, com sua capacidade de síntese incomum, mesmo se comparado ao gênio de Sócrates, por exemplo, responde , certo dia, a um jovem em crise espiritual : tudo o que você precisa (ter) é amor. A Deus, acima e antes de tudo. Ao próximo como a você mesmo. O amor é tudo. Ponto.

Hoje cedo, café pingado e pão na chapa numa mão, a Folha na outra li com interesse duas colunistas. A primeira, psicanalista, refletia sobre uma crise contemporânea. Com singular felicidade e lucidez de raciocínio Anna Veronica Mautner escreveu: " A oralidade, tenho a impressão, está em crise. Todos fazem de conta que têm o que dizer. O valor das pessoas associa-se mais ao quanto têm a dizer do que ao que têm a dizer (…) não estou criticando esse vendaval de palavras desnecessárias (…) só quero chamar atenção para esse fenômeno. " Ou seja, a natureza dos talk shows, o recheio das séries, novelas e o caldo grosso do entretenimento da TV, sem falar no sucesso do twitter, vai tudo por aí: " Blá-blá-blá. Ouçam o que eu tenho a dizer ".

O que dizemos sobre o amor? Quem dizemos amar? No mesmo jornal a psicóloga, Rosely Sayão denuncia o desaparecimento da infância: "as crianças na atualidade, quando querem brincar não podem e , quando podem, não querem ou nem sabem". Seu argumento algo assustador para um pai ocupado como eu afirma que "a aquisição exagerada de brinquedos colaborou para que a brincadeira ficasse em segundo plano." Pior que é. Tudo o que uma criança precisar é de amor. De amor que se traduza em brincadeira. Não de brinquedos e mais brinquedos, sua iniciação na doença do consumismo. Amar uma criança é permitir que ela seja criança.

Na graduação tive um professor de linguística que marcou minha formação intelectual. Pelo bem e pelo mal. Bem: era brihante, o senhor Alfredo Felipelli. Italiano, cultíssimo. Entendia mais de Saussure e do idioma latino do que os Beatles de hits parades e fama. Seduzia com a bela logicidade cartesiana das suas palestras, com o vigor do seu raciocínio extremamente bem fundamentado et cetera. Mal: fingia que não nos enxergava quando cruzávamos com ele nos corredores da faculdade de letras. Ignóbil é a erudição que nos imagina superiores aos vis mortais que não sabem citar Cícero de cor! Talvez a medida do nosso tão propalado, cantado, propagandeado, alardeado, rimado, pregado, amplificado, anabolizado, maximizado, e no entanto, esvaziado, diminuído, desvalorizado, desmerecido, ridicuralizado, problematizado, empobrecido e desqualificado amor tenha a ver com o modo como lidamos com as pessoas simples, a tal gente humilde, no dia-a-dia ordinário, no chão das coisas e não no mundo das idéias.

"Nunca se está diante de alguém comum", dizia C.S.Lewis. Ser cristão é viver segundo o Espírito. O que faz o Espírito Santo em nós, no fundo e na prática da nossa vida cotidiana? A essa pergunta respondeu Thomas Merton, em "No man is an Island" : " Ele nos atrai para o mistério da encarnação e redenção pelo Verbo que se fez carne. Ele não apenas faz-nos compreender algo do amor de Deus manifestado em Cristo como também faz-nos viver mediante a experiência do amor em nosso coração". Resumidamente, é isso. Isso tudo. De fato, o Evangelho cabe numa canção: "tudo o que você precisa é amor". Eu também.


Por  Gerson Borges


PS: Gerson Borges é cantor e compositor.

PS 2: Para os integrantes do Movimento Estudantil Alfa e Ômega, ele é o autor da música "É de coração", a qual foi parte do repertório do Congresso 2010 e do Projeto Piracicaba 2011.




Soli Deo Gloria!


sábado, 12 de março de 2011

Pray for Japan = 日本のために祈る (By Desiring God)


O poder do movimento das águas é maior do que a maioria de nós pode imaginar. Nada pode permanecer diante disto. Nós somos levados a nos ajoelhar.
Pai que está nos céus, o Senhor é o Soberano absoluto sobre o tremores da Terra, o levantar das águas, e a fúria das ondas. Nós trememos diante de Seu poder e curvamos diante de Seus inescrutáveis julgamentos e incompreensíveis caminhos. Nós cobrimos a nossa face e beijamos a sua onipotente mão. Nós caímos perdidos (desamparados) ao chão em oração e sentimos quão frágil é o solo abaixo de nossos joelhos.
Ó Deus, nos humilhamos debaixo de sua santa majestade e nos arrependemos. Em um momento – num piscar de olhos – nós também poderíamos ser varridos. Nós não somos mais merecedores de um chão firme do que os nossos semelhantes no Japão. Nós também somos carne. Nós temos corpos, casas, carros e nossa famílias em preciosos lugares. Nós sabemos que se formos tratados segundo os nossos pecados, quem poderia suportar? Tudo seria levado em um minuto. Então, nesta hora sombria nos voltamos contra o nosso pecado e não contra o Senhor.
E clamamos por misericórdia pelo Japão. Misericórdia, Pai. Não pelo o que nós ou eles merecemos. Mas misericórdia.
Não teria o Senhor nos encorajado a isso? Não teríamos nós ouvido um milhão de vezes em Sua palavra as riquezas de sua bondade, tolerância, e paciência? O Senhor não segurou o seu julgamento inumeráveis vezes, levando o seu mundo rebelde ao arrependimento? Sim, meu Senhor, pois os seus caminhos não são os nosso caminhos, e seus pensamentos não os nosso pensamentos.
Conceda, ó Deus, que o perverso abandone o seu caminho, e o injusto os seus pensamentos. Conceda-nos, suas criaturas pecadoras, para retornarem ao Senhor, que o Senhor tenha compaixão. Pois certamente o Senhor abundantemente perdoará. Qualquer um que chamar pelo nome do Senhor Jesus, seu amado filho, será salvo.
Que cada coração machucado por suas perdas – milhares sobre milhares de perdas – sejam curados pelas mãos feridas do Cristo ressurreto. O Senhor não desconhece as dores de suas criaturas. O Senhor não poupou seu único Filho, mas o entregou por amor de nós.
Em Jesus, o Senhor provou a perda. Em Jesus, o Senhor partilhou o esmagador dilúvio das nossas dores e sofrimentos. Em Jesus, o Senhor é o sacerdote que se importa em meio a nossa dor.
Haja gentilmente agora, Pai, com este povo frágil, ganhe-os Pai, salve-os.
E que as inundações que eles tanto temem façam bênçãos caírem sobre suas cabeças.
Que ele possam não julgá-Lo com seus fracos sentidos, mas confiar em sua graça. E então por trás desta providência, rapidamente achar uma face sorrindo.
No nome misericordioso de Jesus, Amém.

Aos pregadores da prosperidade - por John Piper (Parte 1)



Jesus disse: “Quão dificilmente entrarão no reino de Deus os que têm riquezas!” Seus discípulos ficaram espantados, tão quanto ficariam frente ao “Movimento da Prosperidade”. Então Jesus elevou ainda mais o espanto deles, dizendo: “É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus.” Eles responderam em descrença: “Então, quem pode ser salvo?” Jesus disse, “Para os homens é impossível; contudo, não para Deus, porque para Deus tudo é possível.” (Marcos 10:23-27)

Isso significa que o espanto dos discípulos tinha fundamento. Um camelo não pode passar pelo fundo de uma agulha. Isso não é uma metáfora para algo que requer muito esforço ou humilde sacrifício. Não dá para ser feito. Sabemos disso porque Jesus disse Impossível! Foi a palavra Dele, não a nossa. “Para os homens, é impossível.” O ponto é que a mudança de coração exigida é algo que o homem não pode fazer por si mesmo. Deus precisa fazê-lo — “... contudo, não [é impossível] para Deus.”

Não conseguimos nos fazer parar de valorizar o dinheiro acima de Cristo. Mas Deus pode. Isso são boas novas. E isso deveria ser parte da mensagem que os pregadores da prosperidade anunciam antes que incite as pessoas a se tornarem mais como um camelo. Por que um pregador iria querer anunciar um evangelho que encoraja o desejo de ser rico, confirmando deste modo as pessoas em seu desajuste ao reino de Deus?

O apóstolo Paulo admoestou contra o desejo de ser rico. E por implicação, advertiu contra pregadores que incitam o desejo de ser rico ao invés de ajudar as pessoas a se livrarem disso. Ele alertou: “Ora, os que querem ficar ricos caem em tentação, e cilada, e em muitas concupiscências insensatas e perniciosas, as quais afogam os homens na ruína e perdição. Porque o amor do dinheiro é raiz de todos os males; e alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé e a si mesmos se atormentaram com muitas dores.” (1Timóteo 6:9-10).

Essas são palavras muito sérias, mas não parecem encontrar um eco na pregação do evangelho da prosperidade. Não é errado para o pobre querer medidas de prosperidade para que tenha o que precisa, e possa ser generoso e dedicar tempo e energia a tarefas que exaltem a Cristo em vez de lutar para sobreviver. Não é errado buscar ajuda em Cristo para isso. Ele se importa com nossas necessidades (Mateus 6:33).

Mas todos nós — pobres e ricos — estamos em constante perigo de firmar nosso amor (1João 2:15-16) e nossa esperança (1Timóteo 6:17) nas riquezas ao invés de em Cristo. Esse “desejo de ser rico” é tão forte e tão suicida que Paulo usa a linguagem mais forte para nos alertar. Minha súplica é para que os pregadores da prosperidade façam o mesmo.


Jesus adverte contra o esforço para acumular tesouros na terra; ou seja, Ele nos manda ser donatários, e não proprietários. “Não acumuleis para vós outros tesouros sobre a terra, onde a traça e a ferrugem corroem e onde ladrões escavam e roubam; mas ajuntai para vós outros tesouros no céu, onde traça nem ferrugem corrói, e onde ladrões não escavam, nem roubam” (Mateus 6:19-20).

Sim, todos nós guardamos alguma coisa. Jesus admite isso. Ele não espera, exceto em casos extremos, que nosso desejo de ofertar signifique que não seremos mais capazes de dar. Haverá um tempo em que daremos nossa vida por alguém, e então não seremos mais capazes de ofertar. Mas ordinariamente, Jesus espera que vivamos de tal forma que haja um padrão contínuo de trabalho, ganho, vida simples e doação contínua.

Mas dada a tendência intrínseca à ganância em todos nós, Jesus sente a necessidade de advertir contra “acumular tesouros na terra”. Isso se assemelha a ganho, mas leva apenas à perda (“traça e ferrugem corroem e ladrões escavam e roubam”). Meu apelo é que a advertência de Jesus encontre um forte eco nas bocas dos pregadores da prosperidade.


A Bíblia também diz: “Aquele que furtava não furte mais; antes, trabalhe, fazendo com as próprias mãos o que é bom, para que tenha com que acudir ao necessitado.” (Efésios 4:28). Isso não é uma justificativa para ser rico de modo que possa dar mais. É um chamado para fazer mais e guardar menos, e então você poderá dar mais. Não há razão para que uma pessoa que prospera mais e mais em seus negócios deva ampliar a extravagância de seu estilo de vida indefinidamente. Paulo diria: Cubra suas despesas e doe o resto.

Não posso determinar o seu “cobrir”, mas em todos os textos que temos visto nesta série, há um impulso em direção à simplicidade e à generosidade extravagante, não a posses extravagantes. Quando Jesus disse: “Vendei os vossos bens e dai esmola” (Lucas 12:33), Ele pareceu sugerir não que os discípulos fossem abastados e pudessem dar de sua abundância. Parece que eles tinham tão pouco patrimônio líquido, que tinham que vender algo para terem algo para dar.

Por que os pregadores iriam querer encorajar as pessoas a pensarem que elas deveriam possuir riquezas para serem donatários generosos? Por que não encorajá-los a manterem suas vidas mais simples e serem ainda mais generosos em suas doações? Isso não acrescentaria em sua generosidade um forte testemunho de que Cristo — e não as posses — é seu tesouro?

Por outro lado, a razão pela qual o autor de Hebreus nos diz para estarmos contentes com o que temos é que o oposto implica em menos fé nas promessas de Deus. Ele diz: “Seja a vossa vida sem amor ao dinheiro. Contentai-vos com as coisas que tendes; porque ele tem dito: De maneira alguma te deixarei, nunca jamais te abandonarei. Assim, afirmemos confiantemente: O Senhor é o meu auxílio, não temerei; que me poderá fazer o homem?” (Hebreus 13:5-6).

Isto é, podemos confiar no Senhor como nosso auxílio. Ele proverá e protegerá. E nesse sentido, há certa medida de prosperidade que Ele nos dará. “Vosso Pai celeste sabe que necessitais de todas elas” (Mateus 6:32). Mas, por outro lado, quando se diz: “Seja a vossa vida sem amor ao dinheiro. Contentai-vos com as coisas que tendes” (pois Deus promete nunca nos deixar), isso deve significar que podemos facilmente nos mover da confiança em Deus para nossas necessidades, para o ato de usar Deus para nossas vontades.

A linha entre “Deus, me ajude” e “Deus, me enriqueça” é real, e o autor de Hebreus não quer que a ultrapassemos. Os pregadores deveriam ajudar seu povo a se lembrar e reconhecer essa linha ao invés de falar como se ela não existisse.


Jesus adverte que a Palavra de Deus, o Evangelho, o qual tem por objetivo nos dar vida, pode ser sufocado até a morte pelas riquezas. Ele diz que ele é como uma semente que cresce entre espinhos: “São os que ouviram e, no decorrer dos dias, foram sufocados com... riquezas... da vida; os seus frutos não chegam a amadurecer” (Lucas 8:14).

Os pregadores da prosperidade deveriam advertir seus ouvintes de que há um tipo de prosperidade financeira que pode sufocá-los até a morte. Por que quereríamos encorajar as pessoas a buscar exatamente aquilo que Jesus adverte que pode nos deixar sem frutos?

   Extraído de: http://voltemosaoevangelho.blogspot.com/

  Soli Deo Gloria! 

sexta-feira, 11 de março de 2011

Boa música - reflitam!

O sonho --- Stênio Marcius



Sonhei que eu tinha morrido, não lembro direito do quê
Me vi frente a um alto e belo portão com uma placa escrito "Céu"...
Bati com um certo receio, um anjo saiu pra atender
Me disse: "Pois não?" Eu falei: "Quero entrar, pois aí é o meu lugar"...
O anjo me disse: "Curioso, eu não acho seu nome em nossos registros"
Eu disse: "Procure num livro antigo, escrito antes que houvesse mundo
E ali achará com a letra do Rei meu nome em tinta vermelha"...
Alguém entregou para o anjo registros que eu reconheci
Compêndio de todas as leis que eu quebrei e os pecados que cometi...
O anjo olhava os registros visivelmente assutado
E me perguntou: "Foi assim que viveu?" Eu então respondi que "sim"...
"Então como é que você tem coragem de vir nessa porta bater?"
Eu disse: "Olhe bem no final dessa lista, você reconhece esta letra?"
E o anjo sorrindo me disse: "É verdade, o Rei escreveu: PERDOADO!"
E ao som dessa bela palavra aquele portão se abriu...
Então eu entrava cantando um hino...
Que pena que o sonho acabou!
Ficaram comigo aquelas palavras:
"Primeiro eu quero ver meu Salvador"!!!
 
Soli Deo Gloria!